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domingo, 21 de julho de 2024

Os Bairros do Castelo e de Santiago em Estremoz, um levantamento de Rui Pimentel

 




Créditos fotográficos:
Maria Miguéns - Município de Estremoz

Este o título da exposição inaugurada ontem pelas 16 horas na Galeria Municipal D. Dinis em Estremoz e que ali estará patente ao público até ao próximo dia 15 de Setembro.

A mostra é constituída por um conjunto de fotografias e plantas arquitectónicas elaboradas pelo arquitecto Rui Pimentel do grupo CIDADE e visam estudar a zona que constitui o cerne que está na génese da cidade de Estremoz.

Ao acto inaugural, presidido pelo Presidente do Município José Daniel Sadio, compareceram cerca de duas dezenas de pessoas que ali se deslocaram atraídas pelo trabalho de Rui Pimentel, cuja actividade polifacetada transpôs há muito o domínio formal da arquitectura e se espraiou aos campos do design gráfico, cenografia para teatro, banda desenhada, ilustração, concepção de exposições, caricatura e cartoon.

Coube a Isabel Borda d’Água, directora do Museu Municipal de Estremoz, a apresentação do arquitecto Rui Pimentel, que de seguida explanou o trabalho efectuado. A finalizar, o Presidente do Município, José Daniel Sadio, agradeceu o trabalho do arquitecto Rui Pimentel e referiu-se aos desafios que se põem ao Município e às condicionantes a que este está sujeito. Verificaram-se ainda algumas intervenções por parte de alguns elementos do público, que não quiseram deixar de exprimir as suas opiniões pessoais acerca de toda a problemática suscitada pela presente exposição.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Visita guiada à exposição “NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS”



Créditos fotográficos:
Jorge Mourinha - Município de Estremoz

No próximo dia 13 de Julho (sábado), terá lugar pelas 16 horas, uma visita guiada à exposição de artes plásticas NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS, patente ao público na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho.

A visita será conduzida por mim próprio na qualidade de expositor. Nela começarei por dar uma visão do que foi o movimento neo-realista português, o modo como surgiu e porque surgiu, os seus marcos mais importantes, as lutas em que se envolveu antes do 25 de Abril, bem como as suas naturais implicações.

Seguidamente, orientarei uma visita guiada à exposição, procurando facilitar a leitura e interpretação das obras dos artistas plásticos patentes ao público: Júlio Pomar, António Cunhal, Lima de Freitas, Júlio Resende, Manuel Ribeiro de Pavia, Cipriano Dourado, Rogério Ribeiro, Alice Jorge, Jorge de Almeida Monteiro, Espiga Pinto, Querubim Lapa e Aníbal Falcato Alves.

No seu conjunto, as obras expostas são em número de 40 e distribuem-se por diferentes tipologias: desenho a grafite, desenho a tinta-da-China, guache, aguarela, técnica mista, serigrafia, linoleogravura, xilogravura, litografia, água forte e água tinta e colagem.

A exposição integra o programa das Comemorações "50 ANOS EM LIBERDADE: COMEMORAÇÕES DO 50° ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE ABRIL DE 1974”, promovidas pelo Município de Estremoz.

A mostra estará patente ao público até ao próximo dia 15 de Setembro.

A participação na visita guiada não carece de marcação e é inteiramente gratuita.

sábado, 8 de junho de 2024

Hernâni Matos expõe acervo neo-realista no Museu Municipal de Estremoz



Integrada no Programa Comemorativo “50 anos em Liberdade: Comemorações do 50º Aniversário da Revolução de Abril de 1974”, terá lugar pelas 16 horas do próximo dia 15 de Junho, na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho, a inauguração da exposição de artes plásticas NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / Colecção Hernâni Matos.

