segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Mineiro - Eduardo Valente da Fonseca

 



Mineiro
Eduardo Valente da Fonseca (1928-2003)


Mineiro da pele de fogo.
português do meu país,
onde nós vemos flores,
tu vês raiz.

Mineiro desse outro lado
onde a flor não desabrocha,
és bicho, gente ou gerânio
florescendo nas rochas?

Mineiro da pele de fogo,
português do meu país,
vejo-te aqui na cidade
no ferro, no ouro e cobre,
nas estações e cozinhas
e no colo das mulheres.

Andas presente nas pontes,
em dedos, salões de luxo,
nas orelhas das crianças,
em casas comerciais,
e na frescura das tranças
enfeitadas a metais.

Descubro-te assim presente
na força continental
dos guindastes e navios
e no rumor industrial
dos próprios rios.

Mineiro do meu país,
português da pele de fogo,
alarga os braços e diz,
mostrando os dedos à luz
deste sul de Portugal,
que mais que o peixe e o sal
é o minério a raíz
e a razão fundamental
deste fumo industrial
do teu país.

Eduardo Valente da Fonseca (1928-2003)


#Poesia Portuguesa - 220

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