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sábado, 25 de fevereiro de 2023

Chávena e pires enfeitados



Chávema e pires enfeitados (2023). Modelação de Carlos Alves e pintura de
Cristina Malaquias.

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A chávena e o pires enfeitados [i] aqui apresentados foram modelados pelo barrista Carlos Alves e decorados por Cristina Malaquias, mediante sugestão minha. Trata-se de uma recriação de um conjunto homólogo de finais do séc. XIX, pertencente à colecção do pintor Armando Alves (1935- ), que foi aluno de Mestre Mariano da Conceição (1903-1959) e que adquiriu em 2011 o grosso da colecção Pinto Tavares, já que o sobrante, constituído por brinquedos de louça de Estremoz, uns pintados e outros não, foi por mim adquirido em 2012.
O Tenente-coronel Pinto Tavares cedeu a título de empréstimo de dias, exemplares da sua colecção para servirem de modelo na revitalização da manufactura de bonecos de Estremoz empreendida com êxito em 1935, pelo escultor José Maria de Sá Lemos (1892-1971), director da Escola Industrial António Augusto Gonçalves e mais tarde vereador do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Estremoz.
José Maria de Sá Lemos atribuíra a si próprio a missão de recuperação da antiga tradição de manufactura dos Bonecos de Estremoz, considerada extinta com a morte da barrista Gertrudes Rosa Marques (1840-1921).
Ana das Peles (1869-1945), velha bonequeira, foi o instrumento primordial dessa recuperação e Mestre Mariano da Conceição (O Alfacinha) foi o instrumento de continuidade dessa mesma recuperação.
A revitalização empreendida por Sá Lemos incidiu também na olaria enfeitada, para a qual foi determinante a valiosa e indispensável participação de Mestre Mariano da Conceição, que produziu esbeltos e coloridos exemplares que integram o acervo do Museu Rural de Estremoz, o que inclui pucarinhos, cantarinhas, candelabros, castiçais e palmatórias.
A chávena e o pires enfeitados, bem como os brinquedos de louça de Estremoz e outros que a seu tempo divulgarei, não foram objecto da recuperação impulsionada por Sá Lemos naquela época.
Daí a importância de que se reveste a recriação de Carlos Alves e Cristina Malaquias, que foi objecto do presente escrito. É um pontapé de saída no retomar da sua produção, para que não fique cativa das malhas do tempo e por direito próprio se apresente à luz do dia para usufruto e deleite do nosso espírito.

BIBLIOGRAFIA

Hernâni Matos



[i] A olaria enfeitada engloba exemplares oláricos de barro vermelho de Estremoz, enfeitados com motivos geralmente fitomórficos e geométricos, apostos por pintura ou por colagem com barbotina de elementos modelados com barro.

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