domingo, 29 de junho de 2025
Jorge da Conceição e o Porteiro do Céu
segunda-feira, 16 de junho de 2025
Ora agora falo eu!
domingo, 15 de junho de 2025
Santo António na barrística popular estremocense
Santo António (1195-1231) nasceu em Lisboa no dia 15 de Agosto de 1195 numa família de mercadores e cavaleiros-vilãos, filho de Martim de Bulhões e de Maria Teresa Taveira Azevedo. Foi baptizado no Mosteiro de São Vicente de Fora com o nome de Fernão de Bulhões. Fez os primeiros estudos na Igreja de Santa Maria Maior, hoje Sé de Lisboa. Em 1209 ingressa como noviço na Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, estabelecida naquele Mosteiro.
sábado, 14 de junho de 2025
Santo António no púlpito
Santo António no púlpito (2020). Carlos Alves (1958- ).
Prólogo
A figura de Santo António é uma das imagens devocionais mais
antigas e mais populares, produzidas pelos barristas de Estremoz. As
representações conhecidas figuram-no, em geral, assente numa peanha trajando em
alternativa:
- 1) O hábito castanho da ordem franciscana, com cordão de 3
nós e por vezes com o rosário à cintura;
- 2) As vestes de cónego regrante de Santo Agostinho, o qual
inclui túnica branca, sobrepeliz de linho, redonda e ampla, assim como murça
preta, apertada apenas por um botão.
Em qualquer das figurações e em geral, o Santo ampara no
braço esquerdo um livro, sobre o qual se senta o Menino Jesus, que segura nas
mãos o globo do mundo. Na mão direita do Santo, uma açucena ou em alternativa
uma cruz.
Trata-se frequentemente de representações inspiradas em
imagens devocionais em madeira, que são objecto de culto nas nossas Igrejas.
Todavia nem sempre é assim. A barrista Fátima Estróia há
muito que prescindiu da peanha nas representações de Santo António, não sei se
por o considerar um Santo “terra a terra” (popular) ou por no momento da
criação não estar a pensar em nenhuma imagem de Igreja.[1]
Recentemente, a barrista Joana Oliveira criou duas composições: “Passeio de
Santo António com o Menino Jesus” e “Sermão de Santo António aos peixes”. Em
qualquer das suas criações, prescindiu compreensivelmente do recurso à peanha,
uma vez que não estava a representar qualquer imagem existente numa Igreja.
Estava sim a concretizar, respectivamente, representações da intimidade de
Santo António com o Menino Jesus e de um sermão bem conhecido.
As representações anteriores não esgotam as possibilidades
de figurar o Santo em contexto de imagem de culto ou em aspectos da sua vida.
Na verdade, a biografia de Santo António é bem conhecida e retrata-o como
teólogo, místico, asceta, grande taumaturgo, notável orador e homem de grande
cultura, documentada pela colectânea de sermões escritos que nos legou.
Significa isto que os barristas de Estremoz têm possibilidade de efectuar outras
representações de Santo António, para além daquelas que são conhecidas.
Foi nessa ordem de ideias que tendo sido Santo António um
grande orador, o barrista Carlos Alves criou uma imagem de “Santo António no
púlpito”[2],
inspirada na escultura homónima em madeira (58x17x12 cm), de autor
desconhecido, que terá sido criada no período 1501-1525 e que pertence ao
acervo do Museu Nacional Machado de Castro, em Coimbra. É dessa imagem que
seguidamente vou falar.
Santo António no
púlpito
“Santo António no púlpito” (39x13x12,5 cm) é uma figura
composta por duas figuras elementares: “Santo António” (26x11,5x8 cm) e “púlpito”
(24x13x12,5 cm).
Santo António enverga o hábito castanho da ordem
franciscana, com manto e capucho sobre a cabeça. Calça sandálias. À cintura tem
cingido o cordão creme de três nós, que simbolizam os votos perpétuos do Santo:
obediência, pobreza e castidade, as três pedras angulares da Ordem Franciscana.
Ambas as mãos estão encostadas ao peito, sem contudo estarem fechadas, numa
atitude de quem procura dar vida às palavras, acompanhando-as com gestos.
A figura do Santo assenta numa base estreita, prismática e
sextavada, de cor amarela, heterogénea, configurando mármore raiado de
castanho.
O púlpito, assente numa base moldurada, tem forma prismática
e sextavada, de cor igualmente amarela, heterogénea, configurando mármore
raiado de castanho. Apresenta atrás uma abertura com uma extensão
correspondente a duas faces do prisma, a qual permite a entrada da figura do
Santo. O púlpito está coberto com um pano de púlpito, de cor verde e com
franjas douradas.
O simbolismo das
cores
- Verde, cor das
plantas e das árvores, associada ao crescimento, à renovação e à plenitude.
Simboliza a esperança na vida eterna. É a cor usada nos Ofícios e Missas
do Tempo Comum;
- Amarelo, cor
associada ao Sol, que dá a sensação de brilho e iluminação. Cor acolhedora que
estimula o optimismo, proporciona concentração e estimula o intelecto;
- Castanho, cor de
terra, que no dizer de São Francisco de Assis é mais humilde que os outros
elementos e que está associada aos votos de pobreza assumidos pelos
franciscanos. É a cor normativa da Ordem;
- Dourado, cor do ouro, o mais nobre dos metais, associado
ao que é perfeito, durável e eterno. Cor que evoca o Sol e o fogo, símbolo do
amor e da luz celeste.
