quarta-feira, 9 de maio de 2012

Nossa Senhora no Azulejo Português


Nossa Senhora do Rosário (1640).
Painel de 7 x 5 azulejos (14 x 14 cm).
Arquidiocese de Évora.

Segundo os Evangelhos, Maria, vulgarmente conhecida por “Nossa Senhora” é mãe de Jesus a quem deu à luz em Belém e que foi adorado numa manjedoura como filho de Deus, não só por pastores como por reis magos (Lucas 2:1-20).
De acordo com a religião católica, a Maria estão associados quatro dogmas de fé: “Virgindade Perpétua”, “Maternidade Divina”, “Imaculada Conceição” e “Assunção aos Céus”.
A intensa devoção dos católicos por Maria, levou-os a atribuir-lhe inúmeros títulos devocionais, dentre os quais: Nossa Senhora…
...Aparecida, Aquiropita, Auxiliadora, da Abadia, da Ajuda, da Anunciação, da Anunciada, da Apresentação de Natal, da Apresentação, da Arábia, da Arrábida, da Anunciação, da Ascensão, da Assunção, da Boa Fé, da Boa Hora, da Boa Morte, da Boa Nova, da Boa Viagem, da Bonança, da Cabeça, da Candelária, da Carpição, da China, da Conceição, da Consolação, da Consolação e Correia, da Coroa, da Defesa, da Divina Providência, da Encarnação, da Escada, da Esperança, da Estrela, da Evangelização, da Expectação, da Fé, da Glória, da Graça, da Guia, da Hora,  da Imaculada Conceição, da Lactação, da Lampadosa, da Lapa, da Luz, da Misericórdia, da Natividade, da Nazaré, da Oliveira, da Orada, da Ortiga, da Paz, da Piedade, da Praia, da Pena, da Penha de França, da Penha, da Piedade, da Ponte, da Porta, da Praia, da Pureza, da Purificação, da Saudação, da Saudade, da Saúde, da Serra, da Soledade, da Tourega, da Vila, da Visitação, da Vitória, das Alfândegas, das Angústias, das Brotas, das Candeias, das Cerejas, das Dores, das Estrelas, das Graças, das Lágrimas, das Maravilhas, das Mercês, das Misericórdias, das Necessidades, das Neves, das Sete Dores, das Virtudes, das Vitórias, de Aires, de ao pé da Cruz, de Belém, de Campanhã, de Caravaggio, de Ceuta, de Copacabana, de Fátima, de Guadalupe, de La Salette, de Lourdes, de Lujan, de Machede, de Medugorje, de Monserrate, de Muquém, de Nazaré, de Pompeia, de Todas as Nações, de Vagos, de Vandoma, Desatadora de Nós, Divina Pastora, do Alívio, do Almortão, do Amor Divino, do Amparo, do Bodo, do Bastão, do Bispo, do Bom Conselho, do Bom Despacho, do Bom Parto, do Bom Socorro, do Bom Sucesso, do Brasil, do Cabo da Boa Esperança, do Cabo, do Carmo, do Desterro, do Leite, do Líbano, do Livramento, do Loreto, do Mato, do Mel, do Mileu, do Monte Carmelo, do Monte do Carmo, do Monte, do Novo Advento, do Ó, do Palmar, do Parto, do Patrocínio, do Perpétuo Socorro, do Pilar, do Pópulo, do Porto, do Povo, do Pranto, do Presépio, do Repouso, do Rocio, do Rosário de Fátima, do Rosário, do Sagrado Coração, do Sião, do Sinal, do Sobreiro, do Socorro Imediato, do Sorriso, do Terço, do Vencimento, dos Aflitos, dos Altos Céus, dos Anjos, dos Desamparados, dos Mares, dos Mártires, dos Milagres, dos Navegantes, dos Prazeres, dos Remédios, Madre de Deus, Mãe da Igreja, Mãe de Deus, Mãe dos Homens, Medianeira, Menina, Peregrina, Porta do Céu, Protectora dos Fiéis, Rainha do Céu, Rainha dos Apóstolos, Rainha dos Homens.
A todos esses títulos correspondem imagens, muitas das quais estão representadas na azulejaria portuguesa, facto de que aqui damos conta, ainda que duma forma não exaustiva.

