terça-feira, 17 de julho de 2012

Não vejo senão canalha…

O painel de apresentação do livro era constituído (da esquerda para a direita)
por Hernâni Matos, José Movilha (autor de “Escrito na Cal”), Guiomar Morais
(professora da UCA) e Emídio Lourenço (Presidente da UCA).
(Fotografia de Luís Figueiredo)

“Escrito na cal”, romance do escritor estremocense José Movilha, editado pela “Monóculo”, foi apresentado no passado sábado, 14 de Julho, pelas 11 horas na Casa de Estremoz. O evento no qual participaram cerca de sete dezenas de pessoas, terminou com uma sessão de autógrafos. Tratou-se de uma iniciativa da Biblioteca Municipal de Estremoz, que contou com o apoio do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal.
O painel de apresentação do livro era constituído por Hernâni Matos, Guiomar Morais (professora da UCA – União de Cultura e Acção, de Santa Iria da Azóia), Emídio Lourenço (Presidente da UCA) e José Movilha (autor de “Escrito na Cal”), os quais intervieram por esta sequência.
O livro tem a particularidade de a maioria da acção se desenrolar em Estremoz, designada por “Vila de Gadanha”, nos anos 30 do século XX. Na época, Portugal vivia amordaçado pela ditadura, pela fome e pela doença. O povo sonhava com liberdade e igualdade e por elas lutava. O livro dá conta dessa luta.
O título da obra resulta de um dos capítulos do livro. Na vila de Gadanha, um grupo de oposicionistas ao regime, reúne-se numa casa da antiga rua dos Judeus, perto da igreja de Santiago.
Na reunião é feita uma caracterização da situação política e da luta desenvolvida e a desenvolver, sendo deliberado escrever na cal das paredes da Tapada Grande, exigindo a Libertação do ganhão Jaime da Manta Branca, preso às ordens do regime por ser poeta e homem livre no pensamento e na acção. É que o latifundiário D. Albuquerque Salcedo, bem comido e bem bebido, em súcia com amigos e outras gentes de Lisboa, mandara chamar o ganhão Jaime da Manta Branca, poeta popular afamado, para o divertir a ele e aos amigos. Jaime pensou desde logo em dizer umas décimas que dessem voz aqueles que são explorados no dia a dia para sustentar a ostentação e riqueza de alguns. Disse então as bem conhecidas décimas sujeitas ao mote:

Não vejo senão canalha
De banquete p’ara banquete,
Quem produz e quem trabalha
Come açordas sem “azête".

