Xexé.
Oficinas de Estremoz do séc. XVIII.
Museu Municipal de Elvas.
Oficinas de Estremoz do séc. XVIII.
Museu Municipal de Elvas.
No figurado de Estremoz há peças cuja designação exacta se perdeu na poeira dos tempos e que é imperativo recuperar. É o caso da figura de Entrudo aqui mostrada e que Joaquim Vermelho (1990) designou por “Soldado francês de espadalhão e grandes óculos”. Discordo desta designação por vários motivos: - O chapéu bicorne não era exclusivo dos militares napoleónicos, que nos invadiram por três vezes entre 1807 e 1811; - O chapéu bicorne era já usado nos finais do séc. XVIII (cerca de 1790), em substituição do chapéu tricorne, pois era mais fácil de usar com fartas cabeleiras; - O resto do traje é todo ele característico do séc. XVIII: casaca de mangas estreitas, justa ao tronco, completamente abotoada e com a gola cingida ao pescoço. Os calções são até ao joelho, as meias são claras e os sapatos pretos, lisos e com fivela. O traje está enfeitado por bordados, como era corrente nas classes superiores; - Não é credível que numa representação ainda que burlesca dum personagem, as boniqueiras fossem ao ponto de descaracterizar irreversivelmente o personagem. Faria sentido “vestir” os soldados do Império Napoleónico com casacas e meias bordadas? Não faria sentido algum, nem mesmo que estes fossem oficiais superiores. As boniqueiras não os poderiam ter visto assim, uma vez que tal traje era próprio do Antigo Regime, derrubado pela Revolução Francesa de 1789.
A meu ver, o exemplar do figurado de Estremoz aqui apresentado, deve ser conhecido por “Xexé”, personagem carnavalesco criado pelo povo lisboeta, como sátira política às medidas repressivas do Intendente Geral da Polícia, Pina Manique (1733-1805). A figura chega até ao séc. XX, a ela se referindo Rocha Martins (1904) e Humberto de Luna (1911). O Xexé foi retratado entre outros por Leal da Câmara (1890), José Malhoa (1895), Rafael Bordalo Pinheiro (1903) e Leal da Câmara (1921). Como traço praticamente comum fica a seguinte representação: o xexé trajava uma casaca de seda colorida, calção e meia branca, sapatos de fivela, cabeleira de estopa, punhos de renda e um enorme chapéu bicorne, à moda do séc. XVIII. Usava muitas vezes lunetas, andava armado com um grande facalhão de madeira e um cacete adornado com um chavelho.
É caso para dizer:
- Baptizar é preciso!
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