terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Janeiro e o Tempo Novo

Os primeiros passos (c. 1880).
Egisto Sarri (1837-1901).
Óleo sobre tela (55 x 66 cm).
Colecção privada.

Janeiro é o primeiro mês do ano no actual calendário, dito gregoriano. O nome provém do latim “Ianuarius”, décimo-primeiro mês do calendário de Numa Pompilius (753 a.C. - 673 a.C.), dedicado a Janus, deus romano das mudanças e transições, associado a entrada e saída de portas, cuja face dupla também simboliza o passado e o futuro. Janus é assim o deus dos inícios, das decisões e escolhas.
Efemérides de Janeiro
As efemérides de Janeiro incluem acontecimentos que foram marcos importantes na luta do povo português contra a opressão salazarista e na defesa das liberdades, os quais aqui salientamos.
A 3 DE JANEIRO DE 1960 teve lugar a célebre fuga do Forte de Peniche, protagonizada por Álvaro Cunhal, Carlos Costa, Francisco Martins Rodrigues, Francisco Miguel, Guilherme Carvalho, Jaime Serra, Joaquim Gomes, José Carlos, Pedro Soares e Rogério de Carvalho, heróicos resistentes que se recusaram a responder quando torturados pela PIDE. Como diz Manuel Alegre, na “Trova do Vento que passa”: “Mesmo na noite mais triste / em tempo de servidão / há sempre alguém que resiste / há sempre alguém que diz não.”.
A 17 DE JANEIRO DE 1937 ocorreu em Sacavém, a famosa “greve dos rapazes”, em que os aprendizes da Fábrica de Loiça acabaram por ser detidos pela G. N. R., seguindo-se uma vigília das suas mães e esposas, bem como uma feroz repressão por parte da PIDE.
A 18 DE JANEIRO DE 1934 eclodiu uma insurreição armada na Marinha Grande, suscitada pelo proletariado vidreiro. Tratou-se de uma jornada de luta contra a fascização dos sindicatos, pela defesa da livre organização dos trabalhadores, contra a ofensiva patronal e do Estado salazarista contra os salários, o horário de trabalho de 8 horas, contra a repressão e em defesa das liberdades cívicas e políticas, contra a privação de todas as liberdades, perseguições, prisões, torturas, assassinatos, intensificação da exploração, desemprego e miséria. Durante algumas horas, a vila esteve ocupada pelos revolucionários, até que foi cercada por forças militares e, na madrugada de 19, as posições ocupadas pelos trabalhadores foram tomadas e a rebelião derrotada. Seguiram-se prisões em massa, interrogatórios acompanhados de tortura, arremedos de julgamentos, deportações para as colónias. O campo de concentração do Tarrafal foi criado para acolher presos do 18 de Janeiro. Na primeira leva de 152 presos que o foram inaugurar, 37 tinham participado no 18 de Janeiro.
As eleições primárias das esquerdas
Com as eleições legislativas de 4 de Outubro de 2015, ocorreu em Portugal uma mudança de paradigma, que consistiu no entendimento político entre as esquerdas. Em cumprimento dos preceitos constitucionais, o Presidente da República indigitou António Costa como Primeiro-Ministro do XXI Governo Constitucional, o qual tomou posse e viu o seu Programa aprovado no Parlamento. Entrámos assim num novo ciclo e com ele estamos a viver um tempo novo em Portugal, o que exige um Presidente independente e imparcial. As eleições presidenciais do próximo dia 24 de Janeiro vão ser como que eleições primárias das esquerdas, que tudo leva a crer serão favoráveis a Sampaio da Nóvoa. Será então este que na sequência de uma segunda volta, levará o tempo novo para Belém. Aí será a pessoa certa para promover os entendimentos e compromissos que se esperam de um Presidente da República.

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