Mostrar mensagens com a etiqueta Humor. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Humor. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 8 de maio de 2024

É burro!


Carrego do burro. Fotografia do alterense Artur Pastor (1922-1999).


Quando um estudante tem mau aproveitamento escolar, diz-se:
- É burro!
Quando um automobilista faz uma manobra perigosa, comenta-se:
- É burro!
Quando num jogo decisivo, o árbitro não vê uma grande penalidade, da assistência grita-se:
- É burro!
Quando o medico falha o diagnóstico e o doente morre, reputa-se:
- É burro!
Quando um sindicalista se deixa levar nas negociações, diz-se com desdém:
- É burro!
Quando o 1º ministro falha as politicas, clamam os do contra:
- É burro!
Entre nós quando se chama burro a alguém é para o ofender, pois o termo reúne em si a múltipla carga negativa de: pouco inteligente, estúpido, teimoso, ignorante e pouco criativo. Etimologicamente a palavra “burro”, provem do latim “burrus”, que quer dizer vermelho. Acredita-se que foi daí que surgiu a crença de que burros são pouco inteligentes, pois antigamente, os dicionários tinham capas vermelhas, dando a ideia de que os burros eram sedentos de saber.
Desde os tempos imemoriais, que nas comunidades rurais, os burros são utilizados como auxiliar das tarefas agrícolas e como animais de carga. Porém, o abandono das actividades agrícolas tradicionais, fez com que este animal doméstico se encontre à beira da extinção. Contra isso lutam associações regionalistas, um pouco por todo o país, o que naturalmente é merecedor de todo o nosso apoio e simpatia.
Como etnógrafos constatamos a abundante presença do burro na literatura oral: lendas, contos populares, cancioneiro, adivinhas e provérbios, o que só por si testemunha a importância do burro nas antigas comunidades rurais. Na impossibilidade, de abordar aqui todos aqueles domínios, cingir-nos-emos aos provérbios, que como é sabido, são um repositório de sabedoria popular. Eis o conjunto de provérbios portugueses sobre burros que nos foi possível coligir:
- A burro morto cevada ao rabo.
- A burro que muito anda, nunca falta quem no tanja.
- A burro velho, capim novo.
- A burro velho, pouco verde.
- À falta de um grito, morre um burro no atoleiro.
- A ferramenta é que ajuda, não é o pisco em cima da burra
- A gente não deve de ficar adiante do boi, nem atrás do burro, nem perto da mulher: nunca dá certo
- A gente, queira ou não queira, tem de ir de burro à feira.
- A julgar morreu um burro.
- A pensar morreu um burro.
- Albarda-se o burro à vontade do dono.
- Andar de cavalo para burro.
- Antes bom burro que ruim cavalo.
- Antes burro vivo que doutor morto.
- Antes burro vivo que letrado morto.
- Às vezes não se respeita o burro, mas a argola a que ele está amarrado.
- Burro com fome, cardos come.
- Burro grande, cavalo de pau.
- Burro que geme, carga não teme.
- Burro velho não aprende línguas.
- Burro velho não toma andadura e se toma pouco dura.
- Burro velho não toma andadura.
- Burro velho, albarda nova.
- Burro velho, mais vale matá-lo que ensiná-lo.
- Burro velho, não aprende línguas.
- Com a morte do asno não perde o lobo.
- Criado que faz o seu dever, orelhas de burro deve ter.
- Depois do burro morto, cevada ao rabo.
- Em Janeiro todo o burro é sendeiro.
- Em Maio deixa a mosca o boi e toma o asno.
- Filho de burro não pode ser cavalo.
- Jumento e filho de padre são poços de manha.
- Jumento, padre com manha, são poços de artimanha.
- Mais vale burro vivo do que sábio morto.
- Mulo ou mula, asno ou burra, rocim nunca.
- Não é mel para a boca do asno.
- Não é por grandes orelhas que o burro vai à feira.
- O boi conhece o dono e o jumento a manjedoura.
- O burro acredita em tudo o que lhe dizem.
- O burro adiante para que não se espante.
- O burro do meu vizinho só sabe o que lhe ensino.
- O burro não é tão burro como se pensa.
- Palavra de burro é coice.
- Quando o burro é jeitoso, qualquer albarda lhe fica bem.
- Quando um burro zurra, os outros abaixam as orelhas.
- Queira ou não queira, o burro há-de ir à feira.
- Quem come carne na véspera de Natal, ou é burro ou animal.
- Quem não pode, aluga um burro.
- Quem o asno gaba, tal filho lhe nasça.
- Quer queira quer não queira, o asno há-de ir à feira.
- Todo o burro come palha, é preciso é saber dar-lha.
- Todo o malandro é um burro de sorte.
- Um burro carregado de livros é um doutor.
- Um olho no burro, outro no cigano.
- Zurros de burro não chegam aos céus.
Tal como os burros que foram objecto do presente “post”, também a literatura oral precisa de ser preservada e divulgada, o que se faz transmitindo aos mais novos, as fontes de sabedoria dos nossos ancestrais.

