quarta-feira, 27 de abril de 2011

O Milagre das Rosas


Milagre das Rosas. Irmãs Flores. 

O MILAGRE DAS ROSAS
Segundo a lenda, a Rainha Isabel de Aragão (1270-1336), esposa de el-Rei D. Diniz (1261-1325) terá saído do Castelo do Sabugal, numa manhã de Inverno para repartir pães pelos mais desprotegidos. Surpreendida pelo monarca, que lhe perguntou onde ia e o que acarretava no regaço, a Rainha teria clamado: “São rosas, Senhor!” Suspeitoso, D. Dinis teria indagado: “Rosas, no Inverno?” D. Isabel expôs então o recheio do regaço do seu traje e nele havia rosas, ao envés dos pães que encobrira.
A lenda, com algumas variantes, integra a nossa tradição oral desde finais do século XIV, sendo certo que o registo mais antigo conhecido é o do retábulo quatrocentista conservado no Museu Nacional de Arte da Catalunha. Por sua vez, o primeiro registo escrito do “Milagre das Rosas” data de 1562 e encontra-se na Crónica dos Frades Menores, de Frei Marcos de Lisboa:
“(…) levava uma vez a Rainha santa moedas no regaço para dar aos pobres(...) Encontrando-a el-Rei lhe perguntou o que levava,(...) ela disse, levo aqui rosas. E rosas viu el-Rei não sendo tempo delas“
Em meados do séc. XVI, a lenda “O Milagre das Rosas” estava já amplamente disseminada. Dessa época datam o quadro anónimo, conhecido por “Rainha Santa Isabel”, do Museu Machado de Castro, em Coimbra, assim como a afamada iluminura da “Genealogia dos Reis de Portugal” de Simão Bening, baseada em desenho de António de Holanda.
A PRIMEIRA BIOGRAFIA DA RAINHA
Uma biografia anónima de Isabel de Aragão, conhecida por “Lenda ou Relação”, foi redigida imediatamente após a sua morte, por alguém que de perto com ela conviveu, provavelmente o seu confessor, Frei Salvado Martins, bispo de Lamego, ou então uma das donas de Santa Clara que a assistiram durante o tempo de viuvez. O original da biografia perdeu-se. Todavia, no Museu Machado de Castro, em Coimbra, conserva-se uma cópia quinhentista, manuscrita e iluminada, que tem o título: “Livro que fala da boa vida que fez a Rainha de Portugal, Dona Isabel, e seus bons feitos e milagres em sua vida, e depois da morte.” Nela, o autor refere que:
(…) e por qualquer lugar onde fosse não aparecia pobre que dela não recebesse esmola (…) E em cada quaresma fazia grandes esmolas a homens e a mulheres envergonhados; e no dia que se diz Ceia do Senhor lavava a certas mulheres pobres e leprosas os pés, e lhos beijava, e vestia-as e dava-lhes de calçar e contas por amor de Deus.”
Na obra, são evocados inúmeros actos de devoção e piedade cristã da Rainha e exaltadas as suas virtudes de caridade e de misericórdia, bem como as numerosas e relevantes obras sociais e o apoio prestado a conventos e congregações religiosas.
Conforme refere o biógrafo anónimo, a Rainha morreu no Castelo de Estremoz, com 66 anos de idade, no dia 4 de Julho de 1336, de uma doença súbita surgida quando se dirigia para a raia em missão de apaziguamento entre o filho, D. Afonso IV, e o neto, Afonso XI de Castela. Contra o conselho de todos, D. Afonso quis cumprir a tenção de sua mãe ser sepultada no Mosteiro de Santa Clara. A longa trasladação fez-se sob o sol aceso de Julho e, para assombro de todos, apesar dos grandes calores que se faziam experimentar, o ataúde exalava um perfume tão aprazível que "tão nobre odor nunca ninguém tinha visto", assim se lê na primeira biografia.
As virtudes da Rainha, mais tarde considerada Santa, estiveram na origem da sua beatificação por Leão X, em 1536, com autorização de culto circunscrito à Diocese de Coimbra. Em 1556, o papa Paulo IV, torna extensiva a devoção isabelina a todo o Reino de Portugal. Seria o papa Urbano VIII, dada a incorrupção do corpo e o relato dos milagres, quem proclamaria em 1625, a canonização de Isabel de Aragão como Rainha Santa.
Texto publicado inicialmente em 27 de Abril de 2011

Milagre das Rosas. Maria Luísa da Conceição.


Milagre das Rosas. Fátima Estróia.

Milagre das Rosas. Afonso Ginja.

Milagre das Rosas. Maria Isabel Catarrilhas Pires.

Milagre das Rosas. Jorge da Conceição.

Milagre das Rosas. Ricardo Fonseca.

Milagre das Rosas. Duarte Catela.

Milagre das Rosas. Carlos Alves.

Milagre das Rosas. Madalena Bilro.


Milagre das Rosas. José Carlos Rodrigues.

Milagre das Rosas. Inocência Lopes.

4 comentários:

  1. A lenda das rosas de Santa Isabel é muito semelhante à uma das versões de acontecimentos passados na vida de Santa Zita de Lucca(1212?-1272). Em português, a versão encontrada é igual a da Rainha santa, rosas no colo ao invés dos pães para os pobres; em inglês, conta a lenda, de que os patrões de santa Zita, avisados por uma criada invejosa de que a jovem levaria comida da despensa dos senhores para dar aos pobres, surpreenderam-na na cozinha mas o que encontraram foram anjos a fazer pão por ela!

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  2. Não sei como descobri este blogue, mas em boa hora o fiz!!!

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  3. Boa noite

    È um artesão muito talentoso, tenho algumas imagens de Santo António na minha coleção deste artista, sobrinho das irmãs Flores. Espero que continue e seja o continuador da herança ancestral da tradição bonecreira de Estremoz.

    Os meus Parabéns pelo prémio é bem merecido...

    El Mano del Tajo

    Meu Blog e coleção em

    muraldaspetas.blogspot.com

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  4. Gosto muito do texto cuidado que faz à vida da Nossa Rainha D.Isabel,mais tarde Rainha Santa Isabel...Uma Rainha e uma Santa que velaram pelo bem estar dos mais desfavorecidos do reino. E tão bem que o Professor Hernâni descreve,com o saber de quem investiga incansàvelmente toda a história que envolve personagens datas e lugares...Obrigada por isso.
    Quero ainda dar os Parabéns ao jovem escultor que com tanto empenho e saber dá vida novamente à Rainha Santa através da belissina escultura...que acho maravilhosa em todos os aspectos...Bem Hajam por divulgarem a cidade de Estremoz,como a cidade dos escultores.
    Um Abraço da Ana Carita.

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