sexta-feira, 1 de abril de 2011

Cristina Malaquias: A Alquimia das Cores


O papel é um deserto com sulcos epidérmicos que revelam a sua própria História. Nele, Cristina Malaquias começa por lançar aguarela como quem repete o gesto augusto do semeador. De seguida, a Artista transfigurada em Éolo, deus dos ventos, sopra a aguarela que passa a povoar aquele deserto. De entremeio, as suas mãos sísmicas ondulam e determinam o curso da tinta que se transfigurará em animada ria com uma miríade de braços, como uma Veneza de cores. Ora arbustos entrelaçados como amantes, que se possuem languidamente na procura do infinito, ora raízes que estabelecem uma ligação forte à Terra-Mãe, porque é preciso resistir e gritar bem alto: - “Nós estamos aqui!”. Ora ainda pássaros que se libertam do peso terrestre e ascendem ao transcendente, porque é preciso cumprir o sonho de Ícaro.
Alquimista das cores, Cristina Malaquias, na procura incessante da Pedra Filosofal, lixivia as aguarelas, cujas cores se transmutam e adquirem textura, brilho e luminosidade. Visionária na concepção e perfeccionista no acto de criação, a Artista é uma permanente insatisfeita na procura de novos caminhos e na descoberta de técnicas que potenciem a sua visão mágica das coisas. O seu atelier transforma-se em laboratório alquímico onde para nosso gáudio, a magia acontece.
“Soprados” se chama a técnica e “Soprados” foi o título escolhido pela Artista para a Exposição de quarenta trabalhos, que de 2 de Abril a 4 de Junho, estará patente ao público na Sala de Exposições do Centro Cultural Dr. Marques Crespo, em Estremoz.
Cristina Malaquias que há cerca de 20 anos está radicada entre nós, tem um extenso currículo como ilustradora de livros escolares e infanto-juvenis. Tem igualmente exposto, um pouco por todo o país e também pelo estrangeiro.
Data de 2008, a sua última exposição individual de “Ilustração e Desenho” no Centro Cultural.
A Associação Filatélica Alentejana, vocacionada para uma vasta gama de actividades exposicionais, considera um privilégio ter acolhido no seu espaço, a exposição com que a Artista divulga esta técnica inédita, de sua criação. Obrigado Cristina por esta bela exposição, que nos enche e colore a alma, com toda a sua riqueza e com toda a sua beleza.
Bem haja!

Estremoz, 28 de Março de 2011
(In catálogo de “SOPRADOS”. Centro Cultural Dr. Marques Crespo. Estremoz, Abril/Maio de 2011)

















quarta-feira, 30 de março de 2011

Cristina Malaquias: A Visão Mágica das Coisas


Um olhar fotográfico que regista a imagem e dela a forma, a volumetria, a medida, a profundidade, a cor, a textura, o contraste, a luminosidade e o brilho.
Um olhar analítico que cruza o ar, no espaço e no tempo e que, no acto visual de dissecar as partes de cada todo, procura nelas os elos de ligação, bem como as harmonias e os ritmos que as hão de reagrupar e reunificar na reconstrução dialéctica do todo.
Um olhar privilegiado que através da miríade de redes neuronais, funciona como um pantógrafo que pictogroficamente transmite à mão dextra, o impulso nervoso que não é mais que o feedback visual do raio luminoso que impressiona a sua retina e a sua alma de Poeta.
Mão que empunha um lápis de cor com a mesma determinação olímpica do ganhão que lavra a Terra-Mãe para dela extrair o seu pão de cada dia.
Mãos solidárias e cúmplices com a folha de papel que tacteiam, exploram, afagam e fecundam, ora energicamente ora duma forma mais pausada, mas sempre com a doçura própria de quem ama.
Mãos que vibram como quem dedilha com mestria uma guitarra portuguesa e arranca dela o que de mais profundo tem o sentir da Alma do Povo.
Mãos que sofrem como o olhar ou o pensamento, pois doloroso é o Acto Criador.
Este é, em traços gerais, necessariamente simplificadores e redutores, o esboço tosco do perfil biográfico da ilustradora e desenhadora Cristina Malaquias.
A Artista desculpará a ousadia com que eu, recorrendo à alquimia das palavras, transmutei as emoções que o seu trabalho e Obra, em mim despertam. Mas doutra forma não poderia ter sido.
À Artista agradeço em nome do público, o ter partilhado connosco a beleza da sua visão mágica das coisas: o esvoaçar duma borboleta, o som do restolho pisado, a intensa claridade do sul que ora se acende, ora se apaga, que esse é o ciclo do Vida.
Obrigado, Cristina!



