terça-feira, 1 de outubro de 2013

As duas culturas

 Imagem recolhida no blogue "Esqueci a Ana"

                                                                        À Catarina, minha filha:

Nos meus tempos de rapaz, já depois dos 18 anos, um Homem com H grande e que se chamava Charles Percy Snow (1905-1980), viu publicada em Portugal em 1965 e graças à acção clarividente de Snu Abecassis (1940-1980), a bem amada de Francisco Sá Carneiro (1934-1980), o livro "As Duas Culturas".
Embora não folheie e releia aquela obra há muito tempo, com ela ocorreu uma mudança de paradigma. Percebi que o problema da cisão da Cultura em dois campos aparentemente opostos (A Ciência e as Humanidades) é um falso problema que alguns procuram acicatar. A posição do Homem no Universo é unívoca e singular. Ele é o objecto e o actor principal de ambas. A ele cabe fazer uma síntese dialéctica e pô-las ao seu serviço.
Na nossa pátria lusitana, como percursor dessa ideia peregrina, que constitui afinal um ovo de Colombo, temos o poeta Fernando Pessoa (1888-1935), quando pela voz de Álvaro de Campos (1) proclama que:

O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.

óóóó — óóóóóóóóó — óóóóóóóóóóóóóóó

(O vento lá fora).

Também o matemático Bento de Jesus Caraça (1901-1948) na sua conferência “A Cultura Integral do Indivíduo - Problema central do nosso tempo“ (edições Mocidade Livre – 1933), conclui que “a História da Humanidade aparece-nos como uma gigantesca luta, gigantesca no espaço e no tempo, entre o individual e o colectivo”. Para ele também só há uma Cultura. Daí falar em “Cultura Integral do Indivíduo”
Igualmente o professor Rómulo de Carvalho (1906-1997), poeticamente conhecido por António Gedeão, soube integrar na sua magistral poesia e duma forma natural, aquilo que faz parte do arsenal científico da nossa formação. De igual modo eu, físico de formação, andei por caminhos poéticos convergentes, apesar de distintos. Aí pelos 20 anos fui desintegracionista, sob a influência do poema “A Astronave” de Armando Ventura Ferreira (Arcádia-1963) e manuscrevia poemas com tinta cor de barro – a cor do meu Alentejo e dos campos de Estremoz, os quais oferecia nas ruas de Lisboa aos transeuntes que os queriam aceitar. Integrava então um grupo heterogéneo, o qual se dispersou no tempo e que foi emergindo posteriormente, alguns com certa notoriedade. É dessa época de não-rima e com pontuação à Saramago, o excerto:

endotermizaste em mim uma amizade no tempo
cristaliza agora analiticamente um amor no espaço
e nunca mais nos bombardearemos com palavras virgens
ávidonautas, sexonautas, astronautas seremos
astronautas partiremos na minha nave
para anunciarmos aos povos do infinito-dimensional
que como experimentados sexólogos terrestres
descobrimos por fim o metafísico deus dos rabis


 (1) - s.d. Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993) - 110.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Adagiário pós-eleitoral

 Entretenimento eleitoral (1754).
William Hogarth(1697- 1764).
Óleo sobre tela (100 cm  x 127 cm).
Sir John Soane's Museum, London.

Alguns resultados eleitorais causam perplexidade, suscitando proclamações do estilo:
- O número dos tolos é infinito.
Muitos julgam saber o porquê dos resultados:
- Com papas e bolos se enganam os tolos.
Outros, provavelmente pensando no “Evangelo segundo São Mateus”, chegam até a formular votos de matiz moral:
- Bem aventurados os pobres de espírito.
Alguns mais radicais vão ao ponto de perorar:
- Um tolo tem sempre outro que o admira.
Todavia, os mais conciliadores como eu, opinam:
- Ninguém é perfeito neste mundo.

sábado, 28 de setembro de 2013

Hoje é dia de reflexão

Pensador (1939). Escultura em bronze de Mestre Leopoldo de Almeida
(1898-1975). Dimensões (cm): altura: 33; largura: 22; profundidade: 18; 
Centro de Arte  Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

Reflexão é uma palavra do léxico português, mais precisamente um substantivo feminino que tem o significado preciso de “meditação”.
A reflexão pressupõe que nos debrucemos de uma forma crítica sobre o passado que tivemos, o que gostaríamos de ter tido, o que poderíamos ter tido e o que não tivemos.
A reflexão exige igualmente que olhemos o presente com olhar de gente, visando concluir onde é que estamos e porque é que aqui chegámos e não a outro ponto qualquer.
A reflexão impõe finalmente que equacionemos o futuro comprometido e que urge resgatar.
Hoje é dia de reflexão para todos aqueles que não venderam a alma ao diabo. Daí que seja um dia importante no exercício da cidadania. Se todos a exercermos em liberdade e sem constrangimentos, talvez não haja fatalidades.