Na mostra estarão patentes ao público, 40 trabalhos de artistas plásticos neo-realistas, pertencentes ao acervo pessoal de artes plásticas do Professor Hernâni Matos, nosso colaborador e reconhecido recolector e investigador da Cultura Popular Alentejana, muito em especial de Bonecos e Olaria de Estremoz, Arte Pastoril e Cerâmica Vidrada de Redondo.
Visando descortinar o que será o certame, procurámos entrevistar o expositor, que desde logo acedeu à nossa solicitação.
Ivone Carapeto

 

Porquê esta exposição?
Esta exposição teve uma génese imprevista, a qual passo a relatar. É sabido que frequento as redes sociais, onde com fins pedagógicos e com espírito de missão, publico diariamente, nunca se sabendo previamente qual é a “ementa do dia”. O ”cardápio” é variado: Bonecos de Estremoz, Olaria de Estremoz, Cerâmica de Redondo, Arte Pastoril Alentejana, Usos e Costume do Alentejo, Literatura de Tradição Oral e tudo aquilo que me enche as medidas e aquece a alma.
Acontece que houve um dia do passado recente, no qual alguém me confrontou, perguntando-me porque é que eu não fazia nenhuma exposição. É claro que a pessoa não me conhecia, porque de contrário saberia que desde os anos 80 do século passado, não tenho feito outra coisa, convidado ou por iniciativa própria. Estaria, decerto, a pensar em tempos mais recentes. Foi então que lhe disse que mais recentemente, em 2004 e 2012, por convite do então Director do Museu Municipal de Estremoz, Hugo Guerreiro, a minha colecção de Arte Pastoril esteve exposta na Sala de Exposições Temporárias (2004) e na Galeria Municipal Dom Dinis (2012).
De qualquer modo, sempre lhe disse que se fosse convidado, estaria disponível para corresponder. Certo dia, cruzei-me à entrada do Museu Municipal com a actual Directora, Isabel Borda d´Água, a quem dei conta da minha disponibilidade em expor Bonecos de Estremoz, Arte Pastoril e Arte Neo-realista, se houvesse interesse por parte do Museu. Houve e esta foi a génese da exposição.

Qual a razão da designação dada à exposição?
O título da exposição surgiu-me num ápice à flor do pensamento. Não poderia ser doutro modo. Isto por que as obras neo-realistas são, elas próprias, registos da realidade de uma época nos seus múltiplos aspectos: social, económico e político. Por outro lado, ao reunir um acervo pessoal dessas obras, tornei-me, eu próprio, um guardador de memórias.

Não se importa de explicar aos leitores em que consiste o neo-realismo?
Trata-se dum movimento filosófico, literário e artístico. O neo-realismo português manifesta-se pela primeira vez em meados dos anos 30 através de polémicas literárias surgidas nos jornais “O Diabo” e “Sol Nascente”, bem como na revista “Vértice”, que defendiam uma arte virada para os verdadeiros problemas da sociedade, entrando em ruptura com o que era preconizado pela revista “Presença”, a qual defendia uma literatura expurgada de ideologia e não comprometida socialmente e que ao contrário do neo-realismo dava mais importância à “forma” que ao “conteúdo”.
Tais polémicas são fruto do contexto político-social da década de 30: a oposição entre comunismo e fascismo, o fim da Guerra Civil Espanhola e o deflagrar da II Guerra Mundial. Surge assim uma nova geração de escritores motivados para a intervenção cívica e cultural, em consonância com os propósitos progressistas da esquerda política europeia.
Constitui-se então uma frente cultural de escritores e artistas plásticos, descontentes com a política cultural do regime totalitário e fascista de Salazar, a qual se assume como “Movimento Neo-realista Português”. Este afirma-se como representante e porta-voz dos anseios das classes trabalhadoras, retratando a realidade social e económica do país e empenhando-se na transformação das condições sociais do mesmo. Nesse sentido, foca-se no homem comum, procurando saber como vivem operários e camponeses. Aborda e aprofunda temas como as desigualdades sociais e a exploração do homem pelo homem. Escrutina as injustiças e analisa o modelo social vigente. Pugna pela elevação moral dos oprimidos e deposita esperança no futuro do Homem. É claro que a defesa de todos estes valores se processa nas condições mais duras de repressão, que incluem no mínimo a censura e a apreensão de obras de arte e publicações e no limite, a prisão, a tortura e a interdição do desempenho de cargos públicos.

Identifica-se com o neo-realismo? Em caso afirmativo, porquê?
O neo-realismo retrata uma época que abrange a minha infância e a minha juventude: No decurso desta última tive plena consciência das injustiças sociais e da repressão que se exercia sobre quem se rebelava. Foi o período em que se começou a consolidar a minha consciência cívica e também política, não só em casa, como na escola e na sociedade, por interacção com amigos mais velhos, alguns dos quais já tinham estado “dentro” e outros que não o tendo estado, a vida não lhes “corria às mil maravilhas”. Daí que me identifique com o neo-realismo, enquanto arte de resistência e bandeira de luta antifascista. Pois claro!