Em tom narrativo, semeado aqui e além de diálogos entre personagens, o autor utiliza uma linguagem fotográfica, rigorosa e certeira, rica no regionalismo do seu vocabulário e que incorpora na sua textura, património da tradição oral, tal como adágios, quadras e décimas que são postas na boca de alguns personagens, servos da gleba, como o ganhão-poeta Jaime da Manta Branca, com elevada consciência de classe, que se levantou do chão quando disse o que disse.
Através da narração, José Movilha revela-se profundo conhecedor da História e dos usos e costumes do Alentejo, bem como das práticas agro-pastoris cujo registo faz no seu livro. Estas, tal como as relações de produção entre senhores da terra e servos da gleba, eram ainda no Alentejo nos anos sessenta do séc XX, as mesmas que as descritas nas “Geórgicas” pelo poeta romano Virgílio, filho de agricultor que viveu entre os anos 70 e 19 antes de Cristo.
Com este seu romance, José Movilha, assentou arraiais na praça das Letras Lusitanas, o que muito nos congratula e nos honra, por ser um escritor alentejano e estremocense que resistiu e lutou com as armas da razão, com o verbo fácil, mas certeiro, tal como a poesia do poeta-ganhão Jaime da Manta Branca.
Através deste seu romance com R grande, José Movilha revela-se o repórter duma época de luta pelo trabalho, pela paz, pela liberdade, pela habitação, pela educação, o que só foi conseguido com “As portas que Abril abriu” e que se estão de novo a fechar.
O livro “Escrito na cal” vale por si, graças ao mérito de josé Movilha. Todavia, ele fortalece-se fruto da consonância daqueles que sentem o mesmo pulsar do Universo.
O Jaime da Manta Branca, o Chico, o Leonardo, o dr. Guido, o Cacheirinha ou o Arrobas, personagens reais da Vila de Gadanha, não têm uma caracterização inferior à das personagens saramaguianas. Sou levado a dizer ao autor:
- Companheiro! Tu não precisas de marketing, nem de Fundação. Tu falas com a força das braguilhas dum povo que desde sempre tem feito para se levantar do chão. À laia de Fernão Lopes e com cronistas como tu, oh meu cronista alentejano da diáspora de Santa Iria da Azóia, havemos de consegui-lo.
Que “Escrito na cal” seja o primeiro de muitos outros romances onde se historie e exalte a luta do Homem por um mundo melhor, mais livre, mais justo, mais solidário e mais fraterno.
No decurso da apresentação de “Escrito na cal” foi entregue ao seu autor, José Movilha, um boneco de Estremoz, criado pelas Irmãs Flores e que é uma alegoria no barro ao seu romance. Tratou-se dum testemunho dos estremocenses como preito de reconhecimento pelo seu trabalho, que muito nos honra. O boneco representa o ganhão Chico a escrever na cal a palavra LIBERDADE, exigindo a libertação do ganhão-poeta Jaime da Manta Branca.
E como a Vila de Gadanha nos prende com os seus encantos, na sequência de apresentação do livro de José Movilha, trinta e seis convivas foram presos até ao restaurante “Cadeia Quinhentista”, onde apreciaram os saberes e os sabores da gastronomia alentejana, que ali se podem usufruir duma maneira ímpar. Daqui felicitamos vivamente o Senhor João Simões e toda a sua equipa, pela qualidade do serviço prestado, o qual deve ser realçado. Depois de uma bela manhã literária, a gastronomia da “Cadeia Quinhentista” foi “ouro sobre azul”. Dali fomos até ao Museu Municipal, numa visita guiada destinada a reforçar a nossa identidade cultural e que foi excelentemente conduzida por uma funcionária de serviço. Ficou-nos a vontade de voltar mais e mais vezes, para conhecermos mais em profundidade, aquilo que nos toca o fundo da nossa alma alentejana: bonecos de Estremoz, olaria, arte pastoril, etc., etc.


Um aspecto da assistência.
(Fotografia de Luís Figueiredo) 
 Outro aspecto da assistência.
(Fotografia de Luís Figueiredo)
José Movilha ao receber uma alegoria ao seu romance, perpetuada
nos bonecos de Estremoz, pelas barristas Irmãs Flores.
(Fotografia de Luís Figueiredo)
Escrito na cal - Boneco de Estremoz, criado pelas Irmãs Flores.
(Fotografia de Luis Figueiredo)

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Escrito na cal


ESCRITO NA CAL
 Boneco de Estremoz, criado pelas Irmãs Flores
(Fotografia de Luis Figueiredo) 

É como se chama o novo boneco de Estremoz, criado a meu pedido pelas afamadas barristas estremocenses Irmãs Flores. A designação do boneco provém do título do romance “Escrito na cal”, da autoria do escritor estremocense José Movilha e foi-lhe oferecido em nome de admiradores estremocenses, quando da apresentação do seu livro, na Casa de Estremoz, no passado dia 14 de Julho.
O boneco representa o ganhão Chico a escrever na cal a palavra LIBERDADE. Vejamos porquê, para o que teremos que nos basear no romance de José Movilha.
Alentejo dos anos 30 do século XX. Na vila de Gadanha, um grupo de oposicionistas ao regime, reúne-se numa casa da antiga Rua dos Judeus, perto da igreja de Santiago.
Na reunião é feita uma caracterização da situação política e da luta desenvolvida e a desenvolver, sendo deliberado escrever na cal das paredes da Tapada Grande, exigindo a Libertação do ganhão-poeta Jaime da Manta Branca, preso às ordens do regime por ser poeta e homem livre no pensamento e na acção. É que o latifundiário D. Albuquerque Salcedo, bem comido e bem bebido, em súcia com amigos e outras gentes de Lisboa, mandara chamar o ganhão Jaime da Manta Branca, poeta popular afamado, para o divertir a ele e aos amigos. Jaime apresentou-se já sem chapéu para não ter que se humilhar diante daquela gente e pensou desde logo em dizer umas décimas que dessem voz aqueles que são explorados no dia a dia para sustentar a ostentação e riqueza daquela corja. Disse as bem conhecidas décimas sujeitas ao mote:

NÃO VEJO SENÃO CANALHA
DE BANQUETE PARA BANQUETE,
QUEM PRODUZ E QUEM TRABALHA
COME AÇORDAS SEM "AZÊTE"

Ainda o que mais me admira
E penso vezes a miúdo: (1)
Dizem que o Sol nasce para tudo
Mas eu digo que é mentira.
Se o pobrezinho conspira
O burguês com ele ralha,
Até diz que o põe à calha (2)
Nem à porta o pode ver.
A não trabalhar e só comer
NÃO VEJO SENÃO CANALHA!

