sexta-feira, 26 de julho de 2024

Inocência Lopes, uma barrista de Estremoz na Feira de Artesanato de Vila do Conde

 

Merenda

Preâmbulo
Há já algum tempo que venho acompanhando o trabalho da barrista Inocência Lopes, que no ano transacto viu trabalhos seus serem expostos no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz. Tratou-se da exposição “CURIOSIDADES - Figurado de Estremoz de Inocência Lopes”, que ali esteve patente ao público entre 18 de Maio e 3 de Setembro, conforme noticiei oportunamente, o que pode ser lido aqui e aqui.
Desde 2022 que a barrista tem a sua produção certificada pela ADERE-CERTIFICA, único organismo de certificação acreditado pelo IPAC - Instituto Português de Acreditação. Significa isto que os Bonecos de Estremoz produzidos por Inocência Lopes, estão de acordo com o MANUAL DE CERTIFICAÇÃO “BONECOS DE ESTREMOZ”, publicado pela ADERE-CERTIFICA em 2018. De acordo com aquele manual, os Bonecos de Estremoz de Inocência Lopes, obedecem à TÉCNICA DE PRODUÇÃO e à ESTÉTICA DO BONECO DE ESTREMOZ.
Em 2024 participa entre 20 e 27 de Julho, com stand próprio, na 46ª Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde. Fá-lo na condição de barrista independente, que se inscreveu por sua própria iniciativa e se deslocou pelos seus próprios meios.
Na Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde, Inocência Lopes apresentou duas criações, as quais despertaram a minha atenção e que passo a descrever.

Merenda
Uma Família de camponeses alentejanos merenda ao ar livre, sentados sobre uma garrida manta de listas do Freixo. Todos comem a partir do seu próprio tarro, aquilo que configura ser uma sopa de tomate alentejana. O pai enverga o tradicional traje de pastor. A mãe veste o também tradicional traje de camponesa alentejana, do qual sobressaem as meias de três agulhas, com listas alternadamente de ocre amarelo e ocre castanho, à moda da Serra d’Ossa, bem como um lenço vermelho pintalgado de branco, usado “à mourisca”. Tanto o marido como a mulher usam um chapéu preto, pendurado para o lado das costas. O petiz usa uns vulgares calções à jardineira.
Ao centro e sobre a manta, encontra-se estendida uma toalha de quadrados brancos, ladeados a vermelho. Sobre esta, um chouriço e ao lado deste, uma faca. Em frente destes, um pão e um queijo que já foram cortados. À sua frente, uma cabaça tapada com rolha de cortiça, que é suposto conter azeitonas e mais além um barril de barro, vedado com uma tampa de cortiça e um tarro do mesmo material, destinado a beber a água do barril. Junto ao petiz e à direita, um pião e a guita que o faz rodar, bem como as tampas dos 3 tarros e o taleigo confeccionado com retalhos de tecido e no qual o pastor transporta a “bóia” quando anda a apascentar o gado.

Momento familiar

Momento familiar
Uma Família de camponeses alentejanos, encontram-se dispostos sobre uma garrida manta de listas do Freixo. O pai traja à pastor, encontra-se deitado de lado e atrás de si tem um tarro. Com uma das mãos, acaricia uma das mãos do filhote, o qual sentado, segura na mão o pião com que brinca, tendo a seu lado a guita com que o faz rodopiar.
Ao lado deles, encontra-se a mãe sentada, segurando uma criança de colo, encostada ao peito do qual o amamenta. A mãe veste o também tradicional traje de camponesa alentejana, do qual sobressaem as meias à moda da Serra d’Ossa, um xaile preto que lhe cobre os ombros, bem como um lenço verde, pintalgado de branco, que lhe cobre a cabeça e cai sobre os ombros. Do lado esquerdo da mãe encontra-se um tarro tapado e o chapéu preto do pastor.

Presépio da manta alentejana

Presépio da manta alentejana
Os trabalhos “Merenda” e “Momento Familiar” divulgados agora em Vila do Conde, surgem na sequência da criação do “Presépio da Manta Alentejana”, apresentado na exposição “CURIOSIDADES - Figurado de Estremoz de Inocência Lopes”, realizada em 2023 no Centro Interpretativo do Boneco de Estremoz.
O “Presépio da Manta Alentejana” é uma composição que representa a Natividade em contexto alentejano, com a Sagrada Família deitada sobre uma manta listada do Freixo. A figura central é o Menino Jesus, parcialmente coberto com um pano branco, símbolo da pureza, da inocência, da espiritualidade e da Paz. O Menino está a ser adorado pelos seus pais, qua trajam à maneira alentejana. S. José encontra-se deitado de lado e enverga os tradicionais pelico e safões, tendo a cabeça coberta por um chapéu preto. Junto a si, dois dos seus atributos de pastor: o cajado e o tarro. Nossa Senhora encontra-se deitada de bruços e usa o tradicional traje da ceifeira alentejana. Junto de si, alguns atributos geralmente associados a uma ceifeira: molho de trigo, foice e xaile preto dobrado.

Um tríptico?
As três composições “Presépio da manta alentejana”, “Merenda” e “Momento familiar” revelam em si uma grande unidade temática, para além da unidade subjacente à técnica de produção e à estética do Boneco de Estremoz. De tal modo que me atrevo a pensar que eles constituem um tríptico de composições paradigmáticas que são uma exaltação da Família e um hino á Identidade Cultural Alentejana.
Parabéns, Inocência Lopes.
Bem haja pelas suas criações que nos deleitam o Espírito e aquecem a Alma.

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