Em que consiste a exposição?
Trata-se de uma mostra de 40 trabalhos de artistas plásticos neo-realistas, os quais integram o meu acervo pessoal de artes plásticas.

Quais são os artistas plásticos representados?
Trata-se de um conjunto diversificado de pintores, desenhadores e gravadores, entre os quais se situam alguns dos mais representativos e direi mesmo icónicos criadores da 3ª geração modernista. Com a particularidade de, num certo período da sua vida e obra, terem integrado as fileiras do movimento neo-realista português. São eles: Jorge de Almeida Monteiro, Alice Jorge, Júlio Pomar, Querubim Lapa, Rogério Ribeiro, Lima de Freitas, Júlio Resende, Manuel Ribeiro de Pavia, Cipriano Dourado, Aníbal Falcato Alves e Espiga Pinto. Para além deles, há a registar ainda a presença incomum de uma obra de António Cunhal, irmão mais velho de Álvaro Cunhal e por mim considerado um percursor do movimento.

Que variedades de artes plásticas estarão patentes ao público?
Os trabalhos expostos são de diferentes tipologias: desenho a grafite, desenho a tinta-da-China, guache, aguarela, técnica mista, serigrafia, linoleogravura, xilogravura, litografia, água forte e água tinta e colagem. De salientar, por um lado, a ausência de tipologias como a escultura, a cerâmica e a pintura a óleo ou acrílico, já que o valor de mercado das mesmas não é compatível com a minha capacidade financeira. De destacar igualmente, por outro lado, a predominância das várias tipologias de gravura artística, mais consentâneas com o meu poder de aquisição. Não foi por acaso que os neo-realistas viram na gravura artística, um meio privilegiado de tentativa de democratização da prática artística e de aproximação da arte do povo. Finalmente, apraz-me registar a presença na exposição de cinco trabalhos (2 xilogravuras e 3 colagens) da autoria do meu saudoso amigo Aníbal Falcato Alves.

O que é que o levou a reunir este conjunto de trabalhos de artistas plásticos neo-realistas?
Tanto quanto me lembro, sempre gostei de arte e a minha predisposição para o coleccionismo remonta aos 10 anos de idade. Todavia, há várias circunstâncias que estão na origem do presente acervo.
Em primeiro lugar, foi determinante a influência de Aníbal Falcato Alves, de quem me tornei amigo logo na minha juventude e que nos anos 60 do século XX me deu a conhecer a existência de uma arte de resistência e me falou doutros artistas com quem privava: Rogério Ribeiro, Manuel Ribeiro de Pavia e Cipriano Dourado. Foi ele também que me falou pela primeira vez da existência e importância da GRAVURA-Sociedade Portuguesa de Gravadores, bem como da relevância das Exposições Gerais de Artes Plásticas da Sociedade Nacional de Belas Artes. De resto, foi nos anos 80-90 que reuni os trabalhos de Aníbal Falcato Alves que integram o meu acervo.
Em segundo lugar, foi igualmente decisivo ter conhecido Espiga Pinto na minha juventude, pois eu frequentava o Externato Liceal de São Joaquim e o pintor, seis anos mais velho do que eu, era professor de Desenho na Escola Industrial e Comercial, o que aconteceu no período 1960-1965. Foi a época em que deixou marcas da sua intervenção no Café Águias de Ouro, com trabalhos de forte registo etnográfico, que me fascinaram desde logo. Era presença habitual na Livraria e Papelaria Aníbal, a qual eu também frequentava. Todavia, só em 2018 comecei a adquirir trabalhos seus.
Em terceiro lugar, terei conhecido Rogério Ribeiro em 1977, data duma gravura com uma dedicatória do pintor. Mais tarde, em 1981, entrevistei-o para o jornal Brados do Alentejo e aí se falou de neo-realismo. Porém, só tive oportunidade de adquirir trabalhos seus, a partir igualmente de 2018.
Do exposto é fácil de concluir que me senti motivado a coleccionar, não só por me identificar com o tema “neo-realismo”, como também por uma questão afectiva e de admiração da obra daqueles artistas plásticos.
Entretanto, fui conhecendo a obra de outros pintores, desenhadores e gravadores, de tal modo que, sempre que me foi possível, fui acrescentando outros nomes ao meu acervo: Júlio Resende, Manuel Ribeiro de Pavia, Alice Jorge, Júlio Pomar, Querubim Lapa, Lima de Freitas e Jorge de Almeida Monteiro.