Quem passa a vida arrastado
Por se ver alegre um dia,
Logo diz a burguesia
Que é muito mal governado,
Que é um grande relaxado,
Que anda só no bote e "dête". (3)
Antes que o pobrezinho "respête" (4)
Tratam-no sempre ao desdém
E vê-se andar, quem muito tem,
DE BANQUETE PARA BANQUETE.

É um viver tão diferente
Só o rico tem valor.
E o pobre trabalhador
Vai morrendo lentamente.
A fraqueza o põe doente
E a miséria o atrapalha;
Leva no peito a medalha
Que ganhou à chuva e ao vento
E morre à falta de alimento
QUEM PRODUZ E QUEM TRABALHA

Feliz de quem é patrão
E pobre de quem é criado
Que até dão por mal empregado
O poucochinho que lhe dão.
Quem semeia e colhe o pão
Não tem aonde se "dête", (5)
Só tem quem o "assujête" (6)
Para que toda a vida chore,
E em paga do seu suor
COME AÇORDAS SEM "AZÊTE" "

ANOTAÇÕES:
(1) a miúdo – a miúde.
(2) à calha – na rua.
(3) no bote e dête – nos copos respête – respeite
(5) dête - deite
(6) assujête – assugeite, subjugue.

BIBLIOGRAFIA
MOVILHA, José A. Escrito na cal. Monóculo. Lisboa, Junho de 2012.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

O Verão na Bíblia Sagrada


Verão - Ruth e Boaz (1660-64).
Nicolas Poussin (1594-1665).
Óleo sobre tela (118 x 160 cm).
Musée du Louvre, Paris.

São múltiplas as referências bíblicas ao Verão:
Enquanto durar a Terra, jamais faltarão sementeira e colheita, frio e calor, Verão e Inverno, dia e noite". (Génesis 8,22)
mas no tempo do Verão evaporam-se e, chegando o calor, desaparecem de seus leitos. (Job 6,17)
Como o calor do Verão suga a água da neve, também a morada dos mortos suga o pecador. (Job 24,19)
Apesar disso, no Verão ela acumula o grão e ajunta provisões durante a colheita. (Provérbios 6,8)
Como a neve no Verão e chuva na ceifa, assim a honra não convém ao insensato. (Provérbios 26,1)
as formigas, povo fraco, mas que recolhe comida no Verão; (Provérbios 30,25)
A névoa húmida do orvalho, depois do Verão, traz alegria. (Eclesiástico 43,22)
Era como a rosa na Primavera, como lírio junto da água corrente, como ramo de árvore de incenso no Verão! (Eclesiástico 50,8)
Tudo será abandonado aos abutres dos montes e às feras selvagens. No Verão, sobre eles estarão as aves de rapina, e sobre eles todas as feras selvagens passarão o Inverno. (Isaías 18,6)
o tumulto dos estrangeiros como o calor de Verão. Tu alivias o sol forte com a sombra de uma nuvem e fazes calar o canto dos tiranos. (Isaías 25,5)
Vou derrubar a casa de Inverno e a casa de Verão. Serão destruídas as casas de marfim, desaparecerão os palácios de luxo - oráculo de Javé. (Amós 3,15)
Pobre de mim! Estou na situação de alguém que recolhe no Verão, que colhe depois de acabada a colheita. Não há nenhum cacho de uva para eu chupar, nem sequer um figo temporão para me matar a vontade. (Miquéias 7,1)
Naquele dia, sairão águas vivas de Jerusalém. Metade correrá para o mar do lado Nascente e metade para o mar do lado Poente, tanto no Verão como no Inverno. (Zacarias 14,8)
Vendo que elas começam a lançar rebentos, sabeis que o Verão está perto. (São Lucas 21,30)

sábado, 23 de junho de 2012

Alavanca interfixa

CRIANÇAS NO BALOIÇO (séc. XVIII). Painel de azulejos portugueses no Museu do Açude
(Rio de Janeiro), antiga residência de Verão de Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968), empresário, mecenas coleccionador que deixou um legado de 22.000 obras de arte.

