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quarta-feira, 9 de outubro de 2024

NA JANELA DO TEMPO


 Novo livro de Georgina Ferro apresentado

na Sociedade de Artistas Estremocense

Reportagem de Hernâni Matos. Fotografias de Manuel Xarepe


João Ferro na abertura da sessão. Na mesa: Fernando Mão de Ferro, Georgina Ferro
e Hernâni Matos. 

Um aspecto da assistência.

A Sessão de apresentação
Com o Salão de Festas da Sociedade de Artistas Estremocense literalmente cheio, teve lugar a partir das 16 horas e 30 minutos do passado dia 28 de Setembro, a sessão de lançamento e apresentação do livro “NA JANELA DO TEMPO / TRADIÇÃO, CONTRABANDO E EMIGRAÇÂO”, da autoria de Georgina Ferro, editado em Julho passado pelas edições Colibri, com uma tiragem de 500 exemplares.
A sessão foi coordenada por Fátima Crujo e a intervenção de abertura coube a João Ferro, Presidente da Direcção. Na Mesa encontravam-se o editor do livro, Fernando Mão de Ferro, Hernâni Matos e a autora, que falaram por esta ordem.
Coube a Hernâni Matos fazer a apresentação formal da obra, finda a qual solicitou uma calorosa salva de palmas para a autora, que agradeceu emocionada. Seguiu-se a leitura de excertos de estórias do livro pela filha Sónia Ferro e pelos netos Clara Ferro e Tiago Ferro. No final, a autora autografou o livro para o muito público presente.


Hernâni Matos fazendo a apresentação formal da obra.

A filha Sónia Ferro, lendo um excerto do livro.

Os netos Clara e Tiago Ferro, lendo passagens do livro.

A autora Georgina Ferro, autografando o livro.

A autora
A autora, professora aposentada do 1º ciclo, é natural de Manteigas, onde nasceu a 8 de Dezembro de 1948, dia consagrado a Nossa Senhora da Conceição. Daí que, segundo diz, se tenha sentido “sempre abençoada e protegida por todas as mães: a Mãe Natureza, a Mãe Celestial e a Mãe da Terra”. A autora revela-nos que repartiu o tempo de infância ente Manteigas, Aldeia do Bispo (Sabugal) e Covilhã. Frequentou a Instrução Primária até à 3ª classe em Aldeia do Bispo (Sabugal) e a 4ª classe em Manteigas. Ingressou depois no Ensino Liceal no Colégio de Nossa Senhora Auxiliadora, no Monte Estoril. Em 1967 ingressou na Escola do Magistério Primário de Évora e terminado o Curso, começou a leccionar o Ensino Primário no ano de 1969 em Rosário (Alandroal), a que se seguiram Veiros, Selmes (Vidigueira), Aldeia da Serra e Glória, onde leccionou 32 anos, até se aposentar em 2003.
Fixou-se em Estremoz em 1972 e aqui casou e teve 3 filhos: Sónia, Pedro e Inês. Sem nunca ter perdido os laços afectivos à terra natal e aos territórios da sua infância, Georgina é cumulativamente uma estremocense adoptiva, que tem participado activamente na vida social da Comunidade em múltiplos aspectos: educativos, cívicos e culturais.
Conheço seguramente a Georgina desde o início do exercício do Magistério Primário na Freguesia da Glória, da sua ligação à Comunidade, do seu reconhecimento por parte da mesma e do seu amor às coisas campaniças.
Lembro-me de partilhar há muito com a Georgina uma grande admiração pelo “Ti Rolo” da Aldeia de Cima (Glória), que exercia sobre nós um fascínio incomensurável, pela sua oralidade transbordante e pelos artefactos de arte pastoril nascidos das suas mãos mágicas, nos quais projectava toda a imaginária popular, lavrada em chifres e paus sabiamente escolhidos.
Lembro-me do nascimento da sua filha Sónia e tive o privilégio de ser professor de Física de 12º ano do seu filho Pedro. Foi uma experiência encantadora, pois além do Pedro ser um aluno fortemente motivado, eu tive oportunidade de pôr em prática o método de ensino-aprendizagem personalizado, preconizado por muitos pedagogos. É que o Pedro era o único aluno da turma. Nenhum de nós deixou os seus créditos por mãos alheias e a experiência pedagógica foi um êxito.
Lembro-me do envolvimento da Georgina no Projecto Serra de Ossa, desde o início, no tempo da liderança de Gil Malta e de ela ter participado em 1998, conjuntamente com outros professores, entre os quais eu me incluo, nas “Segundas Jornadas da Serra d’Ossa”, levadas a efeito na Escola Secundária da Rainha Santa Isabel. A sua bem-sucedida intervenção oral nessas jornadas, foi o embrião dos seus primeiros livros, publicados ambos em 2005: “Plantas Medicinais da Serra d'Ossa” e “Por um Amanhã Mais Verde, Mezinhas Caseiras com Plantas da Serra d'Ossa”.
Em Setembro de 2012, a Georgina concedeu-me o privilégio de participar na apresentação pública do meu livro “Memórias do Tempo da Outra Senhora”, o que muito me congratulou.
Em Dezembro de 2013 a Georgina brindou-nos com o lançamento do seu livro de poesia “O MEU ARRAIAR POR TERRAS DO SABUGAL”, editado pela Colibri, o qual foi apresentado na Casa de Estremoz pela Maria do Céu Pires e pela Francisca de Matos.
Desta feita, coube-me a mim fazer a apresentação formal do seu mais recente livro “NA JANELA DO TEMPO / TRADIÇÃO, CONTRABANDO E EMIGRAÇÂO”, na sequência do convite que me foi endereçado pela autora e que eu gostosamente aceitei.