Publicado pela 1ª vez em 9 de Maio de 2012

Nossa Senhora da Conceição (1650 - 1675).
Painel de azulejos (86,6 x 87,7 cm).
Fabrico de Lisboa. Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

Nossa Senhora com o Menino.(1º terço do século XVII).
 Olaria de Lisboa.
 Arquidiocese de Évora. 

Nossa Senhora da Conceição com os símbolos Marianos
(meados do século XVII).
Painel de azulejos, fabrico de Lisboa.
 Arquidiocese de Évora. 

Nossa Senhora da Piedade (séc XVII).
Painel de azulejos na Ermida de Nossa Senhora da Piedade,
 Ilha de Santa Maria, Açores.

Nossa Senhora do Mato (Séc. XVII).
Frontal de Altar. Capela de Nossa Senhora do Mato,
freguesia de Mouriscas, concelho de Abrantes.
 
Nossa Senhora da Misericórdia (1712).
Painel de azulejos de António de Oliveira Bernardes,
pintor e azulejista português dos séculos XVII e XVIII.
Antiga Igreja da Misericórdia de Estremoz.

Presépio e Adoração dos Reis Magos (Meados do séc. XVIII).
Painel de azulejos de composição figurativa (174 cm x 280 cm).
Arquidiocese de Évora.

Nossa Senhora da Natividade (2º quartel do Século XVIII).
Painel de azulejos (72 x 43 cm).
Colecção Berardo.

Nossa Senhora da Conceição e as Almas do Purgatório (1750).
Painel de azulejos (224 x 83 cm).
 Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

Nossa Senhora do Rosário (1751).
Painel de azulejos (156 x 58 cm).
 Fabrico de Coimbra.
Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra.

São Marçal, Nossa Senhora da Conceição e São Francisco de Borja (1758).
Painel de azulejos (300 x 154 cm). Fabrico de Lisboa.
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

Nossa Senhora do Carmo (1770-1780).
Painel de azulejos (195 x 91 cm). Fabrico de Coimbra.
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

Nossa Senhora das Almas (1772).
Painel de azulejos (122 x 84 cm). Oficina de Manuel da Costa Brioso.
 Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra.

Nossa Senhora das Dores, Santa Rita e Santo António
com o Menino  (c. 1775-1780).
Painel de azulejos (7 x 6 - incompleto).
Autoria de Francisco Jorge da Costa. Fabrico de Lisboa. 
 Proveniente da Rua Bica do Marquês, 19, Lisboa. 
 Museu da Cidade, Lisboa.

Nossa Senhora da Penha de França (Último quartel do Século XVIII).
Painel de azulejos (155 x 54 cm).
Colecção Berardo.

Nossa Senhora do Carmo (Último quartel do Século XVIII).
Painel de azulejos (124 x 111,5 cm).
Colecção Berardo.

Nossa Senhora da Ascensão (Século XVIII).
 Painel de azulejos (128 x 57 cm).
Colecção Berardo.

 Nossa Senhora entrega o Rosário a São Domingos
(séc. XVIII).
 Painel de azulejos da Sé de Aveiro.

Nossa Senhora da Conceição, São Marçal, Santo António
e São Pedro de Alcântara (1790).
Painel de azulejos da Travessa da Queimada, 11 – Lisboa .

Nossa Senhora da Conceição, Santo António e São Marçal 
(c. 1775-1790). 
 Painel de azulejos (99 x 269 cm).
Fabrico de Lisboa.  Colecção Solar, Lisboa. 
Nossa Senhora da Conceição, Santo António
e São Marçal (c. 1775-1790). 
 Painel de azulejos (99 x 269 cm).
 Fabrico de Lisboa.  Colecção Solar, Lisboa.

