Apresentação
Sara Sapateiro (1995- ) é discípula da barrista Isabel Catarrilhas Pires, com a qual começou a trabalhar em 2018. No ano seguinte frequentou o Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que teve lugar em Estremoz, no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte.
Pescaria
Tenho por hábito frequentar a página do Facebook dos barristas de Estremoz, à procura de novas criações, visando arquivar imagens para memória futura. Dizem que sou eficaz na pesca à linha, já que “Cada cavadela, sua minhoca” e como “Anzol sem isca, peixe não belisca”, torna-se evidente que “Quem procura, sempre encontra”.
Daí que durante uma das minhas pescarias, tenha lançado o anzol na página do Facebook de Sara Sapateiro e logo pesquei de imediato a imagem de um Peralta, do qual gostei muito. A minha primeira reacção escrita foi esta estrofe de quatro versos pentasilábicos de rima alternada:
“Debaixo do
céu
Não usa boné,
Mas belo chapéu
E Peralta é.”
Seguidamente, contactei a barrista na intenção de
adquirir o Boneco. Todavia, não fui bem sucedido, já que a figura tinha
resolvido mudar de ares e viajara para outras paragens. Sara Sapateiro aceitou
então a encomenda de um Boneco semelhante. Quanto a mim, entendi por bem, modelar
com palavras, um texto que traduzisse o que os meus olhos tinham visto. Daí a
razão deste escrito.
Tenho por hábito frequentar a página do Facebook dos barristas de Estremoz, à procura de novas criações, visando arquivar imagens para memória futura. Dizem que sou eficaz na pesca à linha, já que “Cada cavadela, sua minhoca” e como “Anzol sem isca, peixe não belisca”, torna-se evidente que “Quem procura, sempre encontra”.
Daí que durante uma das minhas pescarias, tenha lançado o anzol na página do Facebook de Sara Sapateiro e logo pesquei de imediato a imagem de um Peralta, do qual gostei muito. A minha primeira reacção escrita foi esta estrofe de quatro versos pentasilábicos de rima alternada:
Não usa boné,
Mas belo chapéu
E Peralta é.”
Retrato de
Peralta
Trata-se de uma figura antropomórfica masculina, trajando um fato elegante, mas destoante do par de botas e do chapéu aguadeiro, que lhe conferem um certo ar de ruralidade.
A imagem assenta numa base quadrangular com os vértices cortados em bisel. O fundo é verde-escuro, liso no topo e com pintas vermelhas e amarelas na orla.
Na modelação foi conferida volumetria a alguns componentes da figura: gola do casaco, botões do mesmo, lenço em torno do pescoço e fita do chapéu, os quais nalguns exemplares doutros barristas, aparecem simplesmente pintados.
O casaco é tipo paletó, com virados curvilíneos e sem bolsos.
O chapéu tem copa de formato cilíndrico e aba circular com orla totalmente virada para cima (chapéu aguadeiro, outrora usado pelos camponeses alentejanos e que retém a água quando chove, pelo que é necessário desabá-lo).
Veste aquilo que configura ser uma camisa branca sem colarinho ou uma camisola branca sem gola, parcialmente cobertos por um lenço que envolve o pescoço e cujas pontas se cruzam junto ao peito.
O fato é cor azul Oxford. Os 3 botões e os virados do casaco são cor azul aço. O chapéu e a respectiva fita são negros. O lenço é vermelho. As botas e o cabelo são castanhos, estes de tom escuro e aquelas de tonalidade clara.
De salientar, que a cor dominante na figura é uma cor fria: o azul. A combinação de cores do vestuário é monocromática e tem por base duas tonalidades de azul: azul Oxford e azul aço.
À frieza do vestuário contrapõe-se apenas o calor do vermelho do lenço, já que as restantes cores (preto, branco e castanho) são todas cores neutras. O cromatismo da figura é assim globalmente harmonioso.
Trata-se de uma figura antropomórfica masculina, trajando um fato elegante, mas destoante do par de botas e do chapéu aguadeiro, que lhe conferem um certo ar de ruralidade.
