Chaminé do prédio com os nºs 2 e 4 da Travessa do Outeiro, em Estremoz. São visíveis
3 peças oláricas, incrustadas na chaminé e pintadas de branco.
Imóvel de Interesse Municipal
No passado dia 22 de Outubro, a convite do meu amigo Nuno Ramalho, fui observar e fotografar a fachada da casa dos seus pais, localizada nos números 24 e 25 do Largo do Outeiro, em Estremoz. O registo da observação efectuada, permitiu-me interpretar a decoração apotropaica aí patente, trabalho de decifração que foi divulgado nos nºs 299 e 300 do Jornal E. A descoberta e o trabalho de decifração realizados, despertaram o interesse do Município, que solicitou aos correspondentes Serviços, a elaboração de uma proposta de classificação do edifício como Imóvel de Interesse Municipal. Uma tal proposta será submetida a discussão e votação numa próxima reunião do Executivo Municipal. O edifício ficará então com protecção legal que assegurará a preservação do esgrafito recentemente descoberto. Entretanto, no passado dia 24 de Novembro, uma responsável da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, deslocou-se a Estremoz para se inteirar da descoberta e fotografar o local.
Não há uma sem duas
Na mesma altura e por sugestão de Nuno Ramalho, fotografei igualmente a chaminé do prédio com os nºs 2 e 4 da Travessa do Outeiro, contíguo pelo lado direito, ao prédio com os nºs 24 e 25 do Largo do Outeiro. A observação da chaminé revelou a existência daquilo que configura ser a incrustação de três recipientes para transporte de líquidos, dois iguais situados ao mesmo nível e outro diferente, situado no eixo central e vertical da chaminé, mas num nível inferior ao dos outros dois. A superfície daquilo que parecem ser recipientes de barro está pintada de branco, tal como o resto da chaminé.
Segundo Nuno Ramalho, trata-se de bilhas de barro, cuja superfície revelava a cor natural deste material, mas que há cerca de 20 anos foram pintadas conjuntamente com a chaminé. Nessa mesma altura, conforme refere, foram também pintados dois anjos esgrafitados na chaminé, virados um para o outro e que seguravam nas mãos as duas vasilhas de barro, situadas no nível superior. Na parte debaixo da chaminé, junto ao recipiente de barro inferior, também haveria vestígios de esgrafitos, cuja natureza não conseguiu precisar. De acordo com ele, tudo tinha sido posto a descoberto pela inclemência do tempo, até que que o proprietário do prédio, o mandou pintar novamente.
Admito que aquilo que Nuno Ramalho diz, possa ser verificado na própria chaminé, a qual a meu ver merecia um estudo mais aprofundado, nomeadamente através da iniciativa de remoção cuidadosa de camadas de pintura, até surgirem os referidos esgrafitos.
A meu ver, devemos estar em presença de outra decoração apotropaica de inspiração cristã. Vejamos porquê.
De acordo com a tradição bíblica e a fé cristã, Deus criou os Anjos da guarda, aos quais é confiada individualmente cada pessoa ao nascer, protegendo-a do mal até onde Deus o determine: “Eis que eu envio um anjo diante de ti, para que te guarde pelo caminho, e te leve ao lugar que te tenho preparado” (Êxodo 23:20).
De acordo com a minha interpretação, na presente decoração apotropaica de inspiração cristã e de época desconhecida, na óptica da crença vigente, os anjos da guarda asseguravam a protecção divina daquela casa, decerto casa de oleiro e/ou olaria e seus moradores e/ou artífices. Tudo estaria, assim, protegido de espíritos malignos que pretendessem entrar pela chaminé, ainda que as portas e janelas estivessem bem fechadas.
Não há duas sem três
As inúmeras indicações e referências que vou recolhendo aqui e ali, parecem fornecer pistas que me levam a crer que os esgrafitos do Largo do Outeiro e da Travessa do Outeiro, possam não ser os únicos por aquelas bandas. São dúvidas que formulo e que só poderão ser respondidas através duma investigação sistemática e profunda a realizar no local, o que exige meios técnicos e materiais, cuja disponibilidade está sempre condicionada pelos meios financeiros e pela oportunidade da sua disponibilização. De qualquer modo, esta é uma reflexão que se impunha e que aqui registo para memória futura.
Publicado no jornal E, nº 301, de 07 de Dezembro de 2022
Sim, esperemos que seja considerado imóvel de Interesse Camarário, no entanto não me parece que isso possa vir a impedir qualquer ação sobre os esgrafitos encontrados, isto com base no que se passou no edifício do Café Aguias D' Ouro também considerado imóvel de interesse público, pois foi retirado da varanda do último piso um painel azulejar sem que até à data tenha sido reposto ou alguém se tenha preocupado com o seu paradeiro.
ResponderEliminarTem toda a razão. Um caso a merecer um esclarecimento oficial..
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