Estremoz, 6 de Julho de 2008
(In catálogo de “ILUSTRAÇÃO E DESENHO”. Centro Cultural Dr. Marques Crespo. Estremoz, Junho/Julho de 2008)













domingo, 27 de março de 2011

As aves e o Paraíso


O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). O PARAÍSO. Óleo sobre madeira de Herri met de Bles (c. 1500-1550). Rijksmuseum, Amsterdão.

Na tradição bíblica, o Paraíso Terrestre (Jardim do Éden ou Jardim das Delícias) é o local da primitiva habitação do Homem, onde ocorreram os eventos narrados no Livro do Génesis (Génesis 1, 2 e 3): a criação de Adão e Eva, a indicação a Adão para cultivar e guardar o Jardim, bem como a indicação expressa de que podia comer frutos de todas as árvores, excepto os da árvore do conhecimento do que é bom e do que é mal. Ao desobedecerem a essa ordem e ao comerem o fruto proibido, Adão e Eva ficaram a conhecer o bem e o mal. Desse pecado original, nasceu a vergonha e o reconhecimento de estarem nus. Como resultado da desobediência, Deus expulsou-os do Paraíso:
- O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25)
- A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse a mulher: É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?” (Génesis 3,1)
- A mulher respondeu-lhe: Podemos comer do fruto das árvores do jardim. (Génesis 3,2)
- Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: Vós não comereis dele, nem o tocareis, para que não morrais.” (Génesis 3,3)
- “Oh, não! – tornou a serpente – vós não morrereis! (Génesis 3,4)
- Mas Deus bem sabe que, no dia em que dele comerdes, vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecedores do bem e do mal.” (Génesis 3,5)
- A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Génesis 3,6)
- Então os seus olhos abriram-se; e, vendo que estavam nus, tomaram folhas de figueira, ligaram-nas e fizeram cinturas para si. (Génesis 3,7)
- E eis que ouviram o barulho (dos passos) do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde. O homem e sua mulher esconderam-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim. (Génesis 3,8)
- Mas o Senhor Deus chamou o homem, e disse-lhe: “Onde estás?” (Génesis 3,9)
- E ele respondeu: “Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo, porque estou nu; e ocultei-me.” (Génesis 3,10)
- O Senhor Deus disse: “Quem te revelou que estavas nu? Terias tu porventura comido do fruto da árvore que eu te havia proibido de comer?” (Génesis 3,11)
- O homem respondeu: “A mulher que pusestes ao meu lado apresentou-me deste fruto, e eu comi.” (Génesis 3,12)
- O Senhor Deus disse à mulher: Porque fizeste isso?” “A serpente enganou-me,– respondeu ela – e eu comi.” (Génesis 3,13)
- Então o Senhor Deus disse à serpente: “Porque fizeste isso, serás maldita entre todos os animais e feras dos campos; andarás de rastos sobre o teu ventre e comerás o pó todos os dias de tua vida. (Génesis 3,14)
- Porei ódio entre ti e a mulher, entre a tua descendência e a dela. Esta te ferirá a cabeça, e tu ferirás o calcanhar.” (Génesis 3,15)
- Disse também à mulher: Multiplicarei os sofrimentos de teu parto; darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o teu marido e tu estarás sob o seu domínio.” (Génesis 3,16)
- E disse em seguida ao homem: “Porque ouviste a voz de tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida. (Génesis 3,17)
- Ela te produzirá espinhos e abrolhos, e tu comerás a erva da terra. (Génesis 3,18)
- Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te hás de tornar.” (Génesis 3,19)
- Adão pôs à sua mulher o nome de Eva, porque ela era a mãe de todos os viventes. (Génesis 3,20)
- O Senhor Deus fez para Adão e sua mulher umas vestes de peles, e os vestiu. (Génesis 3,21)
- E o Senhor Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda a sua mão e tome também do fruto da árvore da vida, e o coma, e viva eternamente.” (Génesis 3,22)
- O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, para que ele cultivasse a terra donde tinha sido tirado. (Génesis 3,23)
- E expulsou-o; e colocou ao oriente do jardim do Éden querubins armados de uma espada flamejante, para guardar o caminho da árvore da vida. (Génesis 3,24)
O Paraíso Terrestre foi tema central da pintura europeia, que ao longo dos séculos inspirou inúmeros pintores. Deles destacamos Hieronymus Bosch, Lucas Cranach, “O Velho”, Michelangelo Buonarroti, Albrecht Altdorfer, Jacopo Bassano, Jacob de Backer, Jan Bruegel, “O Velho” e Charles Auguste Bouvier. Através das obras destes grandes mestres procurámos ilustrar a harmonia em que Adão e Eva viviam com os animais, entre eles as aves que são o objecto central dum conjunto de posts iniciado com “Deus e a criação das aves”, o qual terá continuidade.

