quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Provérbios de Outubro


OUTUBRO - Iluminura do “Livro de Horas do Duque de Berry” (Século XV), manuscrito
com iluminuras dos irmãos Paul, Jean et Herman de Limbourg, conservado no
Museu Condé, em Chantilly, na França.

- Aí por São Lucas (18/10) bem sabem as uvas.
- Andar marinheiro, andar, não te apanhe São Simão (28/10) no mar.
- Com a vinha em Outubro, come a cabra e engorda o boi.
- Com a vinha em Outubro, come a cabra, engorda o boi e ganha o dono.
- De São Simão (28/10) a São Judas (28/10), comidas são as uvas.
- Dia de Santa Iria (20/10), pega nos bois e guia.
- Em dia de São Simão (28/10), quem não assa um magusto não é bom cristão.
- Em Outubro centeio ruivo.
- Em Outubro não fies só lã; recolhe o teu milho e o teu feijão, senão de Inverno tens a tua barriga em vão.
- Em Outubro não vás ao mar para pescar; mas vai ao celeiro e abre o mealheiro.
- Em Outubro o fogo ao rubro.
- Em Outubro o lume já é amigo.
- Em Outubro ou secam as fontes, ou passam os rios por cima das pontes.
- Em Outubro paga tudo e recolhe tudo.
- Em Outubro paga tudo.
- Em Outubro pega tudo e recolhe tudo.
- Em Outubro pega tudo.
- Em Outubro recolhe tudo.
- Em Outubro sê prudente: guarda o pão, guarda a semente.
- Em Outubro semeia e cria, terás alegria.
- Em Outubro, centeio ruivo.
- Em Outubro, cordoadas de São Francisco (4/10).
- Em Outubro, meu trigo cubro.
- Em Outubro, Novembro e Dezembro, abre o teu celeiro e o teu mealheiro.
- Em Outubro, Novembro e Dezembro, quem come do mar, tem que jejuar.
- Em Outubro, o fogo ao rubro.
- Em Outubro, o lume já é amigo.
- Em Outubro, ou secam as fontes ou passam os rios por cima das pontes.
- Em Outubro, S. Simão (28/10), favas no chão.
- Em Outubro, S. Simão (28/10); semear, sim; navegar, não.
- Em Outubro, semeia, cria e terás alegria.
- Em São Simão (28/10), fava na mão.
- Janeiro gear, Fevereiro chover. Março encanar, Abril espigar, Maio engrandecer. Junho ceifar, Julho debulhar, Agosto engavelar. Setembro vindimar, Outubro revolver, Novembro semear, Dezembro nasceu Deus para nos salvar.
- Logo que Outubro venha, procura a lenha.
- No dia de São Simão (28/10) e São Judas já colhidas são as uvas.
- No dia de São Simão (28/10), barcos para trás do portão.
- No Outono o Sol tem sono.
- No São Simão (28/10), fava no chão.
- Outubro chuvoso faz ano venturoso.
- Outubro chuvoso toma o lavrador venturoso.
- Outubro erveiro, guarda para Março o palheiro.
- Outubro lavrar, Novembro semear, Dezembro nascer.
- Outubro meio chuvoso, torna o lavrador venturoso.
- Outubro nublado, Janeiro molhado.
- Outubro quente traz o Diabo no ventre.
- Outubro seca tudo.
- Outubro seca tudo. Se em Outubro demorares a terra a lavrar, pouco hás-de enceleirar.
- Outubro secão, negaças de verão.
- Outubro sisudo colhe tudo.
- Outubro sisudo, recolhe tudo.
- Outubro suão, negaças de Verão.
- Outubro vaca para o palheiro e porco para o outeiro.
- Outubro, paga tudo.
- Outubro, pega tudo.
- Outubro, recolhe tudo.
- Outubro, rega tudo.
- Outubro, revolver.
- Outubro, seca tudo.
- Outubro, vaca para o palheiro e porco para o outeiro.
- Ouvidos a comer, água que vai chover.
- Pelo São Francisco (4/10) semeia o teu trigo e a velha que o dizia, semeado o linha.
- Pelo São Francisco (4/10), nem nado, nem no cortiço.
- Pelo São Lucas (18/10), mata os porcos e tapa as cubas.
- Pelo São Simão (28/10) e São Judas (18/10) já colhidas são as uvas.
- Pelo São Simão (28/10) enfarrusca o pinhão.
- Pelo São Simão (28/10), quem não faz um magusto, não é cristão.
- Pelo São Tadeu (28/10) e São Judas (28/10) prova as uvas.
- Por Santa Ireia (20/10), toma os bois e semeia.
- Por São Francisco (4/10) semeia o teu trigo; e a velha que o dizia, já semeado o tinha.
- Por São Francisco (4/10), semeia teu trigo.
- Por São Lucas (18/10) mata teus porcos e tapa tuas cubas.
- Por São Lucas (18/10), sabem as uvas.
- Por São Simão (28/10) e São Judas, colhidas são as uvas.
- Por São Simão (28/10), fava na mão.
- Por São Simão (28/10), favas no chão.
- Por São Simão (28/10), semear sim, navegar não.
- Quando o Outubro for erveiro, guarda para Março o palheiro.
- Quando Outubro for erveiro, guarda para Março o palheiro.
- Quem planta no Outono leva um ano de abono.
- São Simão (28/10), fava na mão.
- Se as andorinhas partirem em Outubro, seca tudo.
- Se em Outubro demorares a terra a lavrar, pouco hás-de enceleirar.
- Se em Outubro te sentires gelado, lembra-te do gado.
- Setembro, vindimar; Outubro, revolver.
- Vindima em Outubro que S. Martinho te dirá.
Publicado inicialmente em 26 de Outubro de 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O homem primitivo e a conquista do cosmos


