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terça-feira, 17 de dezembro de 2024

O Presépio na Pintura Portuguesa


Jorge Afonso (c.1470 - c.1540). Adoração dos Pastores.


Um dos grandes símbolos religiosos, que retrata o Natal e o nascimento de Jesus é o presépio. De acordo com Rafael Bluteau [1] e Cândido de Figueiredo [2], a palavra “presépio” provem do latim “praesepium”, que genericamente significa curral, estábulo, lugar onde se recolhe gado e que, numa outra óptica designa qualquer representação do nascimento de Cristo, de acordo com os Evangelhos [LUCAS 2: 1 a 18) e MATEUS 2: 1 a 11]. O Presépio está profusamente representado na pintura portuguesa antiga. Passemos em revista essas representações, que incluem a adoração dos pastores e a adoração dos Reis Magos, as quais serão visualizáveis de uma forma cronológica. 

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 26 de Fevereiro de 2010

Jorge Afonso (c.1470 - c.1540).  Adoração dos Magos (c. 1515). Óleo sobre madeira
(170 x 205 cm). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.

Gregório Lopes (c.1490-1550). Presépio (c. 1527). Óleo
sobre madeira (128 x 87 cm). Museu  Nacional de Arte
Antiga, Lisboa.

Gregório Lopes (c.1490-1550). Adoração dos Pastores.

Vasco Fernandes (activo entre 1501 e 1540). Natividade
(1501-6). Óleo sobre madeira (131 x 81 cm). Museu de
Grão  Vasco, Viseu.

Vasco Fernandes (activo entre 1501 e 1540). Adoração dos
Magos (1501-6). Óleo sobre madeira (130,2 x 79 cm). Museu
de Grão Vasco, Viseu.

Frei Carlos (activo entre 1517-1539). Adoração dos
Reis Magos. Museu da Guarda.

André Reinoso (activo entre 1610-1641). Adoração dos Pastores.

Bento Coelho da Silveira (1620-1708). Adoração dos Pastores.

Bento Coelho da Silveira (1620-1708). Adoração dos Magos.

Josefa de Óbidos (1630 –1684). Natividade (c. 1650-60). Óleo sobre cobre. (21 x 16 cm).
Colecção particular, Porto.

Josefa de Óbidos (1630 –1684). Adoração dos Pastores (1669). Óleo sobre tela
(150 x 184 cm). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.

André Gonçalves (1686-1762). Adoração dos Magos (s/ data). Óleo sobre tela.
Museu Nacional de Machado de Castro, Coimbra.

André Gonçalves (1686-1762). Adoração dos pastores.

Domingos António de Sequeira (1768-1837). Adoração dos Magos (1828). Óleo sobre tela.
(100 x 140 cm). Colecção Particular, Lisboa.


BIBLIOGRAFIA

[1] – BLUTEAU, Raphael. Vocabulario Portuguez & Latino. Real Colégio das Artes da Companhia de Jesus. Coimbra, 1713.
[2] – FIGUEIREDO, Cândido de. Novo Diccionário da Língua Portuguesa. Editora T. Cardos & Irmão, 1899.

terça-feira, 16 de julho de 2024

Ceifeira adormecida - Litografia de Manuel Ribeiro de Pavia


Ceifeira adormecida (1955). Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).
 Litografia sobre papel - prova nº 7. 26 x 36 cm (mancha).
Colecção Hernãni Matos

Ceifeira adormecida (1955). Manuel Ribeiro de Pavia (1907-1957).
Litografia sobre papel 19/50. 26 x 36 cm (mancha).
Colecção Hernãni Matos.

No Alentejo de outros tempos, a colheita do trigo recorria à ceifa manual, actividade sazonal dificultada pelo rigor do clima. Ceifeiros e ceifeiras sentiam-no bem no corpo. O trabalho penoso e mal pago, realizava-se de “sol a sol”, interrompido apenas por refeições rápidas e frugais. A “bucha” ao pegar no trabalho, o “almoço” pelas 10 horas da manhã, o “jantar” sensivelmente pelas 2 da tarde, a que se seguia a “sesta” de duas horas para um retemperar de forças. A sesta ocorria à sombra de uma azinheira ou de molhos de trigo e durava até serem acordados pelo manajeiro. A faina prolongava-se até às 8 da noite, altura em que tinha lugar a “ceia”, a última refeição do dia, finda a qual trabalhavam até haver luz e o manajeiro dar a ordem de “solta”. Depois era o descanso nocturno, até ao nascer do sol do dia seguinte.

