quinta-feira, 29 de agosto de 2024
1935 - "Annus mirabilis" da Cultura Popular Estremocense
quarta-feira, 28 de agosto de 2024
Peça olárica de Estremoz, alegórica ao corso carnavalesco de 1935
A empatia entre o Orfeão e a Olaria Alfacinha
segunda-feira, 26 de agosto de 2024
Tudo o que é pequeno tem graça
“Tudo o que é pequeno tem graça” é uma máxima perpetuada na nossa memória colectiva. Trata-se de uma premissa que “assenta que nem uma luva”, não só aos brinquedos de louça de barro vermelho de Estremoz, como também aos exemplares da mais ínfima dimensão do vasilhame de barro desta cidade. É o que se passa com o cantil da figura, de pequenas dimensões (10 x 8,5 cm) e uma decoração por polimento com simetria radial, muito simples mas vistosa. Com efeito, o contraste entre o polido e a superfície sobrante que após a modelação na roda não sofreu mais nenhuma intervenção, surte um belíssimo e encantador efeito visual.
As miniaturas de louça de barro
vermelho de Estremoz, exerceram desde sempre forte atracção sobre a garotada.
Fialho de Almeida no conto “O Romana” [1] evoca a ida na sua juventude a uma feira,
onde na secção de loiças: “Iam-se-me os olhos nos pucarinhos de Estremoz,
com incrustrações de pedras brancas, alguns com desenhos de fantasia,
reproduzindo animaes duma fauna que se extinguiu muito antes do diluvio
universal. Por força que minha mãe havia de comprar-me um daqueles pucarinhos,
e mais um barrelinho para ter agua fresca, no verão, e mais um galo com
assobio, de grande crista vermelha, importando tudo bem regatiadinho, em
quantia nunca inferior a doze vintens.”
[1] ALMEIDA, Fialho de. Gente rústica. Guimarães e Cª, Lisboa, s/d.
domingo, 25 de agosto de 2024
Olaria tradicional de Estremoz
As peças oláricas tradicionais são um registo e um regalo de memórias da antiga tradição oleira, cuja recuperação é indissociável da salvaguarda da identidade cultural estremocense.
quarta-feira, 21 de agosto de 2024
“MARIA / JOSÉ / CARTAXO” – nova marca de autor de barrista de Estremoz
No meu livro “BONECOS DE ESTREMOZ” (*), dado à estampa em 2018, inventariei e descrevi, de uma forma sistemática e por autor, um total de 122 marcas de autor, que surgem estampadas com carimbo ou manuscritas na base das figuras ou no interior das peanhas das imagens devocionais. Tratou-se e trata-se ainda do maior número de marcas de autor de bonequeiro(a)s de Estremoz, jamais divulgada por alguém.
No final do estudo então
apresentado, afirmei: “Estou convicto que a listagem de autores e
respectivas marcas aqui apresentadas não está completa e, como tal, não é
definitiva. O futuro o confirmará ou não.”
De então para cá, foram-me
surgindo novas marcas dos autores já inventariadas, que a seu tempo divulgarei.
Mais recentemente, surgiu-me a
marca manuscrita “MARIA / JOSÉ / CARTAXO”, distribuída por 3 linhas, aposta na
base da figura conhecida por “bailadeira pequena”. A pintura desta encontra-se
incompleta, dado que à excepção da base, a figura apenas recebeu uma pintura
com branco de alvaiade (óxido de zinco), como preparação para receber outras
cores, o que não chegou a acontecer.
Vejamos quem era Maria José
Cartaxo.
Após a morte do seu irmão Mariano
Augusto da Conceição (1903-1959), Sabina Augusta da Conceição Santos
(1921-2005) dá continuidade à manufactura dos Bonecos de Estremoz na Olaria
Alfacinha, conjuntamente com as cunhadas, Maria José Cartaxo da Conceição
(1923-2013) e Teresa Cabaço Cid da Conceição (1922-1962). Após o falecimento desta
última em 1962, a sociedade desfaz-se por iniciativa de Sabina Santos. Então,
Sabina Santos e Maria José Cartaxo começam a trabalhar separadas. A marca aqui
divulgada é até agora a única marca de autor conhecida.desta última barrista.
(*) MATOS, Hernâni. BONECOS DE ESTREMOZ. Edições Afrontamento. Estremoz / Póvoa de Varzim, Outono de 2018.
quarta-feira, 14 de agosto de 2024
Aonde se fala da minha visita à Exposição de Pintura de João Moura Reis no Howard's Folly, em Estremoz
Foi ousadia minha. Quis dar um passo maior que a perna e saiu asneira.
Pretendia pintar uma rosácea hexapétala. de forte simbolismo na arte pastoril alentejana. Saiu-me uma espécie de roda de um carro de tracção animal, com falta de raios.
Não sou dado a atitudes de auto-justificação em casos de inêxito, mas sempre digo:
- O que conta é a intenção!
Isso mesmo disse ao João - um amigo de longa data - no Livro de Honra, onde o parabenizei pela sua Exposição com a simultaneidade de um grande abraço.
segunda-feira, 12 de agosto de 2024
Mineiro - Eduardo Valente da Fonseca
Mineiro
Eduardo Valente da Fonseca (1928-2003)
Mineiro da pele de fogo.
português do meu país,
onde nós vemos flores,
tu vês raiz.
Mineiro desse outro lado
onde a flor não desabrocha,
és bicho, gente ou gerânio
florescendo nas rochas?
Mineiro da pele de fogo,
português do meu país,
vejo-te aqui na cidade
no ferro, no ouro e cobre,
nas estações e cozinhas
e no colo das mulheres.
Andas presente nas pontes,
em dedos, salões de luxo,
nas orelhas das crianças,
em casas comerciais,
e na frescura das tranças
enfeitadas a metais.
Descubro-te assim presente
na força continental
dos guindastes e navios
e no rumor industrial
dos próprios rios.
Mineiro do meu país,
português da pele de fogo,
alarga os braços e diz,
mostrando os dedos à luz
deste sul de Portugal,
que mais que o peixe e o sal
é o minério a raíz
e a razão fundamental
deste fumo industrial
do teu país.