A obra
Fisicamente é um livro brochado, de 22,8 x 16 cm e 236 páginas, dado à estampa pelas prestigiadas Edições Colibri de Fernando Mão de Ferro. Tem capa a cores de Raquel Ferreira, gizada a partir de fotografia de Abel Cunha. Na primeira badana figura uma pequena biografia e a fotografia da autora e na segunda badana, um excerto de uma das estórias do livro. Este tem prefácio de José Carlos Lage, o qual confessa que é “Fácil e ao mesmo tempo difícil” falar das poesias e das crónicas de Georgina. Por sua vez, em posfácio impresso na contracapa, Francisca de Matos afirma e muito bem, que “Esta obra é, sobretudo, uma grande lição de vida, um legado que não deve, não pode ser esquecido”.
O livro é um livro de estórias ou não fosse Georgina, para além de notável poetisa, uma extraordinária contadora de estórias. Não estórias quaisquer, nem tão pouco inventadas ou arquitectadas, mas estórias reais ocorridas no tempo da sua infância, repartida entre Manteigas, Aldeia do Bispo (Sabugal) e Covilhã.
São estórias com personagens reais, de carne e osso, como o Ti Júlio, a Ti Mariana, a Senhora Isabel Augusta, o Ti Zé Ramos, a Menina Zéfinha, o tio António Pantalona, o tio Zé Manso e não sei quantos mais, numa infinidade numerável que não consegui quantificar. São eles que constituem aquilo que com orgulho, Georgina chama “A Minha Gente”.
São estórias contadas e redigidas numa escrita fluida e ágil, eficaz na pintura descritiva das paisagens rurais e do interior das casas aldeãs. Escrita que é também uma partilha intimista das emoções e sentimentos dos personagens, incluindo Georgina, também ela própria, personagem por direito próprio e inalienável. Tudo sempre minuciosamente filigranado ao pormenor, numa linguagem rica, valorizada pelo uso de vocábulos regionais, cujo sentido, se necessário pode ser decifrado num glossário que antecede o índice final.
São estórias do tempo em que nas aldeias se tocavam as Trindades.
As hortas eram regadas com água tirada das noras e das picotas. Comia-se daquilo que a terra dava e em situações de carência havia partilha e entreajuda ente vizinhos e familiares. Todavia, a falta de dinheiro para bens de mercearia e para comprar entre outras coisas, petróleo para alumiar, levavam alguns, mais aflitos e mais afoitos, a entrar no contrabando através da raia de Espanha ou a dar o salto para França.
Apesar de tudo ou talvez por isso, rezava-se a Deus, à Mãe de Jesus, ao Anjo da Guarda e a Santo Antão para proteger o gado.
A menina Zefinha andava de taleigo à cabeça, a ti Mariana remendava as ceroulas do Ti Júlio e a ti Neves do Ti Júlio punha-lhe ventosas e papas de linhaça, a ver se ele arribava.
A roupa era cosida, remendada e transformada, passando dos mais crescidos para os mais pequenos. O pão era amassado de tarde para ficar a dormir à noite e os mais velhos davam a bênção aos mais novos antes destes adormecerem.
Isto e muito mais, são registos de memórias de tempos idos dos personagens do livro. Tempos e vivências difíceis e duras, mas também de afectos, partilhas e tradições numa Comunidade onde Georgina nasceu e cresceu, com a qual se identifica e que pela mesma é reconhecida e idolatrada.
Georgina é, pois, uma guardadora de memórias, muitas delas guardadas no presente livro e que por serem reconhecidas pela Comunidade que a viu nascer e crescer, integram a memória colectiva local e contribuem com a sua quota parte para a memória colectiva regional e para a memória colectiva nacional.
É a memória colectiva que nos ajuda a construir e manter a nossa identidade cultural e histórica, preservando tradições, valores e experiências comuns.
É a memória colectiva que nos permite aprender com os erros e sucessos do passado, o que é essencial para o desenvolvimento e a evolução da sociedade.
A memória colectiva desempenha um papel crucial no exercício da cidadania e da democracia, pois é através da memória colectiva que as lutas e conquistas dos nossos antepassados são lembradas e honradas, incentivando a luta por um futuro melhor e mais justo.
Daí a importância de que se reveste o livro, cuja leitura vivamente recomendo.

Hernâni Matos

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Lúcia Cóias partiu. Fica a saudade.



Lúcia Cóias (1934 - 2023)

A última viagem
Por mais sedentários que sejamos, todos nós somos nómadas. Ao longo da vida, vivamos onde vivamos, todos nós somos impelidos a viajar no espaço e no tempo. É como se fossemos templários à procura do Santo Graal. Só que a busca agora é outra e mais diversificada. À procura da espiritualidade, da beleza interior e da verdade, juntam-se agora outras necessidades de procura, de natureza material: trabalho, condições de vida, formação académica ou profissional, amor, paz, divertimento e muito mais que se poderia aqui enumerar. São necessidades que se traduzem em viagens, que temos o livre arbítrio de realizar ou não, se assim nos der na real gana. Todavia, para além destas viagens, há uma outra de natureza diferente, inescapável e com desfecho único, já que é uma viagem sem retorno, independente do nosso livre arbítrio. É a viagem que se inicia quando se transpõe a última etapa da vida e se diz que alguém morreu ou partiu. É uma viagem sobre a qual existem múltiplas interpretações, entre elas a da antropologia bíblico-cristã, mas qualquer delas ultrapassa o âmbito dos propósitos da presente abordagem textual.

Morreu a Lúcia da Singer!
Morreu a Lúcia da Singer! Foi uma notícia que correu célere em Estremoz, no passado dia 18 de Novembro e que me tocou particularmente. É que eu conhecia bem a Lúcia Cóias, seguramente há 70 anos, para além de ser amigo pessoal de seu filho Paulo Cóias e de ter sido professor de sua filha Cristina Cóias, bem como amigo pessoal de sua irmã, a poetisa Constantina Babau.
A Lúcia foi empregada da Singer em Estremoz, onde durante largos anos foi competente professora de costura, que marcou gerações e gerações de jovens mulheres. Tratou-se de uma actividade que, após a aposentação, prosseguiu com êxito na Academia Sénior de Estremoz, onde era muito estimada por todos os membros, sentimento partilhado, de resto, pela generalidade da comunidade local.

Poetisa do amor e da saudade
Como poetisa, Lúcia Cóias (1934-2023), é autora dos livros “Poesia Popular” (2015), “Rosas Brancas” (2016) e "Madrugada" (2018). No primeiro destes livros, em “Infância perdida” confessa: “Sem mãe fiquei aos três anos / E sofri horrores tamanhos / Num mundo que não era o meu / Senti-me sempre perdida / Sem alegrias na vida / E ela partira p’ro céu”. Lúcia ao perder a mãe, foi internada e criada no Asilo de Infância Desvalida João Baptista Rolo, em Estremoz, onde o internato gerido por freiras, a marcou para toda a vida. Ainda em “Infância perdida” confessa: “Tantas torturas passadas / Que não devem ser contadas / Pois ainda creio em Deus / Não sei bem porque razão / Vou dar-lhes o meu perdão / E os soluços ficam meus”.
Lúcia cresceu, fez-se mulher, casou e teve dois filhos. Todavia, perdeu o marido prematuramente, de tal modo que em “Saudade”, começa por se dirigir a ele nos seguintes termos: “Ó meu amor que agonia / Partiste naquele dia / Partiste p´ra não voltar / Meu coração está desfeito / Ficou-me esta dor no peito / Quase ceguei de chorar”. Termina o poema dizendo: “Sei que tu já estás nos céus / Lá bem pertinho de Deus / Se é que a outra vida existe. / Olha bem p’los teus filhinhos / Guia-os por bons caminhos / Consola a minha alma triste”.
O amor de mãe transborda no poema “Ao meu filho”: “A ti meu filho eu dedico esta poesia / Pelo milagre que o amor em mim te fez / Pois tu me deste a santa alegria / De ser mãe pela primeira vez”. O mesmo sentimento maternal transvasa igualmente no poema “À minha filha”: “Obrigada minha filha, eu te adoro / Pelo amor e carinho que me deste / Perdoa se estou triste e às vezes choro, / Tu sabes o que é dor pois já sofreste”.

O amor ao próximo
Na poesia de Lúcia Cóias, o amor não se se circunscreve à família. É mais vasto e assume, em particular, a forma de amor ao próximo. É o que nos revela o poema “Amar sem olhar a quem”, onde no final nos diz que: “Dar amor, dia após dia / Sem olhar à diferença / Não é loucura é magia / De quem tem alma e tem querença” e acrescenta: “Esta é a ventura maior: / Em cada ser ver um irmão. / É viver para dar amor / É ser alguém de eleição.” O amor ao próximo é um amor preocupado, como nos revela no final do poema “Oração”: “Que mágoa sinto em meu peito / Quando à noitinha me deito / Numa cama agasalhada / Lembro a Deus com muito afecto / Aqueles que não têm tecto / E dormem num vão de escada.”

