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quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Temporada Tauromáquica de 1886 (Junho a Agosto)

 

Temporada Tauromáquica de 1886

(Meses de Junho a Agosto)

Luís Brito da Luz

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A corrida de touros no Campo de Sant'Anna que estava anunciada para dia 30 pelas nove e meia da noite foi adiada para dia 6 de Junho às quatro e meia da tarde em virtude do mau tempo que se fez na capital. Quinze touros anunciados para dia trinta que passaram a ser treze para o dia seis pertencentes ao Comendador Jacinto Freire para o cavaleiro Alfredo Tinoco e para os bandarilheiros Robertos, Peixinho, Minuto, Calabaça, etc. Anunciado também estava o espanhol Vicente Mendes, El Pescadero A praça estava com a mesma ornamentação e decoração que serviu na corrida de dia vinte e sete promovida pelo Turf-Club.

Para o dia de Santo António estava anunciada uma corrida na Barquinha às cinco da tarde de inauguração da época com o destro cavaleiro J. M. Casimiro Monteiro, os bandarilheiros José e Rafael Peixinho, Augusto Monteiro, José Santos, entre outros e o valente grupo de oito homens de forcados de Riachos e Golegã fizeram as pegas que lhe determinou o director de corrida. Como complemento da corrida actuava ao intervalo da pipa, Pae Paulino e sua trupe. O curro de doze touros, dez puros e dois para lide a cavalo, conhecidos pela sua bravura sendo um deles conhecido pelo touro assassino, pertencente ao afamado lavrador, Comen­ dador Jacinto Freire, não se ficava atrás daquele enviado para a última tarde da praça do Campo de Sant'Anna (dia seis de Junho) que tanto entusiasmo causou aos amadores e costumeiros daquele recinto. A distinta filarmónica Riachense abri­ lhantou a tarde.

Também neste dia 13 se realizou em Vila Franca de Xira a corrida inaugural da época naquela vila com o destemido cavaleiro José Bento de Araújo. No geral, a corrida agradou, os touros do Comendador J. Freire saíram belos e bonitos, merecendo por isso ser chamado o lavrador à praça assim como o empresário.  Dos artistas, tirando José Bento e Calabaça, todos os outros estiveram mal muito a descontento do público. A companhia de caminhos-de-ferro portugueses como de costume estabeleceu comboios especiais com bilhetes de ida e volta a preços muito reduzidos.

Dia 20 pelas cinco da tarde teve lugar a festa tauromáquica de Alfredo Tinoco na praça do Campo de Sant'Anna. Corrida de treze touros pertencentes a Emílio Infante, dos quais dois foram bem picados a ferros curtos por Tinoco. Tomaram parte os notáveis espadas espanhóis Joseilo (sic), El Pescadero e o bandarilheiro Minuto. Casa quase cheia com a tarde a desejar pela irregularidade dos touros e infelicidade dos capinhas.

No dia de S. João inaugurou-se a época na praça de touros do Campo de São Paulo, em Almada, com uma corrida com doze touros do Comendador Jacinto da Costa Freire em que trabalharam António M. Monteiro, José Joaquim Peixinho, João dos Santos, Calabaça, Filipe Aragon, El Minuto, Sancho, entre outros. Os vapores do sr. Burnay asseguraram o transporte para a margem sul.

Primeira tourada da época em Santarém, também no dia de São João, com a praça literalmente cheia, uma das melhores do ano. Curro de touros esplendido, muito igual e bravíssimo do ganadeiro Conde de Sobral. O cavaleiro J. M. Casimiro Monteiro , montado no seu cavalo russo, no terceiro touro que lhe coube para cavalo, um terrível animal que recarregava , mostrou o artista de merecimento que era, enfeitando-o com oito ferros compridos e alguns curtos, em diferentes sortes. Vicente e João Roberto depois de terem brilhado bastante foram colhidos, não podendo voltar à arena.

