domingo, 5 de fevereiro de 2017

65 - Berços do Menino Jesus – 4

Berço das pombinhas.
Mariano da Conceição (1903-1959).
Museu Nacional de Etnologia.

Figurado de Estremoz – 1
O berço das pombinhas
O Presépio de trono ou de altar e os de 3, 6 e 9 figuras incluem um berço com o Menino Jesus, numa representação alegórica ao nascimento de Jesus numa manjedoura. Trata-se de um conjunto em barro policromado, constituído por um berço, uma figura antropomórfica masculina (o Menino Jesus) e cinco figuras zoomórficas (um galo e quatro pombinhas).
Merece especial descrição, o espécimen de Mariano da Conceição, pertencente à colecção do Museu Nacional de Etnologia. O berço, em forma de sector circular, está assente em 4 pés cilíndricos colocados nas extremidades e possui um espaldar elevado, igualmente em forma de sector circular, orlado por um adorno de pregas, figurando folho. O berço, de cor amarela, encontra-se decorado com dois conjuntos desencontrados de linhas rectas de cor castanha, dispostas em ziguezague, formando losangos, cada um deles com uma pinta verde-escuro no interior e com pintas zarcão no exterior. A cor do folho é azul do Ultramar. O espaldar acha-se decorado por quatro ramos de cor verde-escuro, encimados por flores cor de zarcão, que se espalham a partir do centro da base do espaldar. Os pés do berço estão pintalgados de verde-escuro e cor de zarcão.
No centro do folho encontra-se empoleirado um galo, ladeado de duas pombinhas, olhando qualquer deles em frente. Nas extremidades laterais do berço encontram-se mais duas pombinhas, qualquer delas viradas para o Menino.
O galo e as pombinhas têm as patas figuradas por dois pedaços de arame e apresentam as asas recolhidas. As pombinhas mostram a cauda esticada e bifurcada, enquanto que a cauda do galo se encontra erguida e revela os contornos superiores recortados.
As pombinhas e o galo são brancos, pintalgados de preto e apresentam linhas pretas, configurando as penas. Os olhos estão representados por dois pontos negros e o bico é amarelo, de forma cónica. Na cabeça, o galo ostenta uma crista e um papo, ambos vermelhos. No pescoço das pombinhas foi pintada uma fita de cor azul.
No interior do berço está assente uma manta branca com extremidades recortadas e decoradas com círculos incisos de cor azul, assim como uma almofada branca com extremidades recortadas e decoradas com linhas azuis.
Assente na manta e com a cabeça sobre a almofada, encontra-se a figura do Menino Jesus, despida e deitada sobre o seu lado direito, com a perna esquerda sobreposta à direita. O braço esquerdo apoia-se no peito e sobre o direito apoia-se a cabeça. Nos pés e nas mãos, linhas incisas representam os dedos. Na parte inferior do tronco do Menino, um ponto inciso figura o umbigo. Na cabeça do Menino, o cabelo é de cor amarela. Os olhos são simbolizados por dois pontos negros, os quais estão encimados por dois traços de cor castanha que figuram as sobrancelhas. O nariz é em relevo e a boca apresenta lábios delineados e de cor vermelha. De cada lado da face é visível uma roseta alaranjada.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

64 - Berços do Menino Jesus - 3


Berço enfeitado (2015).
Jorge da Conceição (1963-).
Colecção particular.

