O aguadeiro de Ricardo Fonseca (2016) é um conjunto
constituído por uma figura antropomórfica masculina (o aguadeiro) e uma figura
zoomórfica (o burro).
Representa um aguadeiro da cidade, trajando ao
jeito de meados do séc. XX, que nas mãos segura as rédeas para a condução da
cavalgadura, representadas por fio castanho-claro. Na cabeça, dois pontos
negros interpretam os olhos, encimados por dois traços castanhos de espessura
diferente, que figuram as pestanas e as sobrancelhas. No nariz em relevo, estão
caracterizadas as narinas. Na boca, os lábios avermelhados igualmente em
relevo. O cabelo é castanho-escuro, penteado em relação ao observador, com
risca do lado direito e melena que aponta para o lado esquerdo, com patilhas
laterais e apresenta também volumetria, tal como as orelhas que estão a
descoberto. Em cada uma das faces é visível uma roseta alaranjada. Na cabeça,
um chapéu aguadeiro negro e sem fita. A figura enverga calças em relevo, de cor
castanha e camisa de manga comprida, com colarinho e punhos, de fundo creme,
axadrezada a preto e a castanho, com abertura frontal, sem quaisquer botões
visíveis. Por cima da camisa, um colete igualmente em relevo, cinzento atrás e
azul à frente, ostentando aqui dois bolsos de relógio apresentados por riscos
incisos e uma abotoadura revelada por um alinhamento vertical de cinco
cavidades circulares. Os botins são pretos.
Atrás do homem encontra-se um burro de cor
acastanhada e cascos castanhos-escuros e em relevo, que estando a marchar para
o lado direito do observador, apresenta a cauda negra e comprida, com linhas
incisas, viradas para o mesmo lado. O pescoço do animal ostenta crina negra com
linhas incisas. Na cabeça, são visíveis duas orelhas, dois olhos pintados, um sulco
que aparenta a boca e duas cavidades circulares, num tom de cor diferente, fazendo
as vezes de narinas. A cabeça e o focinho da cavalgadura estão cingidos por uma
cabeçada em relevo, de cor castanho-escuro. Da cabeçada parte lateralmente fio
castanho-claro, simbolizando as rédeas para a condução do jumento, que o homem
agarra com qualquer das mãos. No cachaço do animal está assente uma manta em
relevo e com riscas em vários tons de castanho. A ela está sobreposto um molim,
também em relevo e listado em castanho, azul, amarelo e verde. O molim
apresenta sete borlas esféricas, cor de zarcão. O asno está atrelado a uma
carro de tracção animal, com dois varais e duas rodas de seis raios, imitando
madeira pintada de vermelho. A orla exterior das rodas está pintada de
cinzento-escuro, a simular aros de ferro. O estrado do carro é baixo e
encontra-se dividido em doze receptáculos de forma quadrada, para transporte de
igual número de cântaros de barro, com tampa igualmente de barro e que terminam
por uma saliência de forma semiesférica, visando facilitar o seu manuseamento.
O conjunto assenta numa base rectangular de cor
verde bandeira, pintada lateralmente a castanho avermelhado.
À semelhança do que já tinha afirmado relativamente
ao aguadeiro de Jorge da Conceição (2014), estamos novamente em presença de uma
figura de manufactura mais difícil e morosa que o aguadeiro do núcleo base do
figurado de Estremoz. Ricardo Fonseca é perfeccionista, o que o leva a
dedicar-se aos pormenores, não só na manufactura das figuras, como na sua
pintura. Catapulta assim o figurado de Estremoz a um patamar mais elevado, que
aqui se assinala e elogia, já que ocorreu aqui uma nova mudança de paradigma.
Hernâni Matos
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