Publicado inicialmente em 22 de Fevereiro de 2010 

terça-feira, 30 de abril de 2024

A menina quer bailar?




Esta é a 2ª edição do post A MENINA QUER DANÇAR?,
editado em 20 de Fevereiro de 2010, agora revisto, reformulado e ampliado,
com a introdução de mais vinte quadras do cancioneiro popular alentejano,
ligadas à temática do baile popular, assim como três provérbios desse tema e
mais duas referências bibliográficas. Quanto ao título, ele próprio foi reformulado.


Nos bailes populares alentejanos dos finais do séc. XIX – princípios do séc. XX, era sacramental a pergunta endereçada pelo rapaz, à moça que lhe enchera as medidas:
- A menina quer bailar?
A resposta, podia assumir a forma dum rotundo “Não!”, tradicionalmente conhecido por “cabaço”. Mas a resposta podia igualmente revestir a forma dum rasgado sorriso, acompanhado dum entregar de corpo, às mãos e braços do varão inquiridor, que conduziria a moça durante o baile.
Eles bailavam de chapeirão, de bota cardada e calças com boca-de-sino. Elas, de saia a rasar o chão, o que levava alguns rapazes a confessar que:

"Toda a vida me agradou
Moça de saia rasteira,
Porque pranta o pé no chão
Devagar, não faz poeira." [3]

Todavia, os rapazes não gostavam que as moças dançassem de socos:

“Os sóccos para dançar
Fazem mui ruim effêto,
Ainda que as damas usem
Ricas jóias em sê pêto. ” [3]

No descanso, dava para eles enrolarem um paivante e tirar umas quantas fumaças, que isso de ser homem dá para fumar. E é sempre bom levar o varapau, que o diabo às vezes assume a forma de maltês. Também dava para elas comporem as saias à cinta, aperaltar os colares e compor os carrapitos.
Como vêem existia uma grande diferença de género.
Eu tenho uma certa pena das moças, porque os aprestos dos homens deviam ser algo incómodos, a menos que eles fossem ágeis e cuidadosos. De contrário, dançar de botifarras, devia dar para pregar cada pisadela que fervia. Uma botas alentejanas que se prezem, não são propriamente uns sapatos à Fred Astaire.
Também o chapeirão devia ser uma grande chatice, a menos que a moça fosse mais baixa.
Se a moça fosse mais alta, o chapeirão batia-lhe no peito e mantinha as distâncias, o que convenhamos era um grandessíssimo inconveniente para o homem.
Se a moça fosse da mesma altura, o chapeirão devia estar sempre a embirrar com a cabeça dela, a menos que dançassem de cabecinha ao lado, correndo o risco de dar um jeito ao pescoço. E o dinheiro que sobrara da romaria já não dava para ir ao endireita.
Um dos locais mais afamados para bailar no Alentejo, era o terreiro das Festas de S. Mateus, em Elvas:

“Eu também já fui à festa
e fiz promessas a deus
de cá voltar outra vez
a dançar no São Mateus.” [2]

Os bailes populares eram abrilhantados por tocadores de viola ou de acordeão, que eram também cantadores.
O bailar chegava a ser apontado como recomendação divina:

“Deus do céu mandou à terra
Um aviso à mocidade,
Que cantassem e bailassem,
Divertissem-se à vontade.” [1] (Amareleja)

A maioria dos rapazes gostava de bailar e versejar:

“Canto saias, bailo saias,
Eu saias ando bailando,
Gosto de bailar as saias
Com quem as andas trajando.” [3]

Alguns indicavam minuciosamente, as características a que devia obedecer o baile:

“O bailar quer-se mexido,
Puladinho e bem cantado,
Quer-se alegre e chegadinho
Ao par que levo ao meu lado.” [1] (Beja)

Bailar bem, era uma virtude a que os rapazes aspiravam:

