Desabafo
Jaime da "Manta Branca" (1894-1955)
MOTE
NÃO VEJO SENÃO CANALHA
DE BANQUETE P'RA BANQUETE
QUEM PRODUZ E QUEM TRABALHA
COME AÇORDAS SEM AZÊTE.
I
Ainda o que mais me admira
E penso vezes a miúdo (1)
Dizem que o Sol nasce p'ra tudo
Mas eu digo que é mentira.
Se o pobrezinho conspira
O burguês com ele ralha
Até diz que o põe à calha (2)
Nem à porta o pode ver.
A não trabalhar e só comer
NÃO VEJO SENÃO CANALHA.
Ainda o que mais me admira
E penso vezes a miúdo (1)
Dizem que o Sol nasce p'ra tudo
Mas eu digo que é mentira.
Se o pobrezinho conspira
O burguês com ele ralha
Até diz que o põe à calha (2)
Nem à porta o pode ver.
A não trabalhar e só comer
NÃO VEJO SENÃO CANALHA.
II
Quem passa a vida arrastado,
Por se ver alegre um dia,
Logo diz a burguesia
Que é muito mal governado,
Que é um grande relaxado,
Que anda só no bote e dête (3)
Antes que o pobrezinho respeite
Tratam-no sempre ao desdém.
E vê-se andar quem muito tem
DE BANQUETE P'RA BANQUETE.
Quem passa a vida arrastado,
Por se ver alegre um dia,
Logo diz a burguesia
Que é muito mal governado,
Que é um grande relaxado,
Que anda só no bote e dête (3)
Antes que o pobrezinho respeite
Tratam-no sempre ao desdém.
E vê-se andar quem muito tem
DE BANQUETE P'RA BANQUETE.
III
É um viver tão diferente!
Só o rico tem valor
E o pobre trabalhador
Vai morrendo lentamente.
A fraqueza o põe doente
E a miséria o atrapalha
Leva no peito a medalha
Que ganhou à chuva e ao vento.
E morre à falta de alimento
QUEM PRODUZ E QUEM TRABALHA.
É um viver tão diferente!
Só o rico tem valor
E o pobre trabalhador
Vai morrendo lentamente.
A fraqueza o põe doente
E a miséria o atrapalha
Leva no peito a medalha
Que ganhou à chuva e ao vento.
E morre à falta de alimento
QUEM PRODUZ E QUEM TRABALHA.
IV
Feliz de quem é patrão
E pobre de quem é criado,
Que até dão por mal empregado
O poucochinho que lhe dão.
Quem semeia e colhe o pão,
Não tem bem onde se deite,
Só tem quem o assujeite (4)
Para que toda a vida chore.
E em paga do seu suor
COME AÇORDAS SEM AZÊTE.
Feliz de quem é patrão
E pobre de quem é criado,
Que até dão por mal empregado
O poucochinho que lhe dão.
Quem semeia e colhe o pão,
Não tem bem onde se deite,
Só tem quem o assujeite (4)
Para que toda a vida chore.
E em paga do seu suor
COME AÇORDAS SEM AZÊTE.
Jaime da "Manta Branca" (1894-1955)
ANOTAÇÕES:
(1) A miúdo - Amiúde.
(2) À calha-Na rua.
(3) No bote e dête - Nos copos.
(4) Assujeite - Subjugue.
(2) À calha-Na rua.
(3) No bote e dête - Nos copos.
(4) Assujeite - Subjugue.
Poema
dito de improviso na herdade da Defesa, quando o proprietário Eduardo Magalhães
convidou o Poeta, assalariado agrícola alentejano, para animar um banquete em
que participavam altas individualidades.
Quero mais! São lindos, singelos e autênticos. Obrigada.
ResponderEliminarConceição:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
No meu blogue DO TEMPO DA OUTRA SENHORA, todos os dias vou introduzindo um poema, em
http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.pt/p/poesia-portuguesa.html
Os meus cumprimentos.
Excelente e, infelizmente, muito actual
ResponderEliminarArmando:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Tem razão. Há poesia que é intemporal.
Os meus cumprimentos.
Tanto ouvi os meus país falarem do ti Jaime da manta branca, lamentável que só depois da sua morte se tenha feito juz ao grande poeta que ele era, sem nunca ter frequentado uma escola a sua inteligência era mais do que muita, nasceu na década errada ... Grande homem que primava pelo dom que Deus lhe deu, natural da Vila do Cano .Paz á sua alma !
ResponderEliminarGuida:
EliminarObrigado pelo seu comentário.
Os meus cumprimentos.
Natural de Benavila, Avis, embora tenha feito quase toda a sua vida na vila do Cano.
EliminarMuito obrigado pela chamada de atenção.
EliminarNão era natural da vila do Cano, mas sim de Benavila, Avis. Viveu, trabalhou, fez poesia e morreu na vila do Cano... isso sim.
ResponderEliminarMuito obrigado pela correção.
EliminarCumprimentos.