HOMEM PRIMITIVO
Imagem recolhida de:

O nascimento da Geometria
Nos primórdios do tempo, o homem primitivo terá verificado que ao assentar a lança no solo brando ou na neve, ficava gravada uma marca que aumentava de tamanho, se no seu movimento arrastasse a lança. Deste modo, terá mentalmente elaborado as noções daquilo a que hoje chamamos ponto e linha. Daqui até à distinção entre linha recta e linha curva foi um passo, já que não lhe terá sido difícil reconhecer que as marcas gravadas nem sempre eram iguais, pois umas vezes andava a direito e outras não. Terá também reconhecido que a linha curva se poderia fechar sobre si própria, assim como a curvatura poderia ser variável ou sempre igual. Assim terá chegado à noção daquilo a que se viria a chamar circunferência. Estas noções empíricas de ponto, linha recta, linha curva e circunferência, constituiriam as bases materiais da Geometria, que terá encontrado em Euclides de Alexandria (360 a.C. - 295 a.C.), um dos seus mais altos expoentes na antiguidade clássica.

O nascimento da Mecânica
Por outro lado, a observação do movimento de calhaus rolados nos cursos de água, terá levado o homem primitivo a associar a facilidade de movimento destes calhaus ao facto de terem curvatura e serem desprovidos de saliências e reentrâncias. Daí até ao transporte de carga sobre troncos roliços foi novamente um passo. Estava assim descoberta a roda e com ela, as bases materiais da Mecânica, que na antiguidade clássica teve grande incremento graças ao trabalho de sábios como Arquimedes de Siracusa (287-212 a.C.).

Na terra e na água
O nascimento da Geometria e da Mecânica estão indissociavelmente ligados à necessidade de movimento e de transporte de carga pelo homem primitivo. Assim terão nascido os primeiros caminhos, antepassados remotos das redes de estrada e de caminhos-de-ferro.
O mesmo se terá passado relativamente ao movimento e transporte de carga nos cursos de água e nos lagos, em trajectos curtos, percursores das grandes rotas marítimas das descobertas de quinhentos.

O sonho de Ícaro
Subjugado pelas condições de extrema dureza da sua vida material, o homem primitivo terá decerto alimentado o sonho de voar como as aves que o rodeavam. Todavia, o chamado sonho de Ícaro, é do domínio da mitologia grega. Segundo esta, Ícaro era filho de Dédalo, o construtor do labirinto de Creta onde o rei Minos aprisionava o Minotauro, criatura híbrida, misto de homem e de touro. Caídos em desgraça, Ícaro e Dédalo, foram aprisionados numa torre por ordem do Rei Minos. Apesar de se conseguirem libertar da prisão, não conseguiam sair da ilha de barco, devido à estreita vigilância que o monarca exercia sobre os barcos. Dédalo construiu então asas artificiais para si e para seu filho, confeccionadas com penas de gaivotas e mel de abelhas. Antes de fugirem, Dédalo advertiu Ícaro para não voasse perto do sol, para a cera das asas não derreter, nem muito perto do mar, porque a espuma das ondas poderia tornar as asas mais pesadas. Todavia, Ícaro não atendeu os conselhos paternos e querendo realizar o sonho de voar próximo do sol, viu as suas asas desfazerem-se, despenhando-se no mar Egeu, enquanto seu pai, pesaroso com o sucedido, vou para a costa, onde chegou a salvo. O mito de Ícaro aborda temas como o efeito nefasto que pode ter um conselho, bem como o desejo de homem querer ir sempre mais longe, correndo o risco de se encontrar face à sua condição de simples ser humano.