Nossa Senhora da Conceição, São Marçal,
Santo António de Lisboa e São Pedro de Alcântara (1790).
Painel de azulejos (68 x 135 cm).
 Real Fábrica de Louça, ao Rato, Lisboa.
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.


Nossa Senhora jogando às cartas com o Menino Jesus (séc. XVIII).
Painel de azulejos na nave da Sé Catedral de Beja.

Nossa Senhora da Conceição (1800).
Painel de azulejos (42 x 42 cm). Fabrico de Lisboa.
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

Nossa Senhora das Sete Dores, São Marçal,
Santo António com o Menino e Almas do Purgatório (1800).
 Painel de azulejos (126 x 98 cm). Real Fábrica de Louça, ao Rato, Lisboa.
 Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

Cristo crucificado, Nossa Senhora da Penha de França e São Marçal (1800 – 1810).
Painel de azulejos (148 x 72 cm). Real Fábrica de Louça, ao Rato, Lisboa.
Museu Nacional do Azulejo, Lisboa.

Nossa Senhora da Conceição e Santo António (1821). 
 Painel de azulejos da Rua da Palmeira, Mercês.

Nossa Senhora da Boa Viagem (1º quartel do Século XIX).
 Painel de azulejos (70 x 28 cm).
 Colecção Berardo.

Nossa Senhora com o Menino (1º quartel do Século XIX).
Painel de azulejos (71 x 46 cm).
Colecção Berardo.

Nossa Senhora das Dores, Nossa Senhora da Ascensão (1º quartel do Século XIX).
Painel de azulejos (92 x 56 cm).
Colecção Berardo.

Senhor dos Passos, Nossa Senhora da Nazaré (1º quartel do Século XIX).
Painel de azulejos (126 x 98 cm).
 Colecção Berardo.

Nossa Senhora, Protectora dos Fiéis (2º quartel do Século XIX).
Painel de azulejos (229,5 x 249 cm). 
Colecção Berardo.

Nossa Senhora do Almurtão (?).
Painel de azulejos na fachada de um edificio
 de Idanha-a-Nova.

Procissão de Nossa Senhora dos Remédios em Lamego (1903).
Painel de azulejos do pintor, ceramista, ilustrador e caricaturista Jorge Colaço (1864-1942).
Estação da C.P. de S. Bento, Porto.

Nossa Senhora da Estrela (1938).
Painel de azulejos do pintor, ceramista, ilustrador e caricaturista Jorge Colaço (1864-1942).
Fabrico de Lisboa. Escadaria frontal da Igreja Matriz de Parada de Gonta, Tondela.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Arte Pastoril - Memórias de um Coleccionador



Cartaz anunciador da Exposição

Catálogo da Exposição


ARTE PASTORIL – MEMÓRIAS DE UM COLECCIONADOR
Assim se chama a Exposição integrada por peças do meu acervo, as quais estarão patentes ao público na Galeria Municipal D. Dinis em Estremoz, entre 6 de Maio e 9 de Junho. A Exposição é uma organização da Câmara Municipal de Estremoz, do Museu Municipal Prof. Joaquim Vermelho e da Associação Filatélica Alentejana.

RAZÕES DUMA EXPOSIÇÃO
O fascínio da ruralidade e o culto da tradição oral, levam-me a procurar o convívio de camponeses, artesãos e poetas populares, com os quais procuro aprender e partilhar saberes. A arte pastoril, um dos traços mais marcantes da identidade cultural alentejana, integra as minhas memórias materiais de recolector. Para além do acto da colheita e mais que o fascínio da posse, importa-me a possibilidade de dissecação de cada peça recolhida, tal como é feito no catálogo desta Exposição. Interessa-me também o contacto, o convívio e a cumplicidade com o autor no próprio acto de criação. Tudo isto constitui um registo para memória futura e uma afirmação vigorosa da identidade cultural alentejana.

