Mulher das castanhas – Oficinas de Estremoz de
finais do séc. XIX. Colecção do autor.
Tintas de pintura
Após a cozedura, e depois de terem arrefecido, os
Bonecos estão em condições de serem coloridos. A cor de cada um dos seus
componentes pode ser conseguida através da aplicação de tintas de pintura,
constituídas basicamente por um pigmento mineral, um aglutinante (veículo de
cor neutra ou sem cor que suspende o pigmento e confere à tinta a sua
aderência) e um diluente. Têm sido utilizadas no decurso do tempo, vários tipos
de tintas de pintura: - TINTAS DE ÓLEO – Os pigmentos minerais são adicionados
a ligantes que são óleos secativos como o óleo de linhaça, o qual por oxidação
do ar origina uma película elástica que adere ao suporte e fixa as partículas
do pigmento. O diluente usado é a aguarrás. - TINTAS DE COLA OU GOMA – Os
pigmentos são juntados a ligantes como a cola ou goma e como diluente
utiliza-se a gema de ovo. Eram as tintas usadas por Gertrudes Rosa Marques
(1840-1921), de acordo com Luís Chaves (*) - TINTAS DE GRUDE – Ti Ana das
Peles e Mariano da Conceição terão sido os primeiros a usá-las. Nelas o ligante
era a grude, hoje caído em desuso, e que era uma cola de origem animal usada em
carpintaria para ligar peças de madeira. Apresentava-se comercialmente no
estado sólido, sob a forma de barras, que visando a sua utilização tinham de
ser fracturadas e imersas em água fria durante cerca de seis horas para
amolecer. A grude era depois aquecida em banho-maria até derreter completamente
e poder ser utilizada. Para além da sua utilização como cola, a grude foi ainda
utilizada como ligante de pigmentos minerais. Sabina da Conceição, Liberdade da
Conceição e José Moreira foram os últimos barristas a utilizar a grude como
ligante, de acordo com os cânones tradicionais seguidos por Ana das Peles e
Mariano da Conceição. Fizeram-no até à década de 70 do séc. XX e deixaram de a
usar, já que a sua utilização não era prática. Esta exigia que uma pequena
porção de cada pigmento fosse vertida numa tigelinha de barro, à qual era
igualmente adicionada grude derretida, sendo depois a mistura homogeneizada,
mexendo-a com uma pequena bola de barro cozido que tinha cravado como cabo, um
pedaço de arame. Com o arrefecimento, a grude solidificava, pelo que havia
necessidade de com frequência aquecer as tigelinhas num fogareiro a carvão e
homogeneizar a mistura, a fim de poder ser utilizada na pintura do barro. Para
além disso, a grude apresentava outro inconveniente que era apodrecer e começar
a cheirar mal. - TINTAS DE ÁGUA DE COLA - Com o abandono da grude, houve
barristas que começaram a utilizar água de cola branca de madeira como ligante
dos pigmentos, por permitir uma utilização mais cómoda. - TINTAS DE ÁGUA –
Alguns barristas usam actualmente tintas de água, caracterizadas pela presença
de um ligante solúvel na água. Inicialmente estas tintas usavam como
aglutinantes, substâncias como amido, caseinatos, dextrinas, gelatina, gomas,
etc. Tratavam-se de tintas inferiores sob um ponto de vista de protecção do
suporte. Actualmente, este tipo de tintas utiliza como ligante uma dispersão de
resinas, que as torna mais resistentes aos agentes atmosféricos.
Pigmentos:
Os pigmentos são corantes, que no caso dos Bonecos são, em geral,
pigmentos inorgânicos obtidos a partir da trituração e pulverização de
minerais, seguida de purificação ou tratamento industrial. Os pigmentos
absorvem selectivamente a luz que neles incide, pelo que a luz reflectida é que
determina a cor do objecto. Os pigmentos têm que reunir determinadas
características: - Insolubilidade na água; - Facilidade de mistura com os
líquidos que lhes servem de veículo; - Opacidade, ou seja capacidade de
revestir as superfícies com a menor quantidade possível de pigmento; -
Inalterabilidade à acção da luz, do ar, do calor e da humidade; - Secagem
rápida. Como exemplos de pigmentos de utilização mais corrente, destaco: -
CASTANHO: Terra de Siena crua (mistura de óxido de ferro hidratado, sílica,
alumina e dióxido de manganês), terra de Siena queimada (resultante da
calcinação da Terra de Siena crua); - VERMELHO: Almagre (ocre vermelho - argila
corada pelo sesquióxido de ferro anidro), vermelhão (sulfureto de mercúrio II),
zarcão (tetróxido de chumbo); - AMARELO: Litargírio (óxido de zinco), ocre
amarelo (argila corada pelo sesquióxido de ferro hidratado), amarelo de crómio (cromato
de chumbo), cromato de zinco; - VERDE: Verde de crómio (sesquióxido de crómio),
verde de cobre (hidróxicarbonato de cobre), verde de zinco, verde inglês
(mistura de cromato de chumbo e ferrocianeto ferroso), verde de cobalto
(mistura de óxido de zinco e de óxido de cobalto); - AZUL: Azul do Ultramar
(obtido da rocha lápis-lázuli), azul da Prússia (ferrocianeto férrico), azul de
cobalto (aluminato de cobalto II); - BRANCO: Alvaiade (Óxido de zinco), dióxido
de titânio, carbonato de chumbo, sulfato de bário, sulfato de chumbo; - PRETO:
Preto de Marte (óxido de ferro II), preto de manganês (dióxido de manganês), pó
de sapato (pigmento resultante da combustão de resinas queimadas). Os locais
onde se podiam comprar pigmentos minerais em Estremoz, nos anos 80 do séc. XX,
eram os seguintes: Mendes, Meira & Niza, Lda (Largo dos Combatentes da
Grande Guerra, 13 e 14), Drogaria Loução (Largo General Graça, 49) e Drogaria
Lélé (Largo da República, 38). Esta era, sem dúvida, a casa que tinha maior
variedade de pigmentos, opinião partilhada pelo pintor Armando Alves.
Actualmente, a aquisição de tais pigmentos pode ainda ser feita na firma Merino
e Sadio (Rua 1º de Dezembro, 27).
(*) - CHAVES, Luis. Arte popular do Alentejo - Etnografia Artística - Os barristas de
Estremoz, a oficina e a técnica in Portucale – Revista Ilustrada de Cultura
Literária, Scientífica e Artística, VI. Porto, 1933 (pág. 186 a 189).
BIBLIOGRAFIA
MATOS, Hernâni. Bonecos
de Estremoz. Edições Afrontamento. Estremoz / Póvoa de Varzim, Outubro de
2018 (pág. 51 a 53).
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