José Coelho Ribeiro, 82 anos, bancário
aposentado e membro do Partido Socialista, foi Presidente da Câmara Municipal
do Fundão no mandato 1976-1979 e Presidente da Assembleia Municipal de Estremoz
no mandato 1986-1989, cidade em que se fixou em 1980. Natural de Medelim
(Idanha-a-Nova), mantém relações de estreita amizade com António Guterres,
eleito recentemente Secretário-geral da ONU. Daí a razão da presente entrevista.
O
DESPERTAR DE COELHO RIBEIRO
Como e
quando, é que o cidadão Coelho Ribeiro despertou para a intervenção cívica e
política?
A questão que
me coloca leva-me a recuar até ao ano de 1954. Se me permite e para responder à
sua pergunta, vejo-me obrigado a invocar esta data, tendo em conta a gravidade
dos acontecimentos em que me vi envolvido. Foi, sem dúvida, o marco que gerou a
minha repulsa à ditadura de Salazar e de Caetano. No mês de Junho desse ano, estando
em Lisboa, caminhava para o café Martinho, para me encontrar com conterrâneos.
Ao aproximar-me do Teatro Dona Maria II, ouvi nas proximidades do Coliseu
dos Recreios, uma gritaria cujo teor não consegui perceber. Curioso como os demais,
interrompi o meu caminho, para perceber o que se estava a passar. Ao
aproximar-se o pequeno grupo de manifestantes, ouviram-se com clareza, palavras
de ordem contra a ditadura, exigindo a liberdade de todos os povos das colónias
portuguesas (É que na Índia Portuguesa, tinha ocorrido a penetração de Satiagrais, que entravam com
uma conduta pacífica, mas pretendiam uma progressiva ocupação do território). Foi então que surgiu a GNR a cavalo, agredindo à
bastonada todos os que se atravessavam no seu caminho. Tentando fugir,
subi a Rua Nova do Almada e junto dos Armazéns do Chiado fui interceptado
por uma brigada da PSP, que me obrigou a parar e me levou debaixo de prisão para
o Governo Civil. Na sequência desta ocorrência, associei-me aos opositores da ditadura.
Quando,
como e porquê, ingressou no PS?
Foi em Junho
de 1974, que pelo motivo apontado e a convite de um médico e amigo fundanense,
me filiei no Partido Socialista.
Como é
que o bancário Coelho Ribeiro se transformou em Presidente da Câmara Municipal
do Fundão?
Em 1976, no decurso do
processo eleitoral para as primeiras eleições autárquicas, ocorreu na sede do
PS do Fundão um intenso debate, com vista à indigitação do candidato à Presidência
da Câmara Municipal do concelho. Nesta discussão encontrava-se presente o meu
amigo António Guterres. Numa dessas reuniões, alguém fez surgir o nome de um
militante que viria a ser rejeitado. Foi então que outra pessoa indicou o meu nome,
tendo eu declinado o convite. Perante tal impasse, apareceu mais tarde o
camarada Mário Soares, que me convenceu a aceitar a indigitação, argumentando que
com a eleição não sairia do Fundão, ao contrário do que teria acontecido se
tivesse aceite ser candidato a Deputado nas eleições para a Assembleia
Constituinte e para a 1ª Assembleia Legislativa. Foi assim que vim a ser eleito
Presidente da Câmara Municipal do Fundão.
A AMIZADE COM
ANTÓNIO GUTERRES
Quando é
que conheceu António Guterres?
Como já referi
anteriormente, conheci o António Guterres em 1976, no decurso do processo
eleitoral para as primeiras eleições autárquicas.
Qual a
natureza da sua amizade com António Guterres?
A natureza da
nossa amizade foi e é essencialmente política.
Como é
que caracteriza o amigo António Guterres como pessoa e como político?
Não resisto à
tentação de referir nesta entrevista uma ida com o meu camarada ao Seminário do
Fundão, em Novembro de 1979, no decurso da campanha eleitoral para as eleições
legislativas desse mesmo ano. Tendo em conta que a Igreja Católica sempre atacara
o Partido Socialista, interroguei-o acerca do que iríamos discutir com o Reitor
do Seminário. Disse-me para ter calma e assim fiz. Fomos admiravelmente
recebidos pelo Reitor. Durante a conversa, estive quase sempre calado, a
escutar o diálogo entre eles, até que o Reitor me solicitou que facultasse a
máquina de rasto da Câmara, com vista ao alargamento do campo de futebol do Seminário,
ao que eu acedi. Já fora das instalações, perguntei ao António, o que é que ele
pensava beneficiar com aquela reunião. Respondeu-me que se dali se conseguisse
amortecer os ataques da Igreja Católica local ao Partido, já seria um grande
benefício. E assim foi, já que nessas eleições, ela não atacou o PS. Desta
passagem das nossas vidas, entre muitas outras, consegui perceber que estava em
presença de um homem com qualidades humanas e políticas excepcionais. A sua
vitória nas eleições para Secretário-geral da ONU, constitui o melhor testemunho
das suas extraordinárias competências como notável cidadão português.
DA
BEIRA PARA O ALENTEJO
Depois
de terminar em 1979 o seu mandato como Presidente da Câmara Municipal do
Fundão, o cidadão Coelho Ribeiro fixou-se em 1980 na cidade de Estremoz, onde
assumiu novamente a sua condição de bancário. A mudança de localidade foi uma
mera questão profissional ou traduziu algum desencanto com o Fundão ou mesmo
ruptura com o PS local?
Em 1980, por
motivo da minha actividade profissional, fixei residência na cidade de
Estremoz, decidido a acabar com a minha actividade política e autárquica.
Todavia, no ano de 1982, o José Costa e o João Matos bateram-me à porta para me
convidarem a participar numa reunião na sede local do Partido Socialista. Foi
aqui, que começou o princípio do meu envolvimento nas eleições autárquicas de
Estremoz, vindo a ser Presidente da Assembleia Municipal. Estes dois militantes
do meu Partido, tornaram-se os meus maiores amigos nesta cidade.
Em 1986,
dando a impressão de que acabou de efectuar a sua travessia no deserto, integrou com êxito a lista vencedora à Assembleia Municipal de Estremoz. Como
é que o cidadão Coelho Ribeiro aparece novamente activo como autarca
socialista?
Por
influência dos camaradas anteriormente referidos, José Costa e João Matos.
GUTERRES
VISTO POR COELHO RIBEIRO
Na sua
vida política, António Guterres foi Deputado à Assembleia da República,
Presidente da Assembleia Municipal do Fundão, Secretário-geral do PS, Primeiro
Ministro de Portugal, Presidente da Internacional Socialista e Alto Comissário
da ONU para os Refugiados. Como é que o cidadão Coelho Ribeiro encara o
desempenho de todos estes cargos pelo seu amigo António Guterres?
Desempenhou
com grande êxito todos os cargos para que foi designado, exercendo as suas
funções de uma forma altamente competente.
Quais as
expectativas que tem como corolário da eleição de António Guterres para
Secretário-geral da ONU?
Como aconteceu
em todos os cargos anteriormente desempenhados, prevejo um imenso sucesso nas
suas novas e futuras funções, já que as suas capacidades são enormes.
Quer enviar
daqui uma mensagem ao amigo António Guterres?
Envio-lhe
daqui um fraternal abraço e reitero-lhe o meu incondicional apoio.
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