Arte portuguesa - 2 
- ESCULTURAS EM BARRO (PRESÉPIOS) – Dentre eles e pela importância de que se revestem, destaco os presépios barrocos confeccionados em barro cozido policromado, ainda que podendo recorrer a outros materiais, tais como: talha dourada, madeira, cortiça, vidro, pano, papel, prata, ouro, etc. De tamanho e com número de figuras muito variável, podem estar montados e protegidos por maquinetas. Refiro seguidamente os mais importantes por mim identificados: - PRESÉPIO DA MADRE DE DEUS - António Ferreira (1700-1730). Fabrico de Lisboa. Museu Nacional do Azulejo, Lisboa; - PRESÉPIO - António Ferreira (séc. XVIII). Fabrico de Lisboa. Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra; - PRESÉPIO EM MAQUINETA – Autor desconhecido (1751-1800). Fabrico de Lisboa. Museu de Évora; - PRESÉPIO DA IGREJA DA SÉ PATRIARCAL DE LISBOA (Em maquineta) - Machado de Castro (1766). Fabrico de Lisboa. Sé Patriarcal, Lisboa; - PRESÉPIO DAS NECESSIDADES (Em maquineta) – Autor desconhecido (1775-180O). Fabrico de Lisboa. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa; - PRESÉPIO EM MAQUINETA - Faustino José Rodrigues (Escultor) e José António Lisboa (Marceneiro da Maquineta) (c. 1783). Fabrico de Lisboa. Museu Nacional de Antiga, Lisboa; - PRESÉPIO DOS MARQUESES DE BELAS (Em maquineta) - Joaquim Joseph de Barros, Joaquim António de Macedo e António Pinto (1796-1812). Fabrico de Aveiro. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa; - PRESÉPIO EM MAQUINETA – Autor desconhecido (séc. XVIII). Fabrico de Aveiro. Museu de Aveiro; - PRESÉPIO EM MAQUINETA – Machado de Castro (séc. XVIII). Fabrico de Lisboa. Igreja de São José das Taipas, Porto; - PRESÉPIO DA BASÍLICA DA ESTRELA - Machado de Castro (séc. XVIII). Fabrico de Lisboa. Basílica da Estrela, Lisboa; - PRESÉPIO EM MAQUINETA - Silvestre Faria Lobo (?) (3º quartel do séc. XVIII). Fabrico português. Palácio Nacional de Queluz, Lisboa.

domingo, 29 de janeiro de 2017

Reabilitação urbana da cidade de Estremoz - I


Edifício da Olaria Alfacinha
Reabilitar o edifício da antiga Olaria Alfacinha, destinando-o a Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, é um dos múltiplos objectivos a atingir através da “PROPOSTA DE DELIMITAÇÃO DA ÁREA DE REABILITAÇÃO URBANA – CIDADE DE ESTREMOZ”. Esta é apresentada num documento de 48 páginas, elaborado em Agosto de 2015, pelo Sector de Gestão Urbanística, Planeamento e Projecto Municipal da CME.
O mesmo objectivo consta no “PLANO DE PORMENOR DE REABILITAÇÃO URBANA – CIDADE DE ESTREMOZ”, documento de 47 páginas, produzido em Julho de 2016, o qual aprofunda o documento anterior.
O último documento estima em 18 meses o tempo necessário à elaboração da proposta técnica da revisão do Plano, a que há que juntar o tempo necessário à tramitação e procedimentos de elaboração e aprovação, os quais culminam numa “Discussão pública e subsequente ponderação dos resultados”, a que se segue a “Aprovação pela Assembleia Municipal, sob proposta da Câmara Municipal”.
A oportunidade do Plano é justificada pelo próprio: “Possibilidade de captação de fundos comunitários, perspectivando-se que advirão do programa de financiamento denominado “Estratégia Europa 2020 – Portugal 2020””, já que como nos diz “No quadro de Referência Estratégica Nacional 2014 – 2020 a Comissão Europeia considerou a reabilitação urbana como o grande projecto para a Europa Comunitária e como factor atenuante do desemprego para o sector da construção civil e obras públicas”.

