Mineiro
Eduardo Valente da Fonseca (1928-2003)
Mineiro da pele de fogo.
português do meu país,
onde nós vemos flores,
tu vês raiz.
Mineiro desse outro lado
onde a flor não desabrocha,
és bicho, gente ou gerânio
florescendo nas rochas?
Mineiro da pele de fogo,
português do meu país,
vejo-te aqui na cidade
no ferro, no ouro e cobre,
nas estações e cozinhas
e no colo das mulheres.
Andas presente nas pontes,
em dedos, salões de luxo,
nas orelhas das crianças,
em casas comerciais,
e na frescura das tranças
enfeitadas a metais.
Descubro-te assim presente
na força continental
dos guindastes e navios
e no rumor industrial
dos próprios rios.
Mineiro do meu país,
português da pele de fogo,
alarga os braços e diz,
mostrando os dedos à luz
deste sul de Portugal,
que mais que o peixe e o sal
é o minério a raíz
e a razão fundamental
deste fumo industrial
do teu país.
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