Sentinela
Luís Veiga Leitão (1912-1987)
Com trezentas noites de cela
e dias brancos de cem anos
quero ver-te sentinela,
ver-te com os olhos humanos.
Olho as tuas mãos enclavinhadas
e pergunto: aonde estão?
Serão de outro corpo e plasmadas
no mesmo barro que vem do chão?
E nunca meus olhos viram tanto!
Olho os teus olhos despertos
e pergunto: aonde estão?
Serão de fendas, de poços abertos
ou de que raio são?
E nunca meus olhos viram tanto!
Olho a tua boca cerrada
e pergunto: aonde o seu nome?
Será gume de faca ou de espada
que a ferrugem come?
E nunca meus olhos viram tanto!
Essa arma (que as manhãs amaldiçoam)
esconde os teus olhos, teu rosto, a tua mão,
enquanto os botões de metal abotoam
teu próprio coração.
Luís Veiga Leitão (1912-1987)
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