Epitáfio
Políbio Gomes dos Santos (1911-1939)
Menino, bem menino, fiz o meu balão.
Papel de seda às cores…
– Tantas eram!
Ai, nunca mais as vi, nos olhos se perderam.
Quando a tarde morria o meu balão subiu
E tão direito ia, tão veloz correu
Que eu disse: «Vai tombar a lua
E talvez queime o céu.»
Anoiteceu.
E no horizonte o meu balão era uma rosa
Vermelha, não minha, aflitiva,
Murchando,
Poisando sobre água pantanosa
De além.
Papel de seda às cores…
– Tantas eram!
Ai, nunca mais as vi, nos olhos se perderam.
Quando a tarde morria o meu balão subiu
E tão direito ia, tão veloz correu
Que eu disse: «Vai tombar a lua
E talvez queime o céu.»
Anoiteceu.
E no horizonte o meu balão era uma rosa
Vermelha, não minha, aflitiva,
Murchando,
Poisando sobre água pantanosa
De além.
Ninguém o viu.
Ninguém colheu a angústia dum balão ardendo.
Somente a água verde rebrilhou acesa,
Clamorosa e podre,
Como nos incêndios de Veneza.
E rãs, acreditando o mal mortal e seu,
Foram fugindo, pela noite fria,
Do balão que ardeu.
Ó tu, quem sejas, o balão fui eu!
Políbio Gomes dos Santos (1911-1939)
#Poesia Portuguesa - 195
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