“Quatro coisas ha no mundo
Que eu desejava apprender:
Cantar bem, tocar viola,
Báilhar bem e saber ler.” [3]

Algumas das moças seriam vaidosas. Pelo menos, era essa a opinião de alguns dos rapazes:

“Estas meninas d’gora
São bonitas, bailam bem;
Mas em tendo um fato novo,
Já não falam a ninguém.” [3]

Algumas moças recusar-se-iam mesmo a bailar:

“Menina que é cabaceira,
Tantos cabaços tem dado,
Veja lá se tem algum
Também para mim guardado.” [3]

Por vezes, a rapariga não sabia dançar:

“Oh! Que pernas, oh! que boca,
Henriqueta, vossê tem!
P´ra que quer vossê as pernas,
Se vossê não dança bem?” [3]

Havia rapazes que sabendo cantar e bailar, não percebiam porque é que as raparigas não gostavam deles:

“Tu dizes que não me queres,
Meu amor diz-me porquê,
Eu sei cantar e bailar,
E rir e falar tambem.” [3]

Havia rapazes que lamentavam não saber cantar tão bem, quanto sabiam versejar:

“S’eu soubesse cantar bem,
Como sei fazer cantigas,
Andava de bàlho em bàlho
Divertindo as raparigas.” [1] (Aljustrel)

Quando faltavam raparigas no baile, havia rapazes que procuravam desfazer os pares, originando frequentes zaragatas:

“Camarada, dá licença,
Um bocadinho, faz favor?
Quero dar palavra e meia
Ó seu par, que é meu amor.” [3]

Alguns rapazes faziam do cantar e tocar nos bailes, o seu ganha-pão:

“A cantar e a bailar
É que o meu bem ganha pão,
De viola a tiracolle
E panderêta na mão.” [3]

Havia quem exteriorizasse a sua liberdade de poder cantar e bailar:

“Inda canto, inda bailo.
Inda cá não ha tristeza,
Inda cá não ha quem tenha
Minha liberdade presa.” [3]

Havia mulheres que desejavam ficar sem o marido, a fim de poderem cantar e bailar, tal como em solteiras:

“Já não canto, já não bailo,
Que não quer o meu marido,
Deixem-no ir embora,
Restaurarei o perdido.” [3]

Havia quem, talvez por despeito de não ter par, considerasse que quem estava a bailar, não tinha dinheiro:

“Dos pares que andam bailando
Ali no meio do terreiro,
Não se me dá de apostar:
Nenhum d’elles tem dinheiro.” [3]

Havia quem, por estar triste, desejasse que os pares a bailar, caíssem, a fim de se divertir:

“Os pares que andam bailando,
Quem m’os dera ver cair!
Tenho o meu coração triste,
Q’ria fartar-me de rir.” [3]

Os rapazes reconheciam que, bailar de empreitada, dava cabo deles:

“Não é o cantar que dá
Cabo da rapaziada;
É o muito andar de noite
E o bàlhar de empreitada.” [1] (Odemira)

Enquanto houvesse cantadores, havia baile:

“Eu vejo o baile acabado
À falta de cantadores:
Agora começo eu,
Com licença, meus senhores.” [3]

Uma coisa é certa: nem todos os homens gostavam de bailar:

“Para bailar doe-me um dente,
Para cantar uma perna,
Onde tenho algum alívio
É à porta da taberna.” [3]

Alguns homens, por questões anatómicas, dançariam mesmo mal. Lá diz o rifão: "Barrigudo não dança, só sacode a pança". Todavia, também por questões anatómicas, ainda hoje persiste a crença de que: “Homem pequenino, ou velhaco ou dançarino”. De resto, o rifão “Assim como cantares, assim dançarás", talvez possa significar que “Se tiveres voz de cana rachada, então terás, decerto, pé de chumbo”.
Era este o contexto sociológico e lúdico dos bailes populares, nas feiras, festas e romarias do Alentejo, de finais do séc. XIX – inícios do séc. XX.

BIBLIOGRAFIA
[1] – DELGADO, Manuel Joaquim Delgado. Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo. Vol. I. Instituto Nacional de Investigação Científica. Lisboa, 1980.
[2] - SANTOS, Victor. Cancioneiro Alentejano. Livraria Portugal. Lisboa, 1959.
[3] - THOMAZ PIRES, António. Cantos Populares Portugueses. Vol. IV. Typographia e Stereotypia Progresso. Elvas, 1910.