A sesta dos ceifeiros é um tema recorrente na arte portuguesa. Manuel Ribeiro de Pavia na litografia “Ceifeira adormecida” (Fig. 2 e Fig. 3) patenteia uma ceifeira a descansar, encostada a uma árvore e protegida pela sua sombra. Observe-se que a litografia é anterior à criação da GRAVURA - Sociedade Portuguesa de Gravadores (1956). A prova nº 7 da litografia “Ceifeira adormecida” (Fig. 1) é uma prova de cor com um cromatismo mais vivo que o trabalho final (Fig. 2), o qual teve uma tiragem de 50 exemplares cujo cromatismo é mais sóbrio.

José Malhoa (Fig. 3) no óleo sobre tela “A sesta dos ceifeiros” (1895), mostra um grupo de ceifeiros a descansar à sombra de uma árvore, a qual não aparece representada.

Dordio Gomes (Fig. 4) no óleo sobre tela “A sesta dos ceifeiros” (1918), representa ceifeiros a descansar, protegidos por molhos de trigo. 

 Hernâni Matos

Fig. 3 - A sesta dos ceifeiros (1885). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre tela (95 x 132 cm).
Museu de Arte Contemporânea Armando Martins, Lisboa.

Fig. 4 - A sesta dos ceifeiros – Alentejo (1918). Dórdio Gomes (1890-1976).
Óleo sobre tela (74 x 59 cm). Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Visita guiada à exposição “NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS”



Créditos fotográficos:
Jorge Mourinha - Município de Estremoz

No próximo dia 13 de Julho (sábado), terá lugar pelas 16 horas, uma visita guiada à exposição de artes plásticas NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS, patente ao público na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho.

A visita será conduzida por mim próprio na qualidade de expositor. Nela começarei por dar uma visão do que foi o movimento neo-realista português, o modo como surgiu e porque surgiu, os seus marcos mais importantes, as lutas em que se envolveu antes do 25 de Abril, bem como as suas naturais implicações.

Seguidamente, orientarei uma visita guiada à exposição, procurando facilitar a leitura e interpretação das obras dos artistas plásticos patentes ao público: Júlio Pomar, António Cunhal, Lima de Freitas, Júlio Resende, Manuel Ribeiro de Pavia, Cipriano Dourado, Rogério Ribeiro, Alice Jorge, Jorge de Almeida Monteiro, Espiga Pinto, Querubim Lapa e Aníbal Falcato Alves.

No seu conjunto, as obras expostas são em número de 40 e distribuem-se por diferentes tipologias: desenho a grafite, desenho a tinta-da-China, guache, aguarela, técnica mista, serigrafia, linoleogravura, xilogravura, litografia, água forte e água tinta e colagem.

A exposição integra o programa das Comemorações "50 ANOS EM LIBERDADE: COMEMORAÇÕES DO 50° ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE ABRIL DE 1974”, promovidas pelo Município de Estremoz.

A mostra estará patente ao público até ao próximo dia 15 de Setembro.

A participação na visita guiada não carece de marcação e é inteiramente gratuita.

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Ora agora falo eu!

 

O discurso de Hernâni Matos. Fotografia de Luís Mariano Guimarães.


Palavras proferidas no acto inaugural da exposição
NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS
que no passado dia 15 de Junho teve lugar na
Sala de Exposições Temporárias do
Museu Municipal de Estremoz Professor Joaquim Vermelho

 

 Vejamos o que aqui nos traz aqui

Em boa hora o Município de Estremoz teve a iniciativa de promover um conjunto de iniciativas, de índole diversificada e plural, sob a epígrafe "50 ANOS EM LIBERDADE: COMEMORAÇÕES DO 50° ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO DE ABRIL DE 1974”.
Nestas comemorações se insere a presente exposição de artes plásticas, designada por NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS.
Este certame tem 3 objectivos precisos e claros: - Comemorar os 50 anos do 25 de Abril; - Realçar o papel da arte neo-realista como arte de resistência; - Divulgar trabalhos de artistas plásticos neo-realistas.