A concretização do sonho de Ícaro
A concepção do balão de ar quente como meio de deslocação aérea deve-se ao padre brasileiro, Bartolomeu de Gusmão (1685-1724). A primeira demonstração com êxito do movimento ascensional de um balão de ar quente foi por ele realizada, utilizando um pequeno balão de papel pardo grosso, cheio de ar quente, produzido pelo fogo contido numa tigela de barro incrustada na base de um tabuleiro de madeira. A experiência decorreu com sucesso a 8 de Agosto de 1709, no Pátio da Casa da Índia, em Lisboa, na presença de D. João V, a rainha D. Maria Ana de Habsburgo, o Núncio Cardeal Conti, o Infante D. Francisco de Portugal, o Marquês de Fonte, fidalgos e damas da Corte. O balão subiu lentamente no ar e quando a chama se extinguiu, foi cair no Terreiro do Paço. O trabalho do padre Bartolomeu de Gusmão precedeu em 74 anos, as experiências com aeróstatos desenvolvidas pelos irmãos Montgolfier, Joseph Michel (1740-1810) e Étienne (1745-1799). Depois de várias experiências, no dia 21 de Novembro de 1783, perante o Rei Luís XVI a Rainha Maria Antonieta fizeram subir um balão de 32 m de circunferência , confeccionado em tela de linho e que foi enchido com fumo de uma fogueira de palha seca. O balão do qual estava suspenso um cesto, transportava dois tripulantes, Pilatre de Rozier e François Laurent, marquês de Arlandes, sobrevoou Paris e percorreu cerca de nove quilômetros em 25 minutos.
Em 23 de Outubro de 1906, o brasileiro Santos Dumont utilizando o seu famoso avião 14-Bis, efectuou em Paris, aquele que é considerado o primeiro voo bem sucedido de um avião, no qual percorreu uma distância de 221 metros.

Explorando o cosmos
Actualmente, as viagens cósmicas tripuladas ou não, só são possíveis, graças à acção de uma vasta equipa de cientistas e complexos cálculos de trajectórias, bem como devido à existência omnipresente de sofisticados mecanismos. Todavia, na génese de tudo isto está um contínuo acumular de saberes que entroncam nos arquétipos de natureza geométrica e mecânica do homem primitivo.


PARTIDA DE VASCO DA GAMA PARA A ÍNDIA EM 1497.
Aguarela de Alfredo Roque Gameiro (1864-1935).
 
A QUEDA DE ÍCARO (1636-1638)
Peter Paul Rubens (1577-1640)
Óleo sobre tela
Museu de Arte Antiga, Bruxelas. 
 EXPERIÊNCIA DE BARTOLOMEU DE GUSMÃO
Quadro de Bernardino de Sousa Pereira
Museu Paulista, São Paulo.
ASCENÇÃO CATIVA DE UM BALÃO MONGOLFIER
(JEAN-FRANÇOIS PILÂTRE DE ROZIER)
NOS JARDINS DA PAPELARIA RÉVEILLON,
A 19 DE OUTUBRO DE 1783.
Desenho de de Claude-Louis Desrais (1746-1816). 
 COSMOS
Imagem recolhida de:

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Ensaio sobre o ciúme


CIÚME (1923). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre madeira (45,5 x 41,5 cm).
Museu José Malhoa, Caldas da Rainha.
PREÂMBULO
Na gíria popular é habitual ouvirem-se frases do género: “O António anda consumido de ciúmes por causa da Maria e do José.”. Significa isso que a relação entre a Maria e o José, despertou no António, ciúmes que o mortificam. Mas o que é o ciúme? O ciúme é a resistência complexa a uma sintoma perceptível numa relação relevante ou no carácter dessa relação, envolvendo sempre três ou mais pessoas: aquela que sente ciúmes, aquela de quem se sente ciúmes e aquela ou aquelas que são o motivo dos ciúmes.
O ciúme desperta múltiplas emoções: raiva, dor, inveja, tristeza, medo, depressão e humilhação.
O ciúme está na origem de pensamentos variados: ressentimento, culpa, comparação com o rival, preocupação com a imagem, auto-comiseração;
O ciúme activa reacções físicas diversas: taquicardia, falta de ar, boca seca ou excesso de salivação, transpiração, aperto no peito, dores físicas.
O ciúme leva à manifestação de determinados comportamentos: questionamento permanente, procura impaciente de confirmações e acções agressivas, por vezes violentas.
O ciúme é instintivo, natural e marcado pelo medo ou vergonha da perda do amor de quem se ama. O ciúme está relacionado com a falta de confiança no outro e/ou em si próprio.