Casa do Alcaide-mor
O “PLANO DE PORMENOR DE REABILITAÇÃO URBANA – CIDADE DE ESTREMOZ”, no seu conjunto formula 18 excelentes objectivos gerais de reabilitação urbana e 17 excelentes objectivos específicos, dos quais me permito destacar o seguinte: “Incentivar e apoiar a reabilitação do património cultural, como pilar de desenvolvimento fundamental, em articulação com as entidades tutelares, designadamente a Capela da Rainha Santa Isabel, a Antiga Casa da Câmara, a Casa das Fardas, o Paiol de Santa Bárbara, o Prédio Militar 49, a Igreja de Santa Maria, a Igreja dos Congregados, o Convento das Maltezas e o Palácio Tocha”.
Como a Casa do Alcaide-mor, aqui designada Antiga Casa da Câmara, é propriedade municipal, porque é que o Município não elabora um projecto para a sua reabilitação e o inclui no programa de financiamento denominado “Estratégia Europa 2020 – Portugal 2020”? Aqui fica a pergunta.

Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz
É sabido que a Casa do Alcaide-mor é um prédio urbano composto por rés-do-chão, 1.º e 2.º andares, afecto a habitação, com 423 m2 de superfície coberta e logradouro com a área de 556 m2. Há quem pense que a Casa do Alcaide-mor seria o edifício mais digno e adequado para alojar o Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz. Este deveria também integrar a Faiança de Estremoz do séc. XVIII e a Louça de Barro Vermelho. E a Casa do Alcaide-mor está ali tão perto do Museu Municipal…

A União faz a força
Pela sua composição, o acervo do Museu Municipal é o mais forte em figurado de Estremoz. Mas há outros a nível local, como é o caso do pertencente ao Museu Rural e que presentemente se encontra encaixotado no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte. A eles há que juntar o espólio do Padre Mário de Brito Aparício Pereira, Capelão da Santa Casa da Misericórdia de Vila Viçosa, doado recentemente à Santa Casa da Misericórdia de Estremoz e que inclui cerca de 1000 bonecos de Estremoz.
Não poderiam estas 3 colecções integrarem o Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz, sem nenhum dos proprietários perder a titularidade do que legitimamente é seu? O Município, a Santa Casa da Misericórdia e o Museu Rural não poderiam dar as mãos nesse sentido? É que a união faz a força. A cidade de Estremoz merecia isso, assim como os seus bonecos, cuja proclamação como Património Cultural da Humanidade, aguardamos no final do ano em curso.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2017

Maria de Santa Isabel - Um nome que falta na toponímia estremocense


Maria de Santa Isabel (1910-1992)

O contexto familiar
Em 16 de Abril de 2010 teve lugar o I Centenário do Nascimento de Maria Palmira Osório de Castro Sande Meneses e Vasconcellos Alcaide (16/04/1910-13/01/1992), grande poetisa estremocense, conhecida por Maria de Santa Isabel.
Era filha de Ruy Sande Menezes Vasconcellos, proprietário, natural de Estremoz e de Maria Ana de Souza Coutinho Osório de Castro, doméstica, natural de Mangualde.
O seu avô paterno, Alberto de Castro Osório (1868-1946) foi juiz, político, escritor e poeta.
A sua tia-avó, Ana de Castro Osório (1872-1935), grande paixão do poeta Camilo Pessanha (1867-1926), foi escritora, jornalista, pedagoga, feminista, maçónica e militante republicana.
O poeta Mário Pires Gomes Beirão (1890-1965) foi parente de Maria Palmira.
O avô, a tia-avó e o parente frequentavam a Casa da Horta Primeira na Rua da Levada em Estremoz, onde Maria Palmira vivia com os pais e via a mãe a pintar. Foi num ambiente familiar artístico-literário que Maria Palmira cresceu a ouvir poesia, o que modelou o seu espírito e a sua sensibilidade de poetisa e contribuiu para que a poesia passasse a preencher a sua Vida.
Maria Palmira casou a 15 de Abril de 1928 com Roberto Augusto Carmelo Alcaide (9/8/1903-27/7/1979), então empregado de comércio, filho do capitão de cavalaria, Roberto Maria Alcaide, do Alandroal e de Maria das Pedras Alvas Gomes Carmelo, de Estremoz. O noivo era irmão de Tomaz de Aquino Carmelo Alcaide (16/02/1901-9/11/1967), tenor lírico de projecção internacional e viria a estabelecer-se por conta própria com um armazém de tabacos no Largo General Graça. Autodidacta, revelar-se-ia um excelente pintor, caricaturista, maquetista, cenógrafo e dramaturgo.