Inicialmente publicado a 17 de Agosto de 2011

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Dia das mentiras


PINÓQUIO (Quando mentia, o nariz crescia). Personagem de ficção surgida no
romance “As aventuras de Pinóquio” (1883), escrita por Carlo Collodi (1826-1890).
Ilustração de Enrico Mazzanti (1852-1910).


1º de Abril em Portugal
O dia 1 de Abril é conhecido entre nós por “Dia das mentiras”, dia em que por tradição se pregam partidas aos outros, sejam eles familiares, amigos, vizinhos ou colegas de trabalho. A nível dos mídia, a imprensa escrita, a rádio, a televisão e a internet veiculam notícias, a maioria das vezes surpreendentes ou fantásticas, mas credíveis, as quais só no dia seguinte se vem a saber serem “mentiras do 1º de Abril”.
Decerto que haverá referências mais antigas ao 1º de Abril em Portugal, mas a mais antiga que eu conheço, data de 1885 e deve-se a Teófilo Braga [1] que nos revela que nos Açores a data era conhecida por “dia das petas” e no Porto por “dia dos enganos”, citando a propósito um jornal de província: “Efectivamente um dos enganos mais explorados é obrigar um indivíduo a dar passos baldados, procurar um objecto impossível ou que não está no sítio que lhe designam. E são especialmente as crianças escolhidas para vítimas dos enganos, porque a elas se presta mais a sua inocência. – Vai buscar uma corda para amarrar o vento. - Ah! Exclamam para outro: Quem te pintou a cara? E a criança corre ao espelho e só então se lembra que está no 1º de Abril”.

O 1º de Abril na minha infância
À semelhança de outros cidadãos, fui naturalmente e por ingenuidade, vítima de brincadeiras do 1º de Abril. A primeira deve ter ocorrido quando tinha para aí uns nove anos de idade e frequentava a instrução primária. O meu pai tinha uma oficina de alfaiate no primeiro andar da casa onde morávamos, na rua da Misericórdia, em Estremoz. Quando cheguei a casa vindo da escola, uma costureira que me ouvira a subir a escada, apareceu de rompante e disse-me para eu não subir e ir ao armazém do Senhor Tabaquinho, no Rossio Marquês de Pombal, que era o meu pai que mandava. Era para trazer 1 metro de entretim amarelo, que se tinha acabado e que dissesse que o meu pai ia lá pagar depois. Entreguei-lhe então a sacola da escola e lá fui eu a caminho do armazém do Senhor Tabaquinho. Chegado lá, puto espigadote, declaro ufano:
- Senhor Tabaquinho: quero 1 metro de entretim amarelo, que o meu pai depois vem cá pagar.
Qual não foi o meu espanto, quando o Senhor Tabaquinho e com ele todos os empregados, começaram a rir a bandeiras despregadas.
- O que é que aconteceu para se estarem a rir dessa maneira? - Perguntei eu.
Responde o Senhor Tabaquinho:
- Foi o teu pai que te mandou cá?
- Não Senhor Tabaquinho, foi uma empregada. – Respondi eu.
Diz-me então o Senhor Tabaquinho:
- Sabes uma coisa rapaz? A tua encomenda é muito estranha. É que não existe entretim amarelo, o teu pai compra sempre à peça e paga logo. Sabes que dia é hoje? É o 1º de Abril. É o dia das mentiras. Sabes uma coisa? A empregada que te mandou cá pregou-te uma partida. Não te arrelies que a mim também me fizeram o mesmo há muito tempo e ainda aqui estou.
Ouvido isto, lá fui para a oficina com o rabo entre as pernas e quando entrei algo cabisbaixo, houve risota geral das costureiras. Porém, eu ericei o pelo da venta, arrebitei o nariz e proclamei:
- Não me voltem a enganar! Metam-se com os rapazes da vossa idade!
A risota acabou e o meu pai ficou a saber o que se tinha passado, exclamando então:
- O gaiato tem razão. Vocês não têm juízo nenhum…
Este foi o meu baptismo de 1º de Abril. Depois disto e que me lembre, caí numa esparrela mais uma vez e logo no ano seguinte, quando fui para o 1º ano do liceu. No início dum intervalo, um aluno do 5º ano, disse-me assim:
- Enquanto eu aproveito o intervalo para fumar um cigarro, preciso que vás ali à Difarsul e me compres cinco tostões de electricidade em pó, pois como sabes sou interno no Colégio e tenho uma avaria na electricidade lá do quarto. Toma lá o dinheiro e não te demores pá, para chegares antes do toque da sineta para a entrada, senão ainda tens falta.
Eu, porque me dava bem com ele, dispus-me sem hesitações a ser prestável e a ir fazer o avio, até porque a Difarsul, vendedora de produtos químicos, ficava a 100 metros dali. Chegado lá, disse ao que ia, enquanto punha a moeda para pagamento em cima do balcão.
Resposta do funcionário:
- Oh rapaz, guarda o dinheiro e diz a quem te mandou cá que tenha juízo! Fica a saber que electricidade, só por fios. Sabes uma coisa? Caíste numa brincadeira do 1º de Abril.
Cabisbaixo, voltei a correr para o Colégio para não chegar atrasado às aulas. Chegado ao pátio, disse ao colega mais velho:
- É pá, tu enganaste-me! Pregaste-me uma partida, mas toma lá a moeda que é tua.
Ele deu-me uma palmada no ombro e respondeu-me:
- Pois preguei, que é para ver se espertas!
Ficámos amigos à mesma e eu tomei aquela partida como advertência. A partir daí tornou-se difícil pregar-me partidas no 1º de Abril.