A ARTE PASTORIL COMO REFLEXO DA SOLIDÃO
Para além da vida ao ar livre, o dia-a-dia do pastor tinha uma particularidade evidente que era a permanente e incomensurável solidão. Lá diz o rifão: “Quem não tem que fazer, faz colheres”. Por isso, o pastor alentejano ocupava o tempo que lhe sobrava da guarda do rebanho, em confeccionar artefactos conhecidos genericamente por “arte pastoril”, presentes nesta exposição e aos quais estão indissociavelmente ligadas determinadas características:
1º - OS MATERIAIS: A arte pastoril era confeccionada com aquilo que era corrente na região: cortiça, corno, cana, bunho e madeira. Esta última podia ser de azinheira, buxo, carvalho, castanho, cerejeira, cipreste, esteva, figueira, laranjeira, nespereira, nogueira, oliveira, piorno, sabugo, sobro, vimeiro.
2º - A QUALIDADE DOS MATERIAIS: No caso da cortiça era preferida aquela que tinha menos poro, a fim de sobressair a decoração. Também com a mesma finalidade o corno devia ter uma superfície, o mais homogénea possível. No caso da madeira, o pastor escolhia um pau de qualidade, sem nós nem veios que viessem a fender depois da obra acabada.
3º - OS UTENSÍLIOS: Como principal instrumento de trabalho, servia-se da navalha ou da faca, mas utilizava também, por vezes, o ponteiro ou o lápis e a legra que transportava sempre consigo. Com o ponteiro ou o lápis era esboçada a geometria geral do artefacto, sendo o corte da madeira efectuado com a navalha ou a faca, ao passo que o côvado dos objectos, especialmente o das colheres, era escavado com a legra, utensílio constituído por uma navalha de barba, dobrada em gancho numa das extremidades.
4º - A FUNCIONALIDADE: Os objectos destinavam-se a desempenhar uma determinada função: uso doméstico, uso no trabalho, instrumento musical, brinquedo, prenda para a conversada, para a prometida, para o patrão ou para a patroa. Raras vezes o artefacto tinha função meramente decorativa ou de realce da habilidade e capacidade criativa do seu obreiro.
5º - A ERGONOMIA: É sabido que “A necessidade é mestra de engenho.” Daí que o pastor tivesse empiricamente adquirido competências que se traduziram na capacidade de conceber artefactos que fossem ergonómicos, isto é com qualidade de adaptação ao seu utilizador e à tarefa que ele tinha de realizar. Por outras palavras: os objectos deviam ser práticos de usar e facilitar o desempenho da função para que foram criados. Daí que tivessem de ser usáveis com eficácia, eficiência e satisfação. Com eficácia, porque distintos utilizadores eram capazes de se servir deles com bons resultados. Com eficiência, já que a sua utilização exigia pouco tempo e esforço físico. Com satisfação, tendo em conta a facilidade de utilização com parcos recursos de tempo e de esforço físico.
 6º - A DECORAÇÃO: Depois de por corte do respectivo material ter sido conseguida a forma geral do artefacto, este estava apto a ser decorado. Para tal e também com o auxílio do ponteiro ou do lápis, esboçava o desenho a executar, gravado ou escavado. Os motivos eram os mais diversos: vegetais (ramagens, folhas, flores), zoomórficos (mamíferos, aves, peixes), geométricos (triângulo, quadrado, círculo, rosetas, arabescos, cordas, zig zags), astrais (sol, lua, estrelas), simbólicos (coração, cruz, figa, signo saimão), imagens religiosas, etc. O traçado perfeito, rigoroso e absolutamente simétrico de rosetas, de estrelas e do signo saimão, não dispensava o uso do compasso.
