sexta-feira, 24 de abril de 2015

Que farei com esta coluna?

Sala octogonal com colunas de capitéis de motivos animalistas e antropomórficos,
existente no segundo poso da Torre da Menagem do Castelo de Estremoz.

A resposta óbvia e pronta é:
- Não sei!
Como franco-atirador do pensamento e da acção, os meus disparos não são previsíveis, nem sequer condicionáveis e muito menos controláveis. Um franco-atirador é como um cavalo à rédea solta que cavalga em sintonia com a campina, por necessidade telúrica e onírica de exercitar a liberdade. Legitima-me a força da razão que emana da Terra-Mãe, do espírito dos antepassados e da missão inescapável de passar o testemunho.
Para alimentar uma coluna é indispensável ter sempre um tema, previamente armazenado no arsenal das ideias ou que se manifesta por força das circunstâncias.
Há temas sempre actuais e que por isso figuram na ordem do dia. Há ainda temas que são óbvios, pelo que se pode incorrer no risco de ser mais um pianista a tocar a mesma tecla, o que conduziria o público a enjoar o concerto da conversa que se vai conservando, relativamente àquilo que já não tem conserto. Todavia, há que ser repetitivo, voltando a percutir a mesma clave, já que há quem faça ouvidos de mercador. Há igualmente temas que são prioritários em relação a outros. Daí que a escala do tempo funcione como filtro da balança de precisão.
O tema deve ser abordado sob múltiplos ângulos e de uma forma multidisciplinar. Quanto mais multifacetada for a incursão por ele, mais próxima estará a realidade, a qual é plural. A verdade é que não, visto que cada um tem a sua verdade.
O tema deve ser desenvolvido com o rigor da demonstração dum teorema, atendendo a que a nobreza obriga e a falta de rigor é boçal.
Nem sempre é fácil dissertar sobre um tema, dado que por vezes se nos depara o dilema de ferir ou não susceptibilidades.
A dissecação do tema deve ser efectuada com elegância vocabular, tendo em conta que uma bujarda se pode transformar em boomerang retórico que se vira contra o autor. A eficácia não se centra na bujarda. Reside na força da razão e no uso claro e transparente da parafernália vocabular exacta, disponível no paiol do pensamento.
O tema exige um tratamento vivo, já que a monotonia é fonte de bocejos. Essa vivacidade é, de resto, compatível com o rigor cirúrgico do texto lavrado com a precisão de uma ferramenta de laser.               
Para além de tudo, é imperativo disparar metralha de calibre adequado, sem que nunca nos doa o dedo do gatilho. O franco-atirador tem que disparar sempre, até que lhe falte tema, já que depois:
- PIM! A coluna chegou ao fim! 

6 comentários:

  1. Meu caro Hernâni,

    Não desfaleça, continue a sua batalha.
    Todos, ainda somos poucos.
    Vá combinando os temas com interesse mais local e outros de natureza mais geral, mais abrangente.
    Á esquerda em que se situa, pouco mais resta do que os blogues.
    As direitas e os seus patrões dominam todos os jornais e revistas de grande circulação, todas as rádios de emissão nacional, todas as televisões, em sinal aberto ou no cabo.
    Passam, sucessivamente, as horas, os dias, os meses, os anos, as últimas décadas, a formatar e intoxicar as consciências com a tese do pensamento único, com a alternativa única, a deles.
    O nosso voto não vale nada, já que somos efectivamente (des)governados por burocratas não eleitos e a soldo dos chamados "mercados".
    Por isso, não nos podemos calar.
    Mesmo que espaçando mais a nossa arma - a escrita, a denúncia, o protesto.

    Cumprimentos.

    Fernando Oliveira

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    1. Fernando:
      Esteja descansado comigo. Eu sou da natureza de não me render. O meu posto é este e mais nenhum.
      Os meus melhores cumprimentos.

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  2. Super meu estimado Hernâni. O meu amigo é um genial artífice de colunas intelectuais.

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    1. Amigo Feliciano:
      Eu não sou nada disso, já que não incho com intelectualices, como porventura acontecerá com alguns dos meus pares. Sou apenas um cronista da minha época, um Fernão Lopes de trazer por casa, que se acha no direito de reflectir continuadamente sobre o acto de escrever. E nisso sou maior do que eu.
      Um grande abraço para si, amigo Feliciano.

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  3. E disparou excelentemente, amigo! Que rigor, que palavras saborosas e que estilo eloquente e adequado! Obrigada, já tinha saudades de o ler!
    Boa semana! E Viva o Primeiro de Maio !
    mfernanda/,

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    1. Obrigado Fernanda, pelas suas estimulantes palavras.
      Maio primeiro e Abril depois, estão-nos na massa do sangue. A nossa alma é vermelha, é da cor que as coisas devem ter, é da cor de não nos rendermos, pois o nosso posto, sem hierarquias nem generais, é o de estarmos onde estamos. É essa a nossa missão, Fernanda.

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