O CIÚME NA BÍBLIA SAGRADA
Dos 46 livros que na Bíblia Sagrada constituem o Antigo Testamento, apenas 16 relatam o ciúme, num total de 44 alusões, assim distribuídas: Génesis (1), Êxodo (2), Números (8), Deuteronómio (6), Josué (1), I Reis (1), Salmos (2), Provérbios (1), Eclesiastes (1), Eclesiástico (2), Isaías (3), Ezequiel (11), Joel (1), Naum (1), Sofonias (1), Zacarias (2). Por sua vez, dos 27 livros que na Bíblia Sagrada constituem o Novo Testamento, apenas 6 narram o ciúme, num total de 11 menções, assim distribuídas: São Mateus (1), Romanos (4), I Coríntios (1), II Coríntios (1), Gálatas (1), São Tiago (3). O ciúme é assim mais referido no Antigo Testamento que no Novo Testamento. Quanto ao livro que o relata mais, trata-se de Ezequiel.
O ciúme ataca os homens:
- “irmãos ficaram com ciúmes de José, enquanto o pai meditava sobre o assunto.” (Génesis 37,11)
O próprio Deus é ciumento:
- “Não te prostres diante desses deuses, nem os sirvas, porque Eu, Javé teu Deus, sou um Deus ciumento: quando Me odeiam, castigo a culpa dos pais nos filhos, netos e bisnetos;” “ (Êxodo 20,5)
É apontado um ritual para o caso do marido ter ciúme da mulher:
- “Este é o ritual para o caso de ciúme, quando uma mulher se desvia e se torna impura, enquanto está sob o poder do marido;” (Números 5,29)
Reconhece-se o ciúme como causador de raiva e o direito de vingança sem piedade:
- “Porque o ciúme provocará a raiva do marido, que não terá piedade no dia da vingança:” (Provérbios 6,34)
Reconhece-se que a mulher ciumenta de uma rival pode causar desvarios, nomeadamente através do praguejar:
- “Mas a mulher ciumenta de uma rival causa grande dor e aflição. E a praga da língua é o ponto comum de todas estas coisas.” (Eclesiástico 26,6)
Condena-se também explicitamente o ciúme no dia a dia:
- “Vivamos honestamente, como em pleno dia: não em orgias e bebedeiras, prostituição e libertinagem, brigas e ciúmes.” (Romanos 13,13)
Reconhece-se também o ciúme como fonte de desordem e outras más acções:
- “De facto, onde há ciúme e espírito de rivalidade, existe também desordem e todo o género de más acções.” (São Tiago 3,16)

O CIÚME NO ADAGIÁRIO
O adagiário português regista máximas relativas ao ciúme:
O ciúme é encarado como consequência natural do amor:
- “Quem tem ciúme quer bem.”
- “Sem ciúmes não há grande afeição.”
- “Não há esperança sem temor, nem ciúme sem amor.”
Todavia, o ciúme depende mais de outros factores que do amor:
- “O ciúme depende mais da vaidade que do amor.”
- “Há no ciúme, mais amor-próprio do que amor.”
O ciúme mata o amor que o gerou:
- “O amor gera o ciúme e o ciúme mata o amor.”
O ciúme é associado aos sentidos da visão e da audição:
- “O ciúme tem olhos de lince.”
- “O ciúme tem lume nos olhos.”
- “Nada há que os ouvidos do ciúme não oiçam.”
- “O ciúme nasceu cego e morreu surdo.”
A opinião sobre o ciúme é negativa:
“O ciúme é o maior de todos os males.”
“Vingança e ciúmes são espadas com dois gumes.”

O CIÚME NO CANCIONEIRO POPULAR
O universo psicológico do ciúme está bem patente no cancioneiro popular alentejano. Assim, o ciumento crê que não há amor sem ciúme:

“Amar, e não ter ciumes,
Isso não é querer bem;
Quem não zela o que bem ama,
“Muito pouco amor lhe tem.” [3]

“A minha cruel rival,
De raiva a vejo soffrer;
Apesar de ter ciúmes,
Hei-de te amar até morrer.” [3]

Pensa também que o amor não é para repartir:

“O amor e o dinheiro
são duas coisas parecidas,
depressa se vão embora
se são muito repartidas.” [4]

O ciumento é desconfiado:

“Meu amor ficou de vir
mas ainda não apareceu,
quem seria essa ingrata
que por lá mo entreteu.” [4]

“Eu hei-de ir para um altinho,
Debaixo não vejo bem,
Quero ver se o meu amor
Dá paleio a mais alguém.” [3]

O ciúme desperta dor:

“Vi-te ao poço, mai-la outra,
enquanto eu ceifava o trigo;
ai, quem pudesse ceifar
a dor que trago comigo.” [4]

“‘St’a chegada a triste noite,
Noite para mim de horror!
O meu bem em braços d’outra
E eu entregue á minha dor.” [3]

O ciumento não tem sossego:

“O maldito do ciume
Não me deixa socegar,
Nem de noite, nem de dia,
Nem á hora do jantar.” [3]

O ciúme desperta inveja:

“A enveja do ciúme
É um ferro abrasador
Muita gente tem enveja
D’eu querer bem ao meu amor.” [1] (Mina de S. Domigos)

O ciumento chega a admitir a morte:

“No caminho de Olivença
Foi que eu ouvi dizer,
Que tinhas outros amores;
Fiquei capaz de morrer!” [3]

“À entrada desta rua
Levantei meus olhos, vi
Meu amor em braços doutra,
Não sei como não morri.” [1] (Beja)

O ciumento condena-se ao desterro:

“Se a minha rival ditosa
Tem a sina de vencer,
Então me deixo de amores
Desterrada vou viver.” [3]

O ciumento duvida do valor da troca:

