sábado, 16 de novembro de 2024
Estórias do autor
sexta-feira, 1 de novembro de 2024
CONCERTO DOS UHF – A heroína ali foi a música
CONCERTO DOS UHF – A
heroína ali foi a música [1]
Crónica rock [2] ou talvez não, por Hernâni Matos
Uma viola baixo, uma viola ritmo
e uma bateria poderão não fazer uma orquestra. Fazem, porém, um concerto de
rock. Que o digam a meia bancada e o terço de ringue que no passado dia 18 de Setembro [3],
na Esplanada Parque em Estremoz, assistiram ao concerto dos UHF.
Amplificador que difunde
vibrações, volts transformados em decibéis, poluição sonora estandardizada dum
conjunto desfalcado dum vocalista que é também viola ritmo.
Montanhas de amplificadores e um
aparato de projectores verde-laranja-branco, verde-laranja-branco, verde-… Poça
que já me doía a vista.
Corpo forrado de jeans, camisetes
e ténis. Homens programados, gestos computorizados, corpos electrificados
geradores de música. E nas convoluções epilépticas, violas tricotam música que
as malhas que o som tece lá vão aquecendo a malta. É preciso é conjugar o verbo
pular.
Embora se vissem senhoras em
traje de passeio, predominava a juventude, que o rock não liga com o reumático.
Havia tipos exóticos, cabelos à Black Power, rapazes tipo West Side com Marias
para todos os paladares. Havia também uma bebedeira com um lenço ao pescoço e
um chapéu à 3 mosqueteiros, enfiado num pau de virar tripas. É que estas coisas
têm os seus próprios regulamentos e a malta tem de ir fardada a rigor.
Ambiente morno, que em Estremoz
nada pega. Um palco decorado com barreiras e uma mão cheia de PSP´s e PE’s que
não chegaram a fazer falta, que não houve problemas com a malta. Oh, meu! Ainda
dizem que a juventude é violenta!
Na escuridão, beijos generosos
que se dão e óculos escuros que se tiram, pois à noite todos os gatos são
pardos.
Os cigarros que tremulam são os
novos pirilampos da sociedade de consumo.
Há quem deambule por aqui e por
ali e há quem beba cerveja, que o escuro não mata a sede.
As coisas aqueceram aí pelo “Modelo
Fotográfico”, não percebemos se vestido se despido, que por essa altura os
tímpanos já tinham pifado. O quê? Queres um fósforo? Toma lá pá! Não tens de quê!
Com o “Cavalo de Corrida”
atingiu-se o auge da morneza, com a malta de braços erguidos como quem protesta
contra o preço da carne, o que não era o caso, pois ali todos tinham ido ao
concerto por sua livre vontade.
Quanto à encenação, aquilo tava
uma maravilha, pá! Era a gaja da saia transparente que tirava fotografias à contraluz
e foi o blusão despido aí por alturas do “Cavalo de Corrida”, que era p’ra a
gente acreditar que aquilo estava mesmo a aquecer. E até deu p’ra haver
publicidade, que um sumo que se bebe no palco é sede comercial que é preciso
promover.
Vale tudo menos tirar olhos. Não
pensava isto quem no outro dia ia tirando um ao António Manuel Ribeiro (vocalista - viola ritmo),
pois estava acompanhando o rock ao ritmo da fisga. Aquilo de colcheias e projecteis
à mistura não resultou e o Tó Manel ia ficando como o Luís Vaz, vulgo Camões.
Isqueiros que se se acendem aqui
e ali nos braços erguidos ao alto, como quem paga uma promessa a Fátima.
E eis que um fogo de artifício
cria a apoteose que os espectáculos devem apresentar no fim. E aqui houve
encenação de pormenor na cor cardinalícia que conferiu a solenidade que a
apoteose precisava ter. E no momento em
que termina o concerto, os músicos erguem as violas bem alto, como um sacerdote
num templo ao proceder à consagração da hóstia.
Música que se extingue, artifício
de fogo que se acaba. Resta o fumo que o vento acaba por levar. E com aquela
nuvem passageira, os músicos saem pela esquerda baixa para logo de seguida,
numa semi-escuridão e com blusas trocadas entre si por questões de segurança,
irem direitinhos à cozinha do bufete. A traça não perdoa. É preciso encher a
mula, pá!
Uma hora de espectáculo. 13 composições,
85 contos de cachet. Nada mau. E o “Estremoz”[4]?
Terá reforçado a verba ou averbado o esforço?
E é isto o rock. Rock à Portuguesa,
pois claro!
Quando tiver um puto, hei de lhe
dizer:
- Porta-te bem ou levo-te ao
rock!
quinta-feira, 19 de setembro de 2024
ESTREMOZ - O neo-realismo a passar por aqui
D. Maria Fernanda Andrade.
[1]
“Gandaia” é um termo pertencente à gíria popular, cujo significado é: “Acto de remexer o lixo à procura do que nele se pode aproveitar”.