Dentre os trabalhos executados podem citar-se os seguintes:
- De madeira: cáguedas, colheres, chavões, canudos para soprar o lume, ganchos de fazer meia, foicinheiras, etc.
- De cortiça: tarros, coxos, saleiros, caixas de costura, tropeços, etc.
- De corno: cornas azeiteiras, cornas azeitoneiras, polvorinhos, copos, caixas, colheres, etc.
- De cana: dedeiras, gaiolas para grilos, reque – reques, apitos, etc.
É de realçar a evolução da morfologia de alguns artefactos, que apesar de desempenharem genericamente funções idênticas, se foram diversificando e individualizando nos seus pormenores. São exemplos paradigmáticos, as colheres, as cáguedas e as cornas. A título de exemplo e no caso das colheres, eram determinantes: a capacidade da concha, a inclinação desta em relação ao cabo e o tamanho deste. A concha não podia ser minorca, tinha que possuir uma volumetria adequada, já que às vezes o seu utilizador a tinha de introduzir num barranhão colectivo donde comia ao desafio com outros camaradas. Também o ângulo entre a concha e o cabo devia assegurar um transporte do conteúdo até á boca do utilizador, sem o risco de entornar. Quanto ao cabo, este devia ser facilmente adaptável à mão do utilizador e no que concerne ao seu tamanho, decerto que a colher que o pastor ou o ganhão transportava consigo na fita do chapéu, o tinha menor que uma colher que fosse utensílio permanente da cozinha.
A colher conhecida por “colher de porqueiro” adquiriu uma tampa articulada, que aberta se transformava em prolongamento do cabo e quando fechada, reforçava a segurança do transporte na fita do chapéu. Já a colher conhecida por “colher provadora” era constituída por duas conchas ligadas através duma haste com um rego longitudinal e com um cabo perpendicular à haste, por onde era pegada por quem a utilizava. A concepção e utilização de uma colher com esta tipologia, remonta à época em que havia o receio de contágio por tuberculose. Deste modo, quem cozinhava a comida dos ganhões, recolhia a comida a provar com uma das conchas e inclinando a colher, fazia-a escorrer através do rego para a outra concha, donde era levada à boca para provar. A concha que era levada à boca nunca entrava em contacto com a comida no recipiente onde esta estava a ser confeccionada. Assim se procurava evitar o contágio e com ele mortes subsequentes.
A riqueza da nossa arte pastoril levou o etnólogo Virgílio Correia a afirmar em 1916 que "A Província do Alentejo é a lareira onde arde mais vivo, mais claro e mais alto, o fogo tradicional da arte popular portuguesa.”
Também o escritor João Falcato disse em 1953, que “Não sabe uma letra o pastor destas terras, em erudição nunca ouviu falar, e é poesia pura a linguagem da sua alma, e é poesia pura o que sai das suas mãos. E além de tudo mais uma qualidade tem a sua poesia. Não precisa dos livros para se imortalizar. Um raminho de buxo, um nada de cortiça, e, da inspiração fugidia, ficou alguma coisa nas nossas mãos. Perdão! nas mãos da sua conversada que cada Domingo as estende para receber a colher rendada com que se promete casamento ou o tarro com que se deseja abastança, e se acha ao fim e ao cabo como um poema em que se fala de amor.”

