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segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

O amor é cego - Provérbios


O Amor é cego. Jorge da Conceição (1963 -  ).

“O amor é cego” é uma das peças mais estimadas da barrística popular estremocense, que está na origem do título do presente texto, visando o dia 14 de Fevereiro, Dia de São Valentim ou Dia dos Namorados, no qual os amantes celebram o amor, a paixão e a partilha de sentimentos entre si.
Com este texto, continuo a associar provérbios da nossa tradição oral, a exemplares da barrística popular estremocense.
“O amor é cego” é um provérbio que traduz a cegueira do amor (falta de objectividade), relativamente à qual conheço provérbios, alguns dos quais admitem variantes, que considero desnecessário assinalar aqui:

- “A amizade deve ser vidente e o amor, cego.“
- “O amor é cego e a Justiça também.“
- “O amor é cego, a amizade fecha os olhos.“
- “O amor é cego, mas vê muito longe.“
- “O amor é cego. “
- “O amor não enxerga as cores das pessoas.“
- “O amor vem da cegueira, a amizade, do conhecimento.“
- “Quem anda cego de amores não vê senão flores.“
- “Quem o feio ama, bonito lhe parece.“

Porque estou empenhado na recuperação da nossa literatura de tradição oral e na promoção da barrística popular estremocense, penso que este texto é adequado ao dia de S. Valentim, já que, assumidamente, também acredito no amor.


Publicado inicialmente a 14 de Fevereiro de 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

A cadeirinha de "Prometida"


 A CADEIRINHA DE "PROMETIDA" - Símbolo do contrato pré-matrimonial
no Alentejo da primeira metade do séc. XX. Talhada em madeira numa
única peça (2,1x2,1x5,2 cm).

Campos do Alentejo na primeira metade do século vinte. Um moço que num rasgo de olhar, vislumbra uma moça, na qual existe qualquer coisa que irreversivelmente o atrai e o fulmina. É tiro e queda. Passa a segui-la como um perdigueiro que segue a caça. Pisteiro, procura dirigir-lhe palavra. Mas manda a tradição que a moça, apesar de se sentir atraída por ele, lhe dê um ou mais cabaços (negas). Todavia, “Quem porfia sempre alcança” e um dia, os sentimentos do moço são retribuídos pela moça e o amor irrompe como um vulcão. Ela dá-lhe trela e ele recebe luz branca para lhe fazer a corte. Derretem-se um pelo outro, mas procuram encontrar-se em segredo, longe das bocas do mundo, para que a família dela não saiba antes do tempo próprio. E as coisas assim continuam até que um dia, deixam de ter medo que os outros saibam e passam à condição de “conversados”, encontrando-se às claras, na pausa dos trabalhos do campo, no regresso dele, junto à fonte ou na igreja, nos domingos e dias santos. É a época em que o moço oferece à moça, objectos utilitários de arte pastoril, finamente lavrados: dedeiras para a ceifa, rocas e fusos, ganchos de fazer meia ou caixas de costura, que ele próprio confecciona se da arte pastoril tem o jeito ou que encomenda a alguém, no caso de não o ter. Ela retribui com prendas finamente bordadas, tais como uma bolsa para o relógio, para a tabaqueira ou para as moedas. E na comunhão do amor perene, qualquer deles usa e ostenta com orgulho, as prendas que recebeu do outro e que “selam” a sua condição de “conversados”.
A instâncias da moça, com o apoio da mãe primeiro e do pai depois, os pais dão autorização para que os “conversados” falem à janela ou à porta de casa, seja ela na vila ou no monte. E as coisas assim vão prosseguindo até que o estado psicológico do par atinja o ponto de rebuçado. Nessa altura, o moço pede aos pais da moça que lha dêem em casamento. Estes, naturalmente, protagonistas activos ainda que ocultos, desta saga amorosa, concedem-lhe a graça solicitada. A moça passa então da condição de “conversada”, à condição de “prometida”. Só então o par recebe autorização para conversar dentro da casa dos pais da moça. E para “selar” o contracto pré-matrimonial, o moço oferece à sua “prometida” uma cadeirinha em madeira que ela passará a usar, presa na fita do chapéu de trabalho, até à altura do matrimónio. Esta a fórmula encontrada pela sábia identidade cultural alentejana, de dar a conhecer à comunidade que a moça já estava “prometida” e que em breve iria casar.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 7 de Janeiro de 2011

TROCA DE PRENDAS ENTRE "CONVERSADOS" - Fotografia adicionada por Robert DeSousa
ao grupo do Facebook "ARTES E OFICIOS, USOS E COSTUMES DE PORTUGAL", no dia 21 de
Outubro de 2010, de onde foi partilhada e reproduzida com a devida vénia.