quarta-feira, 13 de novembro de 2024

A eternidade do casamento na arte pastoril alentejana

 

Binómio colher-garfo. Arte pastoril de Manuel Cardoso. 
Amieira do Tejo. Colecção Victor Tavares Santos.

Os corações patentes nos cabos dos talheres, sugerem que eles se amam um ao outro, porventura por que se complementam funcionalmente nas refeições e não podem passar um sem o outro. Daí que o pastor de Amieira do Tejo, os tenha ligado num aro, como se de uma aliança de casamento se tratasse. Subjacente a mensagem da eternidade do casamento.

Hernâni Matos

terça-feira, 12 de novembro de 2024

Manto de Outono

 

Manto de Outono. Vale de Rodão. Fotografia de Catarina Matos.


À minha filha Catarina

O testemunho da joaninha
O manto de Outono é a preparação da Primavera que há de vir e na qual a Natureza ciclicamente renasce.
A joaninha é a testemunha viva, ainda que silenciosa mas alegremente pintalgada, dum retemperar de forças que a Terra Mãe urde para gáudio de todos nós.

Simbolismo da joaninha
Uma joaninha pode comer mais de 200 pulgões por dia. Como estes últimos insectos são considerados pragas para as plantações, as joaninhas são encaradas como um insecticida natural, o que constitui uma sorte para os agricultores. Daí as joaninhas serem consideradas um símbolo de sorte, além de representarem a protecção, a renovação, a harmonia e o equilíbrio.

A joaninha na literatura oral
Em primeiro lugar, destaco uma lengalenga que integra o imaginário da nossa infância. Trata-se da: ”JOANINHA VOA”, cujo conteúdo proclama:

“Joaninha, voa, voa
Que o teu pai está em Lisboa
Com um caldinho de galinha
Para dar à Joaninha.

Joaninha, voa, voa
Que o teu pai está em Lisboa
Com um rabinho de sardinha
Para comer que mais não tinha…

Joaninha, voa, voa
Que o teu pai foi a Lisboa
Com um saco de dinheiro
Pra pagar ao sapateiro.

Joaninha, voa, voa
Que o teu pai foi pr’a Lisboa
Com um saco de farinha
Para dar à avozinha.

Joaninha, voa, voa
Que o teu pai está em Lisboa
Tua mãe está no moinho
A comer pão com toucinho.”

Em segundo lugar, refiro o único provérbio que conheço sobre joaninhas e que as incita a voar, porventura para combaterem os pulgões nocivos às plantas: "Joaninha voa voa, leva as cartas a Lisboa."
A finalizar, relato uma saborosa adivinha:
PERGUNTA: - Qual é o cúmulo da vaidade?
RESPOSTA: - É a joaninha comprar creme para tirar os pontos negros!

Vem aí o Inverno
Em breve a joaninha hibernará para renascer na Primavera e prosseguir o inescapável Ciclo da Vida. Mas isso é outra estória...

sexta-feira, 8 de novembro de 2024

José Maldonado Cortes homenageado na Feira da Golegã



José Maldonado Cortes, recebendo das mãos de António Camilo,
 Presidente da Câmara Municipal da Golegã, o “Prémio Carreira – 
Carlos Relvas”,  com que foi distinguido no decurso da 48ª Feira
Nacional do Cavalo, na Golegã.


O cavaleiro tauromáquico estremocense José Maldonado Cortes foi homenageado hoje no decurso da 48ª Feira Nacional do Cavalo, na Golegã.
Foi-lhe outorgado o denominado “Prémio Carreira – Carlos Relvas”, instituído pelo Município da Golegã e da Associação Feira Nacional do Cavalo, que a partir do presente ano “visa homenagear todos aqueles que pela sua vida pessoal e carreira profissional contribuíram, de forma significativa, para a elevação do Cavalo e em particular da Tauromaquia”. O Premio foi-lhe entregue pelo Presidente do Município da Golegã, António Camilo.
José Maldonado Cortes foi um dos melhores cavaleiros da sua época e ainda hoje é apontado como um dos grandes equitadores deste país. Foi Mestre de muitos cavaleiros, entre os quais José João Zoio, Rui Salvador, Frederico Carolino, José Luís Cochicho, João Cerejo ou o seu filho Francisco Cortes.
Ao longo da sua notável carreira, correu as sete partidas do mundo e triunfou em todo o mundo taurino, prestigiando o toureio equestre nacional.
A distinção pessoal agora outorgada a Mestre José Maldonado Cortes como prestigiado e distinto cavaleiro tauromáquico, é uma distinção que muito honra a cidade de Estremoz, de quem Mestre José Maldonado Cortes foi embaixador itinerante no decurso das suas incursões tauromáquicas pelas sete partidas do mundo.