A divulgação da exposição tem por base o grafismo de uma mulher a apanhar a azeitona. Quer-nos explicar por quê?
Em primeiro lugar porque optei por associar o grafismo da exposição ao Alentejo, não só porque a mostra decorre nesta região, mas também e sobretudo porque os camponeses alentejanos foram dos principais protagonistas da arte e da literatura neo-realistas.
Em segundo lugar porque a actividade representada era uma prática corrente no Alentejo. A litografia representa uma mulher do povo, de cabeça coberta por um lenço, com avental de trabalho e descalça, o que indicia a sua condição de pobreza. Encontra-se junto a uma oliveira, dobrada sobre si própria e apanha azeitona caída da árvore. No tempo do fascismo havia quem por necessidade tivesse que “andar ao rabisco”, isto é, ir à apanha da azeitona caída no chão, uma vez que tivesse terminado a safra. Era uma actividade de subsistência e último recurso, praticada por quem vivia miseravelmente.
Em terceiro lugar escolhi uma litografia de Cipriano Dourado, pois na sua obra, independentemente da adversidade do contexto, sobressai sempre o encanto da feminilidade, resultado da delicadeza do seu traço.

Quer-nos falar do catálogo da exposição?
O catálogo é uma peça chave da exposição, a começar pelo grafismo centrado na camponesa alentejana que anda ao rabisco da azeitona. É uma imagem muito bela e ao mesmo tempo fortemente expressiva, já que dela transparece a miséria, a dureza e a precariedade da condição feminina no Alentejo de antanho.
O catálogo inventaria sequencialmente as obras expostas, cujas características técnicas estão identificadas e às quais está associado um número de ordem que corresponde igualmente à respectiva imagem no catálogo.
Simultaneamente, cada obra é acompanhada duma nota de fim, já que cada uma delas encerra em si uma estória que merece ser descodificada e revelada. É esse o papel do recolector, o qual se torna inescapavelmente um contador de estórias. Estórias plurais e multifacetadas que envolvem o relato do que está na génese da criação, a gesta do acto criador e o impacto que teve na comunidade.
Estórias que passam igualmente pelo relato do contexto da aquisição de cada obra, da identificação de anteriores proprietários, das particularidades das dedicatórias de autores e das estórias de vida de quem foi o destinatário da dedicatória.
O catálogo apresenta na abertura um texto da autoria do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, José Daniel Pena Sadio, que muito me honra e valoriza o catálogo. Nas suas palavras, o Senhor Presidente reconhece o valor e o interesse de parte do meu acervo estar patente ao público, o que o levou a dar o seu aval no sentido da exposição de artes plásticas “NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / Colecção Hernâni Matos”, integrar as COMEMORAÇÕES "50 ANOS EM LIBERDADE: COMEMORAÇÕES DO 50° ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE ABRIL DE 1974”, promovidas pelo Município de Estremoz.
O catálogo insere igualmente com muito orgulho, o texto “O imaginário desceu à terra” da autoria de António Júlio Rebelo. Trata-se de um texto a partir do qual se torna difícil extrair excertos, já que com as suas sábias palavras, o nosso estimado filósofo erigiu um monumento de pensamento. De qualquer modo, com bastante modéstia, destaco e sublinho algumas passagens: “O neo-realismo mostra que é possível identificar a realidade e transcender a visão que o nosso olhar sonda, em silêncio, emocionado e doído.” E mais adiante: “Quem trouxe esse imaginário que desceu à terra? O nosso dedicado guardador de memórias, aquele que as colhe, guarda e protege, e que tem para connosco a bondade e o cuidado de as mostrar, confirmando que, segundo a melhor sabedoria ditada na história, o passado, o presente e o futuro são uma só verdade.” Já a finalizar: “Em nome da esperança, sigam com o melhor olhar que tenham a exposição que a todos é facultada.”

Que expectativas tem em relação à exposição?
As expectativas são naturalmente positivas. Em primeiro lugar, a curadoria da exposição é de Isabel Borda d’Água, Directora do Museu Municipal de Estremoz, que se tem mostrado inexcedível na preparação da exposição e na divulgação da mesma. Conta de resto com o apoio de uma equipa de montagem com provas dadas, importante naquilo que será o concretizar do “visual da exposição”.
Em segundo lugar, as iniciativas patrocinadas pelo Município, como é o caso, têm uma excelente divulgação, não só na imprensa escrita e falada, sobretudo a nível regional, como também nas redes sociais.
Em terceiro lugar e modéstia à parte, eu próprio constituirei um pólo de atracção da exposição, não só pela curiosidade suscitada pela vontade de conhecer o acervo por mim reunido, como acrescer o facto de no acto inaugural, eu próprio conduzir uma visita guiada à exposição. Por isso venham. Estão todos convidados. Parafraseando Zeca Afonso: - Venham e tragam outro amigo também!
CRÉDITOS FOTOGRÁFICOS:.
Luís Mariano Guimarães

CIPRIANO DOURADO (1921-1981). Rabisco (1956). 
Litografia sobre papel 6/20. 42 x 35,5 cm (mancha).

ANTÓNIO CUNHAL (1910-1932). Semeador (s/d). 
Desenho a tinta-da-China sobre cartolina.
 25 x 16 cm (mancha).

quinta-feira, 6 de junho de 2024

NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS




Transcrito com a devida vénia da
newsletter do Município de Estremoz,
de 06 de Junho de 2024

Integrada no Programa Comemorativo “50 anos em Liberdade: Comemorações do 50º aniversário da Revolução de Abril de 1974”, terá lugar pelas 16 horas do próximo dia 15 de Junho, na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho, a inauguração da exposição de artes plásticas NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS.

Na mostra estarão patentes ao público, 40 trabalhos de artistas plásticos neo-realistas, pertencentes ao acervo pessoal de artes plásticas do Professor Hernâni Matos.

As obras expostas são da autoria de 12 criadores:  António Cunhal (1910-1932), Jorge de Almeida Monteiro (1908-1983), Alice Jorge (1924-2008), Júlio Pomar (1926-2018), Querubim Lapa (1925-2016), Rogério Ribeiro (1930-2008), Lima de Freitas (1927–1998), Júlio Resende (1917-2011), Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957), Cipriano Dourado (1921-1981), Aníbal Falcato Alves (1921-1994) e Espiga Pinto (1940-2014).

Os trabalhos são de diferentes tipologias: desenho a grafite, desenho a tinta-da-China, guache, aguarela, técnica mista, serigrafia, linoleogravura, xilogravura, litografia, água forte e água tinta e colagem.

Hernâni Matos é um conhecido recolector e investigador da Cultura Popular Alentejana, muito em especial de Bonecos e Olaria de Estremoz, Arte Pastoril e Cerâmica Vidrada de Redondo. Nasceu em Estremoz no “tempo da outra senhora” e teve o privilégio de conhecer e interactuar com figuras que são para si icónicas, que o marcaram profundamente e por cuja obra nutre uma incomensurável estima: Aníbal Falcato Alves, Espiga Pinto e Rogério Ribeiro. Daí não ser de estranhar que se tenha sentido motivado a reunir um conjunto de trabalhos de artistas plásticos neo-realistas. São trabalhos que constituem registos da realidade em múltiplos aspectos: social, económico e político e como tal memórias guardadas pelos seus criadores. Para além disso são também memórias guardadas pelo recolector que agora as partilha com o público. Este, através do catálogo da exposição, tem ainda acesso à estória que cada obra encerra em si e o recolector descodifica e revela.

O certame ficará patente ao público até ao próximo dia 15 de Setembro.

Hernâni Matos

terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Uma jóia da História Postal de Estremoz


 
Fig. 1

Fig. 2


Prólogo
Há documentos cuja interpretação permite ao investigador catalogá-los na classe das “jóias”. Uma tal inclusão pode ser devida ao teor do seu conteúdo escrito, bem como ao contexto em que este foi produzido, assim como ao grafismo do próprio documento. Pode até acontecer que estas três situações coexistam, o que potencia o valor e o interesse do documento. Vamos ver que é o que se passa com um bilhete-postal ilustrado, pertencente ao meu arquivo de História Postal de Estremoz.

Descrição do bilhete-postal ilustrado
Trata- se de um inteiro postal, mais propriamente um bilhete-postal de Boas Festas do tipo “Tudo Pela Nação,” com selo impresso da taxa de $30 (30 centavos), destinado ao Serviço Nacional, obliterado com a marca do dia da estação dos CTT, do tipo de 1928, do dia 24 de Dezembro de 1942.  O bilhete-postal tem como motivo os Bonecos de Estremoz. A ilustração é de Laura Costa (activa 1920-1950), e o bilhete-postal foi emitido pelos CTT em 1942.
Na parte superior do rosto do bilhete-postal (Fig. 2), a ilustração é constituída por um tradicional “Berço do Menino Jesus” da barrística popular estremocense, o qual se encontra ladeado por dois ramos de azevinho.
No verso do bilhete-postal (Fig. 1) a ilustração representa uma cena no areal da praia da Nazaré e envolve um casal com os seus trajes tradicionais, acompanhados de duas crianças. Aparentam estar a montar no areal a “Adoração dos Reis Magos”, Presépio de 6 figuras, constituído pela Sagrada Família e pelos 3 Reis Magos.
O bilhete-postal ilustrado foi expedido em 24 de Dezembro de 1942 (véspera do Dia de Natal) por Sá Lemos, dirigido ao Dr. Marques Crespo, em Estremoz.

Sá Lemos, o expedidor do bilhete-postal
José Maria de Sá Lemos (1892-1971), escultor, discípulo de Mestre António Teixeira Lopes (1866-1942), começou a trabalhar como professor e simultaneamente Director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves, em 21 de Abril de 1932, data da sua tomada de posse, com base no Decreto de 15 de Março de 1932 publicado no Diário do Governo nº 82 – 2ª série de 8 de Março de 1932.
Pela sua acção fez ressurgir os Bonecos de Estremoz, cuja produção tinha cessado com a morte de Gertrudes Rosa Marques (1840-1921) em 1921. Tal ressurgimento foi conseguido recorrendo primeiro à velha barrista Ana das Peles (1869-1945), que foi o instrumento primordial dessa recuperação e depois ao Mestre oleiro Mariano da Conceição (1903-1959) - O “Alfacinha”, o qual foi o instrumento de continuidade dessa recuperação.
No período que esteve em Estremoz e que se prolongou até 30 de Setembro de 1945, foi vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Estremoz entre 1938 e 1945, durante dois mandatos do então Presidente da Câmara, Engº Manuel Bicker de Castro Lobo Pimentel. São de sua autoria a maqueta em barro e em tamanho natural do Monumento aos Mortos da Grande Guerra e da Fonte do Sátiro, ambos em Estremoz.

Marques Crespo, o receptor do bilhete-postal
José Lourenço Marques Guerreiro Crespo (1871-1955), médico, maçon, membro do Partido Republicano Português e Presidente da Câmara Municipal de Estremoz (1923-1926). Foi fundador e director do semanário regionalista “Brados do Alentejo” (1931-1951), fundador da delegação da Cruz Vermelha Portuguesa de Estremoz, membro da comissão fundadora do Teatro Bernardim Ribeiro e Presidente Honorário do Orfeão Tomás Alcaide. Publicou entre outras obras, a monografia “Estremoz e o seu termo regional” (1950).

Estremoz doutros tempos
O facto de o bilhete-postal ter sido expedido apenas na véspera de Natal, também merece alguma reflexão. Decerto que o remetente sabia que no dia de Natal não havia distribuição domiciliária de correspondência, pelo que a missiva só seria recebida já depois do Natal. O que é que o terá levado a expedir o bilhete-postal postal só na véspera de Natal? Não sei. Todavia, posso admitir como plausíveis duas circunstâncias: – A chegada tardia à estação dos CTT de Estremoz, deste tipo de bilhete-postal de Boas Festas: o nº 42 (preparação do Presépio) de uma série de 12, numerados de 35 a 46, todos com ilustração de Laura Costa e ostentando o mesmo tipo de selo impresso; - O conhecimento tardio por parte do remetente da existência do bilhete-postal nº 42 (preparação do Presépio).
O endereço do destinatário resume-se ao nome deste e não inclui o nome do arruamento nem o número de porta. Para este facto contribuíram, decerto, factores como: - O destinatário ser uma personalidade com destaque na sociedade local e por isso muito conhecido; - O número de arruamentos ser muito inferior ao que é na actualidade; - O brio profissional dos carteiros que os levava a empenhar-se na missão de “levar a carta a Garcia”.

