segunda-feira, 13 de agosto de 2012

O calor no adagiário português


A SESTA DOS CEIFEIROS – ALENTEJO (1918). Dórdio Gomes (1890-1976). Óleo sobre tela
(74 x 59 cm). Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa.
 
“O sol quando nasce, é para todos.”, “Não há casa onde o sol não entre” e “O sol aquece igualmente o rico e o pobre.”. Todavia, quando o calor do sol nos esturrica os sentidos, o pobre não tem ar condicionado em casa, nem isolamento térmico das paredes e janelas. O ar condicionado do pobre é a sombra de uma árvore.
Nem todos reagimos de igual modo ao calor: “A concha é que sabe o calor da panela.”.
Muitos preferem o calor ao frio: “Antes assoprar que tremer.”.
O calor dantes tinha tempo próprio: “Ande o calor por onde andar, pelo Santo António, há-de chegar.” e “Corra o ano como for, haja em Agosto e Setembro calor.”. Actualmente, devido ao efeito de estufa causado pela poluição, temos calor durante quase todo o ano.
No período em que é normal haver calor, há indícios disso: “Cigarra cantou, calor chegou.”.
Parecendo contrariar a afirmação de que “Não há casa onde o sol não entre.”, surgem os adágios: “Casa onde entra o sol não entra o médico.” e “Onde entra o sol não entra o médico.”, bem como “Onde não entra o sol, entra o médico.”, o que está de acordo com o pensamento de Aristóteles (a.C. 384-322 a.c.): “A saúde é a justa medida entre o calor e o frio.”.
O calor leva a dar alguns conselhos: “No tempo quente, refresca o ventre.”,“No amor e no calor, não metas o cobertor.” e “Quando muito arde o sol, nem mulher, nem carnes, nem caracol.”. E esta hein?

Publicado inicialmente a 13 de Agosto de 2012

14 comentários:

  1. Acho piada ao penúltimo "no amor e no calor, não metas o cobertor". O Professor sabe com cada coisa...

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  2. muito interessante.
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  3. Eu devo ser mesmo mázinha... Então não é que, ao imaginar os 43º que, por vezes, assolam o nosso Alentejo, pensei - " Como seria a produtividade da Merkel e quejandos, se tivessem de trabalhar ao sol, numa seara, com 40º à sombra ?..."
    Peço desculpa, ao amigo Hernâni que se esforça por nos dar visões tão belas e agradáveis da nossa terra e eu fui-me lembrar de alguém que nem sabe do que fala...

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    1. Aí é que a minha amiga se engana redondamente. Eles sabem do que falam. Falam dos grandes interesses da alta finança internacional, que são os seus patrões e das quais são lacaios fiéis. São os Gaspares, os Coelhos, os Portas e outros que tais. São aqueles de quem temos que nos ver livres para abrir uma nova página no livro da nossa História Pátria.

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  4. Excelente texto pelo sentido critico e de humor com que aborda o tema...Esperemos que neste "desgoverno" que nos "governa",não venha num futuro que parece não ser assim tão longínquo, a restar só a sombra da árvore, ao cada vez maior número de pobres e mais pobres ...
    Conceição

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    1. Conceição:
      Apesar do calor nos convidar para a sesta, temos que reunir energias e sinergias para nos vermos livres dos desgovernantes que temos, que desgovernam em nome da banca e da alta finança internacional. Temos que nos vermos livres deles, já que "O Sol quando nasce, é para todos.”.

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  5. Caríssimo Hernâni Eu adoro a sesta! .... e sempre que posso faço -a ... determino mentalmente qual a sua duração, e raramente falho, precisamente para recuperar energias... Quanto às sinergias ? Devo confessar que não sei onde as encontrar... O que sei é que face à situação que chegámos preferia morrer com uma arma na mão do que assistir a este remanso.

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  6. " O calor no adagiário português " Hernâni, excelente artigo em que despertas para o conhecimento dos adágios mais populares, terminas ainda com bela escolha do " E esta hein? " do nosso saudoso Fernando Pessa.

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