Hernâni Matos (Texto)
Luís Pereira (Fotografias)
Jorge Mourinha (Trabalho de imagem) 
Publicado inicialmente em 7 de Maio de 2012

CORNA AZEITONEIRA
Recipiente destinado a transportar azeitonas ou outro conduto, manufacturado a partir da parte central do corno, por ser a mais larga. Dimensões (cm): altura com tampa: 14,5; diâmetro superior: 6,8; diâmetro inferior: 6. Primorosamente lavrada com cenas de caça, tema da máxima universalidade e abrangência. Omnipresente, Cristo crucificado. Fundo de cortiça aplicado sob pressão. Abertura vedada por uma tampa igualmente de cortiça, tendo gravada uma rosácea hexalobada. No corno e inserida num círculo, a marca JR (Joaquim Rolo). Último quartel do séc. XX.


COLHERES COMUNS
Em madeira, de pequenas dimensões, por vezes transportadas por pastores e ganhões na fita do chapéu. Normalmente aquelas que tinham uma decoração mais requintada, eram destinadas a oferecer à conversada, à prometida, ao patrão ou à patroa. Da esquerda para a direita:
- Cabo com decoração floral e cordiforme. Comprimento (cm): 15;
- Cabo com decoração floral no topo e geométrica na base. Comprimento (cm): 17;
- Cabo com harmoniosa simetria axial povoada por motivos geométricos e vegetalistas, finamente bordados e realçados a cor. Comprimento (cm): 16.
Qualquer delas da primeira metade do séc. XX.

 CHAVÕES OU PINTADEIRAS
Marcadores em madeira, usados para marcar o pão ou decorar bolos, confeccionados muitas vezes em fornos colectivos. Independentemente da sua complexidade, cada um deles foi executado a partir de um único pedaço de madeira. Da direita para a esquerda:
- Chavão simples com a forma de pirâmide octogonal, ligada por um cilindro a uma argola. Face do carimbo decorada por uma rosácea hexalobada, inserida em dois círculos pontinhados, concêntricos. Dimensões (cm): comprimento: 11; diâmetro do carimbo: 4. Primeira metade do séc. XX.
- Chavão duplo constituído por dois troncos de cone que, alargando-se, partem em direcções opostas de um prisma hexagonal. Faces do carimbo decoradas por rosáceas hexalobadas diferentes, inseridas em dois círculos concêntricos, um simples e o outro pontinhado. Dimensões (cm): comprimento: 11; diâmetro dos carimbos: 2,5. Primeira metade do séc. XX.
- Chavão simples com a forma de tronco de cone, ligado por um cilindro a uma argola, por sua vez ligada a um elo. Face do carimbo decorada por uma rosácea hexalobada, inserida num cordão circular. Tronco de cone decorado com motivos geométricos e cilindro esculpido com triângulos em madeira. No tronco d e cone está inscrita a data: 24.5.1951. Dimensões (cm): comprimento com argola e elo: 10; diâmetro do carimbo: 4;
- Chavão duplo constituído por dois chavões simples com a forma de tronco de cone com argola, ligadas a outra argola. Faces dos carimbos decoradas, orladas por cordões circulares nos quais se inserem, num uma rosácea octolobada e no outro uma rosácea também octolobada, mas na qual corações alternam com lágrimas. Dimensões (cm): comprimento total: 15,5; diâmetro dos carimbos: 5. Primeira metade do séc. XX.

PENTE
Em madeira.Com 12 dentes que emergem da parte superior quadrangular com suspensão de recorte pentagonal irregular. Topo quadrangular com entalhes geométricos, simétricos, distintos nas duas faces.
Dimensões (cm): comprimento: 18; largura: 7; espessura: 0,6. Primeira metade do séc. XX.

FORCA DE FAZER CORDÃO
Artefacto em madeira, usado na tecnologia têxtil. Constituído por três conjuntos de elementos talhados na mesma peça plana: as hastes e o cabo constituído por duas secções, uma com forma elíptica e outra com forma circular. Dimensões da forca (cm): 5,2 x 0,5 x 15,8. Dimensões das diversas secções (cm): secção circular: 2,3; secção elíptica: 7,5; hastes: 6. As hastes, dispostas paralelamente, são utilizadas para fazer o entrançado do cordão que é enrolado à volta do cabo à medida que é feito. Para evitar a sua acumulação, o cabo apresenta um orifício ao centro da secção elíptica, através do qual o cordão já feito é retirado da forca. Fina e profusamente decorada com motivos florais e geométricos distintos em ambas as faces, com bordado com simetria axial em relação ao eixo vertical da forca. Primeira metade do séc. XX.  

CABAÇA DE COLO DIREITO COM PEGA E TAMPA
Recipiente para líquidos. Cabaça e madeira. Dimensões (cm): altura com tampa: 29; diâmetro do bojo: 16. Trabalho feito à navalha, com a superfície da peça pintada a anilina e coberta de rebaixos escavados, desenhando motivos geométricos. No fundo, a marca MSG (Miguel Serol Gomes). Último quartel do séc. XX. 

TARRETA
Recipiente em cortiça, com tampa, com puxador em corno, em forma de argola. Destinada a transportar e conservar os alimentos. Dimensões (cm): altura: 12; largura: 16; comprimento: 35. Peça com a forma de tronco elíptico, feito à navalha e decorada com entalhes, desenhando motivos geométricos. Num dos lados, no sentido do comprimento tem inscrita a data: 1962.

BORSAL
Estojo para protecção do machado corticeiro, com a forma característica da folha do mesmo. Constituído por duas metades em cortiça que encaixam uma na outra e que sujeitam a folha do machado com o auxílio de uma correia de couro, provida de fivela metálica. Decoração efectuada por entalhe, distinta nas duas faces, mas incluindo em qualquer delas, motivos geométricos, vegetalistas e simbólicos como o signo-saimão. Numa das faces, a marca J.A.V. e na outra, a data: 26.7.75. Dimensões (cm): comprimento: 25; altura: 17; espessura: 4.  

CORNA AZEITEIRA
Vasilha em corno, destinada ao transporte do azeite que fazia parte das comedorias dos pastores e era confeccionada a partir dos cornos dos bois de trabalho, os quais apresentavam hastes de maiores dimensões.Peça de forma curva, em corno de tons creme e acastanhado, madeira, ferro e couro. Dimensões (cm): Comprimento com vedantes de madeira: 42; Diâmetro da abertura: 6,5. Decoração entalhada com figuras humanas, zoomórficas e geométricas. Marca JR (Joaquim Rolo). Abertura vedada por uma tampa de corno, entalhada com quadrados, em cujo centro está embutido um tubo cilíndrico em madeira, vedado por uma tampa, igualmente em madeira. Visando facilitar o transporte, as duas extremidades da corna estão ligadas por uma tira de couro, fixa a argolas de ferro, ligadas a pitons do mesmo metal. Último quartel do séc. XX. 

POLVORINHO
Recipiente usado para guardar e transportar pólvora, bem como para alimentar armas de fogo de carregar pela boca. Peça de forma curva, em corno de tons creme e acastanhado, madeira, ferro e couro. Comprimento com tampa: 33 cm. Trata-se de um artefacto manufacturado em ponta de corno e com decoração entalhada com cena pastoril e figuras zoomórficas inseridas em molduras decoradas com motivos geométricos. O fundo, do mesmo material, embutido no corno, foi entalhado com losangos. Na extremidade oposta, uma tampa de madeira, cilíndrica. Na face com decoração zoomórfica, a marca JR (Joaquim Rolo). O polvorinho tem uma tira de couro que serve para suspensão. Esta, está atada à tampa com uma tira de couro presa na outra extremidade a uma argola de corno, fixa ao polvorinho por meio de um piton em ferro. Último quartel do séc. XX.

DANÇARINO
Brinquedo popular alentejano destinado a animar grupos de pessoas ao serão ou em festas. Tronco de cortiça. Cabeça e membros articulados em madeira de oliveira, que é a que melhor som produz sobre a base que funciona como piso de dança. Boa expressão facial. Cor do vestuário evocando as cores, verde e rubra da bandeira republicana. Manipulação horizontal ao nível do manipulador, o qual segura uma vara de madeira que encaixa pela retaguarda no orifício do centro do peito. O manipulador senta-se em cima duma tábua que fica com uma das extremidades livres e assenta os pés do fantoche em cima da tábua. Seguidamente imprime pancadas na tábua com o ritmo desejado, o que a faz vibrar e saltitar o boneco. Nos montes alentejanos, a manipulação era feita pelo chefe da família para entreter os filhos pequenos, o que acontecia quando regressava do trabalho ou ao serão, à luz da candeia ou do candeeiro a petróleo. Dimiensões (cm): 6 x 2 x 21,7. Primeira metade do séc. XX.



terça-feira, 17 de abril de 2012

A Crucificação na Pintura Portuguesa


Santíssima Trindade (c. 1530). Cristovão de Figueiredo (activo de 1515 a 1543).
Museu Nacional Soares dos Reis, Porto.


