Fig. 1 - Ricardo Fonseca (1986- ). Fotografia
de 2018 da autoria de Luís Mendeiros.
Arquivo fotográfico do autor.
A extensão do texto e o considerável
número de ilustrações, aconselhou que
fosse dividido em duas partes,
que serão publicadas sucessivamente.
Esta é a 1.ª parte.
Esta é a 1.ª parte.
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Ricardo Jorge Moreira Fonseca nasceu a
20 de Setembro de 1986 no Monte da Estrada, situado no lugar de Mártires, freguesia
de Santa Maria do concelho de Estremoz. Filho legítimo de João Francisco
Fonseca, de 26 anos, motorista, e de Maria José Ramalho Moreira Fonseca, de 30
anos, doméstica (1).
De 1998 a 2004, foi aluno da
Escola Secundária da Rainha Santa Isabel. Aqui frequentou o 12º ano de
escolaridade, cursando Artes e adquirindo saberes no âmbito da Pintura, da Escultura
e da História de Arte (2).
Sobrinho de peixe sabe nadar. O seu tio
Ilídio foi oleiro na Olaria Alfacinha, onde ainda trabalhava em 1983. As irmãs
Flores, suas tias, são bonequeiras. A Maria Inácia desde 1972 e a Perpétua desde
1976. Não admira pois que se tenha sentido fascinado pela plasticidade do barro
e pelas transmutações que ele permite já que, como diz o poeta António Simões:
“Barro incerto do presente, / Vai moldar-te a mão do povo / Vai dar-te forma diferente,
/ Para que sejas barro novo.” Daí que Ricardo tenha começado a manusear o barro
aí pelos catorze anos, fazendo a aprendizagem com as sua tias. Aos quinze anos
já fazia pequenos presépios e algumas imagens que vendia aos turistas, assegurando
assim a mesada para os seus gastos juvenis.
Ao sair da Escola, em 2005, começou a
trabalhar (Fig. 1) com as tias na oficina-loja do Largo da República (Fig. 2). Foi
então que a manufactura de Bonecos deixou de ser uma brincadeira e passou a ser
o seu mester. A execução das figuras continuou, todavia, a ser feita com imenso
prazer e igual paixão, pois como diz o adagiário “O trabalho é o mestre do
ofício” e “O prazer no trabalho aperfeiçoa a obra”.
Trabalha muitas vezes por encomenda, o
que é caso para dizer “A boa obra, se vai pedida, já vai comprada e bem
vendida”. Confecciona espécimes dentro e fora do conjunto dos “Bonecos da
Tradição”. Entre os modelos que registam maior procura figuram: “O Amor é
Cego”, “Primavera”, “Rainha Santa Isabel” e “Presépios”. São de sua criação,
figuras como “O professor”, “Fernando Pessoa”, “Cavaleiro Tauromáquico”, “Forcado”,
“Rainha Santa Isabel alimentando um pobre”, “Santiago”, “Senhor dos Passos com
Nossa Senhora” e “Paliteiros zoomórficos”.
A procura de coleccionadores leva-o a
criar variantes de muitos exemplares, o que acontece sobretudo com “Presépios”,
mas também com imagens como “Santo António”, “Nossa Senhora da Conceição” e
“Rainha Santa Isabel”, o que se torna estimulante, sob um ponto de vista
criativo. De resto e por auto-desafio vai criando peças cada vez mais
complexas, sem abandonar porém os preceitos inerentes à manufactura dos Bonecos
de Estremoz. É caso para dizer que: “Aprende por arte e irás por diante”.
De parceria com as tias tem executado
exemplares como “Coreto Municipal”, “Presépio de Galinheiro” e “Jogador de bilhar”.
É sabido que cada barrista tem o seu
próprio modo de observar o mundo que o cerca e de o interpretar, legando traços
de identidade pessoal nas peças que manufactura e que são marcas indeléveis que
permitem identificar o seu autor. Lá diz o adagiário: “As obras mostram quem
cada um é” e “Pela obra se conhece o artesão”. No caso de Ricardo, o
perfeccionismo está-lhe na massa do sangue, o que o leva a dedicar-se aos
pormenores, não só na pintura, como na própria manufactura do rosto, das mãos,
dos pés e dos enfeites que adornam as figuras.
Quanto às suas marcas de autor são
múltiplas: - “RicardoFonseca” com ou sem data ou com data e “Estremoz”, manuscritas
e com iniciais maiúsculas; - RF com ou sem data, pintado em cor variável, etc.
Ricardo tem participado em exposições
colectivas, não só em Estremoz, como em Espanha e Itália, assim como em Feiras
de Artesanato (FIAPE e a FATACIL), no stand das tias.
Ganhou o 1º Prémio no Concurso de
Barrística “Rainha Santa Isabel”, promovido pelo Município de Estremoz no
decurso da FIAPE 2011.
Se tivesse que se dedicar à manufactura
de um único tipo de figuras, escolheria os Presépios, já que estes possibilitam
um número ilimitado de cenários, o que é estimulante, sob um ponto de vista
criativo.
Restaura também Bonecos de Estremoz e
outras peças de cerâmica. Como gosta de artes plásticas em geral,
ocasionalmente também desenha e pinta em casa.
Apesar de por opção própria trabalhar na
oficina-loja das tias, Ricardo não é um aprendiz, é um barrista de corpo
inteiro, que por ser deles o benjamim, tem nas suas mãos a pesada herança de
assegurar o futuro dos Bonecos de Estremoz. Força, Ricardo! “Parar é morrer” e
“Para a frente é que é caminho”.
BIBLIOGRAFIA
1 - Ricardo
Jorge Moreira Fonseca - Assento de Nascimento
Informatizado nº 256 de 2008, da Conservatória do Registo Civil de Estremoz.
2 - Ricardo
Jorge Moreira Fonseca – Processo Individual de
aluno nº 11921, no
Arquivo da Escola Industrial António Augusto Gonçalves e sucessoras.
Hernâni Matos
Fig. 2 - Irmãs Flores. Perpétua (1958- )
à esquerda e Maria Inácia (1957) à direita.
Fotografia de 2018 da autoria de Luís
Mendeiros. Arquivo fotográfico do autor.
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