Aves diversas. Adriaen Van Utrecht (1599-1652). Óleo sobre tela (117 x 166 cm ).
Colecção particular.
À Catarina, minha filha.
Quando a minha filha era
criança, criei o hábito de brincar com ela, fazendo-lhe perguntas, visando
desenvolver a imaginação, a argúcia e o cálculo mental.
A brincadeira
desenvolvia-se sob a forma de diálogo entre nós dois, o qual era interrompido
sempre que ela se atrapalhava com a resposta, o que me levava a repetir
novamente a pergunta. Ela ficava exasperada e se porventura não acertava
na resposta, o que era raro, eu dava-lhe uma dica e voltávamos ao
princípio, repetindo a brincadeira. Ela conseguia já atingir o patamar seguinte
e lá prosseguíamos até nos fartarmos da brincadeira ou serem horas de ir
lanchar.
De início, eu começava
por perguntar:
- Quantas patas tem o pato?
Ela perguntava então:
- Qual pato?
E eu respondia:
- O pato solteiro.
A resposta era:
- Duas patas.
Eu continuava:
- E se for casado?
A resposta era:
- Cinco patas.
Eu prosseguia:
- E se for viúvo?
Ela respondia:
- Duas patas.
E eu insistia:
- E se for uma pata solteira?
Ela lá respondia:
- Três patas.
Eu seguia perguntando:
- E se for uma pata casada?
A resposta era quase
imediata:
- Cinco patas.
Eu insistia:
- E se for uma pata viúva?
Recebia então a resposta:
- Três patas.
Perguntava logo:
- E se for um patinho.
A resposta justificada
era:
- Duas como o pato solteiro, porque não há patinhos casados nem viúvos.
Eu perseverava:
- E se for uma patinha?
E lá vinha a resposta
também fundamentada:
- Três como a pata solteira, porque não há patinhas casadas nem viúvas.
Eu não desarmava:
- E se for um patudo?
Ela aguentava:
- É como o pato. Duas se for solteiro, cinco se for casado e duas se for
viúvo.
Mas eu não desengatilhava:
- E se for uma patuda?
Ela resistia:
- É como a pata. Três se for solteira, cinco se for casada e três se for
viúva.
Chegados aqui a
brincadeira terminava, para dar origem a outra.
Hoje volvidos mais de vinte
anos sobre tais brincadeiras e porventura com saudades desse tempo ou da minha
própria infância, tornei-me um apaixonado pela oralidade da língua portuguesa.
Daí que tenha criado uma lengalenga que dedico gostosamente a todas as crianças
portuguesas e aos pais e aos educadores de infância que os despertam para a vida.
Como não podia deixar de ser, é uma lengalenga sobre patos:
Pé de pato
De pé, pato!
De pé, pato Pépé!
Pato de pé de pato,
de pato pé.
Pato de pé,
de pé de pato.
Pé de pato
de pato Pépé.
de pato Pépé.
Por hoje, chega de patos!
PIM! A estória chegou ao
fim.
Hernâni Matos
Publicado inicialmente a 30 de Março de 2016
Publicado inicialmente a 30 de Março de 2016
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