“Trocaste-me a mim por outra,
Eu bem sei que me trocaste,
Gostava bem de saber
Quanto na troca ganhaste.” [2] (Alcáçovas)

O ciúme por vezes aconselha à separação:

“Eu te deixo, tu me deixas,
ficamos ambos em paz,
tu tens outra rapariga
e eu tenho outro rapaz.” [4]

O ciumento despede o antigo amor:

“Vai-te embora, amor ingrato,
Já não quero nada teu,
Pois que foste dar a outro
Coração que já foi meu.” [2] (Veiros)

Há corações ciumentos que dizem resistir:

“O meu coração
Em tudo é valente:
Mesmo em ciúme,
Vive alegremente.” [2] (Castro Verde)

“Se julgas que eu me importo
de teres outra em meu lugar,
aquilo que eu deito fora
qualquer pode arrecadar.” [4]

Sabem uma coisa? O melhor é não ter ciúmes…

BIBLIOGRAFIA
[1] – DELGADO, Manuel Joaquim Delgado. Subsídio para o Cancioneiro Popular do Baixo Alentejo. Vol. I. Instituto Nacional de Investigação Científica. Lisboa, 1980.
[2] - LEITE DE VASCONCELLOS, José. Cancioneiro Popular Português, vol. I. Acta Universitatis Conimbrigensis, Coimbra, 1971.
[3] - PIRES, A. Tomaz. Cantos Populares Portuguezes. Vol. III. Typographia Progresso. Elvas, 1909.
[4] - SANTOS, Victor. Cancioneiro Alentejano. Livraria Portugal. Lisboa, 1959.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 14 de Outubro de 2011  

ALEGORIA DO CIÚME (1640). Luca Ferrari (1605-1654). 
Óleo sobre tela (171 x 116 cm). Hermitage, São. Petersburgo. 

NA PRAIA - DOIS SÃO COMPANHIA, TRÊS NÃO SÃO NADA (1872). Gravura em madeira desenhada
por Winslow Homer (1836-1910). Publicada no semanário “Harper”, a 17 de Agosto de 1872. 

CIÚME E NAMORO (1874). Haynes King (1831-1904). Victoria and Albert Museum, London. 

O CIÚME (1896). Maxime de Thomas (1867- 1920). Litografia original
impressa em tom vermelho sobre papel verde. Editor: Le Centaur, Paris.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

A semana na literatura oral


JOÃO  SEMANA - Ilustração de Alfredo Roque Gameiro  (1864-1935)
para o romance "As Pupilas do Senhor Reitor", publicado em 1867,
 por Júlio Dinis (1839-1871).

A semana (do latim septimana = sete manhãs) é um período de tempo de sete dias sucessivos.
Na língua portuguesa, os dias da semana têm denominações baseadas na liturgia católica, por iniciativa de Martinho de Dume (518-579), bispo de Braga e de Dume, canonizado pela Igreja Católica e figura de proa da História Ca cultura e da Língua Portuguesas
Martinho considerava impróprio de bons cristãos continuar a designar os dias da semana pelos nomes latinos pagãos de Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies. Daí ter introduzido a terminologia litúrgica para os designar (Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies), donde as designações actuais em língua portuguesa (Segunda-feira, Terça-feira, Quarta-feira, Quinta-feira, Sexta-feira, Sábado e Domingo).
Devido á sua formação cristã, o povo aceitou de bom grado as novas designações e a partir daí perpetuou-as nos adágios que a sua criatividade foi gerando ao logo dos tempos. Eis alguns desses adágios:

SEGUNDA-FEIRA
- ”Não há domingo sem missa, nem segunda-feira sem preguiça.”
TERÇA-FEIRA
- ”Às terças e sextas-feiras não cases os filhos, nem urdes a teia.”
QUARTA-FEIRA
- ”Quem promete à quarta e vem à quinta, não faz falta que sinta.”
QUINTA-FEIRA
- ”Não há semana sem quinta-feira.”
SEXTA-FEIRA
- ”A sexta-feira arremeda o domingo.”
SÁBADO
- ”Não há sábado sem sol, nem noiva sem lençol.”
DOMINGO
- ”Quem à semana bem parece, ao domingo aborrece.”

Os dias da semana foram também perpetuados no cancioneiro popular português. Eis algumas das quadras desse cancioneiro: 

“Segunda-feira, águas claras
Regam a toda a verdura,
A regar esses teus olhos,
Amor de pouca ventura.”

“Terça-feira, alecrim verde.
Bem puderas tu, menina,
Ser agora o meu amor,
Já que amar-te é minha sina.”

“Quarta-feira é a rosa
Por ser a flor desmaiada;
Nossa amizade. Menina.
É feliz, nunca se acaba.”

“Quinta-feira. A açucena.
Por ser a flor excelente;
Não sei se fala verdade,
Nem se a menina me mente.”

“Sexta-feira, alecrim verde
Anda rentinho do chão;
Bem puderas tu, menina,
Andar em meu coração.”