A figura mostra duas crianças a brincarem num baloiço constituído por um tronco apoiado no tronco de outra árvore abatida. A brincadeira consiste em andarem alternadamente para cima e para baixo, graças ao impulso que cada um delas alternadamente imprime.
Quando a criança da esquerda dá um impulso com os pés, é ela que sobe, enquanto que a criança da direita, desce. Quando esta bate com os pés no chão, dá um impulso que a faz subir, ao mesmo tempo que a criança da esquerda desce e assim sucessivamente até a brincadeira acabar.
Para a brincadeira resultar, quando estão parados, o tronco onde estão sentados tem que estar em equilíbrio. Se eles tiverem o mesmo peso,têm que se sentar à mesma distância do ponto de apoio (fulcro) do tronco onde estão sentados. Caso contrário, aquele que for mais pesado tem que ficar mais próximo do ponto de apoio, ao passo que o que for mais leve tem que ficar mais afastado desse ponto.
O “baloiço” constitui um exemplo daquilo que em Física se chama “alavanca interfixa”, a qual está esquematizada na figura seguinte:


Na figura estão esquematizados os pesos das crianças e as respectivas distâncias ao fulcro. A condição de equilíbrio da alavanca interfixa é:


Por outras palavras: os pesos das crianças são inversamente proporcionais às distâncias a que estas estão sentadas relativamente ao fulcro, o que está de acordo com a análise do movimento expressa na imagem do painel azulejar aqui mostrado.

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O Verão na Pintura Portuguesa


Junho – A ceifa [Século XVI (1517-1551)]. António de Holanda (?-?).
Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de Horas de D. Manuel I”.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa.

O Verão, estação caracterizada por elevadas temperaturas, abrange os meses de Junho, Julho, Agosto e Setembro. A pintura portuguesa alegórica a esta época reflecte a actividade ao ar livre, característica deste período. Por um lado, as actividades agro-pastoris: tosquia de ovelhas e ceifa (Junho), debulha dos cereais nas eiras (Julho), transporte e armazenagem dos cereais (Agosto) e vindima (Setembro). Por outro lado, actividades lúdicas como os banhos de praia ou a caça.
Por ordem cronológica, os pintores por nós identificados que abordaram a temática “Verão” foram: António de Holanda (?-?), Oficina de Simon Bening (1483-1561), Autor desconhecido (Séc. XVII), Autor desconhecido (Séc. XVIII), Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929), D. Carlos de Bragança (1863 -1908), José Malhoa (1855-1933), Milly Possoz (1888-1967), Manuel Jardim (1884-1923), João Marques de Oliveira (1853-1927), Dordio Gomes (1890-1976), Mário Augusto (1895 - 1941), Lázaro Lozano (1906-1999) e Eduardo Malta (1900 - 1967).

Publicado inicialmente a 22 de Junho de 2012

Julho – A debulha [Século XVI (1517-1551)]. António de Holanda (?-?).
Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de Horas de D. Manuel I”.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

Agosto – O armazenamento do cereal [Século XVI (1517-1551)].
António de Holanda (?-?). Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de
Horas de D. Manuel I”. Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

Setembro – As vindimas [Século XVI (1517-1551)]. António de Holanda (?-?).
Iluminura (10,8x14 cm) do “Livro de Horas de D. Manuel I".
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

Junho [Século XVI (1530-1534)]. Oficina de Simon Bening (1483-1561).
Iluminura (9,8x13,3 cm) do “Livro de Horas de D. Fernando”.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

Agosto [Século XVI (1530-1534)]. Oficina de Simon Bening (1483-1561).
Iluminura (9,8x13,3 cm) do “Livro de Horas de D. Fernando”.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

Setembro [Século XVI (1530-1534)]. Oficina de Simon Bening (1483-1561).
Iluminura (9,8x13,3 cm) do “Livro de Horas de D. Fernando”.
Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa. 