[2] Sinopse recolhida em https://tradestories.pt/carlos-lopes/livro/gandaia .
quarta-feira, 18 de setembro de 2024
Arte pastoril alentejana e Exposição do Mundo Português
Há alguns anos atrás, em conversa amiga e habitual com o artesão oradense João Catarino, foi-me dito por este que estava à venda num antiquário de Borba, uma colher antiga em madeira, bordada com a imagem de Nossa Senhora [1]. Disse-me ainda, mais ou menos isto: “O professor é coleccionador, mas se não a comprar, compro-a eu, que aquilo é coisa antiga, feita por alguém da minha terra”. Como não deixo os meus créditos por mãos alheias, lá fui ao antiquário para “abrir os cordões à bolsa” e comprar a linda colher, cuja descrição passo de imediato a fazer.
Colher de madeira com 17 cm de comprimento, em cujo cabo encimado por uma cruz, figura a imagem lavrada de Nossa Senhora da Orada. Junto
à base do manto, as iniciais "JT" do artesão Joaquim
Teodoro da Cruz [2],
inscritas num coração, o que decerto simbolizará a devoção do artista popular
por aquela imagem de Nossa Senhora.
Próximo da zona de ligação do
cabo à concha, as inscrições "ORADA" e "1940", distribuídas por duas linhas.
1940 foi o ano da "Exposição
do Mundo Português", que teve lugar de 23 de Junho a 2 de Dezembro de
1940. Foi um evento realizado em Lisboa durante o regime do Estado Novo, com o
propósito de comemorar simultaneamente as datas da Fundação do Estado Português
(1140) e da Restauração da Independência (1640).
ORADA é a aldeia da naturalidade
de Joaquim Teodoro da Cruz, que terá participado na Exposição na qualidade de
artesão.
A vila de Orada participou em 30
de Junho desse ano no “Cortejo Histórico do Mundo Português” (https://www.youtube.com/watch?v=yZg3f-4NXac),
o qual teve lugar no recinto da Exposição e foi criado e encenado por Henrique
Galvão.
A vila da Orada ficara, de resto, classificada em 2.º lugar no concurso "A aldeia mais portuguesa de Portugal"(https://books.openedition.org/etnograficapress/569), organizado em 1938 pelo Secretariado de Propaganda Nacional (SPN). A apresentação da vila da Orada ao júri do concurso, decorreu a 2 de Outubro de 1938 e pode ser visualizada no extracto do filme "A Aldeia mais Portuguesa de Portugal" (https://www.facebook.com/watch/?v=1103185636453994), realizado por António de Menezes, em 1938.
[1] Nossa Senhora
da Orada é Padroeira da Freguesia da Orada no concelho de Borba e é venerada na
Igreja de Nossa Senhora da Orada, que segundo a tradição terá sido fundada pelo
Condestável D. Nuno Álvares Pereira, o qual no local terá orado antes de partir
para a Batalha dos Atoleiros, da qual o exército português saiu vitorioso. De
salientar que o condestável era o donatário daquelas terras e a Igreja já aparece
referenciada no século XVI.
[2] A
identificação do autor a partir das iniciais foi feita após conhecimento de
outra colher, identificada por Vitor Tavares Santos
(https://www.facebook.com/photo/?fbid=10212487299973993&set=g.1505900599500258),
o qual conheceu o artesão quando vivia em Cacilhas no andar superior do antigo
Quartel de Bombeiros. A Vitor Tavares Santos os meus agradecimentos.
segunda-feira, 16 de setembro de 2024
CICLO DA CORTIÇA - Uma jóia de arte pastoril alentejana
Guardador de memórias de arte pastoril alentejana, sob a
epígrafe QUANDO A CORTIÇA SE TRANSFORMA EM ARTE, publiquei recentemente no Facebook,
as imagens de 3 quadros em cortiça, pertencentes ao meu acervo de arte pastoril
alentejana, os quais mereceram o apreço generalizado de amigos e seguidores.
Uma dessas pessoas foi a minha estimada amiga Manuela Mendes,
que há muito assumiu o Compromisso de Salvaguarda da Memória da Fábrica Robinson
de Portalegre, que muito justamente considera a verdadeira JOIA da COROA de
Portalegre. Como comentário à terceira publicação que eu fiz dos meus quadros
de cortiça, perguntou:
- “E este Prof? Um dos muitos exemplares de grande
formato feito em Portalegre na primeira metade do séc. XX.”
Referia-se a uma folha de calendário para os meses de Maio e
Junho de 1963, impresso em aglomerado de cortiça e editado pela Fábrica
Robinson de Portalegre (Fig. 2).