Lúcia Cóias presente!
Lúcia Cóias partiu, mas deixou connosco uma enorme saudade, partilhada entre a família, os amigos e todos os que com ela conviveram. Deixou-nos igualmente a mensagem do seu exemplo de vida, da sua vontade de viver e de lutar contra a adversidade, bem como o seu legado de amor a Deus, à família e ao próximo. Por isso, Lúcia Cóias perdurará nas nossas memórias e nos nossos corações.

Publicado no jornal E, n.º 322, de 23 de Novembro de 2023

Em 2017, Lúcia Cóias participou na iniciativa Poetas em defesa da olaria de Estremoz”, desenvolvida pelo blogue “Do Tempo da Outra Senhora”, publicando o poema:

quarta-feira, 8 de novembro de 2023

CASA DO ALENTEJO, CULTURA, LIBERDADE E SOLIDARIEDADE - 100.º ANIVERSÁRIO

 


Integrado nas Comemorações do Centenário da Casa do Alentejo, terá lugar na sede desta casa regionalista, em Lisboa, no próximo dia 10 de Novembro (6.ª feira), a partir das 17 horas, a apresentação do livro Casa do Alentejo, Cultura, Liberdade e Solidariedade - 100.º aniversário. Digna-se presidir à sessão, Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

A apresentação do livro estará a cargo de Ana Paula Amendoeira (Directora Regional da Cultura do Alentejo) e Santiago Macías (Director do Panteão Nacional).

Com coordenação de Rosa Calado e Fernando Mão de Ferro, o presente livro é um contributo de cerca de 50 investigadores para um melhor conhecimento do Alentejo e da histórica “Embaixada Cultural” em Lisboa. Fundada por alentejanos que procuravam, através do convívio, práticas culturais e acções solidárias, minimizar as saudades do seu território e das suas gentes. 100 anos depois, a Casa do Alentejo continua aberta ao Mundo, com os mesmos propósitos e valores, e as mais variadas manifestações sociais e culturais, inspiradas nos valores da Paz, da Justiça Social e da Liberdade.

O livro, editado por Edições Colibri e pela Casa do Alentejo, tem 490 páginas de formato 22,0 cm x 28,0 cm, com impressão a cores em papel couché de 135 grs. O livro pode ser adquirido na Casa do Alentejo, nas edições Colibri e em todas as livrarias que distribuem obras daquela editora. O preço de venda ao público é de 40 €.

CASA DO ALENTEJO, CULTURA, LIBERDADE E SOLIDARIEDADE - 100.º ANIVERSÁRIO

Índice


Preâmbulo - Presidente da Casa do Alentejo
Nota prévia - Rosa Honrado Calado e Fernando Mão de Ferro
Prefácio - Santiago Macias

É TÃO GRANDE O ALENTEJO
O Alentejo, na visão do geólogo - Galopim de Carvalho
Alentejo - um século de arqueologia (1923-2023) - António Carlos Silva
Alentejo: território megalítico - Leonor Rocha
No pó da terra: o Alentejo em época romana - André Carneiro
Memórias Judaicas no Alentejo - Jorge de Oliveira e Beatriz Felício
O Alentejo e a resistência à opressão. Da monarquia constitucional à queda do Estado Novo - Teresa Fonseca
A reforma agrária na Revolução de Abril - António Murteira
O 25 de Abril e o Poder Local Democrático - António Figueira Mendes
O Alentejo - apontamentos geográficos - Jorge Gaspar
Alqueva: fins múltiplos, benefícios limitados - José Maria Pós-de-Mina
Alentejo: cultura e monumentos - Manuel J. C. Branco
O Alentejo e o Património Cultural Imaterial - Ana Paula Amendoeira
O Cante - Património da Humanidade - Paulo Barriga
Os Chocalhos - Património do Alentejo e do Mundo - Eduardo Luciano
Bonecos de Estremoz para a Humanidade - Hernâni Matos
Festas do Povo de Campo Maior - Ana Margarida Azinhais
A gastronomia alentejana e a sua tradição. Que futuro? - Francisco Sabino
Como se canta na diáspora alentejana: dois estudos de caso no Feijó e no Seixal - Ana Durão Machado
Associativismo alentejano em Lisboa - Luís Filipe Maçarico

A CASA DO ALENTEJO
Das origens da agremiação alentejana ao luxuoso palacete na Baixa Lisboeta - Rui Rosado Vieira
Elementos sobre a história e o património do Palácio Alverca/Casa do Alentejo - Guilherme Alves Coelho
A aquisição do Palácio Alverca - Luís Filipe Maçarico
O arquivo do arquiteto Silva Júnior - João Miguel Henriques
Visita guiada ao património da Casa do Alentejo - Património a Preservar - Rosa Honrado Calado
A imprensa alentejana - boletins e revistas da Casa do Alentejo - Vivaldo Quintans, Francisca Bicho, Rosa Honrado Calado, Maximiano Gonçalves e Avelino Bento
Personalidades dignas de memória em 100 anos
Dirigentes Associativos: Agostinho Fortes • Jacinto F. Palma • Francisco Ramos e Costa Escritores: Fialho de Almeida • Manuel da Fonseca • Antunes da Silva • Urbano Tavares Rodrigues • Eduardo Olímpio
Pintores: Maria Toscano Rico • Guy Ferreira • Dordio Gomes • Manuel Ribeiro de Pavia • Rogério Ribeiro • António Galvão
Raízes da Casa do Alentejo: sindicalistas, feministas e democratas - Luís Carvalho
Uma casa para a cultura em tempo de liberdade. Os bailes da Casa do Alentejo - Luís Filipe Maçarico
Casa do Alentejo - local de comemorações e de homenagens - Rosa Honrado Calado
O CEDA - a revista Memória Alentejana e revistas do Alentejo na região de Lisboa - Eduardo M. Raposo
A Casa do Alentejo e a regionalização. Congressos sobre o Alentejo - Francisco do Ó Pacheco
Com o Alentejo no coração - José Saramago• José Régio• Miguel Torga• Fernando Namora
• Eugénio de Andrade • Michel Giacometti • Júlio Resende
Casa do Alentejo, um espaço de cultura e solidariedade - José Alberto Franco
Economia - em tempo de pandemia. Esperança da retoma - Manuel Verdugo
Casa do Alentejo! Casa mãe dos alentejanos e do Cante Alentejano - José Miranda
Inspirações literárias e poéticas - Martinho Marques • João Mário Caldeira • Luís Filipe Maçarico • João Monge • Victor Encarnação

terça-feira, 14 de junho de 2022

ABÍLIO MARÇAL, UM REPUBLICANO DAS BEIRAS – O Homem, o Político e a Obra

 


Este é o título da mais recente obra de Pedro Marçal Vaz Pereira, a lançar pelas dezoito horas da próxima quarta-feira, dia 22 de Junho, na Biblioteca Passos Manuel, da Assembleia da República, em Lisboa. A obra será apresentada pelo Professor Doutor Guilherme de Oliveira Martins.

