Aguadeiro (1959).
Mariano da Conceição (1903-1959).
Colecção particular.
Aguadeiros
Nas
aldeias e vilas, as mulheres iam às fontes encher os cântaros de barro, os
quais transportavam depois à cabeça, equilibrados miraculosamente pela sogra,
que a maioria das vezes não era mais que uma rodilha enrolada em forma de anel.
Nas
cidades, existiam aguadeiros, proprietários de carro com grade para transporte
de cântaros, puxados por muar ou por burro. Igualmente os havia com recursos
mais rudimentares. Havia quem transportasse os cântaros em cangalhas de madeira,
assentes no lombo das bestas. Havia também aqueles que nem besta tinham e
efectuavam o transporte dos cântaros em carros de mão, que eles próprios
empurravam. Os cântaros utilizados eram geralmente em zinco, para não partirem
e, com tampa, para não entornarem. Cada aguadeiro tinha, de resto, a sua
própria rede de clientes certos, que eram abastecidos a partir da fonte que
frequentava.
Em
Estremoz eram os aguadeiros que asseguravam a distribuição domiciliária de
água, o que constituiu prática corrente até à inauguração da rede pública de
abastecimento de água, em 26 de Maio de 1952. Na actualidade, o abastecimento é
assegurado pelo sistema aquífero Estremoz-Cano, com uma área total de 202,1 Km2
e que se alonga segundo uma direcção NW-SE entre a região do Cano e o Alandroal,
sendo constituído, principalmente pelo chamado anticlinal de Estremoz e pela
aplanação do Cano.
Fontes de Estremoz
Embora
delas já não corra água, existem ainda na parte baixa da cidade, as fontes onde
se abasteciam os aguadeiros: - FONTE DAS BICAS, construída em data desconhecida
do séc. XVI e que teve contíguo um tanque de lavagem, que o Município de 1905
transferiu para o Lavadouro Público; - FONTE DO HOSPITAL DE SÃO JOÃO DE DEUS,
mandada construir pela Câmara de 1834, no muro contíguo à ermida de São Brás e
que a edilidade de 1901 ordenou que fosse removida para o local onde
actualmente se encontra; - FONTE DO ESPÍRITO SANTO mandada construir pelo
Senado de 1834 e que chegou a ter chafariz para animais de carga e sela. Nos
anos sessenta do século passado, o chafariz foi sacrificado ao pseudo
progresso, já que foi arrancado a fim de facilitar a circulação automóvel; - A
FONTE DOS CURRAIS, situada na Rua Brito Capelo (antiga Rua dos Currais) e que
foi mandada construir pela Câmara Municipal em 1907; - FONTE DO CONVENTO DE
SANTO ANTÓNIO, subterrânea, situada no exterior e datada de 1702.
A
referência mais antiga que conheço relativa a fontes e à água de Estremoz, é de
1726 e aparece no “Aquilegio Medicinal”, de Francisco de Fonseca Henriques: “Na
Villa de Eftremoz, e no seu termo ha tantas, e tão excelentes agoas, que parece
um retalho da Provincia de Entre Douro, e Minho; porque no rocio da dita villa
há duas fontes, huma a que chamaõ das Bicas, e outra a que chamaõ Fonte Nova,
ambas de agoa admirável e abundantiffima; (…)”. A existência destas fontes é
confirmada nas “Memórias Paroquiais de 1758” , que referem ainda a existência da
chamada Fonte da Gafaria, a pouca distância da ermida de São Lázaro.
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