Os quatro touros que o criador Palha Blanco mandou à inauguração da praça de D. Benito, província de Badajoz saíram bravíssimos com as melhores condições para a lide, matando quinze cavalos e proporcionando ao criador uma enorme ovação daquele público tão exigente que não eram pródigo em aplausos.

A corrida de 27 de Junho pelas cinco da tarde no Campo de Sant'Anna foi a corrida do benefício de Rafael Peixinho e de João do Rio Sancho. O gado em número de treze, todos valentes e na maioria puros, era do afamado lavrador José Rodrigues Vaz Monteiro. O cavaleiro Alfredo Tinoco esteve em uma das suas melhores tardes. Lidou bem todos os três touros, com arrojo e sangre torero, no último que lidou , um animal de respeito, valente de corpo com muita vontade ao cavalo apenas com a condição de ser mestre no ofício, enfeitou o animal com ferros bem colocados. O distinto amador D. António de Portugal picou outro não tendo tido uma actuação. Rafael Peixinho e Sancho estiveram muito bem distinguindo-se o primeiro no salto da garrocha vara) e o segundo nas suas belas navarras. José Peixinho e Minuto, os dois lidando o segundo touro, estiveram admiráveis colocando o primeiro , bons ferros de palmo. Calabaça também meteu bons pares de ferros. Os capinhas José Costa e João Roberto andaram discretamente. Boa casa.

No dia de São Pedro, em Torres Novas, os cavaleiros Alfredo Marreca, Fiuza Guião e N. Infante da Camara lidaram touros pertencentes à firma agrícola Viúva Sirgado & Filhos. Actuaram os bandarilheiros irmãos Robertos , J. Roberto, A. Gonçalves e El Minuto. Compareceram também um grupo de moços de forcado. Os moços de curro Augusto e Alfredo Dias Sirgado, Luiz Vellez, J. Mogo de Mello e Miguel Saldanha faziam parte do cartaz. Estiveram presentes ainda os moços de gaiola J. D. Azevedo e A. F. e F. Gameiro do portão do cavaleiro.

No mesmo dia 29 em Vila Franca de Xira teve lugar uma corrida de doze touros pertencentes ao ganadeiro Comendador Paulino da Cunha e Silva. Anunciava o cartaz do espectáculo que o cavaleiro era José Bento de Araújo, os bandarilheiros J. da Cruz Calabaça, J. do Rio Sancho, J. Laureano, A. Salau, José dos Santos, Vicente Mendes, El Pescadero.

Ainda neste dia, em Alcácer do Sal, realizou-se uma esplêndida tourada assis­ tindo as primeiras famílias da localidade e muitas das povoações próximas a um valentíssimo curro de touros do sr. José Maria dos Santos.

Dia 2 de Julho, pelas cinco da tarde, por ocasião das festas do Espírito Santo, na praça de touros de Tomar correu-se um curro de doze touros do Comendador Jacinto da Costa Freire. Tomou parte na corrida o cavaleiro José Casimiro Monteiro. Alfredo de Saldanha Marreca também estava anunciado não podendo tourear devido a uma entorse no dedo polegar da mão direita. Os Bandarilheiros que estiveram presentes foram José Joaquim Peixinho, João da Cruz Calabaça, João do Rio Sancho, Rafael Peixinho e José dos Santos. Também um valente grupo de homens de forcado à escolha do amador Joaquim Vaz marcou presença no evento. A embolação teve lugar às nove horas e era grátis para quem tivesse bilhete para a corrida. O espectáculo agradou bastante aos amadores sendo a primeira parte magnífica com dois touros de grande bravura cabendo um deles a Peixinho que o lidou muito bem. Nesta ocasião foi chamado o lavrador à praça tendo sido muito vito­ riado. Houve duas valentes pegas de cernelha. Peixinho foi colhido por um touro ao fazer a sorte de gaiola não ficando maltratado , enquanto José dos Santos também foi levado por um touro de encontro à segunda trincheira, quando saltava da primeira para aquela, tendo ficado bastante magoado. Entre as quatro e as cinco da tarde abateu uma grande trovoada sobre a cidade alagando a praça, obrigando a começar a corrida pelas seis da tarde. Abrilhantaram alternadamente a corrida, onde o público saiu satisfeito, as bandas filarmónicas Nabantina e Tomarense.

