Versos
do trinco da porta
António
Sardinha (1887-1925)
Versos
do trinco da porta,
-
Louvado seja o Senhor!
A
casa é Deus quem ma guarda,
Ninguém
a guarda melhor!
Batem
os pobres à porta,
-
Batem com ar de humildade.
"Eu
sei que é pouco irmãozinho!
É
pouco, mas de vontade!"
Quem
é que a porta abriria,
Com
modos de atrevimento?
São
coisas da criadagem!
Não
foi ninguém, - é o vento!
Mexem
no trinco da porta.
-
"Levante, faça favor!"
A
entrada nunca se nega
Seja
a visita quem for!
Não
vês a porta batendo?
Que
aragem essa que corta!
Em
toda a volta do dia,
Não
pára o trinco da porta!
Trinco
da porta caindo
Sobre
a partida de alguém...
Oh,
quantos vão e não voltam?!
São
os que a morte lá tem!
António
Sardinha (1887-1925)
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