Roberto Carreiras (1930-2017)
Arquivo
Fotográfico Municipal de Estremoz / BMETZ –
- Colecção Joaquim Vermelho.
Faleceu no passado dia 8 de Janeiro, Roberto Carreiras, um dos últimos intérpretes da Arte Pastoril concelhia. Estremoz está de luto e com a cidade, a Cultura Popular Alentejana, da qual foi um legítimo representante.
Quem
foi Roberto Carreiras
Roberto Francisco Pereira Carreiras (1930-2017),
filho de José Joaquim Carreiras e de Francisca Bárbara, era natural da
freguesia de Veiros, concelho de Estremoz, em cuja Quinta do Leão, nasceu a 25
de Janeiro de 1930.
Na vila de Veiros frequentou a Escola Primária e
concluiu a 3ª classe. Porém, as dificuldades económicas da família, forçaram-no
a abandonar a escola e a tornar-se vaqueiro naquela quinta. Ali trabalhou, até
que a falta de saúde o obrigou a reformar-se.
À semelhança de outros artistas populares
iniciou-se na Arte Pastoril como forma de ocupar o tempo enquanto guardava a
manada. Os materiais usados começaram por ser a madeira, a cortiça, a cabaça, a
cana, o buinho e o chifre. Estes eram trabalhados usando técnicas como a
escultura ou o baixo-relevo. Todavia, viria a utilizar outros materiais como o
arame, o xisto ou o mármore, nos quais expressava toda a sua imaginação
criadora. De resto, era muito diversificada a temática das suas criações:
brinquedos, antigas profissões, história, religião, touradas, etc.
Como criador começou a trabalhar ao ar livre no
decurso da sua actividade como vaqueiro. Após se ter reformado, passou a
trabalhar numa garagem cedida graciosamente pela Junta de Freguesia de Veiros,
que o reconhecia não só como artista popular, como motivo de orgulho para a
freguesia em que nascera e vivera.
Roberto Carreiras participou desde 1983 nas Feiras
de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz, bem como nas exposições
de presépios promovidas anualmente pelo Museu Municipal. Aí esteve também
patente ao público, entre Agosto e Novembro de 2006, a sua exposição
“Artesanato de Roberto Carreiras”, integrada no conjunto de eventos que visavam
assinalar os 80 anos de elevação de Estremoz à categoria de cidade. Em Maio de
2008, trabalhou ao vivo no mesmo local, participando na actividade “VIRVER
MUSEUS”.
Roberto Carreiras e a esposa Rosa Mariana Machado,
com quem casou em 1965, concederam-me há muito tempo, o privilégio da sua
amizade, pelo que era sempre um prazer falar com eles no decurso das Feiras em
Estremoz, no que era igualmente correspondido.
Num momento que é de luto para toda a Família, não
posso deixar de formular aqui e com intenso pesar, as minhas sentidas
condolências pela partida do seu ente querido.
A
preservação da Memória
Roberto Carreiras partiu, mas deixou-nos um legado
que urge preservar para memória futura. Creio que a Junta de Freguesia de
Veiros tem motivação e meios para musealizar o seu espólio e decerto não
deixará de o fazer. Pessoalmente, orgulho-me de as minhas colecções de Arte
Pastoril integrarem especímenes afeiçoados pelas suas mãos, que comandadas pela
sua alma de visionário, nunca se renderam à rudeza do uso do cajado e do mester
de vaqueiro. Foram mãos hábeis que aliadas a um espírito sensível, conseguiram
filigranar e esculpir os materiais com mestria. Para que conste na nossa
memória colectiva, aqui fica o registo do meu testemunho, o qual finalizo,
proclamando:
- ROBERTO CARREIRAS, PRESENTE!
Aproveito ainda para aqui sugerir à Junta de
Freguesia de Veiros que numa próxima atribuição de topónimos a ruas da Vila,
seja contemplada a proposta: RUA ROBERTO CARREIRAS (Artista Popular).
Requiem
pela Arte Pastoril
Em 1983, decorreu em Estremoz, entre 15 e 17 de
Julho, A I Feira de Arte Popular e Artesanato do Concelho de Estremoz.
Tratou-se de uma excelente feira, concretizada apenas com “prata da casa”.
Identificados de uma forma mais ou menos evidente com a Arte Pastoril,
encontravam-se ali 10 participantes: António Joaquim Amaral, Jacinto Lagarto
Oliveira, Joaquim Carriço (Rolo), Joaquim Manuel Velhinho, José Carrilho
(Troncho), José Francisco Chagas, José Joaquim Vinagre, Manuel do Carmo Casaca,
Roberto Carreiras, Teresa Serol Gomes.
Desde então, nunca ninguém com responsabilidades no
cartório, equacionou um Plano de Salvaguarda da Arte Pastoril, ainda que
circunstancialmente possa vir a chorar lágrimas de crocodilo.
Após o passamento de Roberto Carreiras, restam José
Joaquim Vinagre e Joaquim Carriço (Rolo), do segundo dos quais está prevista
uma exposição no Museu Municipal. A partir daí, fica em aberto a celebração de
um Requiem pela Arte Pastoril.
Aqui fica o aviso de alguém que não se cala e que
nunca se rende. É a crónica anunciada de mais uma tragédia cultural que se avizinha.
Publicado pela 1º vez em 8 de Fevereiro de 2017
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