Cancioneiro Antonino
É vasta a literatura de tradição oral portuguesa referente a
Santo António. Do extenso cancioneiro antonino seleccionei algumas quadras, que
julguei adequadas ao presente texto. Uma que refere o tecido do hábito: “Ó meu
padre Santo António / Vestidinho d’estamenha; / A quem Deus quer ajudar, / O
vento lhe ajunta a lenha.” (1)
Outra que refere o cordão com que cinge a cintura: “Ó meu
padre Santo António, / O vosso cordão é bento; / Dai-me a luz dos vossos olhos
/ Do Divino Sacramento.” (1)
Uma relativa ao julgamento do seu pai: “Santo António já foi
frade, / Já foi frade, já pregou: / Ao pedir Ave-marias / Seu pai da forca
livrou.” (1)
Outra respeitante ao sermão aos peixes: “Santo António
Português, / Quando foi pregar ao mar, / Até os peixes na água, / Se puseram a
escutar!” (1)
Finalmente uma relativa ao interesse despertado nas moças:
“Santo António de Lisboa / Era um grande pregador, / Mas é por ser Santo
António / Que as moças lhe têm amor.” (2)
Epílogo
A mais recente criação do barrista Carlos Alves veio
enriquecer sobremaneira, a barrística popular estremocense, o que para mim é
gratificante.
Pela singularidade da sua criação, modelada com rigor e pelo
cromatismo agradável, fortemente simbólico e esteticamente harmonioso, o
barrista é merecedor de toda a minha admiração. Por isso, publicamente o
felicito:
- PARABÉNS, CARLOS ALVES!
BIBLIOGRAFIA
(1) -
MATTOS, Armando de Matos. Santo António
de Lisboa na Tradição Popular (Subsídio Etnográfico). Livraria Civilização.
Porto, 1937.
(2) - PESSOA,
Fernando. Quadras ao Gosto Popular.
Ática. Lisboa, 1965.
[1] O
mesmo já acontecera com barristas como José Moreira, irmãs Flores e Maria Luísa
da Conceição na criação de imagens devocionais de outros Santos.
[2] O
púlpito é parte integrante de um templo católico e consiste numa plataforma
elevada em relação ao solo, cercada por um guarda-corpo e provido de um
determinado meio de acesso. A sua função é elevar espacialmente o orador, para
melhor ser visto e ouvido pelos fiéis. Pode apresentar elementos decorativos
que reforçam a dignidade do discurso e do pregador.
Santo António no púlpito
(1501-1525). Escultura em madeira (58x17x12 cm),
de autor desconhecido. Museu
Nacional Machado de Castro, Coimbra.
“Santo António no púlpito” (após cozedura).
“Santo António no púlpito” (após pintura e envernizamento).
quarta-feira, 11 de junho de 2025
Eu e Santo António de Lisboa
- Santo António na barrística popular estremocense (13-06-2011)
- Santo António no Azulejo Português (14-06-2012)
- Santo António na tradição popular estremocense (26-06-2912)
- Joana Oliveira, uma barrista que se afirma (30-05-2020)
- Auto do desconfinamento de Santo António (13-06-2020)
- Inocência Lopes e o infortúnio de Santo António (29-06-2020)
- Um gancho de meia antonino (21-11-2020)
- Santo António no púlpito (11-12-2020)
sábado, 7 de junho de 2025
Maria Luísa da Conceição, presente!
Maria Luísa da Conceição comigo, no decurso duma entrevista
que me concedeu em sua casa em 2013. Fotografia de Luís Guimarães.
domingo, 1 de junho de 2025
Estremocense, Mestre do Neo-Realismo, em terras de Vila Franca
Ontem, dia 31 de Maio, estive presente, por iniciativa própria, no acto
inaugural da exposição “Fazer crescer a vida - Rogério Ribeiro e o Neo-Realismo”.
Com curadoria de David Santos, a exposição ocupa os pisos 1 e 2 do
Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, mostrando cerca de duzentas e
cinquenta obras de pintura, desenho, gravura e cerâmica de Rogério Ribeiro, um
dos maiores protagonistas do neo-realismo visual português.
Rogério Ribeiro (1930-2008) é natural de Estremoz, onde nasceu em 1930. Tive o
privilégio de o entrevistar em 1981 para o jornal Brados do Alentejo. Aí se falou de neo-realismo. Num
enquadramento da presente exposição está patente um painel que destaca um excerto dessa
entrevista.
O Município de Estremoz galardoou o artista em 2006 com a Medalha de
Mérito Municipal - Grau Ouro e desde 2013 que a toponímia estremocense assinala
a existência da rua “Mestre Rogério Ribeiro”.
A exposição “Fazer crescer a vida -. Rogério Ribeiro e o Neo-Realismo”,
integra duas obras cedidas para o efeito pelo Museu Municipal de Estremoz e
pertencentes ao seu acervo. São elas: - Estudo, 1952. Aguarela sobre papel, 30
x 43 cm; - Mondadeiras, 1952. Tinta-da-China e gouache sobre papel, 35 x 45 cm.
De Estremoz, presentes ao acto inaugural e por iniciativa própria, estive
eu e duas pessoas que me acompanharam. Convenhamos que sabe a pouco.