A obra poética
Maria Palmira foi colaboradora assídua do semanário estremocense Brados do Alentejo na secção Musa Alentejana, bem como da revista católica Stela, onde publicou poesia sob o pseudónimo Maria de Santa Isabel.
Nos anos 40-50 do séc. XX desenvolveu em conjunto com o seu marido, intensa actividade cultural no Orfeão de Estremoz Tomaz Alcaide, de quem o seu cunhado era patrono. São dessa época, as peças de teatro musicado “Chitas e buréis”, “S.O.S”, “Feitiço de Ilusão”, “Terra de Folia”, que foram objecto de intercâmbio com grupos corais do Alentejo, Beiras e Algarve. O casal cooperou, de resto, em inúmeras actividades associativas e realizações populares como marchas e ranchos que deram animação à cidade.
A bibliografia poética de Maria de Santa Isabel inclui: FLOR DE ESTEVA (1948), SOLIDÃO MAIOR (1957), TERRA ARDENTE (1961), FRONTEIRA DE BRUMA (1997), POESIA INÉDITA (A editar).
De Maria de Santa Isabel nos fala Urbano Tavares Rodrigues na Obra “O ALENTEJO – ANTOLOGIA DA TERRA PORTUGUESA”: “Tanto em Mário Beirão, como na sua discípula Maria de Santa Isabel (“Flor de Esteva”, “Terra Ardente”, 1951, “Solidão Maior”, 1957), delicadamente receptiva à paisagem — “Solidão Maior”, o seu último livro e o menos retórico, é um valioso documento de sensibilidade alentejana, vibrante, magoada e desolada como essa mesma terra com que visceralmente ela se identifica — vizinham os motivos alentejanos e espanhóis: as fuscas azinheiras, “o cilício doirado dos restolhos”, a par dos austeros pragais castelhanos e estremenhos e da passional alacridade anda­luza, explosiva e odorante.”
No jornal Brados do Alentejo de 1 de Fevereiro de 1992, é dada notícia do falecimento de Maria de Santa Isabel e ao que julgo pela pena de Joaquim Vermelho, o único membro da redacção que privara com ela e conhecia bem a sua Obra. Aí é caracterizada a sua poesia nestes termos: “Todo o seu trabalho deixa transparecer o seu amor ao Alentejo, porque mesmo o que se nos apresenta mais marcadamente intimista e pessoal, denuncia a sua alma alentejana, o clima e ambiente onde cresceu; esta paisagem dramática; esta natureza agreste mas cativante, onde tudo tem um ar sério e grave”.

Homenagem Póstuma
No dia 16 de Abril de 1994, Maria de Santa Isabel, foi alvo de uma Homenagem Póstuma, promovida pela Câmara Municipal de Estremoz e pelo Orfeão de Estremoz Tomaz Alcaide. A cerimónia, presidida pelo então Presidente do Município, José do Nascimento Dias Sena, incluiu múltiplos actos: - Na Biblioteca Municipal inauguração da Exposição Documental e Fotográfica sobre a Obra da Homenageada; - No Salão Nobre dos Paços do Concelho, conferência do escritor António Manuel Couto Viana, que falou sobre a Obra Poética da Homenageada, com declamação de poemas a cargo da declamadora Maria Germana Tanger; - Descerramento de uma lápide invocadora na fachada da Casa da Horta Primeira, onde nasceu, viveu e faleceu a poetisa; - Missa de Sufrágio na Igreja de São Francisco.