“Sábado é um trevo.
Por ser a flor mais alegre;
Nossa amizade, menina,
É firme, nunca se perde.

“Quem me dera cá domingo,
Dia de tanta alegria;
O meu gosto é ir buscar-te
Para minha companhia.”

Mais adágios e quadras existem, mas propositadamente não quisemos ser exaustivos. A nossa finalidade era, mais uma vez e só apenas essa, mostrar a importância da via popular e da literatura oral na consolidação da língua portuguesa, um dos vectores mais importantes, se não o mais importante, da nossa identidade cultural.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente em 11 de Outubro de 2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Estremoz - Mercado das velharias (2ª edição)

Mercado de sábado. Estremoz, Agosto de 2006. Fotografia de José Cartaxo.


À minha amiga Manuela Mendes:

O mercado das velharias desenrola-se no Rossio Marquês de Pombal, paralelamente ao mercado de criação e já ocupa uma segunda “rua”, visto que uma se tornou insuficiente. A sua origem perde-se nos anos sessenta do século passado e é, sem dúvida, um dos melhores do país. Ali nasceu espontaneamente e cresceu. Por ali aparecem:
- Alfarrabistas que por vezes nos surpreendem com livros do século XVIII ou manuscritos do século XVII, primeiras edições e encadernações em inteira ou meia de pele, gravuras, postais antigos e registos de santo que nos fazem arregalar a vista;
- Antiquários com pratos, louças e vidros antigos, imagens religiosas em madeira, marfim, barro, mármore ou granito, bem como paramentos religiosos, pratas, quadros a óleo, gravuras antigas, registos, arte pastoril e peças da barrística popular de Estremoz ou das Caldas;
- Moedeiros que vendem moedas e notas, antigas e modernas, principalmente de Portugal e Colónias;
- Vendedores de toalhas, bordados e rendas antigas, que estiveram religiosamente guardadas e que sabe-se lá, porque artes mágicas ou fatalidades do destino, acabaram por surgir à luz do dia;
- Ourives com toda a parafernália de jóias em ouro e prata, que vão desde alianças e anéis, a pulseiras, fios e correntes, passando por símbolos de superstição popular como figas, cornichos e signo-saimões;
- Revendedores de recheios de casa, onde é possível encontrar de tudo: mobílias, loiças, vidros, electrodomésticos, quadros, livros e todo o género de bugigangas;
- Ferro-velhos com uma oferta variada, que vai de alfaias agrícolas caídas em desuso até ferramentas, passando pelos mais diversos tipos de ferragens de uso urbano, bem como objectos metálicos variados, em cobre, estanho, zinco, ferro ou latão.
- E há quem ofereça uma gama muito variada de objectos que passa por antiguidades, moedas e notas, gravuras, livros, postais, louças, vidros, etc., etc,
- Nalguns casos a variedade de objectos é de tal modo diversificada, que se torna difícil sistematizá-la.
- Por ali deambulo todos os sábados, qual peregrino que ali vai para homenagear o seu Santo Padroeiro. Bem vistas as coisas, o mercado das velharias é o meu Santiago de Compostela.
Dizem que eu sou um respigador nato, um cão pisteiro, um farejador de coisas velhas. Talvez seja algo de epidérmico, se não mesmo genético. E perante os meus olhos nascem coisas que parece que estavam ali circunspectas, à espera que eu me abeirasse delas e as resgatasse: objectos de arte pastoril, peças da barrística popular estremocense ou livros que me interessam pelos mais fundamentados motivos. Ali comprei recentemente uma "ANTOLOGIA DE FIALHO DE ALMEIDA", organizada por Manuel da Fonseca e com extensa dedicatória autografa, deste último. A minha biblioteca já incorporava outros livros com dedicatórias autógrafas de outros grandes escritores portugueses, nomeadamente alentejanos, como o Conde de Monsaraz ou António Sardinha, mas quanto ao Manuel da Fonseca, o nosso "Manel", estava às escuras.
Quando as minhas mãos nervosas, tactearam o livro descoberto pela cirurgia do meu olhar, senti uma espécie de calafrio na espinha, seguido dum deslumbramento como terão porventura sentido os nossos navegadores, quando aportarem ao novo mundo.
À semelhança do que acontecia com o meu vizinho Sebastião da Gama, que conheci ainda eu era uma criança, sábado é o dia mais belo da semana. Não troco por nada, a ida ao mercado de sábado.
Num dos seus poemas que relembro de memória, o Manel diz: "Domingo que vem vou fazer as coisas mais belas que um homem pode fazer na vida". Pois eu que sou "sabadeiro", digo para mim mesmo: "Sábado que vem vou comprar as coisas mais belas que um homem pode comprar na vida" e de sexta para sábado mal durmo, farto-me da dar voltas na cama, à espera que o dia nasça. Então ergo-me, de súpalo e com toda a adrenalina dos meus sessenta e cinco anos, ai vou eu, respigador nato, cão pisteiro, farejador de coisas velhas, em passo acelerado, a caminho do mercado de sábado, em Estremoz. E quando muito mais tarde, perto da hora de almoço, regresso a casa com o estômago vazio, a minha alma vai cheia. E aguenta-se uma semana, até ao sábado que vem.