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

A chuva e as eleições

Chuvada em Patenkirchen (1838).
Heinrich Burkel (1802-1869).
Óleo sobre tela (45 x 61 cm).
Neue Pinakothek, Munique.

Domingo é dia de eleições e pode chover raios e coriscos, já que os políticos não controlam o tempo. Esta ocorrência, ainda que meramente fortuita, não deixará de ter múltiplos reflexos linguísticos. Senão vejamos:
- Se a abstenção for elevada, alguns dirão: A culpa é da chuva. 
- Os que perderem, proferirão a sentença: Quem anda à chuva, molha-se.
- Os que ganharem, proclamarão: O que é preciso é saber navegar em todas as águas.
- Se os que estão no poder ganharem, os da oposição declararão: Vão continuar a navegar em águas turvas.
- Se ganhar a oposição, os que estão no poder expressarão: É uma calamidade. Vão meter água por todos os lados.
- O Zé Povinho, que desde Noé não gosta de dilúvios, dirá simplesmente: Tenho que me pôr no enxuto.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Pintura


Verão" ou "A Ceifa".
Dordio Gomes (1890-1976).
Aguarela sobre papel.

A Pintura enche-me as medidas. Quem sabe se os meus textos não serão pinceladas caligráficas, na procura vã de encontrar a forma dum seio de mulher que desvie as minhas mãos da escrita? Com elas, registo o voo rasante dos pardais sobre a eira e a sonoridade dos ralos à hora da sesta. Assim saboreio o oloroso gaspacho que me refresca e alimenta o ventre, bem como o vinho espesso que mastigo para não me lembrar do que não quero. Assim me vejo e me revejo, naquilo que de mais natural e ancestral há em mim.


terça-feira, 17 de setembro de 2013

"Belmonte" a mais recente novela da TVI apresentada em Estremoz


Chegada de actores à apresentação da novela. Imagem TVI.

