terça-feira, 23 de abril de 2024

Poesia Portuguesa - 122

 


Sentinela
Luís Veiga Leitão (1912-1987)


Com trezentas noites de cela
e dias brancos de cem anos
quero ver-te sentinela,
ver-te com os olhos humanos.

Olho as tuas mãos enclavinhadas
e pergunto: aonde estão?
Serão de outro corpo e plasmadas
no mesmo barro que vem do chão?

E nunca meus olhos viram tanto!

Olho os teus olhos despertos
e pergunto: aonde estão?
Serão de fendas, de poços abertos
ou de que raio são?

E nunca meus olhos viram tanto!

Olho a tua boca cerrada
e pergunto: aonde o seu nome?
Será gume de faca ou de espada
que a ferrugem come?

E nunca meus olhos viram tanto!

Essa arma (que as manhãs amaldiçoam)
esconde os teus olhos, teu rosto, a tua mão,
enquanto os botões de metal abotoam
teu próprio coração.


Luís Veiga Leitão (1912-1987)

Hernâni Matos

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