O Verão (Séc. XVII). Autor desconhecido (Séc. XVII). Óleo sobre tela (80x112 cm).
Museu de Évora.  

Cena de Merenda de Caça no Verão (1767). Autor desconhecido (Séc. XVIII).
Óleo sobre tela (192 x 156 cm). Palácio Nacional de Queluz.  

Alegoria do Verão (Séc. XIX). Columbano Bordalo Pinheiro (1857-1929).
Óleo sobre tela (88 x 146,8 cm). Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa. 

Praia de Cascais (1906). D. Carlos de Bragança (1863 -1908).
Aguarela sobre papel (24x16,5 cm). Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa.
 
Praia das Maçãs (1918). José Malhoa (1855-1933). Óleo sobre madeira (69x87 cm).
Museu do Chiado – MNAC, Lisboa. 

Praia de pescadores – Cascais (1919). Milly Possoz (1888-1967). Pintura a guache
sobre papel (56x68,5 cm). Museu do Chiado – MNAC, Lisboa. 

Na praia - crianças na praia (Séc. XX). Manuel Jardim (1884-1923). Óleo
sobre madeira (24x18,7 cm). Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra. 

PRAIA DE PESCADORES - PÓVOA DE VARZIM (Séc. XIX). João Marques de Oliveira
(1853-1927). Óleo sobre madeira (45x33 cm). Museu de José Malhoa, Caldas da Rainha. 

Verão" ou "A Ceifa". Dordio Gomes (1890-1976). Aguarela sobre papel. 

Praia da Figueira da Foz (1935). Mário Augusto (1895 - 1941). Óleo sobre cartão
(26,5x34,8 cm). Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, Lisboa. 

Nu na Praia (1947). Lázaro Lozano (1906-1999). Óleo sobre tela
(123x96,5 cm). Museu José Malhoa, Caldas da Rainha. 

O Verão (Séc. XX). Eduardo Malta (1900 - 1967). Óleo sobre tela
(46,2x 33 cm). Museu José Malhoa, Caldas da Rainha.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Começou o Verão


Verão" ou "A Ceifa", aguarela de Dordio Gomes (1890-1976).

Em 21 de Junho ou próximo a este dia, o Sol atinge o ponto mais ao norte na sua trajectória pelo céu. É o solstício de Verão, momento em que o Sol, no seu movimento aparente na esfera celeste, atinge a maior declinação em latitude, medida a partir da linha do equador. A duração do dia é então a mais longa do ano.
No Hemisfério Norte o solstício de Verão ocorre cerca do dia 21 de Junho e o solstício de Inverno por volta do dia 21 de Dezembro. Estas datas marcam, respectivamente o início do Verão e do Inverno no Hemisfério Norte. O dia e hora exactos variam de um ano para outro.
Tal como no solstício de Verão a duração do dia é a mais longa do ano, também no solstício de Inverno, a duração da noite é a mais longa do ano.
No Hemisfério Sul, o fenómeno é simétrico: o solstício de Verão ocorre em Dezembro e o solstício de Inverno ocorre em Junho. Os momentos exactos dos solstícios, que assinalam também as mudanças de estação, são determinados mediante cálculos astronómicos.

Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 20 de Junho de 2012

terça-feira, 19 de junho de 2012

Arco-Íris


Políptico do Julgamento Final (1448-1451).
Rogier van der Weyden (c. 1399-1464).
Óleo sobre tela (215 × 560 cm).
Hôtel-Dieu of Beaune, France.

Iconografia do arco-íris
O "arco-irís” foi desde tempos remotos um tema abordado pelos grandes nomes da pintura universal, dos quais destacamos, associados por épocas/correntes da pintura:
- RENASCENÇA: Rogier van der Weyden (c. 1399-1464), flamengo; Michel Wolgemut (1434 - 1519), Wilhelm Pleydenwurff. (c. 1460-1494), Albrecht Dürer (1471–1528), todos eles alemães.
- BARROCO: Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), flamengo; Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), flamengo; Pieter Pauwel Rubens (1577-1640), flamengo; Jan Siberechts (1627-c.1703), flamengo; Autor desconhecido (c. 1714); Joseph Wright (1734-1797), inglês.
- RÓCÓCÓ: Jacob Cats (1741-1799), holandês.
- ROMANTIISMO: Joseph Anton Koch (1768-1839), austríaco; Joseph Anton Koch (1768-1839), austríaco; Joseph Mallord William Turner (1775-1851), ingles; John Constable (1776–1837), inglês;
- NEOCLASSICISMO: Pierre-Narcisse Guérin (1774-1833), francês.
- REALISMO: Károly Markó, o Velho (1822-1891), húngaro; John Everett Millais (1829–1896), inglês.
Trata-se em geral de paisagens onde se observam condições propícias à produção de arco-íris ou então cenas religiosas que têm a ver com o Julgamento Final ou o Dilúvio (Génesis, 9).