A imagem assenta numa base quadrangular com os vértices cortados em bisel. O fundo é verde-escuro, liso no topo e com pintas vermelhas e amarelas na orla.
Na modelação foi conferida volumetria a alguns componentes da figura: gola do casaco, botões do mesmo, lenço em torno do pescoço e fita do chapéu, os quais nalguns exemplares doutros barristas, aparecem simplesmente pintados.
O casaco é tipo paletó, com virados curvilíneos e sem bolsos.
O chapéu tem copa de formato cilíndrico e aba circular com orla totalmente virada para cima (chapéu aguadeiro, outrora usado pelos camponeses alentejanos e que retém a água quando chove, pelo que é necessário desabá-lo).
Veste aquilo que configura ser uma camisa branca sem colarinho ou uma camisola branca sem gola, parcialmente cobertos por um lenço que envolve o pescoço e cujas pontas se cruzam junto ao peito.
O fato é cor azul Oxford. Os 3 botões e os virados do casaco são cor azul aço. O chapéu e a respectiva fita são negros. O lenço é vermelho. As botas e o cabelo são castanhos, estes de tom escuro e aquelas de tonalidade clara.
De salientar, que a cor dominante na figura é uma cor fria: o azul. A combinação de cores do vestuário é monocromática e tem por base duas tonalidades de azul: azul Oxford e azul aço.
À frieza do vestuário contrapõe-se apenas o calor do vermelho do lenço, já que as restantes cores (preto, branco e castanho) são todas cores neutras. O cromatismo da figura é assim globalmente harmonioso.
Simbolismos implícitos
É importante decifrar e salientar as mensagens herméticas encerradas na figura.
Em primeiro lugar, o SIMBOLISMO DAS CORES: - Azul, cor fria cujo significado principal é transmitir as ideias de tranquilidade, serenidade e harmonia. Na natureza, o azul simboliza a água e o céu. Para os monárquicos, o azul está associado à aristocracia; - Vermelho, cor quente que transmite as ideias de paixão, energia e excitação. Na natureza, simboliza o elemento fogo.
Em segundo lugar, o SIMBOLISMO DO CHAPÉU, que como é sabido tem uma função protectora, mas também contém em si elementos diferenciadores que revelam a identidade do seu portador.
É importante decifrar e salientar as mensagens herméticas encerradas na figura.
Em primeiro lugar, o SIMBOLISMO DAS CORES: - Azul, cor fria cujo significado principal é transmitir as ideias de tranquilidade, serenidade e harmonia. Na natureza, o azul simboliza a água e o céu. Para os monárquicos, o azul está associado à aristocracia; - Vermelho, cor quente que transmite as ideias de paixão, energia e excitação. Na natureza, simboliza o elemento fogo.
Em segundo lugar, o SIMBOLISMO DO CHAPÉU, que como é sabido tem uma função protectora, mas também contém em si elementos diferenciadores que revelam a identidade do seu portador.
O Peralta e os outros
O estudo do adagiário português revela a diversidade de opiniões que existem acerca do bem vestir do Peralta.
Alguns vêem com bons olhos, o apuro no vestir: - “O mundo julga pelas aparências”; - “Veste um cepo e ele te parecerá um mancebo”; - “Veste-te bem e parecerás alguém“; - “No andar e no vestir serás julgado entre mil”; - “Uma boa aparência é carta de apresentação”.
Outros têm uma opinião negativa acerca do bem vestir: - “Ninguém sabe o que está por dentro da roupa alheia”; - “As aparências iludem”; - “Nem tudo é o que parece”; - “Nem tudo o que brilha é ouro”; -“O hábito elegante esconde às vezes um tratante”; - “Casa de fato, ninho de rato”.
Há mesmo quem formule um juízo bastante cáustico: - “Quando um mono se veste de seda, se mono era, mono se fica”; - “O pavão, quanto mais levanta a cauda, mais se lhe vê o rabo” - “Presunção e água benta, cada um toma a que quer”.