A ausência na Toponímia
Maria de Santa Isabel morou sempre na chamada “Rua da Levada / Rua Narciso Ribeiro”, cuja denominação resultou de o seu subsolo ser atravessado por uma conduta de água que parte do Lago do Gadanha e que depois de atravessar as hortas, vai desaguar no chamado “Ribeiro da Vila”. Actualmente toda a cidade é atravessada por condutas de água, pelo que o topónimo perdeu a importância de outrora e carece presentemente de significado. Tal facto constitui razão suficiente para alteração, conforme prevê o Regulamento de Toponímia e Numeração de Polícia do Concelho de Estremoz.
Maria de Santa Isabel foi uma individualidade de relevo, não só a nível concelhio, como também nacional, pelas suas elevadas qualidades humanas, cívicas, culturais e sociais, que são princípios a ter em conta na atribuição e alteração de topónimos, conforme estipula aquele Regulamento.
Face ao exposto e nas condições do Artigo 21.º da referida Regulamentação, o signatário propõe à Câmara Municipal de Estremoz a alteração do topónimo “Rua da Levada / Rua Narciso Ribeiro” para “Rua Maria de Santa Isabel” e, por arrastamento, a alteração do topónimo “Travessa da Levada” para “Travessa Maria de Santa Isabel”. Ao fazê-lo, o signatário tem plena consciência de interpretar uma justa aspiração de familiares, amigos e admiradores, que dela sentem uma enorme saudade e que entendem ser esta a via mais adequada de perpetuar a sua Memória, indiscutivelmente justificada pela sua Vida e Obra.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

63 - Berços do Menino Jesus - 2


 Berço.
Maria Luísa da Conceição (1934-2015).
Colecção particular.
Arte portuguesa - 1
Pelo menos desde o séc. XIII-XIV que a figura do Menino Jesus, despido ou parcialmente coberto, deitado num berço improvisado e com palhinhas, aparece representado na arte portuguesa. Passo seguidamente a referir os registos mais importantes por mim identificados:
- PINTURA: - ADORAÇÃO DOS PASTORES - Jorge Afonso (c. 1470 – c.1540). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa; - ADORAÇÃO DOS PASTORES - Gregório Lopes (c. 1490-1550). Museu Nacional de Arte Antiga; - PRESÉPIO - Círculo de Gerard David (1495–1510). Museu de Évora; - NATIVIDADE - Vasco Fernandes (act. entre 1501 e 1540). Museu Nacional Grão Vasco, Viseu; - ADORAÇÃO DOS PASTORES - Jorge Afonso (c. 1470 – c.1540). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa; - ADORAÇÃO DOS PASTORES (c.1550) - Mestre de Abrantes (Cristóvão Lopes?) com colaboração de Francisco de Campos.  Retábulo-mor da Misericórdia de Abrantes; - NATIVIDADE - Vasco Pereira Lusitano (1535-1604). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa; - ADORAÇÃO DOS PASTORES (c.1565) – Mestre de S. Brás. Ermida de S. Brás, Évora; - NATIVIDADE - Vasco Pereira Lusitano (1535-1604). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa; - ADORAÇÃO DOS PASTORES - André Reinoso (activo entre 1610-1641). Capela do Palácio de Belém, Lisboa; - ADORAÇÃO DOS PASTORES - Bento Coelho da Silveira (1620-1708). Museu de Lamego; - NATIVIDADE - Josefa de Óbidos (1630–1684). Colecção particular, Porto; - ADORAÇÃO DOS PASTORES - Josefa de Óbidos (1630–1684). Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa; - S. FRANCISCO DE ASSIS E SANTA CLARA ADORANDO O MENINO JESUS - Josefa de Óbidos (1630–1684). Colecção particular, Lisboa; - ADORAÇÃO DOS PASTORES - André Gonçalves (1686-1762). Convento de Cristo, Tomar.
- PAINÉIS DE AZULEJOS: - RETÁBULO NOSSA SENHORA DA VIDA (c. 1580). Museu Nacional do Azulejo, Lisboa. Atribuído a Marçal de Matos; - A NATIVIDADE (séc. XVIII). Igreja de Arrentela, Seixal; - NATIVIDADE (1746 - 1754). Igreja Basílica do Senhor do Bonfim. São Salvador, Bahia; - ADORAÇÃO DOS PASTORES (séc. XVIII) - Igreja de Nossa Senhora dos Mártires, Estremoz.
- ESCULTURAS EM PEDRA: - NATAL DO SENHOR (séc. XIII-XIV) – Autor desconhecido. Retábulo do Claustro da Sé Velha, Coimbra; - NATIVIDADE (1517) - Nicolau Chanterene. Nicho da zona superior do portal axial. Mosteiro dos Jerónimos, Lisboa.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