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Pintura de Rui Alves no Centro Cultural de Estremoz

Da esquerda para a direita, Hernâni Matos (presidente da AFA), Rui Alves (Pintor) e José Trindade (Vereador do Pelouro da Cultura da CME).
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“PINTURA DE RUI ALVES” foi a Exposição, que de 31 de Outubro a 5 de Dezembrode 2010, esteve patente ao público, na Sala de Exposições do Centro Cultural de Estremoz.
O certame, da iniciativa da Associação Filatélica Alentejana e que contou com o apoio da Câmara Municipal, foi constituída por trinta e cinco trabalhos de acrílico sobre tela, onde o tema dominante era o Alentejo que viu o artista nascer: gente, casarios e paisagens.
Pintura a espátula saída das mãos de quem também é escultor. Pintura que esculpe casas na paisagem alentejana, memória e saudade dum Alentejo onde nasceu e que tem a ver com o mais profundo do seu ser. Quadros que são a imagem do seu e do nosso Alentejo, filtrado através do seu olhar de artista, a partir do qual faz o registo conjugado dos volumes, das formas, das cores e das texturas, em tudo aquilo que toca a sua e a nossa alma.
Rui Alves nasceu em Estremoz em 1956, tem o Curso de Artes Gráficas da Escola António Arroio e desde 1975 que trabalha em Cinema, Fotografia, Teatro, Publicidade, Adereços, Decoração, Efeitos Especiais e é claro, Pintura e Escultura.
Em 2010 já expusera na Freguesia de São João de Brito (Lisboa), Sociedade Recreativa e Dramática Eborense (Évora), Círculo Experimental de Teatro de Aveiro (Aveiro) e Espaço Nimas (Lisboa).
À “vernissage” compareceram mais de seis dezenas de amigos e admiradores, que assim lhe quiseram testemunhar o elevado apreço em que têm o seu trabalho.
De então para cá, Rui Alves soma e segue.


 Francisca de Matos, recitando Miguel Torga.
António Simões dizendo-se a si próprio.
Um aspecto do público.
 
 CEIFEIRA. Acrilico sobre tela (126 x 126 cm).
 ROSTO. Acrilico sobre tela (50 x 70 cm).
 CASAS. Acrilico sobre tela (71 x 56 cm).
HORIZONTE. Acrilico sobre tela (60 x 80 cm).
MONTE. Acrilico sobre tela (50 x 70 cm).

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Livro de Leitura da Primeira Classe


Livro de Leitura da Primeira Classe

Há sessenta anos atrás
Sou duma geração que há sessenta anos atrás se iniciou na leitura, através do bem conhecido livro de leitura da 1ª Classe do Ensino Primário. Tratava-se de um livro profusamente ilustrado, com um grafismo que marcou uma época. Através dele aprendíamos a juntar as letras, formando sílabas, que reunidas geravam palavras, ali ilustradas, para o reforço visual apoiar a memorização.
Estávamos no Estado Novo, pelo que não é de admirar que doutrinariamente o livro veiculasse a Trilogia da Educação Nacional: “Deus, Pátria e Família”. O mesmo se passava com aqueles que se lhe seguiram até à 4ª classe.
Na Aritmética, decorávamos a tabuada até à casa do 10. Qualquer um de nós sabia de cor, o resultado de 100 operações de multiplicação, as quais iam desde o 1x1 até ao 10x10. Na aula, o professor passava-nos contas para fazer, o que era feito em lousas de ardósia nas quais escrevíamos com lápis de pedra. Era o “Magalhães” que Salazar e bem, punha à nossa disposição. Assim adquiríamos aptidão de cálculo mental e treinávamos o cálculo necessário à nossa vida do dia a dia.
Levávamos como trabalho para casa, fazer contas num caderno quadriculado, para disciplinar a escrita e a dimensão dos algarismos. E tínhamos sempre uma cópia para fazer, não só para aperfeiçoar a caligrafia, mas também porque a cópia ajudava à memorização. Para o efeito, usava-mos um caderno de linhas. Porém, aqueles que tinham uma escrita mais irregular faziam cópias em cadernos de duas linhas, para aprenderem a dimensionar as letras, até conseguirem ficar com uma caligrafia padrão.
Fazíamos também ditados, nos quais o professor nos lia pausadamente um texto relativamente curto, que nós tínhamos que escrever no caderno. Assim treinávamos a capacidade de converter a oralidade da língua na sua forma escrita. E acabava-mos por não dar erros.
Fazíamos ainda redacções com tema igual para todos, visando despertar e exercitar a capacidade criadora de cada um, bem como exercitar a correcção da ortografia e da caligrafia.
Fazíamos igualmente desenhos com lápis de carvão e lápis de cor, para o que utilizávamos um caderno de folhas lisas.
Os cadernos tinham geralmente na capa, ilustrações apelando ao amor à Pátria ou exaltando instituições gratas ao Regime, como era a Mocidade Portuguesa. Na capa do caderno, escrevíamos sempre o nosso nome, o número e a classe.
Tínhamos também um “caderno de significados”, que era um caderno de duas linhas com um traço vertical a vermelho, onde registávamos por indicação do professor, as palavras difíceis à esquerda do traço e o respectivo significado à direita.
Escrevíamos com canetas de molhar o aparo nos tinteiros que havia em cada carteira. Não se podia molhar de mais para não borrar. Ao virar a página, tínhamos que secar com um mata- borrão que trazíamos sempre dentro do caderno.
A caneta de molhar, os aparos, o lápis de carvão, os lápis de cor, o apara-lápis e a borracha eram guardados dentro duma caixa de madeira, com tampa de correr. Esta, conjuntamente com os cadernos, o livro de leitura e mais tarde outros livros, era transportada numa sacola de serapilheira que levávamos a tiracolo.