Falemos de Abril
Foi em 25 de Abril de 1974, graças à acção militar coordenada do Movimento das Forças Armadas – MFA, que foi conseguido o derrube da ditadura mais velha da Europa – o regime totalitário e fascista de Salazar e de Caetano.
No desenrolar dos acontecimentos teve papel determinante um esquadrão do RC3 comandado pelo então capitão Andrade Moura, o qual cumprida a missão que o levara a Lisboa, à chegada a Estremoz foi alvo de grandiosa recepção popular, sendo aclamado pela multidão entusiasmada e recebendo honras militares.
Estremoz, através do seu prestigiado RC3, participara na libertação, o que muito nos congratula.
No seu poema “As portas que Abril abriu!”, o saudoso poeta José Carlos Ary dos Santos, diz-nos quem fez o de Abril de 1974:

“Quem o fez era soldado
homem novo Capitão
mas também tinha a seu lado
muitos homens na prisão.”

E mais adiante:

“Foi então que Abril abriu
as portas da claridade
e a nossa gente invadiu
a sua própria cidade.”

Com o 25 de Abril de 1974 houve uma mudança de paradigma. Como preito de homenagem a Luís Vaz de Camões, cujo 5º Centenário de Nascimento está a decorrer, mas pensando sempre no 25 de Abril de 1974, não resisto a parafrasear um excerto de um dos seus mais famosos sonetos:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança:
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.”

Antecedentes do 25 de Abril
O 25 de Abril foi antecedido de muitas lutas contra o regime, por parte de múltiplos sectores da sociedade portuguesa: operários, camponeses, trabalhadores de serviços e intelectuais.
É nesse contexto de luta que surge informalmente uma frente cultural de escritores e artistas plásticos, descontentes com a política cultural do Estado Novo, frente essa que viria a ser designada por “Movimento neo-realista português”.
Tratou-se dum movimento filosófico, literário e artístico, o qual se manifestaria pela primeira vez em meados dos anos 30 através de polémicas literárias surgidas nos jornais “O Diabo” e “Sol Nascente”, bem como na revista “Vértice”, que defendiam uma arte virada para os verdadeiros problemas da sociedade, entrando em ruptura com o que era preconizado pela revista “Presença”, a qual defendia uma literatura expurgada de ideologia e não comprometida socialmente e que ao contrário do neo-realismo dava mais importância à “forma” que ao “conteúdo”.
O Movimento neo-realista português estender-se-ia já nos anos 40 às artes plásticas.
Os neo-realistas assumem-se então como representantes e porta-vozes dos anseios das classes trabalhadoras, propondo-se retratar a realidade social e económica do país, ao mesmo tempo que se empenham na transformação das condições sociais do mesmo. Para tal, focam-se no homem e na mulher comuns, procurando saber como vivem e trabalham operários e camponeses. Para além disso, abordam e aprofundam temas como as desigualdades sociais e a exploração do homem pelo homem. Escrutinam as injustiças e analisam o modelo social vigente. Pugnam pela elevação moral dos oprimidos e depositam esperança no futuro do Homem.
É claro que a defesa de todos estes valores se processa nas condições mais duras de repressão, que incluem no mínimo a censura (caso dos frescos de Júlio Pomar no Cinema Batalha no Porto em 1948, os quais foram mandados destruir), a apreensão de obras de arte (como aconteceu, entre outros, com Júlio Pomar, Lima de Freitas e Manuel Ribeiro de Pavia na Exposição Geral de Artes Plásticas de 1947, em Lisboa), a censura prévia de exposições (como aconteceu nas Exposições Gerais de Artes Plásticas entre 1948 e 1956), a proibição da realização de exposições (como aconteceu em 1952 em que não se realizou a Exposição Geral de Artes Plásticas, porque a Sociedade Nacional de Belas Artes esteve encerrada pela PIDE), a interdição do desempenho de cargos públicos (caso de Júlio Pomar e Alice Jorge) e no limite, a prisão (como aconteceu com os pintores Rogério Ribeiro, Júlio Pomar e Lima de Freitas) e mesmo o assassinato a tiro na via pública (como aconteceu com o escultor José Dias Coelho).