BIBLIOGRAFIA
[1] - BRAGA, Teófilo. O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições. Livraria Ferreira – Editora. Lisboa, 1885.

Publicado inicialmente a 31 de Março de 2012

domingo, 31 de dezembro de 2023

Mensagens de Ano Novo



Na passagem de cada ano é usual cada um de nós formularmos “Votos de Feliz Ano Novo”, aos nossos familiares e amigos, bem como a pessoas do nosso círculo de relações.

Actualmente, os modos mais correntes de o fazer são através das mensagens por telefone, email, vídeo e videoconferência. Mas nem sempre foi assim.

Anteriormente à globalização e à era digital, para além dos “Votos de Feliz Ano Novo”, serem formulados através de relacionamento humano interpessoal, existiam cartões ilustrados com mensagens pré-impressas, os quais se expediam pelos correios e eram arautos dos votos por nós formulados, acabando na maioria dos casos por dar origem a uma missiva da mesma tipologia, expedida em sentido contrário. Tudo isto pertence ao passado.

A riqueza e cromatismo das ilustrações era notável, pelo que tais cartões são actualmente peças de colecção muito apreciadas.

As imagens aqui apresentadas pertencem a cartões com mensagens impressas em língua inglesa, tanto do Reino Unido como dos Estados Unidos da América e a respectiva datação remonta aos primórdios do séc. XX. As imagens dos cartões ilustram predominantemente: - A despedida do “Ano Velho” associada à entrada do “Ano Novo”; - A meia-noite de 31 de Dezembro e as zero horas de 1 de Janeiro, assinaladas num relógio de ponteiros; - A folha de calendário do primeiro dia de Janeiro; - Símbolos dos votos formulados (trevo de 4 folhas, ferradura, cornucópia, porquinho); - Festejos de passagem de ano.

É tal o deleite de espírito provocado pela visualização destas imagens que me apetece dizer:
- Oh tempo volta para trás!

Hernâni Matos





































quinta-feira, 17 de março de 2022

Ilustrações de Margarida Maldonado em Exposição



Transcrito com a devida vénia de
newsletter do Município de Estremoz,
de 16 de Março de 2022.

"As Velhas" é o nome da exposição de ilustrações de Margarida Maldonado que irá ser inaugurada, dia 19 de março, pelas 15:00 horas, na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz.
Margarida Maldonado é de Estremoz, pintora autodidata, Educadora de Infância já reformada e autora e ilustradora de vários livros de história e poesia, sobre esta exposição diz-nos:
“Os ricos viajam no espaço, o covid por toda a parte. Em Glasgow decide-se o futuro da humanidade, por cá cai o governo. Os Partidos degladiam-se nas respetivas Sedes; multidões nas ruas pelo clima. Sobe o preço da água, da luz, da gasolina. Não há médico de família para todos, o dinheiro não chega para os medicamentos. As velhas só querem estar! Tranquilamente e cheias de gratidão pelo sol quente do dia, pelo brilho da lua para espreitar à noite. A luz e o silêncio, o céu azul e as flores bravias, os frutos e os pássaros. O cheiro e as cores dos campos , os animais e as couves da horta. Dão os bons dias à vizinhança os novos agricultores recém chegados. Nada lhes consegue roubar a felicidade de viver no espaço rural. Sorriem, desatam os nós dos dedos e crescem-lhes rendas brancas contra as saias pretas.” (Margarida Maldonado)
A mostra vai estar patente até dia 19 de junho de 2022 e é composta por cerca de cinco dezenas de ilustrações que representam mulheres, às quais carinhosamente chama as Velhas, que vivem tranquilamente no interior do Alentejo completamente alheias aos problemas que se passam no Mundo e trabalhos que ilustram os tranquilos campos e Vilas no Alentejo.

domingo, 27 de fevereiro de 2022

O fascínio da cerâmica de Redondo

 

Bacia. Oleiro desconhecido. 1910-1911.