A obra
A obra abre com uma mensagem de João Farinha Nunes, Presidente da Câmara Municipal da Sertã, a que se segue uma outra mensagem de António Simões, Presidente do Clube Bonjardim. O prefácio é de Guilherme de Oliveira Martins e segue-se-lhe um Preâmbulo do autor, no qual este confessa: “Pretendo fazer a biografia do homem republicano, que foi parte activa na história final da nossa Monarquia e depois um dos mais distintos políticos da nossa 1.ª República.”. No Prefácio refere Guilherme de Oliveira Martins: “Pedro Vaz Pereira leva-nos a acompanhar Abílio Marçal, a par e passo, com grande rigor e pormenor, nos diversos compromissos e tarefas de serviço público que o cidadão e político foi assumindo, evidenciando-se uma relação muito próxima e de grande confiança com Afonso Costa”.
A obra foi estruturada e desenvolve-se ao longo de 4 capítulos: 1 - Abílio Marçal, a sua origem e a família; 2 - Abílio Marçal e o seu tempo político; 3 - Actividade social e cultural; 4 – Epílogo.
A obra teve por base, extensa e qualificada bibliografia, com especial destaque para: Arquivo Pedro Vaz Pereira, Arquivo Histórico da Assembleia da República, Arquivo da Universidade de Coimbra, Arquivo do Liceu José Falcão de Coimbra e Arquivo Histórico da Câmara Municipal da Sertã.
O livro, profusamente ilustrado a cores e com design de Ana Paula Silva, tem capa dura, 22 cm x 30 cm, de 478 páginas. A edição é do Clube Bonjardim.

O autor
O autor, membro honorário da Academia Portuguesa de História, é filatelista eminente, escritor e jornalista filatélico e subscreve vasta colaboração em revistas e catálogos de exposições filatélicas, tanto em Portugal como no estrangeiro. É Presidente da Federação Portuguesa de Filatelia (FPF) desde 1987 e foi Presidente da Federação Europeia de Sociedades Filatélicas (FEPA) no período (2001-2009), assim como director das respectivas revistas “Filatelia Lusitana” e “FEPA News”. Entre as inúmeros prémios e distinções que lhe foram atribuídas, é de salientar a atribuição em 2018 pela FEPA, da Medalha pelos Serviços Prestados à Filatelia Europeia. A sua bibliografia inclui as obras: 2005 - “Os Correios Portugueses entre 1853-1900. Carimbos Nominativos e Dados Postais e Etimológicos” (2 volumes), editado pela Fundação Albertino Figueiredo, de Madrid; 2013 - “Os Correios Portugueses entre 1853-1900. Carimbos Nominativos e Dados Postais e Etimológicos” (Suplemento); 2013 - “As Missões Laicas em África na 1ª República em Portugal” (2 volumes), edição do autor, que foi distinguida com o Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História Moderna e Contemporânea de Portugal, atribuído pela Academia Portuguesa da História; 2015 - “O Teatro numa aldeia da Beira - Cernache do Bonjardim", editado pelo Clube Bonjardim; 2018 - “As Missões Laicas Republicanas e os Equívocos Missionários e Históricos da Igreja Católica”, edição do autor; 2020 - “ABÍLIO MARÇAL, UM REPUBLICANO DAS BEIRAS – O Homem, o Político e a Obra”, editado pelo Clube Bonjardim; 2021 - “Os Correios Portugueses 1853-1900” (2 volumes), editado pelos Correios de Portugal e pela Federação Portuguesa de Filatelia) e que foi galardoado em 2021 com a Medalha FEPA por estudos e pesquisas extraordinárias, atribuída pela Federação Europeia de Sociedades Filatélicas.

Pedro Marçal Vaz Pereira, o autor.

sábado, 21 de agosto de 2021

Hernâni Matos

 

Filomena Barata. Arqueóloga.


Homem, alentejano, determinado.  Conhecedor, melhor, sabedor do seu território, do nosso, que divulga como ninguém. Homem de convicções que não foge a defendê-las, não se esconde em ondas turvas, mas respira de peito aberto para o amanhã.

Filomena Barata
Lisboa, 19 de Agosto de 2021 

Hernâni Matos

segunda-feira, 2 de agosto de 2021

O “Despertar para a poesia” de Francisco Ramos


A Mesa da sessão. Cortesia de Pedro Soeiro.

Pelas 17 de horas de sábado, dia 31 de Julho, teve lugar no Auditório do Pavilhão A do Campo de Feiras, em Estremoz, o lançamento e apresentação do livro “Despertar para a poesia” da autoria de Francisco Ramos. Ao evento compareceram cerca de 50 pessoas.
A sessão foi presidida pela Vice-Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, Márcia Oliveira, acompanhada na mesa pelo autor e ainda por João Meira e Cruz e Hernâni Matos, respectivamente prefaciador e posfaciador do livro.
A sessão foi aberta pelo autor que agradeceu a presença dos convidados, bem como de todos aqueles que de uma maneira ou de outra, contribuíram para que a edição do livro fosse uma realidade. Seguiram-se as intervenções de João Meira e Cruz que falou do autor e de Hernâni Matos, que falou do autor e da obra.
A sessão encerrou com uma intervenção de Márcia Oliveira que exaltou o espírito cívico e as qualidades humanas do autor.

O autor
O autor é filho de camponeses e nasceu no Largo da Igreja, em S. Bento do Ameixial, a 30 de Julho de 1941, sendo baptizado na Igreja da aldeia, que tivera o seu avô por sacristão. Como era hábito na época foi o padrinho quem lhe deu o nome, tendo entendido por bem que ele se deveria chamar Francisco Martinho Garrido Ramos. Francisco por ser o nome do avô paterno e Martinho por ser o nome do avô materno. Garrido pelo lado da mãe e Ramos pelo lado do pai.
Francisco Ramos aprendeu as primeiras letras na escola da aldeia e ali concluiu a instrução primária. A partir daí nunca mais parou, subindo a vida a pulso. Foi sucessivamente ajudante de porqueiro, aprendiz de fotógrafo, moço de bilhares, empregado de mesa, escrivão de execuções fiscais e por fim Técnico Sanitário, profissão com se aposentou na Função Pública. Todavia não deixou de trabalhar, pois tinha a ruralidade na massa do sangue. Por isso se dedica actualmente à agricultura e à pecuária. Motivado pelo associativismo e pela solidariedade, é Presidente da Academia do Bacalhau de Estremoz, desde a sua fundação em 25 de Novembro de 2000.
Francisco Ramos é aquilo a que os americanos chamam um “self-made man” ou seja, um “homem que se fez a si próprio”, percorrendo o seu próprio caminho, o qual inclui o seu “Despertar para a poesia”. Vejamos como tal aconteceu.
No Alentejo, a taberna sempre foi um local propício a manifestações de Cultura Popular. Aí, o convívio com poetas populares e envolvimento em desafios, levaram Francisco Ramos a passar para o papel aquilo que lhe ia na alma.
O confinamento foi responsável pelo aumento da sua produção poética e o incentivo para publicar por parte de amigos, encontrou eco na sua auto-estima. Daí o livro agora dado à estampa no momento em que se torna octagenário. Como já criara três filhas e plantara muitas árvores, concluiu assim a trindade de coisas que um homem deve fazer na vida e com isso robusteceu a memória que constituirá um legado para os vindouros.

