Desenho de Azinhal Abelho (1911-1979)
Comoção Rural
Azinhal
Abelho (1911-1979)
Já
não há quem queira dar
uma
filha a um ganhão…
Senhor
Pai, senhora mãe,
que
grande desolação.
Já
bati a sete portas
por
mais de mil e uma vez;
Vá-se
embora seu ganhão,
disseram
com altivez…
A
minha filha é prendada,
não
é para qualquer tunante,
sabe
ler, sabe escrever
e
todo o seu consoante.
O
que é que tem um ganhão?
Um
azinho dum pau torto;
só
vive das tristes ervas,
não
tem onde cair morto.
Os
olhos já não são olhos,
estão
estão desfeitos em chorar,
porque
a um pobre ganhão
já
não há quem queira dar
nem
mulher para dormir
nem
a filha para mulher;
nem
quem o ajude a vestir,
nem
quem o ajude a morrer.
Ramos
secos, estéreis flores,
pedras
de arestas cortantes
perdidas
num vendaval,
perdidas
numa aflição…
Eu
já não posso gritar;
Senhor
Pai, senhora Mãe,
que
grande desolação
nestes
matagais com longes,
aonde
os anjos se afundam
em
humus e punição!
Azinhal
Abelho (1911-1979)
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