  Dia 4 também pelas cinco da tarde teve lugar na praça de touros do Campo de Sant'Anna o benefício do estimado bandarilheiro , rapaz de agradável trato muito simpático, José Joaquim Peixinho. A praça estava cheia que grande número de espectadores teve que se acomodar na trincheira falsa. O gado foi muito irregular prejudicando a actuação do afamado bandarilheiro. Coube-lhe o quarto touro, juntamente com El Minuto, o sétimo e o décimo primeiro, este a sós. No primeiro , ambos diligenciaram bom trabalho, embora de pequenas proporções uma vez que o touro foi de qualidade. No primeiro a sós, o sétimo da corrida não conseguiu evidenciar o seu arrojo e recursos artísticos conseguindo compensar os espectadores no segundo que lhe coube, o décimo primeiro da corrida, onde esteve esplên­ dido realizando primeiro o salto da garrocha na perfeição, depois, três quiebros na cadeira que lhe proporcionaram grande ovação, seguindo-se o trabalho das bandarilhas onde esteve perfeito finalizando a lide do touro com o trabalho da muleta onde esteve notavelmente a progredir. José Bento lidou três touros, apenas o primeiro da corrida de modo superior, um animal valente e franco na investida que o cavaleiro soube aproveitar. O nono e o décimo segundo touro foram de qualidade. Roberto da Fonseca distinguiu-se com alguns pares de bandarilhas no segundo touro, também no trabalho de muleta em que foi correcto. Pena não ter recebido a sua educação artística nas praças de Espanha e se conservado por , tal como Peixinho fez com as bandarilhas , poderia ter sido considerado um dos grandes espadas. Dos restantes artistas todos tentaram agradar.

Duas recomendações importantes e engraçadas advieram desta corrida. A primeira para não serem económicos com os ferros, para não suceder aos bandarilheiros apontarem com força os mesmos e estes entortarem. Muitos, nesta altura da época foram aproveitados das primeiras tardes os quais fizeram a sua entrada quatro, cinco e mais vezes nos cachaços dos touros, tendo alguns deles vindo da época anterior. A segunda prendia-se com o facto de recomendar somente três capas ao invés de quatro ou cinco ao mesmo tempo.

No dia 8, corrida nocturna no Campo de Sant'Anna organizada pelo sr. Guerra com treze touros do Comendador Paulino da Cunha e Silva. Foi cavaleiro Alfredo Tinoco da Silva a que se juntou os melhores bandarilheiros portugueses e os espanhóis Pescadero e Minuto. Uma brilhante iluminação, foi experimentada no dia quatro, com um magnífico resultado. Os touros, no geral, saíram bravos e de boa estampa, um ou outro saiu mais fraco. Alfredo Tinoco distinguiu-se no primeiro e décimo primeiro touro, sendo o primeiro magnifico. Minuto no sétimo touro bandarilhou muito bem. Pescadero , Peixinho e Roberto da Fonseca estiveram bem estando os restantes como puderam.

