Canto de esperança
Mário Dionísio (1916-1993)
Dentro de mim e de ti
Algo de novo estremece,
A vida abre-se e ri
Na hora que se entretece.
Vultos parados e sós,
Mudez da alma sozinha,
Tomai o corpo e a voz
Da vida que se adivinha.
Canta mais alto, avança e canta,
Lança-te à marcha, não te afastes.
Mistura a tua voz à voz que se levanta
Das chaminés e dos guindastes.
Rasgam-se os céus e a terra,
A esperança cai e refaz-se.
É o grito duma outra guerra:
Canto do homem que nasce.
Tomam forma consistente
As ilusões encobertas.
Caminha, caminha em frente
Para as novas descobertas.
Canta mais alto, avança e canta,
Lança-te à marcha, não te afastes.
Mistura a tua voz à voz que se levanta
Das chaminés e dos guindastes.
Molda em teus dedos leais
Um destino à tua imagem.
Ao ódio dos vendavais
Ergue uma viva barragem.
Da alma do tempo imundo
Arranca a felicidade.
Homens humanos do mundo!
Homens de boa vontade!
Canta mais alto, avança e canta,
Lança-te à marcha, não te afastes.
Mistura a tua voz à voz que se levanta
Das chaminés e dos guindastes.
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