O estudo do adagiário português revela a diversidade de opiniões que existem acerca do bem vestir do Peralta.
Alguns vêem com bons olhos, o apuro no vestir: - “O mundo julga pelas aparências”; - “Veste um cepo e ele te parecerá um mancebo”; - “Veste-te bem e parecerás alguém“; - “No andar e no vestir serás julgado entre mil”; - “Uma boa aparência é carta de apresentação”.
Outros têm uma opinião negativa acerca do bem vestir: - “Ninguém sabe o que está por dentro da roupa alheia”; - “As aparências iludem”; - “Nem tudo é o que parece”; - “Nem tudo o que brilha é ouro”; -“O hábito elegante esconde às vezes um tratante”; - “Casa de fato, ninho de rato”.
Há mesmo quem formule um juízo bastante cáustico: - “Quando um mono se veste de seda, se mono era, mono se fica”; - “O pavão, quanto mais levanta a cauda, mais se lhe vê o rabo” - “Presunção e água benta, cada um toma a que quer”.
Epílogo
A barrista criou uma figura de Peralta recorrendo a uma modelação apurada e a uma decoração de forte simbolismo.
A figura tem um rosto bem delineado, com olhos, nariz, boca, queixo, orelhas e cabelo bem definidos, acompanhados de maçãs do rosto e lábios de ténue tonalidade rosa. A representação do rosto tem pendor fortemente naturalista, com o olhar representado por órbitas brancas delimitadas por duas pestanas negras e nas quais se inserem meninas do olho igualmente negras, encimadas por espessas sobrancelhas.
Estamos em presença de uma barrista da nova geração, com um estilo muito pessoal, através do qual afirma as suas próprias marcas identitárias. Destas, algumas são aqui reveladas e outras ficaram porventura por vislumbrar.
A barrista criou uma figura de Peralta, trajando um elegante fato azul, calçando botas e cobrindo a cabeça com um chapéu associado à ruralidade alentejana. O simbolismo ligado a tudo isto, leva-me a pensar que a barrista se propôs representar um aristocrata elegante pertencente ao mundo rural. Ela o confirmará ou não.
Pessoalmente, valorizo muito os barristas possuidores de marcas identitárias muito próprias e cujo estilo os distingue de outros barristas do passado ou do presente. A Arte Popular é isso mesmo, criatividade em movimento e não reprodução ou imitações do que outros fizeram ou fazem. Por isso, a barrista é merecedora da minha sacramental felicitação:
- Parabéns Sara!
A barrista criou uma figura de Peralta recorrendo a uma modelação apurada e a uma decoração de forte simbolismo.
A figura tem um rosto bem delineado, com olhos, nariz, boca, queixo, orelhas e cabelo bem definidos, acompanhados de maçãs do rosto e lábios de ténue tonalidade rosa. A representação do rosto tem pendor fortemente naturalista, com o olhar representado por órbitas brancas delimitadas por duas pestanas negras e nas quais se inserem meninas do olho igualmente negras, encimadas por espessas sobrancelhas.
Estamos em presença de uma barrista da nova geração, com um estilo muito pessoal, através do qual afirma as suas próprias marcas identitárias. Destas, algumas são aqui reveladas e outras ficaram porventura por vislumbrar.
A barrista criou uma figura de Peralta, trajando um elegante fato azul, calçando botas e cobrindo a cabeça com um chapéu associado à ruralidade alentejana. O simbolismo ligado a tudo isto, leva-me a pensar que a barrista se propôs representar um aristocrata elegante pertencente ao mundo rural. Ela o confirmará ou não.
Pessoalmente, valorizo muito os barristas possuidores de marcas identitárias muito próprias e cujo estilo os distingue de outros barristas do passado ou do presente. A Arte Popular é isso mesmo, criatividade em movimento e não reprodução ou imitações do que outros fizeram ou fazem. Por isso, a barrista é merecedora da minha sacramental felicitação:
- Parabéns Sara!
Sara Sapateiro (2019). Pintura da imagem de Nossa Senhora da Conceição.
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