Pontapé de saída
A cerâmica de Redondo exerce há muito sobre mim, um enorme e justificado fascínio: pela diversidade da sua tipologia, pela riqueza e variedade da sua morfologia, pela tecnologia de fabrico, pela sua decoração, pelos processos pelos quais é concretizada, pelas temáticas da decoração, pelo cromatismo, pela funcionalidade dos seus modelos e, finalmente, pela sua História e Etnografia.

O jogo em si
Ao longo dos anos fui reunindo exemplares que fui adquirindo, sobretudo no Mercado das Velharias em Estremoz e mais recentemente através de compras “on line”.
Ultimamente cheguei à conclusão que era imperioso inventariar os espécimes da minha colecção, pelo que se tornava necessário estudá-los, o que tenho vindo a fazer, recorrendo à bibliografia existente e que disponho ao meu alcance. Não tem sido tarefa fácil, a começar pela datação das peças, as quais não estando datadas, é sempre aproximada. A maioria das peças não estão assinadas, pois isso era pratica corrente. Deste modo, há um número considerável delas, para os quais não consegui identificar nem o oleiro, nem o(a) decorador(a). A tarefa a que me propus é uma tarefa hercúlea, daquelas que vulgarmente são designadas por “bico de obra”. Para ser mais preciso: a inventariação sem mácula de uma peça olárica de Redondo, é humanamente impossível, tal como o é a quadratura do círculo. Todavia, tal impossibilidade não me tem impedido de procurar inventariar os meus exemplares, tendo em conta os itens em relação aos quais é possível fazê-lo.
Uma tal inventariação tem sido acompanhada de uma leitura antropológica, que delas vou fazendo e na sequência das qual acabo por contruir uma estória, já que as peças falam comigo e eu sou um contador de estórias. As mesmas têm sido divulgadas no meu blogue "Do Tempo da Outra Senhora"  e posteriormente na minha página do Facebook.

Remate final
Recentemente e na sequência da divulgação da mais invulgar peça da minha colecção, recebi do historiador, Dr. José Calado, um comentário que muito me congratulou:
- Fantástica. Muito obrigado por mais esta extraordinária partilha...
A minha resposta célere foi a que reproduzo de seguida:
- É com todo o gosto que o faço. Como coleccionador sinto necessidade de estudar as peças que me tocam a alma e a divulgação dos resultados da minha pesquisa é um corolário natural que culmina todo o processo. Todavia, este não fica fechado. É um processo sempre em aberto, permeável a todas as descobertas e/ou reflexões que eu próprio ou alguém possa produzir. Nesse sentido, a representação que faço da peça é uma representação dinâmica, já que se encontra em permanente reconstrução.
É isso que prometo continuar a fazer, já que sou resiliente e costumo reincidir. Podem ter a certeza.

BIBLIOGRAFIA
MADUREIRA, João. Memórias da Olaria de Redondo. Centro de Documentação do Pão. Terena, 2015
CALADO, José. Redondo Terra de Oleiros. Santa Casa da Misericórdia de Redondo. Redondo, 2013.
CARMELO AIRES, António. Cerâmica de Redondo – Um Outro Olhar. Câmara Municipal de Redondo. Redondo, 1921.
Hernâni Matos

Bacia. Oleiro desconhecido.

Alguidar. Oleiro desconhecido.

Prato covo. Ti Rita (1891-1974).

Prato covo. Ti Rita (1891-1974).

Bacia. Álvaro Chalana (1916-1983).


Prato covo.  Álvaro Chalana (1916-1983).

Prato covo.  Álvaro Chalana (1916-1983).


Bacia. Ti Rita (1891-1974).


Bacia. Oleiro desconhecido.

Prato covo. Olaria Beira.

Prato peixeiro.  Álvaro Chalana (1916-1983).

Barril.  Álvaro Chalana (1916-1983).

Borracha. F. R. Cte, oleiro. 1941