Fernando Pessoa, Bernardo
Soares, Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Cartoon de Rui Pimentel,
impresso na folha relativa a este mês de Maio, num calendário editado pelo CNBDI - Centro
Nacional de Banda Desenhada e Imagem (Amadora).
Não sei quantas almas tenho
Fernando Pessoa (1888-1935)
Fernando Pessoa (1888-1935)
Fernando Pessoa (1888-1935)
Não
sei quantas almas tenho.
Não
sei quantas almas tenho.
Cada
momento mudei.
Continuamente
me estranho.
Nunca
me vi nem achei.
De
tanto ser, só tenho alma.
Quem
tem alma não tem calma.
Quem
vê é só o que vê,
Quem
sente não é quem é,
Atento
ao que sou e vejo,
Torno-me
eles e não eu.
Cada
meu sonho ou desejo
É
do que nasce e não meu.
Sou
minha própria paisagem,
Assisto
à minha passagem,
Diverso,
móbil e só,
Não
sei sentir-me onde estou.
Por
isso, alheio, vou lendo
Como
páginas, meu ser
O
que segue não prevendo,
O
que passou a esquecer.
Noto
à margem do que li
O
que julguei que senti.
Releio
e digo: “Fui eu?”
Deus
sabe, porque o escreveu.
Fernando Pessoa (1888-1935)
Publicado inicialmente em 7 de Dezembro de 2015
#Poesia Portuguesa - 072