5,2 x 0,5 x 15,8 cm. Em madeira. Fina e profusamente decorada com motivos florais em ambas as faces. Bordado simétrico em relação ao eixo vertical da forca.
Numa das faces, de cada um dos lados do eixo vertical, imediatamente acima do orifício central, são visíveis dois trevos de 4 folhas.
De acordo com lendas celtas, os druidas praticavam rituais de colheita de plantas e animais que traziam boa ou má sorte. Acreditavam assim, por exemplo, que quem possuísse um trevo de quatro folhas poderia incorporar os poderes da floresta e a sorte dos deuses, adquirindo então o dom da prosperidade. Daí que tradicionalmente o trevo de quatro folhas seja considerado como um poderoso amuleto e usado em iconografia diversa.
Oferecer a alguém um objecto (como esta forca de fazer cordão), a qual incorpora na sua decoração um trevo de quatro folhas, é formular-lhe votos de prosperidade, saúde e fortuna. Há quem considere ainda que cada folha do trevo tem um significado próprio: Esperança, Fé, Amor, Sorte, bem como o número de folhas (4) - representa um ciclo completo, como as 4 Estações, as 4 fases da Lua ou os 4 elementos da Natureza: Ar, Fogo, Terra e Água, conforme a “Teoria dos 4 Elementos” de Aristóteles (384-322 a.C.).
Para além do que já foi dito, a abundante decoração floral desta forca de fazer cordão, merece uma reflexão mais pormenorizada acerca do simbolismo das flores.
No século XVIII, um viajante inglês de visita á Turquia teve conhecimento do “código” ali utilizado para exprimir sentimentos através das flores. O original costume teria logo chegado à França, onde se inventou uma linguagem composta integralmente por símbolos florais. Os primeiros livros sobre linguagem das flores foram, assim, publicados em França:
- Abcedaire Flore ou Langage de Fleurs - B. Delachenaye (1810) .
- Le Langage de Fleurs - Charlotte de Latour (1819).
Por influência francesa apareceram depois livros ingleses e americanos, entre os quais:
- Floral Emblems - Henry Phillips (1820) .
- The Language of Flowers; With Illustrative Poetry - Frederic Shoberl (1834) .
- The Language of Flowers - Kate Greenaway (1884) .
A existência de múltiplos livros sobre o assunto em Inglaterra na época victoriana, originava, por vezes, a atribuição de diferentes significados simbólicos à mesma flor, por parte dos diferentes livros, levando a confusão na mensagem a ser transmitida. A comunicação através das flores exigia assim que os amantes da época victoriana utilizassem o mesmo dicionário floral. Na era vitoriana, a linguagem das flores foi algo de complexo, pois diferentes flores traduziam diferentes sentimentos, assim como a maneira como eram oferecidas e aceites tinha determinado significado
Estamos em crer que as flores bordadas na presente forca de fazer cordão, encerram um significado simbólico que esteve na mente do “bordador”, o qual eventualmente seria conhecido da mulher a quem este artefacto foi oferecido. Por outras palavras: mais que mera e ocasional decoração, a forca transmitiria uma mensagem simbólica conhecida por quem ofertou e por quem recebeu. Apesar duma forte convicção nesse sentido, mas dada a estilização dos elementos florais empregues, não nos atrevemos a procurar decifrar qualquer mensagem simbólica que a forca encerre.
Publicado inicialmente em 11 de Março de 2010
Artigo muito interessante e deveras curioso.
ResponderEliminarNão lhe ofereço a " forca de fazer cordão" mas, desejo-lhe sorte e prosperidade.
Fique bem..
(ana)