Candidatura do Figurado de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade


Figuras de barro de Estremoz. Museu de Arte Popular, Lisboa.
(Revista "Panorama”, nº 12, III Série, Dezembro de 1958)

Desde 15 de Maio de 2014 que mantenho no jornal Brados do Alentejo, a secção BONECOS DE ESTREMOZ A PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL DA HUMANIDADE, que já vai no nº 63. Aí, logo no nº 1, jurei pôr o meu verbo e o resto da gramática, ao serviço da Candidatura dos Bonecos de Estremoz a Património Cultural Imaterial da Humanidade. Daí que a secção se tenha assumido como trincheira e tribuna, a manter viva até à vitória final daquela Candidatura. Lá expliquei que o fazia porque os bonecos de Estremoz me estão na massa do sangue, visto que comigo partilham o contexto antropológico, social ou religioso que esteve na sua génese. Falam-me também do seu criador e dos sonhos que lhe povoam a mente, bem como das técnicas ancestrais que o artista popular domina e que lhe brotam à flor das mãos.
Para mim, cada boneco é fruto de uma relação de amor de quem procura fazer tudo a partir do nada que é a massa informe de barro, mas que é também a expressão viva do ganha-pão diário de quem tem necessidade de assegurar a sua subsistência e a dos seus.
Vejo cada boneco como um panfleto de cores garridas e de claridades do sul, próprias desta terra transtagana. Para mim, tomar um boneco nas mãos, é criar sinestesias que envolvem os meus 5 sentidos. É como possuir uma bela mulher que me enche as medidas e por quem sinto exactamente o mesmo desejo da semente que fecunda a Terra-Mãe.
Como coleccionador e como investigador da barrística local, amo os bonecos de Estremoz e subscrevo desde a primeira hora, com alma e coração, a sua Candidatura a Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Esta candidatura foi em devido tempo apresentada pelo Município, seguindo todos os trâmites legalmente previstos e contando com a assessoria técnico-científica de Hugo Guerreiro, Director do Museu Municipal, que ali tem desenvolvido um trabalho notável.
No presente, o figurado de Estremoz além de figurar no Inventário Nacional de Património Cultural Imaterial, já tem a sua candidatura entrada na UNESCO, como se pode concluir por consulta do respectivo website.
O Museu Municipal de Estremoz é actualmente Centro UNESCO para a Valorização e Salvaguarda do Boneco de Estremoz e no início do mês passado, estiveram em Estremoz representantes da Federação Portuguesa das Associações Centros e Clubes UNESCO, para assinatura de um Protocolo de Parceria Estratégica, no âmbito do Centro UNESCO, para a valorização e salvaguarda dos Bonecos de Estremoz.
A decisão da UNESCO relativamente à candidatura apresentada pelo Município será conhecida em finais de 2017.
O noticiário do Município tem divulgado publicamente todas as etapas do processo e a imprensa tem feito a divulgação das mesmas, o que eu posso confirmar, já que sei do que estou a falar. Dai que não perceba quais as reais intenções de quem na imprensa local, pareça querer pôr a candidatura em causa, ao afirmar que “Em Estremoz … não se sabe ao certo”. Quem tem acompanhado os noticiários do Município e a imprensa local, regional e nacional, sabe. Quem não sabe e fala do que não sabe, fica mal na fotografia. 