- BEM HAJA, MESTRE! PARABÉNS, MESTRE!

sexta-feira, 1 de novembro de 2024

CONCERTO DOS UHF – A heroína ali foi a música

 

UHF - Capa do album À FLOR DA PELE (1981)


CONCERTO DOS UHF – A heroína ali foi a música [1]

Crónica rock [2] ou talvez não, por Hernâni Matos

 

Crónica publicada no jornal
Brados do Alentejo nº48 (3ª série),
de 25 de Setembro de 1981


Uma viola baixo, uma viola ritmo e uma bateria poderão não fazer uma orquestra. Fazem, porém, um concerto de rock. Que o digam a meia bancada e o terço de ringue que no passado dia 18 de Setembro [3], na Esplanada Parque em Estremoz, assistiram ao concerto dos UHF.

Amplificador que difunde vibrações, volts transformados em decibéis, poluição sonora estandardizada dum conjunto desfalcado dum vocalista que é também viola ritmo.

Montanhas de amplificadores e um aparato de projectores verde-laranja-branco, verde-laranja-branco, verde-… Poça que já me doía a vista.

Corpo forrado de jeans, camisetes e ténis. Homens programados, gestos computorizados, corpos electrificados geradores de música. E nas convoluções epilépticas, violas tricotam música que as malhas que o som tece lá vão aquecendo a malta. É preciso é conjugar o verbo pular.

Embora se vissem senhoras em traje de passeio, predominava a juventude, que o rock não liga com o reumático. Havia tipos exóticos, cabelos à Black Power, rapazes tipo West Side com Marias para todos os paladares. Havia também uma bebedeira com um lenço ao pescoço e um chapéu à 3 mosqueteiros, enfiado num pau de virar tripas. É que estas coisas têm os seus próprios regulamentos e a malta tem de ir fardada a rigor.

Ambiente morno, que em Estremoz nada pega. Um palco decorado com barreiras e uma mão cheia de PSP´s e PE’s que não chegaram a fazer falta, que não houve problemas com a malta. Oh, meu! Ainda dizem que a juventude é violenta!

Na escuridão, beijos generosos que se dão e óculos escuros que se tiram, pois à noite todos os gatos são pardos.

Os cigarros que tremulam são os novos pirilampos da sociedade de consumo.

Há quem deambule por aqui e por ali e há quem beba cerveja, que o escuro não mata a sede.

As coisas aqueceram aí pelo “Modelo Fotográfico”, não percebemos se vestido se despido, que por essa altura os tímpanos já tinham pifado. O quê? Queres um fósforo? Toma lá pá! Não tens de quê!

Com o “Cavalo de Corrida” atingiu-se o auge da morneza, com a malta de braços erguidos como quem protesta contra o preço da carne, o que não era o caso, pois ali todos tinham ido ao concerto por sua livre vontade.

Quanto à encenação, aquilo tava uma maravilha, pá! Era a gaja da saia transparente que tirava fotografias à contraluz e foi o blusão despido aí por alturas do “Cavalo de Corrida”, que era p’ra a gente acreditar que aquilo estava mesmo a aquecer. E até deu p’ra haver publicidade, que um sumo que se bebe no palco é sede comercial que é preciso promover.

Vale tudo menos tirar olhos. Não pensava isto quem no outro dia ia tirando um ao António Manuel Ribeiro (vocalista - viola ritmo), pois estava acompanhando o rock ao ritmo da fisga. Aquilo de colcheias e projecteis à mistura não resultou e o Tó Manel ia ficando como o Luís Vaz, vulgo Camões.

Isqueiros que se se acendem aqui e ali nos braços erguidos ao alto, como quem paga uma promessa a Fátima.

E eis que um fogo de artifício cria a apoteose que os espectáculos devem apresentar no fim. E aqui houve encenação de pormenor na cor cardinalícia que conferiu a solenidade que a apoteose precisava ter.  E no momento em que termina o concerto, os músicos erguem as violas bem alto, como um sacerdote num templo ao proceder à consagração da hóstia.

Música que se extingue, artifício de fogo que se acaba. Resta o fumo que o vento acaba por levar. E com aquela nuvem passageira, os músicos saem pela esquerda baixa para logo de seguida, numa semi-escuridão e com blusas trocadas entre si por questões de segurança, irem direitinhos à cozinha do bufete. A traça não perdoa. É preciso encher a mula, pá!

Uma hora de espectáculo. 13 composições, 85 contos de cachet. Nada mau. E o “Estremoz”[4]? Terá reforçado a verba ou averbado o esforço?

E é isto o rock. Rock à Portuguesa, pois claro!

Quando tiver um puto, hei de lhe dizer:

- Porta-te bem ou levo-te ao rock!

 Hernâni Matos

[1] Concerto realizado pelos UHF no ringue da Esplanada Parque em Estremoz, no dia 18 de Setembro de 1981.
[2] Crónica publicada no jornal Brados do Alentejo nº48 (3ª série), de 25 de Setembro de 1981.
[3] De 1981.
[4] Clube Futebol Estremoz.