A 11, pelas cinco da tarde, também no Campo de Sant'Anna, intercalada na serie de benefícios, decorreu a corrida extraordinária também organizada pelo sr. Guerra, com treze touros, todos raiados, do lavrador Carlos Augusto Marques, alguns deles muito valentes e bons para a lide, outros em más condições. Reaparição do insigne cavaleiro Manuel Mourisca, que tinha acabado de comprar dois excelentes cavalos, sendo um comprado ao sr. Emílio Infante e o outro, o célebre Arabi, vencedor do prémio , dois anos antes, na Exposição da Tapada e considerado por muitos como o melhor cavalo português à altura, comprado em Estremoz ao sr. Reinold (Reynolds). Ao entrar na arena manifestou o público satisfação por ver o primeiro cavaleiro português, que trabalhou durante a tarde como um primor como não se via muito tempo. No primeiro touro um animal fraco aproveitado por ele habilmente fazendo o público uma chamada ao cavaleiro dispensando-lhe uma prolongada salva de palmas. O segundo que lhe coube, o quinto da tarde, renovou a demostração dos seus belos recursos artísticos tendo recebido nova salva de palmas por parte do público. No oitavo touro, o primeiro da segunda parte, animal de recarga, de muito e valentíssimo pode então brilhar de um modo extraordinário, aliando à sua arte de saber como se deve entrar numa sorte, o arrojo. No décimo primeiro manteve a mesma perícia confirmando o belíssimo trabalho anteriormente feito. Os espadas Joaquim Sanz Punteret e Valladolid , dois diestros muito festeja­ dos nas praças de Espanha e América , que pela primeira vez vinham a Lisboa, estiveram bem, muitíssimo melhor o primeiro. Punteret revelou-se um belo artista a bandarilhar. Belos quiebros na cadeira e fora de ela. Na muleta muito que não se via nada assim em correção e elegância. No quarto toiro a sorte de morte foi magnificamente simulada. Valladolid igualmente simpático entusiasmou o público, querendo realizar um quiebro en la silla acabou por fazer uma esplêndida pega de caras como recurso fazendo delirar o público.  Seguidamente , fez dois câmbios bem-feitos e andou regularmente no trabalho da muleta. Para além destes, também Pescador e Minuto, assim como os portugueses  Peixinho, Calabaça, Sancho, J. Roberto, Rafael, entre outros, marcaram presença na arena. Pescadero, Peixinho e Calabaça estiveram bem e Minuto foi muito aplaudido principalmente quando trabalhou com Punteret. Uma das touradas mais interessantes da época, com uma direcção regular, que apesar das avultadas despesas manteve o preço dos bilhetes. No mesmo dia estava anunciada uma corrida de touros em Santarém, em benefício do hospital de Jesus Cristo.

Dia 18 também pelas cinco da tarde teve lugar na praça de touros do Campo de Sant'Anna o benefício do novel e simpático bandarilheiro João Roberto, filho de um grande toureiro que um desastre roubou prematuramente as glórias da arena, e sobrinho dos eminentes artistas irmãos Robertos , que em missão paternal e de protecção lhe promoveram a sua primeira festa artística em que também tomaram parte. Os treze touros dos próprios irmãos revelaram-se muito bravos e de bela estampa agradando de sobremaneira ao público. O cavaleiro Alfredo Tinoco exe­ cutou magníficas sortes de gaiola brilhando em todos os touros que lhe couberam. Alguns não gostavam das sortes de garupa por serem em tempos idos consideradas um recurso e não um propósito , a maioria pensava que a arte não era estacionária, para além disso era um dos meios de aproveitar um touro que carregasse somente pela garupa como era o caso destes animais corridos. E, por último a principal razão foi que o público gostou e, contentá-lo , era tudo. Quanto ao beneficiado, ainda muito novo na lide, foi auxiliado com eficácia pelos tios quando lidou a sós o sétimo touro, conseguindo brilhar. Os tios, juntamente com Peixinho, Minuto e Calabaça estiveram muito bem. Roberto da Fonseca passou de muleta dois touros com agrado do público. José da Costa apanhou uma ovação como o público costumava fazer aos primeiros artistas. Roberto da Fonseca teve a condescendência de lhe ceder a sorte de gaiola no nono touro, executada com brilhantismo. Também todas as bandarilhas colocadas no mesmo touro foram bem colocadas e com luzimento. Casa cheia com direcção regular e grande satisfação do público. João Roberto da Fonseca agradeceu no Diário Ilustrado, a cinco de Agosto, ao amigo e empresário António da Costa Guerra, aos tios, á imprensa periódica, aos cavalheiros que o honraram com seus brindes, aos colegas, à distinta filarmónica Alunos de Minerva, aos seus amigos que o auxiliaram na passagem dos bilhetes e a todos que o estimaram e protegeram.