Epílogo
Sá Lemos considerara recuperada a produção de Bonecos de Estremoz em artigo publicado no jornal Brados do Alentejo, em 10 de Novembro de 1935. Ainda nesse mesmo ano, os Bonecos de Ana das Peles participaram na “Quinzena de Arte Popular Portuguesa” realizada na Galeria Moos, em Genebra. Em 1936 estiveram presentes na Secção VI (Escultura) da Exposição de Arte Popular Portuguesa, em 1937 na Exposição Internacional de Paris e em 1940 na Exposição do Mundo Português. Nesta exposição estiveram também expostos os Bonecos de Estremoz de Mestre Mariano da Conceição, os quais no pavilhão expositor eram pintados por sua mulher Liberdade da Conceição (1913-1990), face à impossibilidade de Mestre Mariano estar presente por ser funcionário público.
Os Bonecos de Estremoz adquiriram notoriedade pública e projecção internacional com a Exposição do Mundo Português em 1940, de tal modo que os CTT os utiliza como motivo dos bilhetes-postais de Boas Festas de 1942. Deve ter sido uma suprema felicidade para Sá Lemos, que através do bilhete-postal endereça "um abraço de Boas Festas" ao seu amigo Marques Crespo, o qual através da missiva pôde constatar que os Bonecos de Estremoz andavam a ser divulgados pelos CTT através de mensagens natalícias.
Não há dúvida que a mensagem, bem como o seu contexto e o grafismo, legitimam completamente o título escolhido para o presente texto.

Hernâni Matos

quinta-feira, 8 de abril de 2021

E os passarinhos não se calam


Primavera 2021. Desenho a lápis de cor. Cristina Malaquias.

LER AINDA:

A ilustradora Cristina Malaquias publicou na sua página do Facebook, um magnífico desenho que não resisto a reproduzir aqui com a respectiva legenda “E os passarinhos não se calam”, que me mereceu o seguinte comentário:
Senão fosse o arco, eu diria que a figura era um "Amor é cego" que tirou a venda para a usar como máscara comunitária. Mas está lá o arco... E está muito bem, que isto de espetar o arco nas costas não lembra a ninguém.
O arco empunhado na mão direita tem outro encanto. Quem sabe se a figura não evoca um desfile de floristas em luta pelo direito a vender flores? Parece que estou a vê-las gritar:
- FLORES, SIM! COVID, NÃO!
Palavra de ordem que vão alternando, por vezes, com uma palavra de ordem mais reformista:
- COVID ESCUTA, QUE O POVO ESTÁ EM LUTA!
Todavia, as floristas mais revolucionárias clamam bem alto:
- MORRA O COVID! MORRA! PIM!
É caso para dizer:
- CAMARADAS: SÓ A MORTE DO BICHO, PORÁ FIM À NOSSA LUTA!
Cristina Malaquias respondeu:
- Lindo texto, sim senhor!!
Que dizer então? A minha resposta foi imediata e o seu relato vem de seguida:
Eu sou um contador de estórias. Que poderia fazer eu para além do óbvio lugar comum do "Parabéns Cristina pelo seu belo desenho!" Como diz o Hino da Intersindical:
- LUTAREMOS COM AS ARMAS QUE TEMOS NA MÃO!
Foi dito e feito. Contei uma estória que é uma das coisas que sei fazer. Foi a forma encontrada de lhe procurar retribuir a beleza com que nos prendou.

domingo, 15 de março de 2020

Coronavírus COVID-19



O surto da doença causada pelo coronavírus surgiu em 31 de Dezembro de 2019 na cidade de Wuhan na China, foi declarado pela OMS como Emergência de Saúde Pública em 30 de Janeiro de 2020 e como pandemia em 11 de Março de 2020.
Os maiores cartoonistas mundiais, cada um deles com o seu tipo próprio de sentido de humor e especial modo de o tratar graficamente, debruçou-se sobre os múltiplos aspectos suscitados pela pandemia. Os seus cartoons foram publicados na imprensa mundial e encontram-se disseminados pela Internet. Aí recolhi e seleccionei 40 desses cartoons, os quais revelam a preocupação dos seus autores com a transmissão do vírus, os comportamento pessoais a adoptar no seu combate, os oportunismos surgidos na sequência da pandemia e uma forte crítica à China e a Trump.
Os cartoons escolhidos foram em número de quarenta, número cuja escolha não foi acidental, já que é o número que corresponde à quantidade designada correntemente por “quarentena”, palavra que designa igualmente o período de isolamento a que devem ser submetidos, pessoas, animais ou mercadorias provenientes de um país onde grassa uma epidemia.