Ilustração da Crónica de Nuremberg (1493).
Ilustradores: Michel Wolgemut (1434 - 1519),
 Wilhelm Pleydenwurff. (c. 1460-1494).
Texto: Hartmann Schedel (1440 - 1514). 
Melancolia Imaginativa (1514).
Albrecht Dürer (1471–1528).
Gravura com placa de cobre.
British Library, London. 
Paisagem com Arco-Íris (1632-35).
Pieter Pauwel Rubens (1577-1640).
Óleo sobre tela (86x130 cm).
The Hermitage, St. Petersburg. 
Paisagem com Arco-Íris (c. 1636).
Pieter Pauwel Rubens (1577-1640).
Óleo sobre painel.
Alte Pinakothek, Munich. 
Paisagem com Arco-Íris (c. 1638).
Pieter Pauwel Rubens (1577-1640).
Óleo sobre painel (136x236 cm).
Wallace Collection, London. 
Paisagem com Arco-Íris, Henley-on-Thames (c. 1690).
Jan Siberechts (1627-c. 1703).
Óleo sobre tela (82,5x103 cm).
Tate Gallery, London. 
 Santelmo Socorrendo os Náufragos (c. 1714).
Autor desconhecido.
Óleo sobre tela.
Capela do Palácio do Corpo Santo, em Setúbal.
Paisagem com Arco-Íris (c. 1795).
Joseph Wright (1734-1797).
Óleo sobre tela (81x107 cm).
Derby Museum and Art Gallery, Derby. 
Paisagem de Outono com Arco-Íris (1779).
Jacob Cats (1741-1799).
Aguarela e caneta (334x415 mm).
Rijksmuseum, Amsterdam. 
Paisagem Heróica com Arco-Íris (1815).
Joseph Anton Koch (1768-1839).
Óleo sobre tela (188x171 cm).
Neue Pinakothek, Munich. 
Joseph Mallord William Turner (1775 1851).
Castelo Arundel no Rio Arun, com um arco-Íris (c. 1824-5).
Aguarela sobre papel (161x230 mm).
Collection Tate, England. 
Catedral de Salisbúria vista dos prados (1831).
John Constable (1776–1837).
Oil on canvas (151,8 cm×189,9 cm).
National Gallery, London. 
Paisagem Italiana com Viaduto e Arco-Íris (1838).
Károly Markó, o Velho (1822-1891).
Óleo sobre tela (75x100 cm).
Colecção privada. 
Heidelberg com um Arco-Íris (c. 1841).
Joseph Mallord William Turner (1775 1851).
Aguarela sobre papel (311x521 mm).
Colecção privada. 
A Rapariga Cega (1856).
John Everett Millais (1829–1896).
Óleo sobre tela.
Birmingham Museum and Art Gallery