A obra
O livro, de formato aproximadamente A5 e 177 g de peso, com capa cartonada e colorida, da autoria de São Perdigão, tem 136 páginas, que incluem ao longo do texto, 11 figuras a preto e branco. Foi impresso na Tipografia Brados do Alentejo, em Estremoz. A tiragem é de 100 exemplares. A edição é do autor e contou com o apoio da Câmara Municipal de Estremoz.
A obra é dedicada pelo autor à memória dos seus Pais, à Família, aos membros da Academia do Bacalhau de Estremoz e de todo o Mundo, bem como àqueles que o incentivaram à sua publicação.
A arquitectura do livro assenta em 8 capítulos: Sentimentos, Tauromaquia, Reconhecimentos, Pandemia, Alentejo e Alentejanos, Emoções e Estados de Alma, Bonecos de Estremoz e Academia do Bacalhau, Temas vários.
Ao longo da obra a poesia flui, rimada e de métrica livre, estruturada quase exclusivamente sob a forma de conjuntos de quadras e de décimas. Tal facto não é de estranhar já que quadras e décimas são os modos de expressão poética mais gratos aos poetas populares.
Francisco Ramos é uma figura respeitada da nossa sociedade, pelo seu carácter e pela sua grande humanidade. Legou-nos agora um livro através do qual partilha generosamente connosco a sua vida, as suas lutas, as suas emoções, as suas paixões e os seus sonhos. Trata-se de um legado importante para a comunidade, que vê enriquecido o seu património cultural escrito. Tanto ele como a comunidade estão de parabéns. Francisco Ramos pela generosidade da doação, a comunidade por graciosamente ter visto aumentar a sua riqueza.



Um aspecto da assistência. Cortesia de Pedro Soeiro.

Livro com capa da autoria de São Perdigão.

terça-feira, 27 de julho de 2021

Hernâni Matos: do lado esquerdo, o centro

 

Pedro Martins. Jurista. filósofo. Escritor.


Se a memória me não atraiçoa, vai para uns sete anos que pela mão de Maria Antónia Vitorino, e por mor da memória de seu marido, António Telmo, professor e filósofo vinculado às terras de Estremoz, conheci o Professor Hernâni Matos. Graças a ele, foi possível realizar uma sessão de homenagem ao autor da História Secreta de Portugal (livro em boa parte escrito no Café Águias d’Ouro) na Escola Secundária de Estremoz, onde Telmo, em meados dos anos 60, chegou a leccionar, como docente de Português e Francês da então Escola Industrial e Comercial, imediatamente antes de partir para o Brasil, para se juntar a Eudoro de Sousa e Agostinho da Silva na Universidade de Brasília.
Foi uma sessão fabulosa, memorável como poucas, num auditório repleto de jovens estudantes, em que além do autor destas linhas intervieram Elísio Gala, que apresentou as Cartas de Agostinho da Silva para António Telmo, livro então recém-lançado com a chancela eborense da Licorne e em que o Alentejo, de Estremoz ao Redondo, revela a sua notável presença; o próprio Hernâni Matos, evocando o quotidiano estremocense do filósofo como quem lhe traçasse um perfil de bilharista exímio; o Professor José Salema, Director da Escola e antigo aluno de Telmo; e a Professora Cláudia Marçal, Directora da Biblioteca Escolar, em cujas paredes, a partir desse dia 14 de Novembro de 2014, passou a estar patente em permanência um retrato do filósofo.
Uma homenagem assim, singelamente grandiosa e muito bem-sucedida, só foi possível graças ao denodo infatigável do Hernâni Matos, que a concebeu, preparou e organizou até ao mais ínfimo pormenor. Membro do Projecto António Telmo. Vida e Obra, foi também ele quem, alguns meses depois, convocando os bons ofícios da Associação Filatélica Alentejana, promoveu em Estremoz o lançamento a nível nacional do Volume III das Obras Completas de António Telmo, Luís de Camões e o Segredo d’Os Lusíadas seguido de Páginas Autobiográficas, com o selo proverbial da editora Zéfiro. Foi isto em 20 de Junho de 2015, no dia em que exactamente se completavam 35 anos sobre a célebre conferência “O Segredo d'Os Lusíadas”, proferida por António Telmo na Sala dos Espelhos do Palácio Foz, em Lisboa, no âmbito das comemorações nacionais do quarto centenário da morte do poeta.
Generosa e fecunda, tão profícua como brilhante, a inesgotável capacidade de trabalho de Hernâni Matos, que venho de ilustrar com aquilo que de um modo mais directo, e sobretudo pessoal, lhe pude testemunhar, melhor se afere por padrões próximos da lenda. Décadas a fio, Hernâni Matos vem erguendo uma obra monumental como escritor, jornalista e blogger. Diria antes, para tudo dizer, como um emérito, notável investigador, pesquisador infatigável, insaciável coleccionador. Perquiridor de raízes e arcanos, o professor autodidacta e interdisciplinar percorre transversalmente, com ecuménica compreensão, sólida erudição e a sempre necessária argúcia, os domínios ecléticos da história local e regional, sem nunca olvidar os mais vastos horizontes da portugalidade, essa outra nuvem só nossa feita de todos os céus consentidos à vista desarmada – isto é, pacífica – da terra e do mar.
Apenas os insignes regionalistas da estirpe austera e entusiasta de um Hernâni Matos podem realmente entender o verdadeiro nacionalismo, que é sempre e só cultural, como sem escândalo sucede há muito ocorrer em música com um Lopes-Graça, e por vezes também cultual, posto que às baias dos dogmas sempre o nosso povo, herdeiro da heresia de Prisciliano, tenha sabido quebrar as grilhetas de todas as Romas, como nesse culto popular do Espírito Santo, que se talvez ande creditado em demasia à tão de Estremoz Rainha Santa Isabel, não deixa, também por esta, de nos evocar a Santa Liberdade sem a qual só o medo voraz ou o mesquinho interesse nos restam.
Homem por certo da margem esquerda, que é o lado do coração, Hernâni Matos devém um construtor de pontes: ele bem sabe que um rio mais pode unir do que separar logo que lhe sintamos a força da corrente, pressentindo a grandeza do que fica além da sua foz. E não é afinal o coração, no mar dos símbolos, como ensinava Telmo na senda de Dante e Guénon, o centro do mundo?
Não que com tudo isto se exima Hernâni ao exercício diuturno, e por vezes contundente, de uma crítica que na sua consciência é ainda memória, mas também o raiar daquela fímbria de esperança sem a qual nada vale realmente a pena. Franco-Atirador é o título certeiro dado como um espelho à recolha antológica que em 2017 deu a lume este Jano dado aos nossos dias. A potência dos seus escritos mais sugere a força de um exército. São, porém, homens solitários (não obstante, os mais solidários) como um Hernâni Matos – ou um António Reis Marques numa Sesimbra que não é já “minha” por se ter tornado terra de ninguém – que simulando, ou semelhando, as multidões iludem por ora os vazios onde sempre os demónios se procuram instalar. Haverá motivo maior para a nossa gratidão?

Pedro Martins
Almoinha, Sesimbra, 27 de Julho de 2021

terça-feira, 22 de junho de 2021

Homenageando o Professor Hernâni Matos

 

Fernando Máximo. Funcionário Público.

HOMENAGEANDO O PROFESSOR HERNÂNI MATOS


Professor Hernâni Matos
Junta a teoria aos factos
Com muita desenvoltura;
P’lo muito que tem feito
Merece o nosso respeito
Por ser homem da cultura!