Dia 25 realizou-se em Lisboa, no Campo de Sant'Anna, pelas cinco horas, a festa artística de Filipe Aragon, El Minuto. O curro de treze touros, reservado desde o ano anterior, era pertença do comendador Jacinto da Costa Freire que na época passada forneceu o curro para o mesmo benefício. Este lavrador não era criador, comprava os animais a diversos lavradores e não podia garantir a qualidade dos touros. Umas vezes apresentava curros razoáveis, outras, como nesta corrida, um curro que não prestou para nada, à excepção de dois que se ajeitaram um pouco à lide. O cavaleiro Alfredo Tinoco, por obséquio ao beneficiado toureou valentemente o oitavo touro da tarde, trajando elegantemente à espanhola, montado no seu russo claro ajaezado, um touro velhaco de sentido que investia traiçoeiramente , um dos dois razoáveis da tarde. Ainda apareceu no décimo touro que pertencia a Minuto a sós, e que para agradável surpresa do público foi lidado pelos dois a , tendo sido ovacionado. No que tocou a Minuto, lidou em conjunto com Calabaça, o quarto da tarde colocando belos pares de bandarilhas, tal como no que lidou com Tinoco. Foi muito ovacionado recebendo uma infinidade de brindes. O cavaleiro José Bento de Araújo trabalhou bem em todos os touros muito embora tenha brilhado no décimo primeiro , um touro valente, difícil de lidar por ser matreiro, o melhor da tarde. Não valeu a pena mencionar o restante trabalho, pois todos fizeram o que puderam e nem mais podiam fazer, incluindo Pescadero.

No mesmo dia na vila de Estremoz, pelas cinco da tarde, na praça de touros de Santa Catarina estava anunciada uma tourada á antiga portuguesa , inauguração da época por ocasião da grande feira anual de São Tiago com dez touros puros, oriundos das vacas do falecido lavrador José Ferreira Roquette , pertencentes ao lavrador de Salvaterra, João António Fernandes. O cavaleiro escolhido foi José Maria Casimiro Monteiro o qual lidou um touro em hastes limpas e ferros curtos. Também um notável artista ginasta á porta da gaiola e de pés para o ar colocaria um par de bandarilhas no touro e daria o salto de garrocha. Os afamados e diabólicos Pinauds-Toureiros executariam um intervalo, com o touro que lhes coube, os seus surpreendentes trabalhos e o grupo dos moços de forcado era de Santarém, Riachos e Golegã. Havia um touro para os destemidos curiosos.

Entre 26 e 30 teve lugar na Vargem da Ordem, Alcácer do Sal uma esplendida tourada a que assistiram algumas famílias da vila. Os touros tinham apenas dois anos e os lidadores eram apenas curiosos ficando alguns com pequenas arranhadelas causadas pelas quedas e roçadelas pelo tojo. À noite, bailarico em casa do sr. Núncio que durou até altas horas da madrugada.

Entrando em Agosto, logo no dia 1, tivemos pelas cinco da tarde no Campo de Sant'Anna o benefício de José Bento de Araújo com treze touros do lavrador de Coruche D.M.D. Laranja , gado em geral fraco e pequeno de corpo, alguns deles prestando-se á lide. O cavaleiro foi o beneficiado , muito aplaudido com justiça , principalmente no sétimo touro que lidou com arrojo e arte. Acompanhando-o esta­ vam anunciados cinco cavaleiros amadores D. António de Portugal, Alfredo Mar­ reca ausente por motivos de doença, Joaquim Fiuza Guião, Fernando de Oliveira e D. António Siqueira (S. