segunda-feira, 6 de junho de 2011

O carapuço na barrística popular estremocense

Fig. 1 - Pastor a fazer as migas, sentado. Peça da barrística popular estremocense, da autoria das Irmãs Flores. 


Fig. 2 - Pastor a fazer as migas, deitado. Peça da barrística popular estremocense, da autoria das Irmãs Flores. 
Fig. 3 - Matança do porco. Peça da barrística popular estremocense, da autoria das Irmãs Flores.

Quando em Dezembro passado dei à estampa a segunda edição do meu livro “BONECOS DA GASTRONOMIA”, fui questionado por um leitor, em virtude de em três peças da barrística popular estremocense, da autoria das Irmãs Flores, figurarem camponeses de barrete na cabeça, o que segundo o meu interpelador, não seria característico do Alentejo (Fig. 1, Fig. 2 e Fig. 3).
Eu na altura respondi-lhe que o barrete se usou em todo o país. Do Norte para o Sul e do Litoral para o Interior. Todavia, as imagens habitualmente veiculadas pelos nossos ranchos folclóricos, associam mais o barrete às zonas piscatórias (Póvoa de Varzim, Aveiro, Nazaré), bem como ao Ribatejo.
Hoje tenho oportunidade de esclarecer o assunto duma forma mais aprofundada duma tripla maneira, com recurso a referências etnográficas, de literatura oral e fotográficas, que passo de imediato a referir.
No Alentejo, o vestuário do trabalhador do campo, incluía em 1896, em vez do chapéu e principalmente de Inverno, o barrete, também chamado gorro (Tolosa, Barrancos) ou carapuço (Estremoz, Alandroal, Montemor-o-Novo) [1].
O cancioneiro popular alentejano refere o uso do gorro preto:



“Ó rapaz da cinta verde,
Ó rapaz do gorro preto,
Vou cantar uma cantiga,
E vai ser a teu respeito.” [2]



“Ó rapaz do gorro novo,
Ó rapaz do gorro preto,
A respeito do que cantam,
Preciso é falar com jeito.” [2]



“Ó rapaz do gorro preto,
Volta-o de dentro p’ra fora;
Inda estou do mesmo lado,
Inda me não volto agora.” [2]



“Ó rapaz do gorro, gorro.
Ó rapaz do gorro preto,
A respeito de namoro
É preciso muito jeito.” [2]



O mesmo cancioneiro refere igualmente o uso do gorro verde:



“Ó fêra de S. Mateus,
Onde se vendem pinhões,
Anda agora muito em moda
Gorros verdes à Camões.” [2]



“Ó rapaz do gorro verde,
Quem te mandou cá entrar?
Se não cantas ‘ma cantiga,
Já te podes retirar.” [2]



“Eu venho detrás da serra
Com o meu gorro à campina;
Quem é mestre também erra,
Quem erra também se ensina.” [2]



O uso do gorro preto ou vermelho, está de resto referenciado como tradição popular nesta região. [3]
A nível fotográfico, o uso do barrete no Alentejo, está documento por bilhetes-postais ilustrados referentes a actividades agro-pastoris: lavra e sementeira (Fig. 4), apanha da azeitona (Fig. 5) e maioral e ajuda, figuras da pastorícia alentejana (Fig. 6).
Julgamos que com estas considerações tenha ficado demonstrado duma forma insofismável, o uso do barrete no Alentejo, o que legitima as representações da barrística popular estremocense que o utilizam. Caso das peças citadas: “Pastor a fazer as migas sentado”, “Pastor a fazer as migas deitado” e “Matança do porco”. Barristas como Mariano da Conceição, Liberdade da Conceição, Sabina Santos, Quirina Marmelo, Irmãs Flores e Fátima Estróia, cobriram a cabeça destas figuras com o tradicional barrete. Já José Moreira, substituiu nas mesmas figuras e a partir de uma certa altura, o barrete pelo tradicional chapéu aguadeiro, conforme ilustramos com a “Matança do porco" (Fig. 7), de sua autoria.

BIBLIOGRAFIA
[1] – LEITE DE VASCONCELLOS, J. Etnografia Portuguesa, Vol. VI. Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Lisboa, 1975.
[2] - THOMAZ PIRES, A. Cantos Populares Portuguezes. Vol. IV. Typographia e Stereotipía Progresso. Elvas, 1912.
[3] - THOMAZ PIRES, A. Tradições Populares Transtaganas. Tipographia Moderna. Elvas, 1927.
 fig. 4 - A lavra e a sementeira no Alentejo, no início do século XX. Postal edição Malva (Lisboa). 
 Fig. 5 - A apanha da azeitona no Alentejo, no início do século XX. Postal edição Tabacaria Gonçalves (Lisboa).
Fig. 6 - Maioral e ajuda, figuras da pastorícia alentejana, no início do séc. XX. Postal edição Malva (Lisboa).
Fig. 7 - Matança do porco. Peça da barrística popular estremocense, da autoria de José Moreira.

sábado, 4 de junho de 2011

Estremoz – Mercado das Velharias




À minha amiga Manuela Mendes:

Dizem que eu sou um respigador nato, um cão pisteiro, um farejador de coisas velhas. Talvez seja algo de epidérmico, se não mesmo genético. E perante os meus olhos nascem coisas que parece que estavam ali circunspectas, à espera que eu me abeirasse delas. Ainda há dias foi a 1ª edição da "SUBERICULTURA" (1950) e a nova edição (1942) de "POMARES" do Prof. Vieira Natividade, que ali comprei ao preço da uva mijona.
Para fechar com chave de ouro, essa manhã de sábado, comprei ainda ao preço da dita uva, uma "ANTOLOGIA DE FIALHO DE ALMEIDA", organizada por Manuel da Fonseca e com extensa dedicatória autografa, deste último. A minha biblioteca já incorporava outros livros com dedicatórias autógrafas de outros grandes escritores portugueses, nomeadamente alentejanos, como o Conde de Monsaraz ou António Sardinha, mas quanto ao Manuel da Fonseca, o nosso "Manel", estava às escuras.
Quando as minhas mãos nervosas, tactearam o livro descoberto pela cirurgia do meu olhar, senti uma espécie de calafrio na espinha, seguido dum deslumbramento como terão porventura sentido os nossos navegadores, quando aportarem ao novo mundo.
À semelhança do que acontecia com o meu vizinho Sebastião da Gama, que conheci ainda eu era uma criança, sábado é o dia mais belo da semana. Não troco por nada, a ida ao mercado de sábado.
Num dos seus poemas que relembro de memória, o Manel diz: "Domingo que vem, vou fazer as coisas mais belas que um homem pode fazer na vida". Pois eu, que sou "sabadeiro", digo para mim mesmo: "Sábado que vem vou comprar as coisas mais belas que um homem pode comprar na vida" e de sexta para sábado, mal durmo, farto-me da dar voltas na cama, à espera que o dia nasça. Então ergo-me, de súpalo e com toda a adrenalina dos meus sessenta e cinco anos, aí vou eu, respigador nato, cão pisteiro, farejador de coisas velhas, em passo acelerado, a caminho do mercado de sábado, em Estremoz. E quando muito mais tarde, perto da hora de almoço, regresso a casa com o estômago vazio, a minha alma vai cheia. E aguenta-se uma semana, até ao sábado que vem.
Publicado inicialmente em 4 de Junho de 2011

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Dia Mundial da Criança


ASSOBIOS - Bonecos de Estremoz (Séc. XX). Museu Nacional de Etnologia, Lisboa.

Comemora-se hoje o Dia Mundial da Criança. Não das crianças de ontem, mas das crianças de hoje e com uma aposta forte nas crianças de amanhã.
Ser criança é brincar. A brincadeira é o trabalho da criança. É a brincar que a criança aprende a ser homem e constrói a sua personalidade.
As brincadeiras de hoje não são as brincadeiras de ontem. Não foi por acaso que escolhi apitos de barro de Estremoz, para ilustrar esta crónica. Com um apito destes podíamos imitar um pássaro, um polícia ou um árbitro. Dependia da nossa imaginação momentânea e daquilo que nos desse na real gana. Exercitávamos assim a nossa imaginação criadora e praticávamos o exercício da liberdade.
Outras brincadeiras e jogos eram colectivos: o jogo do botão, do pião, da bola, etc. Com eles, desenvolvíamos a nossa socialização e reforçávamos o espírito colectivo.
Coleccionávamos cromos da História de Portugal, das Raças Humanas, das Bandeiras do Universo, dos Trajes do Mundo. Era a nossa iniciação à leitura e à literatura, a nossa primeira abordagem à História de Portugal, a nossa partida à descoberta do mundo, de outros povos e de outros costumes.
Hoje em muitos casos não é assim. São as consolas, os jogos de vídeo, de computador e de telemóvel. Tudo envolvendo jogos que na sua esmagadora maioria foram concebidos para serem praticados individualmente, visando fomentar o individualismo e para programarem e vincularem os seus praticantes, a estereótipos de egoísmo, do salve-se quem puder, do vale tudo, da violência, do terror e do medo. É isso que interessa à sinistra alta finança mundial, que a nível global, controla os governos de cada país.
Não lhes interessa que haja cidadãos que se possam sentir homens livres, criativos, com carácter, com coragem, amantes da Paz, solidários com o próximo, com respeito pelo colectivo, que reconheçam o valor do esforço, do trabalho e do mérito. Isso para eles é subversivo. Para eles, interessa-lhes que em criança, os cidadãos sejam programados de maneira diferente.
Interessa-lhes cidadãos dóceis, submissos, governados pelo medo, obedientes, egoístas, sem respeito pelo colectivo e que aceitem acefalamente a violência e a guerra.
É preciso que os pais e educadores tenham cada vez mais consciência destes problemas e se empenhem em dar a volta a isto, para que a formação daqueles que serão os homens de amanhã, se possa efectuar sem desvios nem distorções.
Torna-se necessário retomar jogos e brincadeiras antigas, algumas das quais têm milhares de anos e adoptar outras novas, que ajudem a formar homens e mulheres de carácter, livres, verdadeiros, justos e solidários. Essa é uma revolução permanente que temos de tomar nas nossas mãos. É a nossa grande batalha pela cidadania. E havemos de vencer, porque quem não se rende, vence sempre.


Publicado pela 1.ª vez em 1 de Junho de 2011

terça-feira, 31 de maio de 2011

O sentido da visão: Superstições, Rezas e Benzeduras

Ilustração de Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957) para o livro “Alentejo não tem sombra” de Eduardo Teófilo, Portugália Editora, 1954.

PREÂMBULO
No desenvolvimento do tema “O sentido da visão”, efectuámos até à presente data edição dos posts:
Chegou agora a altura de editar o post:
- O Sentido da visão: Superstições, Rezas e Benzeduras
Comecemos pelos:
OLHOS E SUAS DOENÇAS
Existem inúmeras superstições populares ligadas aos olhos:
- Quando um lobo avista alguém, antes de ser por ela visto, a pessoa perde a fala. [4]
- Passar pelos olhos um ovo quente, acabado de pôr, tem a virtude de aclarar a vista. [4]
- Olhar-se a um espelho, tendo a cara inflamada, agrava a inflamação. [5]
- Ao encontrar-se um ninho de andorinha, devem cegar-se os filhos, pois a andorinha vai buscar uma pedrinha que tem a virtude de lhes restituir a vista e que por isso deixa ficar no ninho. Subtrai-se então a pedra do ninho e não há doença de olhos que resista à sua influência benéfica. [4]
- Nascem treçolhos nos olhos de qualquer pessoa a quem uma mulher grávida peça uma coisa e não lha dê. [4]
- Para talhar o terçolho, acende-se uma fogueira numa casa que tenha duas portas. Quem tem o terçolho, entra a correr por uma porta e salta três vezes a pés juntos por cima da fogueira, gritando: “Aqui-del-rei! Fogo em casa do terçogo!” Depois sai pela outra porta, gritando o mesmo. [5]
- Um afogado começa a deitar sangue pelos olhos e pelo nariz, quando se lhe chega ao pé, um parente próximo ou remoto. [4]
- Quando um finado fica de olhos abertos, é sinal que está chamando por alguém da família. [4]
- Ver-se de noite sem luz, é ver o Diabo. [4]
- Não se deve ter uma luz acesa, numa casa sem ninguém, porque está a alumiar o Diabo. [5]
As doenças de olhos eram tratadas pelo povo com mezinhas caseiras, que não iam além da simples lavagem com água de rosas ou água de malvas. As doenças mais correntes eram:
- BOLIDAS - Manchas esbranquiçadas que apareciam na íris.
- CABRITA – Mancha de sangue no branco do olho.
- FARPÃO - Borbulha inflamatória na córnea.
- REXA – Úlcera traumática da córnea, adquirida normalmente na ceifa ou no varejo da azeitona.
- TERÇOLHO - Pequeno tumor no bordo das pálpebras.
Para a remoção de corpos estranhos dos olhos, recorria-se às chamadas pedras alguereras, ou d'alguêro, vendidas em feiras e mercados e que ao serem introduzidas nos olhos originavam produção abundante de lágrimas,as quais expulsavam qualquer corpo estranho à vista.
Para além das mezinhas, as doenças de olhos eram tratadas com benzeduras. Uma reza usada na benzedura dos olhos, diz assim:


“Em lavor de Santa Luzia
Esta vista venho benzer:
De prego, de farpa e farpão.
De cabra (?), de cabrito (?), de rôxidâo,
De vermelhidão e d'enflamação,
De bicha e de bichão!...
Ê te corto e te torno a cortar,
Rabo, cabeça e raízes do coração
P'ra que te seques e te mirres
Em lavor de Santa Luzia,
Padre-Nosso... Avém-Maria.” [6]


Mas há outras rezas empregues na benzedura de olhos, como esta:


“A mão de Deus e a da Virja Maria vá adiente da minha
P'ra qu'apagu'estas rechas, estes farpões,
Estes carnazões, estes cravos, estes pregos,
Estas bolidas, êste mal d'olhos...
Em louvor de Deus e da Virgem Maria,
Padre-Nosso… Avém-Maria.” [6]


Durante a benzedura, a benzedeira segura numa mão um objecto cortante (faca, navalha ou canivete) e na outra, um bocado de pau de loendro no qual corta, quando as palavras do ensalmo o declaram, ao mesmo tempo que aproxima dos olhos do paciente, o objecto cortante e o pedaço de loendro.
A benzedura é efectuada durante cinco, sete ou nove dias, findos os quais, a doença deve estar debelada. Faz-se então, o seguinte ofertamento: — “Ofereço estas santas benzeduras à Senhora Santa Luzia que livrou este olho do arpão, cravo e récha. Em nome de Deus Padre, de Deus Filho, de Deus 'Sprito Santo e de Santa Luzia. Padre Nosso e Avém-Maria”. [6]
Vejamos ainda mais uma reza utilizada na benzedura dos olhos:


“Eu te benzo... (nome da pessoa)
rexa, cabrita, farpão.
Santa Luzia por aqui passou,
com o seu manto borrifou;
assim tu te aches como ela se achou.
Em nome de Deus e da Virgem Maria
Pai-Nosso e Ave-Maria.” [1]


Reza-se nove vezes e ao fim de cada uma delas, a benzedeira e o paciente rezam um Padre Nosso e uma Ave Maria, oferecidos a Santa Luzia.
Existe uma reza expecífica, usada na benzedura do farpão. Uma das suas muitas variantes diz o seguinte:


Diz a benzedeira:
- “Jesus, santo nome de Jesus,
onde está o santo nome de Jesus,
não está mal nenhum“
Continua a benzedeira:
“ Eu te corto.”
Responde o doente:
“- Farpão. “
Continua a benzedeira:
“- Eu t’o corto da cabeça,
eu t’o corto dos braços,
eu t’o corto das pernas,
para que não possas reinar.
Aqui te hás-de secar,
aqui te hás-de mirrar,
daqui não hás-de passar.
Hei-de te mandar deitar
para lá das águas do mar,
onde não ouças galinhas nem galos cantar,
nem filhos bradar.
Em louvor de Deus e de Maria,
Padre-Nosso e Ave-Maria.” [3]


Enquanto são pronunciadas aquelas palavras, a benzedeira passa por cima do farpão um anel de ouro ou um dente de alho. A benzedura é feita nove vezes e ao fim de cada uma delas, a benzedeira e o paciente rezam um Padre Nosso e uma Ave Maria, oferecidos a Santa Luzia e à sagrada Morte e Paixão de Cristo.


OLHOS DE SANTA LUZIA
Como se sabe o povo é superticioso e por tradição popular era dado ao uso de amuletos. Um deles, conhecido por “Olhos de Santa Luzia”, em prata, era usado num fio ao pescoço, para prevenir as doenças de olhos, assim como ofertados à Santa, em cumprimento de promessa por graça recebida. De resto, os devotos rezavam uma “Oração a Santa Luzia”:


Ó Santa Luzia
Que saras dos olhos
Livrai-nos d’escolhos
De nout’ e de dia.


Ó Santa Luzia
Bendita sejais,
Por seres bendita,
No Céu descansais.” [6]


MAU-OLHADO
O mau-olhado é uma faculdade atribuída a certos indivíduos de trazerem desgraça àqueles para quem olham. O povo ainda hoje crê que o chamado mau-olhado pode ser comunicado a outrem, por quem tem o poder de o fazer, por querer ou mesmo sem querer. Crê ainda que o mau-olhado tanto se pode manifestar em pessoas como em animais, sob a forma de doenças como o quebranto ou então estar na origem de desastres, perdas materiais ou outros malefícios.
São correntes superstições populares relativas ao mau-olhado:
- Por causa do mau-olhado, é bom trincar um alho em jejum. [4]
- Para livrar das bruxas ou do mau-olhado, é bom pôr uma ferradura na porta. [5]
Para talhar o mau-olhado, a benzedeira tem de verificar primeiro se a doença do paciente tem ou não origem em mau-olhado. Para tal, deita um fio de azeite num pires, molha nele três dedos e deixa cair três pingos na água contida numa bacia. Se as pingas se juntarem, é mau-olhado que o paciente tem. Se não se juntarem não é. Em seguida, torna a molhar os dedos no azeite e faz sobre as pingas que estão na água o sinal da cruz, ao mesmo tempo que pronuncia as palavras rituais da reza:


“Fulano (Nome da pessoa) Deus te fez,
Deus te criou,
Deus te tire o mal
Que no teu corpo entrou.” [2]


Eis uma das muitas rezas usadas na benzedura do mau-olhado:


Começa a benzedeira:
- “Jesus, santo nome de Jesus,
onde está o santo nome de Jesus,
não está mal nenhum“
Diz depois a benzedeira:
“- Eu te benzo, criatura, do mau-olhado.
Se for na cabeça, em nome da Senhora da Cabeça,
se for nos olhos, em nome de Santa Luzia,
se for na cara, em nome de Santa Clara,
se for nos braços, em louvor de S. Marcos,
se for nas costas, em louvor da Senhora das Verónicas,
e se for no corpo, em louvou do meu Senhor Jesus Cristo
que tem o poder todo.
Santa Ana pariu a Virgem
e a Virgem pariu o meu Senhor Jesus Cristo
assim como isto é verdade
assim seja este olhado daqui tirado 
e para as ondas do mar deitado,
Onde não ouça galo nem galinha cantar
Em louvor de Deus e de Maria,
Padre-Nosso e Ave-Maria.” [3]


Esta benzedura é feita nove vezes e ao fim de cada uma delas, a benzedeira que segura um rosário na mão e o paciente, rezam uma Salve Rainha oferecidas a Nossa Senhora.


QUEBRANTO
Para o povo, o quebranto é causado pelo mau-olhado e tem sintomas próprios: bocejos, mal-estar, dores no corpo, náuseas, arrepios, debilidade, definhamento.
São vulgares as superstições populares relativas ao quebranto:
- Para livrar de quebranto, é bom pregar uma ferradura nas portas das casas, pela parte de fora. [4]
- As crianças pequenas podem ser protegidas do quebranto, pondo-lhes ao pescoço um cordão de seda preta onde estejam enfiados um signo saimão, três vinténs em prata furados, uma argola, um dente de lobo, uma meia-lua e uma figa. [4]
- Para se tratar uma criança de quebranto, juntam-se quatro pedaços de chita, quatro de algodão, quatro de sapatos velhos, quatro de pato-do-mar, quatro ramos de aroeira, quatro de rosmaninho, quatro de alecrim, deita-se tudo no lume e passa-se a criança doente pelo fumo. [5]
Para saber se um paciente tem ou não quebranto, a benzedeira começa por proferir cinco vezes seguidas, as palavras cerimoniais da seguinte reza:


“Fulano (Nome da pessoa),
Deus te remiu, Deus te criou,
Deus te livre de quem para ti mal olhou!
Deus te livre deste cobranto:
Em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo! [7]


Seguidamente, a benzedeira verte cinco pingas de azeite num prato com água pura. Se é quebranto, as pingas espalham-se. Se não é, juntam-se. E sendo quebranto, existe a crença de que a pessoa começa desde logo a melhorar.
Apresentamos de seguida uma reza usada na benzedura do quebranto, de sol e de lua. Diz a benzedeira:


“ Fulano (nome das pessoa) dois olhos te olharam mal,
Três te hão-de olhar bem,
Em nome de Deus Pai, do Filho
E do Espírito Santo, Amem
Quando Nossa Senhora pelo Mundo andou,
Com Santa Margarida se encontrou,
E lhe perguntou:
— Onde vais. Margarida?
— Eu à Vossa busca ia.
Tenho um filho doente
De sol e de lua e de fito morria.
Com que o curarei eu, Senhora?
— Com a cinza do lar
O Mundo será salvo.
A lua por aqui passou
E a cor de Fulano levou,
E a dela deixou.
Ela há-de tornar a passar,
A cor de Fulano há-de deixar,
E a dela há-de levar
Para as ondas do mar
Onde não oiça
Nem galos nem galinhas cantar,
Nem mãe por seu filho bradar.” [2]


No final, benzedeira e paciente rezam um Pai Nosso e uma Ave Maria que oferecem a Nossa Senhora e à Sagrada Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
EPÍLOGO
A medicina popular, misto de empirismo e crenças arcaicas, indepedentemente dos seus resultados práticos, é merecedora de todo o nosso respeito, não só pela riqueza da sua literatura oral, como pelo papel que desempenhou na formação das identidades culturais regionais.
E com este post damos por terminada a abordagem efectuada ao sentido da visão, através dos múltiplos domínios da nossa literatura oral. Fazemos votos para que esta nossa incursão tenha sido do agrado dos leitores.
BIBLIOGRAFIA
[1] – ALVES, Aníbal Falcato. Rezas e Benzeduras. Campo das Letras. Porto, 1998.
[2] – DELGADO, Manuel Joaquim. A Etnografia e o Folclore do Baixo Alentejo. Separata da Revista “Ocidente”. Lisboa, 1956.
[3] – OLIVEIRA, Ataíde de. “Therapeutica Mystica-Bendeduras”, A Tradição: revista mensal d’Ethnografia Portuguesa. Série I, Anno I, nº9. Serpa, Setembro de 1899,
[4] - CONSIGLIERI PEDROSO, “Supertições Populares”, O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. III. Porto, 1881.
[5] - CONSIGLIERI PEDROSO, “Supertições Populares”, O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. IV Porto, 1882.
[6] – ROQUE, Joaquim. Rezas e Benzeduras Populares. Minerva Comercial. Beja, 1946.
[7] – LEITE DE VASCONCELLOS, J. Etnografia Portuguesa, Vol. X. Imprensa Nacional-Casa da moeda. Lisboa, 1988.
Hernâni Matos
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quarta-feira, 25 de maio de 2011

A caça aos grilos - 3ª edição


Caça aos grilos (1891). pintura a óleo de Manuel Henrique Pinto (1853-1912).

Esta é a 3ª edição do texto, cuja 1ª edição é de 21 de Fevereiro de 2010,
a que se seguiu uma 2ª edição a 29 de Janeiro de 2011. Novamente foi
ampliado com múltiplas  referências de literatura oral: adagiário
português (1),  superstições populares (2), cancioneiro popular (6), gíria
portuguesa (16), toponímia (1)  jogos populares infantis (1). Foram
igualmente  adicionadas, mais dez  referências bibliográficas.
 
EU E OS GRILOS
Íamos apanhar grilos cuja toca localizávamos pelo som. Feito isto, o grilo estava perdido. Obrigávamo-lo a sair à força com uma palhinha que metíamos na toca. Porém, se não saía a bem, saía a mal. Para grandes males, grandes remédios. Víamo-nos então forçados a dar uma mijadela na toca, o que tinha o condão de persuadir o grilo a sair. Apanhávamo-lo depois com as mãos postas em concha e metíamo-lo numa caixa de fósforos das grandes, nas quais previamente tínhamos feito uns pequenos respiradouros, não fosse o caso de o bicho, salvo da morte por afogamento, viesse a morrer de asfixia. Depois, já em casa, o grilo era metido numa gaiola, havendo as feitas só de cana e as de arame e cortiça ou de arame e madeira.
Alimentávamos o grilo com folhas de serralha ou de alface, que íamos renovando para o “cantor” ter permanentemente alimentação fresca.
Os grilos que cantavam bem eram chamados de “realistas”.
As gaiolas estavam geralmente junto às janelas.
Tivemos conhecimento que, por vezes, os trabalhadores rurais prendiam na camisa uma gaiola de “bunho” com um grilo lá dentro, que cantava para eles o dia inteiro.

OS GRILOS NA LITERATURA ORAL
A caça aos grilos era uma traquinice dos putos da minha laia e da minha geração. Decorridos mais de cinquenta anos sobre a última mijadela numa toca, resta a saudade dos tempos que já lá vão. Esta, aliada à memória dos nossos ancestrais, tornou-me arqueólogo da oralidade com a missão explícita de escavar os múltiplos géneros da nossa literatura popular. Daí que tenha registado a presença dos grilos no adagiário português:
-  "Anda a raposa aos grilos.“
- “Fazer punhetas a grilos.”
- “Fica melhor a mulher no seu lar, ouvindo o grilo cantar.“
- “Infeliz da raposa que anda aos grilos.“
- “Mal vai a raposa quando anda aos grilos e ao juiz quando vai à forca.“
- “Mal vai a raposa quando anda aos grilos e pior quando anda aos ovos.“
- “Mal vai a raposa quando anda aos grilos.” [21]
- ”Quando a raposa anda aos grilos, a mulher dama fia e o escrivão não sabe quantos são do mês, mal deles três.“
- “Quando a raposa anda aos grilos, mal da mãe, pior dos filhos.“
- “Quando a raposa anda aos grilos, vai mal para a mãe e pior para os filhos.“
- “Quando o grilo grilar, está a seara a aloirar.“
- “Se queres um grilo, vai pari-lo.“
- “Tomai a sorte do grilo, que é comer e cantar.“
Os grilos foram objecto de superstições populares. São conhecidas as seguintes:
- Na Beira Alta, os aldeãos apreciavam muito o canto dos grilos nas pilheiras das cozinhas, encarando-o como um prenúncio de fortuna para os residentes. [12]
- Nas feiras da Lixa e de Penafiel, vendiam-se outrora, canudos com um grilo lá dentro. Havia a crença de que quem metesse o dedo mindinho num dos orifícios do canudo e consentisse que o grilo lhe sugasse uma gota de sangue, ficava rico. O grilo era o Diabo. Por isso, quando alguém se referira a uma pessoa rica, dizia: “Aquele tem grilo em casa”. [6]
Os grilos estão igualmente presentes no cancioneiro popular. Sobre o canto do grilo dizia-se na Feira:

“Agora cantam os grilos,
É sinal de tempo quente.
Adeus, amor de algum dia,
Já que não foste p’ra sempre.” [12]

No Alentejo com muito humor diziam:

“Já degradaram o grillo
Para o campo da manobra,
Por dar uma navalhada
Na barriga d’uma cobra.” [18]

Em Guimarães, os rapazes quando esgaravatavam a toca com uma palhinha, diziam:

“Sai grilinho,
Sai grilão,
Que lá vem
O S. João.” [12]

Uma variante era:

“Sai grilinho,
Sai grilão,
Que andam os porcos
No teu lameirão.” [12]

Em Vouzela, os rapazes empunhavam, por vezes, uma lumieira de palha a arder ou até mesmo uma candeia, que chegavam à entrada da toca, proclamando então:

“Grilo, grilinho
Sai do buraquinho.” [12]

A presença dos grilos no reportório das adivinhas portuguesas é vasto e na maioria delas, a solução é obviamente: “Grilo”. As adivinhas têm, geralmente a ver com o canto deste ortóptero:

“Eu canto ao desafio
Como a cigarra no Verão.
Gosto muito de alfaces
E não trabalho ao serão.” [17]

Eis outra:

“Seja de noite ou de dia
um pequeno bailarino
oferece serenatas
sem guitarra ou violino.” [2]

Mais uma:

“Lá no deserto onde vivo
Me vão buscar da cidade.
Nascendo em dias grandes
É mui curta a minha idade.

Cantar sem abrir a boca
É o meu divertimento.
Como leigo que sou
Pertenço a certo convento.

Dão-me uma pequena cela
Onde só posso habitar,
E uma ração em cru
Até na cela acabar.” [10]

E ainda outra:

“Não sou frade, nem sou monge,
Nem sou de nenhum convento;
Meu fato é de franciscano,
E só de ervas me sustento.” [13]

Nas duas adivinhas anteriores há uma alusão ao Convento de S. Lourenço, no Porto, popularmente conhecido por Convento dos Grilos. Grilos foi a designação atribuída aos frades descalços da Ordem de Santo Agostinho, que vieram de Espanha em 1663, instalando-se inicialmente em Lisboa, no sitio do Grilo, onde rapidamente conquistaram a amizade da população, que os passou a designar por frades grilos, em virtude do hábito negro.
As adivinhas anteriores referiam-se apenas ao grilo, mas podem ser respeitantes a mais que um animal, como acontece nesta:

“Quem é quem é
Que canta
Sem ser com a garganta?” [4]

A solução agora é “A cigarra e o grilo”.

A adivinha pode, de resto, envolver aparentemente cálculo mental:

“Bão três grilos p’la estrada fora.
Vem um carro mata um.
Quantos ficam?” [16].

Naturalmente que a solução é: “Ficou aquele que morreu. Os outros andaram sempre.”
No âmbito das alcunhas alentejanas são conhecidas as seguintes
GRILA - A receptora, em criança, andava sempre aos pulos (Barrancos). [20]
GRILA ESPANHOLA – Alcunha outorgada a um individuo que fala muito e é espanholado (Elvas). [20]
GRILO – Designação atribuída a um indivíduo que gosta muito de cantar (Odemira, Portel, Viana do Alentejo, Santiago do Cacém, Almodôvar, Serpa e Grândola). [20]
GRILO – o alcunhado herdou a alcunha da mãe (Borba). [20]
GRILO – O receptor, em criança, tinha o hábito de apanhar grilos (Cuba e Santiago do Cacém). [20]
GRILO – O visado, em criança, sempre que via uma gaiola com grilos à porta de alguém, começava a logo a assobiar (Moura). [20]
GRILO – Os visados são de baixa estatura e muito cantadores (Alandroal). [20]
A nível de gíria portuguesa são conhecidos os termos:
“Andar aos grilos como a raposa = Ser muito pobre = Não ter com que viver” [1]
“Cebo de grilo = Excrementos” [15]
“Encangar grilos = Estar desocupado = Não ter trabalho” [22]
“Fazer ratos na grila = reflectir a luz solar com um espelho, fazendo-a incidir sobre os olhos” [8]
“Frade grilo = Frade que pertence á Ordem dos Agostinhos Descalços” [1]
“Grila = Mentirola = Peta”(Portel – Alentejo) [8]
“Grila = Órgão sexual do homem” (Alto-Douro) [8]
“Grila = Ponta de Cigarro = Pirisca” [19] [11]
“Grila = Vulva da mulher” (Chulos) [8]
“Grilada = Bolsos laterais do casaco ou das calças” [11]
“Grilada = Ordem dos frades grilos” [8]
“Grilo = Fraque” [9]
“Grilo = Jogo popular infantil” [8]
“Grilo = Órgão sexual masculino, especialmente das crianças” [23]
“Grilo = Pénis de criança” [1]
“Grilo = Relógio = Apito” [3]
“Grilo = Telefone = Relógio de bolso = Coração” [19] [15]
“Memória de grilo = Memória de pessoa muito esquecida” [22]
“Vir com os grilos = Estar bêbado” [9]
Finalmente, no sector da toponímia são de assinalar os seguintes topónimos:
- “GRILA – Lugar da freguesia de S. Pedro, concelho da Covilhã.“ [7]
- “GRILO – Freguesia do concelho de Baião.“ [7]
- “GRILO – Freguesia do concelho e concelho de Baião, do Bispado do Porto, tendo S. João Baptista por Orago.” [14], [8]
- “GRILO – Lugar da freguesia de Fornos, concelho de Castelo de Paiva.“ [7]
- “GRILO – Lugar da freguesia de S. Vicente do Paul, concelho de Santarém.“ [7]
- “GRILO – Lugar da freguesia de Vale de Figueira, concelho de Santarém.“ [7]
- “GRILOS - Lugar da freguesia Arazede, concelho de Montemor-o-Velho.“ [7]
Entre os jogos populares infantis, existe um jogo, conhecido por “Jogo do grilo”, que envolve rimas infantis e que é jogado assim:
Uma criança pede a outra, que está à frente de uma fila indiana:
— Dá-me um grilo?”
Esta, responde-lhe:
— “Vá lá atrás pedi-lo.”
— “Se o pilhar ou não
Meta a mão no caldeirão.”
O primeiro corre então rapidamente para o fim da coluna e procura agarrar o último, que por sua vez tenta alcançar a posição dianteira. Se este o conseguir, o jogo reinicia com o mesmo jogador a pedir o grilo. Porém, se for agarrado é ele que tem de pedir o grilo, enquanto que o perseguidor passa para o último lugar. O jogo que deve ser praticado com rapidez, termina quando o que inicialmente era o último, chegar a primeiro. [5]

A TERMINAR
Só os grilos machos produzem sons, o que fazem visando atrair as fêmeas para a reprodução. Para o efeito, possuem uma série de pelos nas bordas das asas, alinhados como pentes, produzindo sons quando roçam uma asa contra a outra. O som emitido tem a frequência de 4 as 5 KHz e pode ser ouvido a quilómetro e meio de distância.
Em muitos países como Portugal, o grilo sempre foi considerado como animal de estimação, sendo mantido em cativeiro dentro de gaiolas, pelo que como param de cantar quando alguérm se aproxima, funcionam como detectores de ladrões.
A Bíblia contém referências ao grilo:
- “Poderão comer toda espécie de gafanhotos e grilos.” [Levítico 11:22]
- “Aí o fogo te devorará, a espada te exterminará; ela te devorará como o gafanhoto, ainda que fosses numeroso como o gafanhoto, e te multiplicasses como o grilo.” [Naum 3:15]
Nalguns países, os grilos são criados em larga escala para serem vendidos como alimento vivo e serem usados como isca em pescarias ou consumido como iguaria em restaurantes exóticos. Pela nossa parte, habituados à excelência da gastronomia alentejana, dispensamos tais iguarias e preferimos ouvir cantar os grilos nos campos e em liberdade, o que é cada vez mais difícil, dado o uso intensivo de pesticidas e herbicidas. A vida está cada vez mais difícil no planeta Terra, mesmo para os grilos.

BIBLIOGRAFIA
[1] – ACADEMIA DAS CIÊNCIAS DE LISBOA. Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea. I Volume. Editorial Verbo. Lisboa, 2001.
[2] - ARTMUSICA .
[3] - BESSA, Alberto. A Gíria Portugueza. Gomes de Carvalho- Editor. Lisboa, 1901.
[4] – CARDOSO, Fernando. Novíssimas Flores para Crianças. Editora Portugal Mundo. Lisboa.
[5] - COELHO, Adolfo. Jogos e Rimas Infantis. Magalhães e Moniz Editores. Porto, 1883.
[6] - CONSIGLIERI PEDROSO, “Supertições Populares”, O Positivismo: revista de Filosofia, Vol. III, 1882. Porto, 1882.
[7] – FRAZÃO, A. C. Amaral. Novo Dicionário Corográfico de Portugal. Editorial Domingos Barreira. Porto, 1981.
[8] – GRANDE ENCICLOPÉDIA PORTUGUESA E BRASILEIRA. Vol. 12. Editorial Enciclopédia, Limitada. Lisboa, s/d.
[9] - GRANDE DICIONÁRIO. Porto Editora. Porto, 2004.
[10] - GUERREIRO, M. Viegas. Adivinhas Portuguesas. Fundação Nacional Para A Alegria No Trabalho. Lisboa, 1957.
[11] – LAPA. Albino. Dicionário de Calão. Edição do Autor. Lisboa, 1959.
[12] – LEITE DE VASCONCELLOS, José. Tradições Populares de Portugal. Livraria Portuense de Clavel e C.ª – Editores. Porto, 1882.
[13] - LIMA, Fernando de Castro Pires de. Qual é a coisa qual é ela? Portugália Editora. Lisboa, 1957.
[14] - NIZA, Paulo Dias de. Portugal Sacro-Profano. Parte I. Oficina de Miguel Manescal da Costa. Lisboa, 1767.
[15] - NOBRE, Eduardo. Dicionário de Calão. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1986.
[16] – PEREIRA, Maria Pereira (“Maria Carpinteira”), 62 anos, Daivões.
[17] – PEQUENOS MIRANDESES.
[18] - PIRES, A. Tomaz. Cantos Populares Portuguezes. Vol. IV. Typographia e Stereotipía Progresso. Elvas, 1912.
[19] - PRAÇA, Afonso. Novo Dicionário de Calão. Editorial Notícias. Lisboa, 2001.
[20] – RAMOS, Francisco Martins e SILVA, Carlos Alberto da. Tratado das Alcunhas Alentejanas. 2ª edição. Edições Colibri. Lisboa, 2003.
[21] - ROLAND, Francisco. ADAGIOS, PROVERBIOS, RIFÃOS E ANEXINS DA LINGUA PORTUGUEZA. Tirados dos melhores Autores Nacionais, e recopilados por ordem Alfabética por F.R.I.L.E.L. Typographia Rollandiana. Lisboa, 1841.
[22] - SANTOS, António Nogueira. Novos dicionários de expressões idiomáticas. Edições João Sá da Costa. Lisboa, 1990.
[23] – SILVA, António de Morais. Novo Dicionário Compacto da Língua Portuguesa. Vol. V. 4ª edição. Editorial Confluência. Mem Martins, 1988.
[24] - SIMÕES, Guilherme Augusto. Dicionário de Expressões Populares Portuguesas. Publicações Dom Quixote. Lisboa, 1993.

     Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 25 de Maio de 2011
O presente texto integra o meu livro "Memórias do Tempo da Outra Senhora"


Gaiola paras grilos, feita de cana, cortiça e cordão (Colecção do autor).


Gaiolas de bunho, cana e arame (Colecção de Manuela Mendes).

Querem ver um grilo em liberdade?
Querem ouvir um grilo cantar?
Cliquem na imagem abaixo:


Querem assistir a uma caçada aos grilos?
Querem ouvir um grilo cantar?
Cliquem na imagem abaixo: 

 

sábado, 21 de maio de 2011

Adágios para a semana

JOÃO  SEMANA - Ilustração de Alfredo Roque Gameiro  (1864-1935)
para o romance "As Pupilas do Senhor Reitor", publicado em 1867,
por Júlio Dinis (1839-1871).

A semana (do latim septimana = sete manhãs) é um período de tempo de sete dias sucessivos.
Na língua portuguesa, os dias da semana têm denominações baseadas na liturgia católica, por iniciativa de Martinho de Dume (518-579), bispo de Braga e de Dume, canonizado pela Igreja Católica e figura de proa da História Ca cultura e da Língua Portuguesas
Martinho considerava impróprio de bons cristãos continuar a designar os dias da semana pelos nomes latinos pagãos de Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies. Daí ter introduzido a terminologia litúrgica para os designar (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies), donde as designações actuais em língua portuguesa (Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira, Sábado e Domingo).
Devido á sua formação cristã, o povo aceitou de bom grado as novas designações e a partir daí perpetuou-as nos adágios que a sua criatividade foi gerando ao logo dos tempos. Eis alguns desses adágios:

SEGUNDA-FEIRA
- ”Não há domingo sem missa, nem segunda-feira sem preguiça.”
TERÇA-FEIRA
- ”Às terças e sextas-feiras não cases os filhos, nem urdes a teia.”
QUARTA-FEIRA
- ”Quem promete à quarta e vem à quinta, não faz falta que sinta.”
QUINTA-FEIRA
- ”Não há semana sem quinta-feira.”
SEXTA-FEIRA
- ”A sexta-feira arremeda o domingo.”
SÁBADO
- ”Não há sábado sem sol, nem noiva sem lençol.”
DOMINGO
- ”Quem à semana bem parece, ao domingo aborrece.”

Mais adágios existem, mas propositadamente não quisemos ser exaustivos. A nossa finalidade era, mais uma vez e só apenas essa, mostrar a importância da via popular e da literatura oral na consolidação da língua portuguesa, um dos vectores mais importantes, se não o mais importante, da nossa identidade cultural.