A apresentação de “Belmonte”
Teve ontem lugar em Estremoz, a apresentação de “Belmonte”, a mais recente novela da TVI, cuja acção decorre parcialmente em Estremoz. O evento decorreu no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte, propriedade do Município e recentemente reabilitado.
Antes disso, cerca das 18 horas, teve lugar um cortejo integrado pelo elenco de actores que se dirigiu para o local, a partir da Câmara Municipal, utilizando para o efeito, os mais diversos meios de transporte usados na novela: cavalos, trens puxados a cavalos, jipe, automóvel e lambreta.
Frente ao Palácio tinha sido estendida uma extensa passadeira vermelha, por onde os actores iam desfilando com os aplausos das centenas de populares presentes, ao mesmo tempo que eram solicitados para conceder autógrafos. Entretanto, de múltiplos ângulos, um batalhão de fotógrafos e operadores de câmara faziam um registo do evento.
A receber os actores encontravam-se: Luís Mourinha (Presidente da Câmara Municipal de Estremoz), António Ceia da Silva (Presidente do Turismo do Alentejo), Luís Cunha Velho (Director-Geral da TVI) e Luís Esparteiro, Director de Conteúdos de Ficção da Plural Entertainment, a produtora responsável pelas novelas da TVI.
Seguidamente, já no interior do Palácio e com a presença de convidados, ocorreu uma degustação de produtos regionais, disponibilizada por empresas locais: Loja "Aqui Há Pão", "Compotas e Chutneys" de Maria João Cortes, Herdade das Servas, Isaurindo Frutas da Época, "Licores Caseiros" de Josefa Calhordas, Pastelaria Formosa, Pastelaria "O Forno", Pastelaria "O Fresquinho", Queijaria "O Carlos", Salsicharia Estremocense e Terra Mel. Também a Delta Cafés apoiou a iniciativa. No decurso da degustação actuou o Grupo de Cantares da Academia Sénior de Estremoz.
Terminado o beberete teve lugar a apresentação da novela num auditório improvisado no pátio do Palácio. Registaram-se sucessivamente intervenções de Luís Mourinha, António Ceia da Silva, Luís Cunha Velho e Luís Esparteiro, cada um deles segundo a óptica do cargo que desempenha. A projecção do trailer da novela traduziu-se num sucesso, com a assistência a comentar e a aplaudir efusivamente as imagens que se iam sucedendo antes os seus olhos: paisagens espectaculares, cenas de acção, de amor, de ódio, de pesar e também de humor. Enfim, de tudo um pouco. Ficou ainda a ideia de uma fotografia excelente e de um som espectacular, a coroar uma magistral direcção de actores.
Os actores
A dar corpo à história está um naipe dos melhores actores da ficção portuguesa actual, que constituem um elenco de luxo: Adriano Carvalho, Almeno Gonçalves, António Capelo, António Melo, Bruna Quintas, Carla Galvão, Diogo Amaral, Elsa Galvão, Estrela Novais, Filipe Duarte, Graziela Schmitt, Helena Laureano, Joana Solnado, João Catarré, João Didelet, José Wallenstein, Laura Galvão, Lourenço Ortigão, Luísa Cruz, Manuela Couto, Marco D’Almeida, Maria Sousa, Paulo Pires, Rita Calçada Bastos, Sabri Lucas, Sara Matos, Sara Prata, Sílvia Rizzo, Sofia Grillo, Sofia Ribeiro, Sofia Ribeiro, Tiago Aldeia e Tomás Alves.
A novela em si
A novela é uma novela rural, passada no seio de uma família alentejana rica. O enredo gira em torno de Emílio Belmonte e dos seus cinco filhos adoptivos, já que a mulher era estéril. Moram na Herdade da Família Belmonte no concelho de Estremoz, o local escolhido para os principais desenvolvimentos da trama.
Cada irmão arca com responsabilidades nas empresas da família: “João Belmonte”, interpretado por Felipe Duarte, é o irmão mais velho. Trabalha como enólogo na exploração vinícola da família. João Catarré é “José Belmonte” e gere a empresa de exploração de mármore da família. Homem rígido, mas perdido por amantes. “Carlos Belmonte”, protagonizado por Marco D'Almeida, gere os investimentos financeiros da família na capital, dividindo o seu tempo entre Lisboa e a herdade alentejana. Diogo Amaral dá corpo a “Pedro Belmonte”, responsável pela exploração do parque cinegético da família, apaixonado por uma mulher que não consegue ter. Lourenço Ortigão é “Lucas Belmonte”, o irmão mais novo, típico “playboy” da região. 
Só após a morte do patriarca, a família descobre que Emílio tinha uma vida dupla com uma amante, Sofia, que engravidara e levara para o Brasil, Após a morte de Emílio, Sofia regressa imprevistamente a Portugal com Paula (Graziela Schmitt), a filha legítima do patriarca, para dividir a herança com os irmãos Belmonte. A luta pela fortuna do pai muda completamente a relação entre os irmãos Belmonte. É a partir daí que a história se desenvolverá, com muitos segredos ainda por revelar.
Com filmagens a decorrer no Brasil e no concelho de Estremoz, Belmonte contará com eventos locais que serão usados como cenários de fundo em alguns episódios. É o caso da reinauguração da Praça de Touros de Estremoz, recentemente recuperada e da 21.ª edição da Cozinha dos Ganhões.
A novela foi escrita pela Casa da Criação e a adaptação da novela chilena "Hijos Del Monte", transmitida em mais de 25 países, ficou a cargo de Artur Ribeiro. A produção é da Plural Entertainment, a produtora responsável pelas novelas da TVI.
"Belmonte" tem estreia marcada para o próximo dia 23 de Setembro, data a partir da qual Estremoz começará a fazer parte obrigatória dos serões de todos os amantes da ficção portuguesa. Belmonte é a grande aposta da TVI na ficção nacional, com a missão de resgatar a liderança em horário nobre perdida para a SIC com as suas últimas produções.
A margem da apresentação da novela
Na apresentação de “Belmonte”, a oposição camarária a Luís Mourinha primou pela sua ausência. Teima em enterrar a cabeça na areia como o avestruz. Mais cego que aquele que não vê, é aquele que não quer ver. Por mim, sou daqueles que pensam que o facto de grande parte da acção decorrer em Estremoz e no seu termo é uma mais valia para a cidade. De facto, a inclusão na novela da TVI, de imagens do nosso património e de actividades locais tão diversas como o cultivo da vinha, a pecuária ou a extracção de mármores, funciona como cartaz da região, que irá potenciar fluxos turísticos, com múltiplos reflexos positivos, especialmente a nível da restauração e da hotelaria, o que é assaz importante. É que Estremoz, cidade de serviços, precisa de turismo como um faminto precisa de pão para a boca. A Câmara Municipal de Estremoz está, pois, de parabéns pela sua parceria com a TVI e a cidade agradece.


 Chegada de actores à apresentação da novela. Imagem de José Florentino.
 Chegada de actores à apresentação da novela. Imagem TVI.
 Chegada de actores à apresentação da novela. Imagem de José Florentino.
 Chegada de actores à apresentação da novela. Imagem TVI.
A recepção aos actores.Da esquerda para a direita: Luís Mourinha, Luís Cunha Velho e
 Luís Esparteiro.
 À entrada do Palácio. Imagem de José Florentino.
 Um aspecto da degustação. Imagem TVI,
Luís Mourinha no decurso da apresentação da novela. 
Imagem recolhida no Facebook de António Ceia da Silva.
 Uma cena de "Belmonte". Imagem TVI.
 Uma cena de "Belmonte". Imagem TVI. 
 Uma cena de "Belmonte". Imagem TVI. 
 Uma cena de "Belmonte". Imagem TVI. 
  Uma cena de "Belmonte". Imagem TVI.
  Uma cena de "Belmonte". Imagem TVI.
 Uma cena de "Belmonte". Imagem TVI. 
  Uma cena de "Belmonte". Imagem TVI.
 Uma cena de "Belmonte". Imagem TVI.