O arco-íris na Mitologia e na Bíblia
Na Mitologia Greco-Latina, o arco-íris era considerado o rasto deixado pela deusa Íris, que era a mensageira dos deuses e, em particular, de Zeus e de Hera. Tinha por função estabelecer a ligação entre a Terra e o Céu, entre os deuses e os homens.
Morfeu e Íris (1811).
Pierre-Narcisse Guérin (1774-1833).
Óleo sobre tela (251x178 cm).
The Hermitage, St. Petersburg.
De acordo com a tradição bíblica, o arco-íris foi apelidado por Deus como "arco-da-aliança". No décimo sétimo dia do sétimo mês, após o Dilúvio, a arca de Noé encalhou sobre os montes de Ararat (Génesis 8,4) e Deus anunciou que nunca mais iria inundar a Terra e depois de chover, o seu arco apareceria nas nuvens e esse seria o símbolo da aliança estabelecida entre Ele todas as criaturas que estão na Terra. De acordo com Génesis, 9:
8. Disse também Deus a Noé e a seus filhos:
9. “Vou fazer uma aliança convosco e com vossa posteridade,
10. assim como com todos os seres vivos que estão convosco: as aves, os animais domésticos, todos os animais selvagens que estão convosco, desde todos aqueles que saíram da arca até todo animal da terra.
11. Faço esta aliança convosco: nenhuma criatura será destruída pelas águas do dilúvio, e não haverá mais dilúvio para devastar a terra.”
12. Deus disse: “Eis o sinal da aliança que eu faço convosco e com todos os seres vivos que vos cercam, por todas as gerações futuras:
13. Ponho o meu arco nas nuvens, para que ele seja o sinal da aliança entre mim e a terra.
14. Quando eu tiver coberto o céu de nuvens por cima da terra, o meu arco aparecerá nas nuvens,
15. e me lembrarei da aliança que fiz convosco e com todo ser vivo de toda espécie, e as águas não causarão mais dilúvio que extermine toda criatura.
16. Quando eu vir o arco nas nuvens, eu me lembrarei da aliança eterna estabelecida entre Deus e todos os seres vivos de toda espécie que estão sobre a terra.”
17. Dirigindo-se a Noé, Deus acrescentou: “Este é o sinal da aliança que faço entre mim e todas as criaturas que estão na terra.”

Paisagem com as ofertas de Noé (c. 1803).
Joseph Anton Koch (1768-1839).
Óleo sobre tela (86×116 cm).
Städelsches Kunstinstitut und Städtische Galerie, Frankfurt am Main.

A Física do arco-íris
O arco-íris é um fenómeno óptico causado pela dispersão da luz do Sol que sofre refracção nas gotas de chuva, que são aproximadamente esféricas ou então próximo de quedas de água. A luz sofre uma refracção inicial quando penetra na superfície da gota de chuva, aproximando-se da normal ao ponto de incidência, uma vez que passa dum meio opticamente menos denso (ar) para um meio opticamente mais denso (água). Dentro da gota, a luz sofre reflexão interna total, voltando agora a sofrer nova refracção ao sair da gota. Como a luz transita agora dum meio opticamente mais denso (água) para um meio opticamente menos denso (ar), a luz afasta-se da normal ao ponto de emergência. O resultado final é que a luz branca do sol, que é uma luz composta de luz de diferentes cores (comprimentos de onda ou frequências), ao emergir das gotas aparece decomposta num espectro de sete cores: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta. A luz violeta é mais desviada que a luz vermelha, mas é esta que aparece mais alta no ceu e constitui a cor mais externa do arco-íris.

Mecanismo de dispersão da luz do sol numa gota de águ
(Imagem retirada da Wikipédia)

O arco-íris não existe num local determinado do céu. Trata-se de uma ilusão de óptica cuja posição aparente depende da posição do observador. Ainda que todas as gotas de chuva refractem e reflictam a luz do sol de igual maneira, apenas a luz de algumas chega até o olho do observador. Estas gotas são compreendidas como o arco-íris para aquele observador. A sua posição é sempre na direcção oposta do Sol em relação ao observador, sendo o seu interior uma imagem aumentada do Sol, ligeiramente menos brilhante que o exterior. Quanto ao arco em si, ele é centrado na sombra do observador, aparecendo num um ângulo de aproximadamente 40°– 42° com a linha entre a cabeça do observador e sua sombra Por isso, se o Sol está mais alto que 42°, o arco-íris fica abaixo do horizonte e não pode ser visto, a menos que o observador esteja no topo de uma montanha ou num aeroplano. Neste último é possível ver o círculo completo do arco-íris, centrado na sombra do avião.
Os arco-íris podem ser visualizados com diferentes tamanhos porque, o que depende do ângulo de visão. Se perto do arco-íris existirem objectos longínquos, como montanhas, o arco-íris parecerá maior. Se pelo contrário, estiver perto de objectos mais próximos, parecerá menor.
Por vezes, um segundo arco-íris mais fraco é visto no exterior do arco-íris principal, o que é devido a uma dupla reflexão da luz do sol nas gotas de chuva, aparecendo num ângulo de 50°–53°. Devido a esta reflexão extra, as cores do arco passam a ter posições invertidas em relação às do arco-íris principal, com o azul no lado exterior e o vermelho no interior.