Segundo os Evangelhos, Jesus foi condenado a morrer na cruz numa sexta-feira e o responsável pela sentença foi Pôncio Pilatos, prefeito da província romana da Judeia entre os anos 26 e 36 d.C. apesar de não ter encontrado nele nenhuma culpa. Todavia os líderes judeus queriam a sua morte, por considerarem blasfémia Jesus dizer-se filho do Messias. Vejamos o que nos dizem os Evangelhos.
Jesus foi preso no Jardim de Getsémani (Marcos 14:43-52) e foi submetido a seis julgamentos – três por líderes judeus e três pelos romanos [João (18:12-14), Marcos (14:53-65), Marcos (15:1), Lucas (23:6-12), Marcos (15:6-15)].
Pilatos tentou negociar com os líderes judeus ao permitir que flagelassem Jesus, mas eles rejeitaram a proposta por não os satisfazer e pressionaram Pilatos a condená-lo à morte. Pilatos entregou-lhes então Jesus a fim de ser crucificado tal como eles pretendiam (Lucas 23:1-25). Os soldados escarneceram Jesus e vestiram-lhe um manto escarlate e impuseram-lhe na cabeça uma coroa de espinhos (Mateus 27:28-31).
Jesus veio a ser crucificado num lugar chamado Gólgota, que quer dizer “Lugar da Caveira”. Por cima da sua cabeça puseram uma tabuleta com o motivo da sua condenação: “JESUS NAZARENO, O REI DOS JUDEUS” [João (19,19), Lucas (23,38)]. Na ocasião foram também crucificados dois ladrões, um à direita e outro à esquerda de Jesus. (Mateus 27:33-38). A escuridão cobriu então o céu durante três horas (Lucas 23:44), até que Jesus deu um forte grito: “Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito”. Dizendo isto, expirou. (Lucas 23:46). Os relatos evangélicos mostram que Jesus entregou livremente a vida a Deus pela redenção da humanidade.
O sentido espiritual da cruz indicado pelo próprio Jesus (Mateus 10:38), fez com que ela passasse a ser sinal sagrado e objecto de culto.
Na pintura portuguesa, a crucificação foi objecto de quadros pintados por autores como Cristovão de Figueiredo (activo de 1515 a 1543), Vasco Fernandes (activo de 1501 a 1540), Diogo de Contreiras (c.1500-1565), António Nogueira (15??-1575), Pedro Nunes (1586-1637), Baltazar Gomes Figueira (1604-1674) e Josefa de Óbidos (1630-1684). Nas suas obras, Jesus é representado em sofrimento ou no repouso da morte. Passemos em revista essas representações, aqui visualizáveis de uma forma cronológica.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 17 de Abril de 2012


Calvário (c. 1535-40). Vasco Fernandes (Grão Vasco) (activo de 1501 a 1540).
Óleo sobre madeira (242,3 x 239,3 x 81 cm). Museu de Grão Vasco, Viseu. 

Calvário (c. 1550). Diogo de Contreiras (c.1500-1565).
Óleo sobre madeira (122 x 88 cm). Misericórdia de Abrantes. 

Descida da Cruz (1564). António Nogueira (15??-1575).
Óleo sobre madeira (115 x 115 cm). Museu Rainha D. Leonor, Beja.  

Descida da Cruz (1620). Pedro Nunes (1586-1637).
Óleo e têmpera sobre madeira. Capela do Esporão da Sé de Évora. 

Calvário (1636). Baltazar Gomes Figueira (1604-1674).
Óleo sobre tela (169 x 99,5 cm). Igreja da Santa Casa da Misericórdia, Peniche. 

Calvário (1679). Josefa de Óbidos (1630-1684).
Óleo sobre madeira (160 x 174 cm). Santa Casa da Misericórdia, Peniche.