E hoje?
Pelos mais diversos motivos, algumas das práticas escolares atrás referidas foram abandonadas. Algumas naturalmente por serem obsoletas. Hoje não faz sentido escrever com canetas de molhar e provavelmente fazer contas em lousa de ardósia. Mas não é a posse e a utilização de um “Magalhães” que treina o cálculo mental e a prática das operações elementares, bem como a prática da caligrafia e a execução livre de desenhos.
Hoje já não se usam sacolas de serapilheira, mas mochilas à medida da bolsa dos pais de cada um. Aí o personagem principal é o “Magalhães” – Faz Tudo!
Já não é preciso saber fazer contas, basta ter o “Magalhães” ligado à Internet e fazem-se as contas no Google. Este motor de busca é a cabeça deles.
Fazer cópias para quê? Por um lado não precisam de memorizar nada e por outro lado basta utilizar o “Magalhães” e escrever no Word. Podem dar erros à vontade, que o Word assinala a vermelho os erros de ortografia e a verde os erros de sintaxe. Depois basta tirar uma cópia na impressora. Esta é a caneta deles.
A caligrafia é a que eles quiserem, é o tipo de letra que escolherem no Word, seja ela Areal, Times New Roman, Comic Sans MS, ou outro tipo qualquer, que lhes der na real gana. Não há caligrafia individualizada, reflexo do todo uno que é cada ser humano. Há o estereótipo gráfico porque cada um optou, no tamanho que escolheu.
O desenho é executado no “Magalhães” com um programa gráfico melhor ou pior, que permite gerir espessuras de traço, cores, luminosidade, contraste, texturas e estilos de desenho. A procura de perfeição a desenhar tem a ver com o domínio do programa utilizado. Essa é a arte deles.
Cadernos de significados para quê? Vai-se ao Google e lá está a Wikipédia. A Wikipédia diz tudo. Para que é que eles precisam de saber, se está na Wikipédia?
Fazer redacções hoje é fácil. Vai-se à Wikipédia e com o ponteiro do rato, copia-se e cola-se. Pesquisa em múltiplas fontes? Rearranjo dos materiais recolhidos em linguagem própria? Trabalho de síntese? Para quê? O que está na Wikipédia é que é! Mas cautela meninos, que os professores dispõem de um programa gratuito existente na Internet que permite ver se os meninos copiaram e colaram ou não. Depois não se queixem se forem acusados de ter copiado à letra, o trabalho apresentado, muitas vezes de forma abrasileirada.

Aviso à navegação
Assiste-se hoje aos mais diferentes níveis, ao facilitismo que o pervertido Sistema Educativo Português concede aos alunos, impreparando-os para a vida. E tudo começa por uma coisa muito simples. O esquecimento ou a ignorância de que cada um de nós só dá valor aquilo que foi fruto do seu esforço pessoal de aprendizagem e aperfeiçoamento, o que longe de facilitismos, passa pela aquisição e memorização de saberes, sem os quais o ser humano não consegue em cada instante julgar e decidir com propriedade.
Corremos o risco de estar a preparar seres humanos dependentes do “Magalhães”, da Internet e da Wikipédia, os quais longe de serem pessoas livres, estão condicionados à informação padrão veiculada “on line”.
Cerca de dois mil anos depois de Spartacus, o gladiador, ter liderado um exército de mais de cem mil escravos contra a opressão do Império Romano, é chegada a altura em que como homens livres, devemos consciencializar toda a gente dos riscos resultantes em termos de liberdade, da utilização de informação estereotipada e padronizada, bem como pela subordinação da criança e do jovem às rotinas do “Magalhães” – Faz tudo.

Texto publicado inicialmente em 28 de Setembro de 2011
O presente texto integra o meu livro "Memórias do Tempo da Outra Senhora"

 Caderno "Lusito"

Lousa

Caderno de significados