Dos vultos mais competentes
Em áreas tão diferentes
Numa muito longa lista:
É um insigne escritor
Etnógrafo, professor,
E Mestre filatelista

É expositor e jurado,
“Expert” do figurado
Essa arte, (que tão nobre,)
Património Imaterial
Deste nosso Portugal
Que tanto orgulho nos cobre!

É firme nas convicções
E em certas reflexões
Que por vezes o consomem...
É excelente escritor
Um “Franco-atirador”
Mas mais que tudo é um HOMEM!

Quem o conhece de perto
Reconhece-lhe por certo
Virtudes que são verdades...
Admirá-lo é um direito
Prestando assim o seu preito
A quem só tem qualidades...

Professor, meu grande amigo,
Em boa hora lhe digo:
Pelo crer que a si se pôs,
Ganha, pois, o meu louvor
Por ser um grande SENHOR
Desta cidade Estremoz

Fernando Máximo
Avis, 02 de Abril de 2021

domingo, 20 de junho de 2021

Pode alguém ser quem não é? / A propósito de Hernâni Matos


Álvaro Borralho. Sociólogo. Professor Universitário. 

Os nossos caminhos cruzaram-se quando eu era estudante da Escola Secundária de Estremoz – é assim que gosto de recordar a minha velha Escola –, aí por volta do 8.º ano, e num anfiteatro de físico-química. Não por ter sido seu aluno, que nunca fui – embora tivesse gostado de ser, pois gostava muito de física –, mas por breve tempo ter aderido a um clube de filatelia que o Prof. Hernâni estava a criar na Escola. Éramos poucos, mas ele animava estas sessões com especial entusiasmo, de tal modo, que me mantive. Todavia, o final do ano lectivo levou algum do entusiasmo e não logrei ser o filatelista que verdadeiramente nunca quis ser. Ela já o era, há muito, reconhecidamente, e foi sempre com grande deleite que assisti a algumas das suas exposições. Recordo uma, em especial, de Maximafilia no Salão Nobre dos Paços do Concelho, assim como as realizadas no espaço exíguo da Associação num espaço existente no início da Rua Narciso Ribeiro. Ir a uma das suas exposições tinha, além do mais, o atractivo de o poder ouvir nas suas detalhadas explicações e compreender um pouco melhor o mundo fascinante dos selos. Embora tenha perdido o breve encantamento da filatelia, lia sempre a sua coluna no Brados do Alentejo.
E foi no jornal que nos voltámos a encontrar mais assiduamente, que cimentámos a nossa amizade a que não é estranho termos sido colaboradores pela mesma altura. O Brados foi, e é, um local de encontro, juntando várias gerações, permitindo o convívio, a entreajuda e o interconhecimento. Dali sempre se saiu mais rico.
Mais tarde, havia de o procurar para me ajudar a desvelar alguns aspectos do processo político estremocense, de 1974 a 1976, quando realizei uma dissertação académica sobre o assunto. E foi com inegável prazer que o entrevistei umas boas horas sobre as suas memórias, a sua participação, sobre factos e acontecimentos. Passadas mais de duas décadas sobre esse encontro, ainda recordo algumas das leituras que me proporcionou. Só não lhe perdoar que tenha deitado ao lixo algum tempo antes, segundo me confessou, uma colecção de comunicados de todos os partidos políticos distribuídos em Estremoz. Conhecendo o seu pendor detalhista e a sua capacidade de perseguir, e de reunir o perseguido, imagino que seria uma excelente base documental. Guardo a leve esperança que alguém tenha guardado aquelas pastas, mas sem grande alento. Perdoei-lhe, mas tive um grande desgosto em não ter deitado mão àqueles preciosos documentos.
Se conto este episódio é para reforçar o quão importante é encontrar e conhecer alguém como o Hernâni Matos. A nossa memória colectiva vive destes sequazes guardadores de memórias, que, com espírito abnegado, guardam o espólio sobre o qual se há-de construir, e reconstruir, esta nossa memória. Preservando-a, dão um contributo inestimável ao seu estudo, e, assim, a tentar interpretar e a entender os vários sentidos que cada um – pessoas, partidos, grupos, etc. – concederam aos acontecimentos. Quer dizer, ajudam a fazer a história, no meu caso, a sociologia, de tempos vividos, mas não presenciados com a mesma intensidade ou proximidade.
O seu recente livro sobre os bonecos de Estremoz aí está a comprovar o que antes afirmei: o desejo de recolher, reunir, coleccionar, dispor organizadamente o material e, por fim, dá-lo a conhecer a quem tenha essa curiosidade. Nunca é um esforço vão, é sempre um contributo para a procura de mais e melhores significados.
Termino com a mesma interrogação com que se iniciou este breve depoimento: pode alguém ser quem não é? Como se sabe, é o título de uma magnífica canção do Sérgio Godinho que serve perfeitamente para dar o tom a este escrito. E que o Hernâni continue a ser quem é e nos dê a satisfação de o encontrar e de o ler por onde decidir andar.

Álvaro Borralho
Ponta Delgada, 19 de Abril de 2021

sexta-feira, 18 de junho de 2021

Naquela esquina um amigo

 

Maria Helena Figueiredo. Jurista.

Não conheço o Hernâni Matos há tantos anos assim. Melhor, conheço o Hernâni Matos da escrita, do Blog, das trocas de emails, dos telefonemas há vários anos, mas pessoalmente – ao vivo e a cores como se costuma dizer – conheci-o há menos tempo.
Foi em Estremoz há 5 anos, na rua, mais precisamente no pátio do Castelo, quando ambos estávamos envolvidos na defesa da casa do Alcaide-Mor, que a Camara estava a tentar vender a privados em condições muito questionáveis.
Poucas vezes alguém me deixou uma imagem tão impressiva como o Hernâni Matos.
Aquele homem grande, o que é invulgar para a sua geração, de pé à minha espera na esquina, numa postura muito firme e com o ar amistoso dos velhos conhecidos, ficou-me gravada na memória porque ela reflecte, no fundo, aquilo que o Hernâni é.
Um homem de grande estatura ética, firme nas convicções, um homem que nem no tempo da ditadura nem depois se vergou aos interesses de ocasião e que sempre, com firmeza e coragem, defendeu a liberdade. Um homem desassombrado, que não cala a injustiça e que sempre se levanta pelo que considera justo, pela sua terra e pelas suas gentes.
Um homem de cultura, que faz da transmissão do conhecimento uma missão de todos os dias e que encontramos na primeira linha na defesa do património e da nossa história colectiva. Uma história que não é apenas a dos reis e das rainhas, mas também a história dos de baixo, do Povo e das suas lutas.
E depois, depois fica-lhe aquele “brilhozinho nos olhos” quando fala no figurado de Estremoz, quando esgrime a valorização deste património e se envolve na sua defesa, com a sabedoria que todos lhe reconhecemos, mas sem ficar preso ao passado. Com inteligência e capacidade de olhar, reconhece os e as jovens barristas, dando-lhes com as suas palavras e o seu apoio o tão necessário ânimo para continuar.
Hernâni Matos é uma figura ímpar, um Homem especial. Podemos chamar-lhe guardador de memórias, podemos chamar-lhe mestre, podemos chamar-lhe muita coisa. A mim honra-me poder chamar-lhe amigo.

Maria Helena Figueiredo
Évora, 19 de Abril de 2021

terça-feira, 15 de junho de 2021

Professor Hernâni: das Ciências à preservação da Cultura

 

Filipe Glória Silva. Pediatra.
 