Memórias guardadas
Os trabalhos neo-realistas aqui expostos são registos da realidade de uma época nos seus múltiplos aspectos: social, económico e político. São pois, memórias do passado.
Por outro lado, ao reunir um acervo pessoal dessas obras, tornei-me, eu próprio, um guardador de memórias.
Estas memórias guardadas, conjuntamente com muitas outras memórias integram a chamada “memória colectiva”, a qual nos ajuda a construir e manter a nossa identidade cultural e histórica, preservando tradições, valores e experiências comuns.
É a memória colectiva que nos permite aprender com os erros e sucessos do passado, o que é essencial para o desenvolvimento e a evolução da sociedade.
A memória colectiva desempenha um papel crucial no exercício da cidadania e da democracia, pois é através da memória colectiva que as lutas e conquistas dos nossos antepassados são lembradas e honradas, incentivando a luta por um futuro melhor e mais justo.

A terminar
Dou-vos conta da minha disponibilidade para vos conduzir numa visita guiada à exposição.
Mas antes disso gostaria de expressar publicamente alguns agradecimentos:
Em primeiro lugar, ao Senhor Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, José Daniel Pena Sadio, que teve a gentileza de redigir um texto de abertura para o catálogo, que muito o valoriza e me honra, já que no mesmo é reconhecido o valor e o interesse de parte do meu acervo estar patente ao público, o que o levou a conceder o seu aval à presente exposição.
Em segundo lugar, ao estimado filósofo e meu prezado amigo António Júlio Rebelo, que igualmente teve a gentileza de redigir o texto “O imaginário desceu à terra”, um monumento de pensamento cuja inserção no catálogo muito me orgulha.
Em terceiro lugar, quero agradecer a curadoria da exposição, de Isabel Borda d’Água, Directora do Museu Municipal de Estremoz, que se mostrou inexcedível na preparação da exposição e na divulgação da mesma.
Por último, quero agradecer à equipa de montagem do Museu, liderada pelo Senhor Manuel Broa, a dedicação e a competência técnica reveladas na concretização do “visual da exposição”.
A todos, o meu muito obrigado. Bem hajam!
Para todos eles, peço uma calorosa salva de palmas.

Hernâni Matos

Uma aspecto inicial da assistência. Fotografia de Luís Mariano Guimarães.

domingo, 16 de junho de 2024

NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS

 



Créditos fotográficos:
Jorge Mourinha - Município de Estremoz


Integrada no Programa Comemorativo “50 anos em Liberdade: Comemorações do 50º Aniversário da Revolução de Abril de 1974”, decorreu ontem na Sala de Exposições Temporárias do Museu Municipal de Estremoz Prof. Joaquim Vermelho, a inauguração da exposição de artes plásticas NEO-REALISMO / MEMÓRIAS GUARDADAS / COLECÇÃO HERNÂNI MATOS.

No acto inaugural, participaram cerca de 4 dezenas de convidados, cuja presença e afecto foi para mim gratificante. Presidiu ao evento, o Senhor Presidente da Câmara Municipal de Estremoz, José Daniel Pena Sadio, a quem agradeço as palavras amigas, bem como ao Chefe de Divisão, Hugo Guerreiro, o qual no mesmo sentido o antecedeu no uso da palavra.  Seguidamente, coube-me a mim igual papel, tendo agradecido as facilidades concedidas pelo Município. De resto e como não podia deixar de ser, procurei dar uma visão do que que foi o movimento neo-realista português, o modo como surgiu e porque surgiu, os seus marcos mais importantes, as lutas em que se envolveu antes do 25 de Abril, bem como as suas naturais implicações.

A terminar, orientei uma visita guiada à exposição, procurando facilitar a leitura e interpretação das obras dos artistas plásticos patentes ao público: Júlio Pomar, António Cunhal, Lima de Freitas, Júlio Resende, Manuel Ribeiro de Pavia, Cipriano Dourado, Rogério Ribeiro, Alice Jorge, Jorge de Almeida Monteiro, Espiga Pinto, Querubim Lapa e Aníbal Falcato Alves. No seu conjunto, as obras expostas são em número de 40 e distribuem-se por diferentes tipologias: desenho a grafite, desenho a tinta-da-China, guache, aguarela, técnica mista, serigrafia, linoleogravura, xilogravura, litografia, água forte e água tinta e colagem. A mostra estará patente ao público até ao próximo dia 15 de Setembro.

Hernâni Matos