CONCERTO DOS UHF – A
heroína ali foi a música [1]
Crónica rock [2] ou talvez não, por Hernâni Matos
Uma viola baixo, uma viola ritmo
e uma bateria poderão não fazer uma orquestra. Fazem, porém, um concerto de
rock. Que o digam a meia bancada e o terço de ringue que no passado dia 18 de Setembro [3],
na Esplanada Parque em Estremoz, assistiram ao concerto dos UHF.
Amplificador que difunde
vibrações, volts transformados em decibéis, poluição sonora estandardizada dum
conjunto desfalcado dum vocalista que é também viola ritmo.
Montanhas de amplificadores e um
aparato de projectores verde-laranja-branco, verde-laranja-branco, verde-… Poça
que já me doía a vista.
Corpo forrado de jeans, camisetes
e ténis. Homens programados, gestos computorizados, corpos electrificados
geradores de música. E nas convoluções epilépticas, violas tricotam música que
as malhas que o som tece lá vão aquecendo a malta. É preciso é conjugar o verbo
pular.
Embora se vissem senhoras em
traje de passeio, predominava a juventude, que o rock não liga com o reumático.
Havia tipos exóticos, cabelos à Black Power, rapazes tipo West Side com Marias
para todos os paladares. Havia também uma bebedeira com um lenço ao pescoço e
um chapéu à 3 mosqueteiros, enfiado num pau de virar tripas. É que estas coisas
têm os seus próprios regulamentos e a malta tem de ir fardada a rigor.
Ambiente morno, que em Estremoz
nada pega. Um palco decorado com barreiras e uma mão cheia de PSP´s e PE’s que
não chegaram a fazer falta, que não houve problemas com a malta. Oh, meu! Ainda
dizem que a juventude é violenta!
Na escuridão, beijos generosos
que se dão e óculos escuros que se tiram, pois à noite todos os gatos são
pardos.
Os cigarros que tremulam são os
novos pirilampos da sociedade de consumo.
Há quem deambule por aqui e por
ali e há quem beba cerveja, que o escuro não mata a sede.
As coisas aqueceram aí pelo “Modelo
Fotográfico”, não percebemos se vestido se despido, que por essa altura os
tímpanos já tinham pifado. O quê? Queres um fósforo? Toma lá pá! Não tens de quê!
Com o “Cavalo de Corrida”
atingiu-se o auge da morneza, com a malta de braços erguidos como quem protesta
contra o preço da carne, o que não era o caso, pois ali todos tinham ido ao
concerto por sua livre vontade.
Quanto à encenação, aquilo tava
uma maravilha, pá! Era a gaja da saia transparente que tirava fotografias à contraluz
e foi o blusão despido aí por alturas do “Cavalo de Corrida”, que era p’ra a
gente acreditar que aquilo estava mesmo a aquecer. E até deu p’ra haver
publicidade, que um sumo que se bebe no palco é sede comercial que é preciso
promover.
Vale tudo menos tirar olhos. Não
pensava isto quem no outro dia ia tirando um ao António Manuel Ribeiro (vocalista - viola ritmo),
pois estava acompanhando o rock ao ritmo da fisga. Aquilo de colcheias e projecteis
à mistura não resultou e o Tó Manel ia ficando como o Luís Vaz, vulgo Camões.
Isqueiros que se se acendem aqui
e ali nos braços erguidos ao alto, como quem paga uma promessa a Fátima.
E eis que um fogo de artifício
cria a apoteose que os espectáculos devem apresentar no fim. E aqui houve
encenação de pormenor na cor cardinalícia que conferiu a solenidade que a
apoteose precisava ter. E no momento em
que termina o concerto, os músicos erguem as violas bem alto, como um sacerdote
num templo ao proceder à consagração da hóstia.
Música que se extingue, artifício
de fogo que se acaba. Resta o fumo que o vento acaba por levar. E com aquela
nuvem passageira, os músicos saem pela esquerda baixa para logo de seguida,
numa semi-escuridão e com blusas trocadas entre si por questões de segurança,
irem direitinhos à cozinha do bufete. A traça não perdoa. É preciso encher a
mula, pá!
Uma hora de espectáculo. 13 composições,
85 contos de cachet. Nada mau. E o “Estremoz”[4]?
Terá reforçado a verba ou averbado o esforço?
E é isto o rock. Rock à Portuguesa,
pois claro!
Quando tiver um puto, hei de lhe
dizer:
- Porta-te bem ou levo-te ao
rock!