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

José Maldonado Cortes homenageado na Feira da Golegã

 



O cavaleiro tauromáquico estremocense José Maldonado Cortes vai ser homenageado no próximo dia 8 de Novembro, no decurso da 48ª Feira Nacional do Cavalo, que se realiza anualmente na Golegã.
Trata-se duma decisão conjunta do Município da Golegã e da Associação Feira Nacional do Cavalo, que a partir do presente ano instituiu o denominado “Prémio Carreira – Carlos Relvas”. Trata-se duma distinção que “visa homenagear todos aqueles que pela sua vida pessoal e carreira profissional contribuíram, de forma significativa, para a elevação do Cavalo e em particular da Tauromaquia”.
José Maldonado Cortes é natural de Estremoz onde nasceu a 2 de Julho de 1938. Apresentou-se em público com 17 anos na Praça de Touros do seu berço natal e recebeu alternativa das mãos do cavaleiro souselense Pedro Louceiro a 22 de Abril de 1962, na Praça do Campo Pequeno.
José Maldonado Cortes foi um dos melhores cavaleiros da sua época e ainda hoje é apontado como um dos grandes equitadores deste país. Foi Mestre de muitos cavaleiros, entre os quais José João Zoio, Rui Salvador, Frederico Carolino, José Luís Cochicho, João Cerejo ou o seu filho Francisco Cortes.
Ao longo da sua notável carreira, correu as sete partidas do mundo e triunfou em todo o mundo taurino, prestigiando o toureio equestre nacional. Actuou em Portugal, Espanha, França, África (Angola e Moçambique), Américas (México, Colômbia e Venezuela) e em 1969 em Jacarta, na Indonésia, num estádio de futebol com capacidade para 120 mil espectadores, o que ainda hoje é considerado um recorde de assistência a um espectáculo tauromáquico.
José Maldonado Cortes conquistou prestígio e popularidade ao longo de uma carreira de 50 anos, em que actuou durante mais de 1000 vezes por esse mundo fora. Merece muito justamente o título de Mestre, pela sua dupla condição de formador de cavaleiros tauromáquicos e pela mestria das suas actuações. Nelas, a bravura ombreava com a segurança e a elegância do seu toureio, pautado pelo estrito respeito pela cultura e tradições tauromáquicas.
De acordo com a organização, José Maldonado Cortes, vai ser “homenageado, pelas suas mais de seis décadas de alternativa, mas também pela ligação que ao longo dos anos teve com a Feira da Golegã, o que só por si o tornam um verdadeiro embaixador da Tauromaquia e da Golegã”, atributos que justificam a distinção.
O “Prémio Carreira – Carlos Relvas” constitui uma distinção pessoal outorgada a Mestre José Maldonado Cortes como prestigiado e distinto cavaleiro tauromáquico. Todavia é mais do que isso. É uma distinção que igualmente muito honra a cidade de Estremoz, de quem Mestre José Maldonado Cortes foi embaixador itinerante no decurso das suas incursões tauromáquicas pelas sete partidas do mundo. Daí que como aficionado seja levado a formular um duplo voto:
- PARABÉNS, MESTRE! PARABÉNS, ESTREMOZ!

Publicado no nº 342 do jornal E, de 24-10-2024

sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Redundância olárica em moringue de Estremoz

 


Moringue de barro vermelho de Estremoz. Morfologia ovóide, base circular e asa que liga duas zonas em posições opostas sobre a superfície do bojo. Produção da Olaria Regional de Mestre Mário Lagartinho (1935-2016).
Embelezado por decoração mista, riscada, empedrada e relevada, qualquer delas integrando os cânones da tradição oleira local. Alto relevo da Torre de Menagem do Castelo de Estremoz, com o nome da cidade nele inscrito. Obtido por moldagem, seguida de colagem com barbutina no bojo.
A Torre de Menagem do Castelo de Estremoz há muito que foi adoptada como indiscutível ex-líbris desta terra transtagana, já que se situa no centro do burgo medieval, dominando tudo, altaneira e vigilante sobre a planície, outrora heróica e actualmente rendida à cultura da vinha.
A coexistência do alto relevo da afamada Torre com a inscrição ESTREMOZ nela inserida, é como que uma redundância olárica, já que a meu ver esta inscrição era desnecessária, visto o perfil da Torre ser sobejamente conhecido.

quinta-feira, 17 de outubro de 2024

Púcaro de barro vermelho de Estremoz (séc. XVIII ?)



Púcaro de barro vermelho de Estremoz, acusando marcas de erosão. Recolhido em areal do rio Tejo, próximo de Abrantes. A morfologia do púcaro é uma das identificadas por VASCONCELOS, Carolina Michaëlis de. Algumas palavras a respeito de púcaros de Portugal.  Nova edição da revista Ocidente. Lisboa, 1957. (Pag. 64). Trata-se de uma morfologia muito antiga, presumivelmente do séc. XVIII.

A fama dos púcaros de barro vermelho de Estremoz, propagandeada desde sempre por visitantes ilustres, levava a que eles fossem comercializados a partir da área geográfica de produção para “os quatro cantos do mundo”, seguindo rotas terrestres, fluviais e marítimas, o que poderá justificar o local de recolha.

Hernâni Matos