Casa do Alcaide-Mor em Estremoz, situada na Rua do Arco de Santarém, junto
da porta medieval denominada Arco ou Porta de Santarém - Fotografia de
Rogério de Carvalho (1915-1988) de finais dos anos 30 do séc. XX.
Ainda a Casa do Alcaide-Mor
Onde a porca torce o rabo
Hernâni Matos
22 de Junho de 2016
(Publicado no jornal E,
de 30 de Junho de 2016)
Onde a porca torce o rabo
A antiga Casa do Alcaide-Mor do Castelo de Estremoz foi vendida em hasta pública no passado dia 14 de Maio. Soube-se agora que o pagamento foi efectuado pelo arrematante, utilizando um cheque “careca”. A venda ficou assim sem efeito e a Câmara Municipal de Estremoz na qualidade de vendedora, continua na posse do imóvel.
Na sequência de tão inverosímil acontecimento, foi posta a circular na Internet uma petição cujos subscritores requerem à Câmara Municipal de Estremoz “A anulação imediata da venda do imóvel em causa.“, assim como “A elaboração e implementação de um projecto de recuperação e reutilização do mesmo de forma a contribuir para a preservação da memória histórica da vila medieval de Estremoz, elevada em 1926 à condição de cidade.“ Até aqui tudo bem e por isto eu seria capaz de subscrever a petição. Contudo, acabei por não o fazer, dado que a mesma no seu preâmbulo se refere à “…incúria da autarquia ao longo das últimas décadas em relação aos imóveis históricos que tem à sua guarda e devidamente classificados como bens patrimoniais, e não soube aproveitar, por inépcia, como outros municípios por este país fora souberam fazer, as oportunidades que estiveram acessíveis.”.
Acontece que usufruo do salutar hábito de pensar, prática que me tem causado alguns dissabores, uma vez que alguns que se consideram bem pensantes, não apreciam muito, já que para nosso mal, consideram gozar do direito exclusivo de ser eles, os bem pensantes. Daí que tenha formulado a inescapável questão: “- Quem é que nos tem governado nas últimas décadas?”. A resposta brotou clara e célere, como água da fonte: “ - 1975-1985 (CDU), 1986-1990 (PS-PSD), 1990-1994 (PS), 1994-2005 (CDU), 2005-2009 (PS), 2009-2016 (MIETZ).” Por outras palavras: todas as forças do arco da governação autárquica local, são responsáveis pelo estado de coisas a que se chegou relativamente ao assunto em epígrafe, já que não tomaram as medidas adequadas que as circunstâncias exigiam.
Curiosamente entre os primeiros subscritores da petição dirigida à Câmara Municipal de Estremoz, figuram nomes de individualidades pertencentes às forças do arco da governação autárquica local. Com tal atitude criticam o passado da força política pela qual terçam argumentos nos pleitos eleitorais. Sou então levado a pensar: “- Têm memória fraca ou em política vale tudo?”. Pessoalmente, integrei durante vários mandatos a Assembleia Municipal em representação da CDU e tanto quanto a minha memória de elefante me permite, não me lembro de em sede própria, as forças do arco da governação autárquica local, se terem debruçado sobre a questão. Como tal e como pessoa de bem, não vou sacudir a água do capote, dizendo que eu próprio não tenho culpa do estado de degradação a que chegou o imóvel. Tenho, como têm todos do arco da governação autárquica local: CDU, PS-PSD, PS e MIETZ. Como a culpa é de todos, não posso desculpabilizar-me da minha quota-parte de culpa, virar a cara para o lado e pôr-me a assobiar como se não fosse nada comigo. Foi o que fizeram alguns dos primeiros subscritores da petição dirigida à Câmara Municipal de Estremoz. Eu não a subscrevi, por não ser pessoa de ter uma perna em Cacilhas e outra no Cais das Colunas, por que me dá jeito assear-me no mar da palha. Todavia, subscrevo algumas das linhas de força do documento que passam pela determinação de manter o imóvel no domínio público, assim como promover a sua recuperação e a sua adaptação a centro interpretativo da vila medieval de Estremoz ou a outra finalidade que tenha a ver com a nossa memória colectiva. Todavia, a vontade cívica não chega. É preciso dinheiro e muito, para isto tudo. Estamos em período de vacas magras e eu pessoalmente não sei, se neste momento é possível extrair leite das tetas da vaca europeia. É aqui que reside o cerne da questão. É aqui que a porca torce o rabo.
Hernâni Matos
22 de Junho de 2016
(Publicado no jornal E,
de 30 de Junho de 2016)
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