A recordação mais antiga que tenho do professor Hernâni Matos é das aulas de Química, do 10.º ao 12.º ano. Homem de altura imponente e voz forte, um pouco austero na primeira impressão, conseguia manter desde o início a ordem na sala de aula e ganhava também o respeito dos alunos pela sua segurança no conhecimento e no ensino das matérias. A convivência permitia também conhecer o seu sentido de humor muito próprio. O programa de Química estava todo explicado nos acetatos que projetava durante as aulas e que entregava para fotocopiar e distribuir entre os alunos. Incentivava a prática de muitos exercícios, o que era fundamental para a consolidação da aprendizagem.
Sempre foi evidente o seu zelo pela organização e sistematização, fundamental para viabilizar a disponibilidade de tempo para os seus muitos interesses para além da ciência. Penso que a sua maior paixão na altura era a filatelia, mas muitos interesses se foram juntando com um espírito persistente, minucioso, curioso, irrequieto, ativista, resiliente, colecionador e empreendedor.
Quando penso no professor Hernâni, não consigo deixar de pensar também na companheira da sua vida, a professora Fátima, com o seu ar discreto e sereno. Diz-se que ao lado de um grande homem, há sempre uma grande mulher. Será também aqui o caso pelo seu cuidado com a família, persistência, resiliência, mostrando bonita admiração pelos projetos do seu marido.
De facto, o professor Hernâni tem feito um trabalho notável de recolha, reflexão, promoção e preservação do património cultural português e, particularmente, da cidade de Estremoz e da sua barrística. Fê-lo por diversos meios e iniciativas, não ficando também de fora da revolução da internet com o seu blogue “Do tempo da outra senhora” e página do Facebook. Enquanto filhos desta terra alentejana e cidadãos portugueses, ficamos-lhe gratos por todo este trabalho e empenho. Bem-haja, professor Hernâni.
 
Filipe Glória Silva

Lisboa, 14 de março de 2021

domingo, 9 de maio de 2021

EXTREMOZ VILLA – ESTREMOZ CIDADE

 

José Guerreiro

EXTREMOZ VILLA – ESTREMOZ CIDADE
Este o nome do livro de José Guerreiro, a apresentar pelas 16 horas da próxima 5.ª feira, dia 13 de Maio (Feriado Municipal), no Salão da União de Freguesias de Estremoz. Na apresentação do livro terão lugar sucessivamente intervenções de Nuno Mourinha (prefaciador), de João Jaleca (jornalista) e do autor.

O AUTOR
José Emílio Vasconcelos Câmara Guerreiro é natural de Estremoz, onde nasceu em 1951. Sociólogo de formação, desempenhou os seguintes cargos: Presidente do Conselho Directivo da Escola Secundária de Estremoz (1976), Director do jornal Brados do Alentejo (1979-1980), Presidente da Câmara Municipal de Estremoz (1983-1985), Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz (1994). Foi quadro da Câmara Municipal de Évora desde 1979, onde entre outros cargos, foi Director do Centro de Estudos responsável pela classificação do Centro Histórico de Évora como Património Mundial da UNESCO em 1986. Quando da sua aposentação em 2018, integrava o Gabinete de Apoio ao Presidente da Câmara Municipal de Évora. É colaborador regular do jornal Brados do Alentejo.

A OBRA
O livro resulta da conjugação de dois factores: o gosto do autor pela escrita e a disponibilidade actual para pensar melhor no que acontece à sua volta. Daí que tenha decidido fazer o relato de episódios marcantes da História de Estremoz, desde 1900 até à actualidade. Para tal, utilizou como fontes, a imprensa local, testemunhos orais, bibliografia sobre História de Portugal e pesquisa na internet. A metodologia seguida levou-o a contextualizar a História Local na História do País, a arrumar os episódios históricos por décadas em cada um dos dois séculos e a identificar os episódios mais relevantes em cada década. Sempre que lhe foi possível, identificou esses acontecimentos em mapas à escala local.
Dentre os acontecimentos mais relevantes do século XX em Estremoz, o autor destaca: 1904 - Fundação do Centro Republicano, por Júlio Martins; 1905 - Chegada do caminho de ferro; 1916 - Demolição de parte da muralha seiscentista; 1922 - Inauguração do Teatro Bernardim Ribeiro; 1926 - Elevação à categoria de cidade; 1930 - Criação da Escola Industrial António Augusto Gonçalves; 1960 - Demolição da igreja de Santo André; 1962 - Construção do "desvio" - variante sul da EN4; 1963 - Conclusão da fachada da igreja dos Congregados; 1974 - Participação do RC3 no 25 de Abril.
O prefácio do livro é do arqueólogo Nuno Mourinha e a capa do artista plástico António Couvinha.
O livro, edição do autor, tem capa dura a cores e miolo a preto e branco, 371 páginas, 12 mapas e 523 ilustrações. A tiragem foi de 500 exemplares e foi impresso em formato A5 na Tipografia Brados do Alentejo, em Estremoz.

Hernâni Matos

quinta-feira, 6 de maio de 2021

O Livro dos Dias Contados

 

António Júlio Rebelo (1959 -   ). Filósofo. Professor. Ex-vereador da Cultura da CME.

Este é o título da mais recente obra de António Júlio Andrade Rebelo, a lançar pelas dezasseis horas do próximo sábado, dia 8 de Maio, no Auditório Moisés Pereira da Escola Secundária da Rainha Santa Isabel, em Estremoz.
A apresentação do livro será simultaneamente online e presencial. A apresentação online estará a cargo de Fernanda Henriques, Doutora em Filosofia e Professora Emérita da Universidade de Évora.
Estarão presentes o autor, o prefaciador e o editor.

O autor
António Júlio Andrade Rebelo é natural de Tomar, onde nasceu em 1959. É professor do Ensino Secundário há 36 anos e lecciona na Escola Secundária Rainha Santa Isabel em Estremoz desde 1984/85. Licenciou-se em Filosofia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1981 e obteve o doutoramento em Filosofia pela Universidade de Évora em 2014.
Em Estremoz foi Director do CENFORSEGA – Centro de Formação Sebastião da Gama e Vereador do Pelouro aa Cultura da Câmara Municipal de Estremoz.
Tem participado em palestras e seminários na área de filosofia e cinema: Fundação Calouste Gulbenkian, Universidade de Lisboa, Universidade do Porto, Universidade da Beira Interior, Universidade de Valladolid e Universidade de Castilla La Mancha.
Publicou “A Maldade no Cinema de Ingmar Bergman” editado pela Colibri em 2015.

A obra
A obra estrutura- se em 26 capítulos: Criação do mundo - nascimento do silêncio, Lua – claridade e sombra, Silêncio e instante, Campo-mar, Três perguntas, Viagem, Visível e invisível. Finito e infinito, Outeiro dos condenados, Tempo e trindade, Corpo e carne, Esperança, Composição do olho, Mar com luz, Tempo, corpo e alma, Jogo de espelhos, Espelho e vidro, Canto dos pássaros, Acontece com a lua cheia, Modo de ser novo, Entardecer, Ressurreição e esperança, Névoa, Beleza, Venerável, Subúrbio e convento, Encerramento e abertura.
Da obra diz o prefaciador Luís Cabanejo. “Este livro não é uma ficção filosófica, embora contenha alguns dos seus principais ingredientes: uma narrativa – nem linear nem mundana – e um discurso reflexivo. Também não é um conjunto de fragmentos ensaísticos, ainda que nele se procure rondar ou sondar, de modo oblíquo ou frontal, ideias que têm ocupado a Filosofia e a Religião como o mal, o silêncio ou a natureza. Tão-pouco se pode classificar o texto como diarístico, apesar de comunicar impressões pessoalíssimas e relatar situações que se inscrevem na vida real e concreta do seu autor.”
A obra, constituída por um volume com capa mole, 20 cm x 14 cm, de 100 páginas, é edição é da Colibri e tem o preço de capa de 9 euros.