sábado, 14 de janeiro de 2017

Salvemos a olaria! - II

OLEIRO DE ESTREMOZ – Fotografia obtida nos anos 30 do séc. XX, por Rogério de
Carvalho (1915-1988), grande fotógrafo de Estremoz.

No do passado dia 1 de Dezembro, no nº. 165 deste jornal, vem inserida a reportagem   “Autarquia, escola e emprego apoiam a iniciativa”. Este trabalho foi despoletado pela minha crónica “Salvemos a olaria”, publicada a 17 de Novembro, no nº. 164 do jornal. Os depoimentos prestados pelos inquiridos, CME, ESRSI E IEFP, além de serem do meu agrado, ultrapassaram as expectativas iniciais, o que não obstou que procurasse clarificar algumas dúvidas, para o que contactei o próprio IEFP.

Ponto da situação  
O balanço final da análise sobre o assunto em epígrafe, permitiu-me extrair as seguintes conclusões:
1 - O IEFP tem disponíveis 2 cursos de formação na área da olaria, os quais conferem equivalência ao 6º e ao 9º ano de escolaridade. Os cursos incluem disciplinas de formação geral, correspondentes às do ensino tradicional e, disciplinas de formação específica, correspondentes à área da olaria;
2 - O IEFP escolhe os formadores e assume os encargos com os cursos, os quais se for caso disso, poderão ter início, ainda em 2017;
3 - A abertura de inscrições é feita pelo IEFP, na sequência de solicitação que lhe seja formulada por entidades com capacidade para o fazer: Câmaras Municipais, Associações Comerciais ou Associações de Artesãos;
4 – De acordo com as inscrições, poderá funcionar só um curso ou os dois;
5 - O IEFP dispõe de 4 salas de aulas na ESRSI, as quais poderão ser utilizadas no ensino teórico. Todavia, para além disso, é necessária mais uma sala ampla destinada à olaria, na qual possam coexistir dois espaços distintos. Um para ali funcionarem as rodas de oleiro e um forno eléctrico. O outro destinado à secagem e armazenamento de peças já cozidas. É fundamental que a sala disponha de água canalizada e capacidade de escoamento da mesma;
6 - Para a sala de olaria poderão ser transferidas rodas de oleiro e um forno que o IEFP dispõe noutro local.

Que fazer então?
1 - Há que solicitar ao IEFP a criação dos cursos, o que a meu ver deveria ser feito pela CME, já que esta, conforme afirma, tem consciência da necessidade de recuperação e salvaguarda da olaria, actividade artesanal característica do concelho. Por outro lado é, quem em termos institucionais tem não só legitimidade como a responsabilidade de o fazer;
2 - O problema da sala com as características apontadas, talvez possa ser resolvido pela ESRSI, o que além de a meu ver ser desejável, seria também emblemático. Foi nela que nos anos 30 do séc. XX e graças à acção do então Director Sá Lemos, foi recuperada a tradição da manufactura dos bonecos de Estremoz, o que permitiu que no presente sejam candidatos a Património Cultural Imaterial da Humanidade. Ao envolver-se na recuperação e salvaguarda da olaria, a ESRSI assumiria de novo um papel histórico na ligação à comunidade educativa, que é razão da sua existência;
3 - O processo de recuperação e salvaguarda da olaria de Estremoz carece de um início. A meu ver, este deveria ser uma reunião a ser convocada pela CME, a qual juntasse à mesma mesa, um representante da ESRSI e outro do IEFP. Aqui fica a sugestão.