BIBLIOGRAFIA
- ART ET BIBLE [http://www.artbible.net ]
- BIBLIA CATÓLICA [http://www.bibliacatolica.com.br]
- BIBLICAL ART ON WWW [http://www.biblical-art.com]
- WEB GALLERY OF ART [http://www.wga.hu]


O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). Tríptico do Jardim das DELÍcias (c. 1500) – parte esquerda. Óleo sobre tela de Hieronymus Bosch (1450 - 1516). Museo del Prado, Madrid.
O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). JARDIM DO ÉDEN (1570-73). Óleo sobre tela de Jacopo Bassano (c.1510–1592). Galleria Doria Pamphili, Roma.
O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). JARDIM DO ÉDEN. Óleo sobre Madeira de Jacob de Backer (1555/60-1585/90). Groeninge Museum, Bruges.
O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). JARDIM DO ÉDEN (1612). Óleo sobre cobre de Jan Bruegel, "O Velho" (1568-1625). Galleria Doria Pamphili, Roma.
O homem e amulher estavam nus, e não se envergonhavam . (Génesis 2,25). ADÃO E EVA NO JARDIM DO ÉDEN (1615). Óleo sobre cobre de Jan Bruegel, "O Velho" (1568-1625). Colecção Real, Reino Unido.
O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). PARAÍSO TERRESTRE (C.1621). Óleo sobre cobre de Jan Bruegel, "O Velho" (1568-1625).   Musée du Louvre, Paris.
O homem e a mulher estavam nus, e não se envergonhavam. (Génesis 2,25). O PARAÍSO TERRESTRE. Óleo sobre tela de Jan Bruegel, "O Velho" (1568-1625). Museo del Prado, Madrid.
A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Génesis 3,6). O PECADO ORIGINAL (1616). Óleo sobre madeira de Jan Bruegel, "O Velho" (1568-1625).  Szépmûvészeti Múzeum, Budapest.
A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Génesis 3,6). PEGANDO A MAÇÃ. Óleo sobre tela, atribuído a Charles Auguste Bouvier (francês, activo em 1845-53). Musée des Beaux-Arts, Dole.
A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Génesis 3,6). ADÃO E EVA (1528). Lucas Cranach, “O Velho” (1472-1553). Oleo sobre madeira (Díptico). Galleria degli Uffizi, Florença.
A mulher, vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto e mui apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e o apresentou também ao seu marido, que comeu igualmente. (Génesis 3,6). A TENTAÇÃO DO HOMEM (c. 1535). Óleo sobre madeira da Oficina de Albrecht Altdorfer (1480-1538). National Gallery of Art, Washington.
O Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, para que ele cultivasse a terra donde tinha sido tirado. (Génesis 3,23). A QUEDA E A EXPULSÃO Do JARDIM DO ÉDEN (1509-10). Fresco de Michelangelo Buonarroti (1475-1564). Cappella Sistina, Vaticano.