Hernâni Matos

segunda-feira, 19 de abril de 2021

Dois em um

 

Bento Grossinho Dias. Engenheiro Mecânico. Gestor.


Há uns 15 anos que conheço o Hernâni Matos, Ser orgulhoso das suas origens, do seu Alentejo e da sua Estremoz, dos seus bonecos e tradições, que tão bem divulga na sua oralidade e escrita.
Mas sou amigo do Carmelo de Matos há 43 anos (tive que fazer um esforço mental para recuar tanto no tempo). E claro a lembrança para mim, jovem na altura com 16 anos, era o seu estranho nome, herdado do avô materno, que ouvido me soava a guloseima, sem que me atrevesse a esclarecer tal bizarria. Mas o meu não era muito melhor…
Aproximou-nos o coleccionismo, os postais, os inteiros postais, os postais máximos, dos quais o Carmelo de Matos foi e é expoente máximo… pela sua cultura, pelo gosto pelas ciências e pela história, que afortunadamente puderam ser ainda mais divulgados com a disseminação das redes sociais.
Mas o vozeirão (de que tão bem me lembro!) que caracterizava o contacto humano com o Carmelo de Matos, passou agora a ouvir-se na forma digital dos maravilhosos escritos do Hernâni Matos. Sempre mordaz, consciente das suas convicções e crente na sua mensagem, Hernâni Carmelo de Matos (agora na forma inteira) é uma daqueles poucos amigos que não esquecemos, pela força da sua presença.
Obrigado Carmelo de Matos, obrigado Hernâni Matos.

Bento Grossinho Dias
Lisboa, 30 de Março de 2021

Hernâni Matos

terça-feira, 13 de abril de 2021

Professor para sempre...


Laurinda Paulino. Professora.

Conheci o Hernâni no dia 11 de novembro de 1980, na sala 14 (anfiteatro do primeiro piso) da Escola Secundária de Estremoz quando se apresentou como professor de Física da turma C do 12.º ano, à qual eu pertencia. Ensinou-me conteúdos de Física que se integravam nos ramos da Mecânica, da Cinemática, da Dinâmica e da Estática, mas também me ensinou Matemática, nomeadamente Álgebra e Análise Vetorial e foi com ele que eu aprendi “a derivar”.
Eu vivi a escola (e a universidade) nos anos em que foram implementadas profundas transformações no sistema educativo (1974-1986) e fui uma das “cobaias” a experimentar o curso geral unificado, o curso complementar, o 12.º ano de escolaridade em substituição do ano propedêutico, novos programas e novos modelos de avaliação. Portugal estava a equiparar o seu sistema de ensino com os outros países europeus, estabelecendo 12 anos de escolaridade obrigatória antes do ensino superior. Por isso, eu como aluna, e o Hernâni como professor, experimentámos pela primeira vez aquele programa de Física. Não havia manual, os apontamentos/fichas com exercícios do professor eram indecifráveis pois apresentavam uma caligrafia que me faziam doer os olhos de tantas horas que levava a olhar para aqueles gatafunhos. Às vezes conseguia-os descodificar, outras vezes adivinhava-os após algumas investidas e noutras desistia mesmo e ia para a biblioteca escolar estudar através dos livros que o professor aconselhara.
O Hernâni era um bom professor, dominava completamente os assuntos que abordava, preparava as aulas e lecionava-as de forma muito profissional e por vezes, adicionava uma “pitada” de humor nas suas exposições. Mas quando se zangava… era de fugir. “A malta” respeitava-o e gostava dele.
No segundo período o professor Hernâni rumou a outras paragens e deixou-nos com “a filha nos braços”. Foi substituído por uma jovem professora do Norte. A turma sentiu a sua falta.
No final do 12.º ano fiz uma limpeza à papelada que havia em casa e joguei fora todos os cadernos da escola de todas as disciplinas, exceto o de Física do 12.º ano. Vá-se lá saber porquê!... Conteria informação preciosa? Mais de 40 anos depois, voltei a abri-lo para pesquisar o esclarecimento que hoje necessito. No primeiro ano da universidade, enrascada com a Mecânica, recorri aos apontamentos do Hernâni Matos, que me deram jeito e me safaram no exame de Física Geral I.
Em 1986, regressei à Escola Secundária de Estremoz como professora do grupo 4.ºA (Física e Química). O Hernâni era o delegado de grupo e voltou a dar-me uma lição no que respeita à dedicação e envolvimento nesta sua função na escola. Desde a preparação das reuniões, planificações, participação nas discussões até à realização de exposições e outras atividades, rotulagem e catalogação de materiais e equipamentos, o Hernâni despendia todo o seu potencial e deixou na escola, algumas referências que os colegas ainda hoje utilizam. Considero-o “um homem sem medo”, decidido, desenrascado, sincero, frontal, lutador e como ele próprio dizia “capaz de apanhar o touro pelos cornos”. Com o aparecimento e desenvolvimento das novas tecnologias, o Hernâni depressa criou uma simbiose com os computadores, e também me considero sua discípula neste território devido a algumas aprendizagens que fiz com ele.
Compartilhámos ações de formação, reuniões, materiais, momentos de trabalho e momentos de convívio. A relação profissional evoluiu para uma afinidade que se estabeleceu entre nós, gerando uma amizade, e tenho pelo Hernâni um sentimento de afeto, carinho, confiança e admiração por tudo aquilo que faz.
Para além de professor de Física e Química, o Hernâni deu outras grandes lições. Quando comparecemos em exposições de filatelia enriquecemos os nossos conhecimentos históricos sobre temas associados a acontecimentos, lugares, países, objetos… e ele organizou muitas. Quando assistimos às suas palestras aprendemos sempre algo na exposição divulgada e ele deu algumas sempre motivantes, enriquecedoras e bem-humoradas.
Em 1998 fiz parte da Direção da Escola e o Hernâni deu-nos todo o seu apoio, fazendo parte da Assembleia de Escola e foi convidado a dinamizar o Centro de Recursos, fazendo como é seu apanágio, um excelente trabalho.
Aposentou-se como professor da Escola Secundária da Rainha Santa Isabel de Estremoz tendo-me oferecido algum do seu património na área da Física e da Química. Reformou-se mas não parou de doutrinar, divulgar e mostrar toda a sua dedicação à Cultura Portuguesa com ênfase nos Bonecos e Olaria de Estremoz.
Não sei se diga que o Hernâni entregou a sua vida a dar lições ou se deu uma grande lição de vida onde florescem ideias que se casam uma nas outras, se multiplicam e acrescentam pontos para completar um conto que vai com certeza fazer parte da História de Estremoz.

Laurinda Paulino. Professora.
Estremoz, 1 de Abril de 2021