A minha resposta foi a seguinte:
Manuela:
Este quadro (Fig. 1)
é de tal maneira extraordinário, que se situa num patamar superior a tudo
aquilo que me é dado conhecer.
A moldura é em cortiça.
A orla que ladeia
interiormente a moldura é um autêntico filigrana do mesmo nobre material.
O tema do quadro é o registo etnográfico do “Ciclo
da cortiça” nas suas diferentes fases em tempos de antanho, com a particularidade de os
intervenientes no ciclo estarem representados por figurinhas esculpidas em
madeira.
Onde parará esta jóia da arte pastoril alentejana? Quem terá sido o seu
criador? São duas perguntas (im)pertinentes, que ficam à espera de resposta.
Se me autorizar a
reproduzir a imagem e se não se importar, após adaptação publicarei o presente
texto no meu blogue.
Bem-haja. Um forte abraço
deste caminheiro e guardador de memórias da arte pastoril alentejana, que
admira todo o seu trabalho em prol da preservação da Memória da Fábrica Robinson
de Portalegre.
E a autorização chegou.
sábado, 14 de setembro de 2024
A olaria tradicional de Estremoz é de se lhe tirar o chapéu
A olaria tradicional de Estremoz
é extremamente rica em múltiplos aspectos. Na verdade, observando-a como um
todo, revela-se de imediato uma grande variedade de funcionalidades,
tipologias, morfologias, tipos de decoração e tamanhos.
Assim, por exemplo, a
funcionalidade “recipiente para água”, depara-se imediatamente com a
possibilidade de assumir várias tipologias: ânfora, barril, bilha, cafeteira,
cântaro, cantil, copo, depósito, garrafa, jarro, moringue, pote, púcaro,
reservatório, tronco. A qualquer uma destas tipologias, podem corresponder
múltiplas morfologias, dependendo do modo como a volumetria do objecto olárico
foi preenchendo o espaço tri-dimensional, à medida que o mesmo crescia na roda,
até atingir a sua forma final. Daí que seja notável, por exemplo, a diversidade
morfológica dos moringues. A uma tal variedade há que acrescentar a
multiplicidade introduzida pelo tipo de decoração escolhido: pedrado, riscado,
polido, relevado e suas possíveis combinações.
Creio que o leitor perceberá
agora a razão de ser do presente texto, assim como perceberá decerto a dureza
da tarefa hercúlea que constitui a recuperação da extinta olaria tradicional de
Estremoz.
Publicado em 14 de Setembro de 2024
quinta-feira, 12 de setembro de 2024
Juramento de fidelidade
domingo, 21 de julho de 2024
Os Bairros do Castelo e de Santiago em Estremoz, um levantamento de Rui Pimentel
Créditos fotográficos:
Este o título da exposição
inaugurada ontem pelas 16 horas na Galeria Municipal D. Dinis em Estremoz e que
ali estará patente ao público até ao próximo dia 15 de Setembro.
A mostra é constituída por um
conjunto de fotografias e plantas arquitectónicas elaboradas pelo arquitecto
Rui Pimentel do grupo CIDADE e visam estudar a zona que constitui o cerne que
está na génese da cidade de Estremoz.
Ao acto inaugural, presidido pelo
Presidente do Município José Daniel Sadio, compareceram cerca de duas dezenas
de pessoas que ali se deslocaram atraídas pelo trabalho de Rui Pimentel, cuja
actividade polifacetada transpôs há muito o domínio formal da arquitectura e se
espraiou aos campos do design gráfico, cenografia para teatro, banda desenhada,
ilustração, concepção de exposições, caricatura e cartoon.
Coube a Isabel Borda d’Água,
directora do Museu Municipal de Estremoz, a apresentação do arquitecto Rui Pimentel,
que de seguida explanou o trabalho efectuado. A finalizar, o Presidente do Município,
José Daniel Sadio, agradeceu o trabalho do arquitecto Rui Pimentel e referiu-se
aos desafios que se põem ao Município e às condicionantes a que este está sujeito.
Verificaram-se ainda algumas intervenções por parte de alguns elementos do
público, que não quiseram deixar de exprimir as suas opiniões pessoais acerca
de toda a problemática suscitada pela presente exposição.
segunda-feira, 15 de julho de 2024
Sei que não vou por aí!
"Não sei por onde vou,
Publicado inicialmente em 15 de Julho de 2013
domingo, 14 de julho de 2024
Agente do FBI? Nem pensar!
sexta-feira, 26 de abril de 2024
25 DE ABRIL DE 2024: Presente!
Em 1994, na sequência do falecimento do então Presidente da Câmara Municipal de Estremoz. José Dias Sena, exerci interinamente as funções de Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz.
sexta-feira, 29 de dezembro de 2023
O guardador de memórias e o Mercado das Velharias em Estremoz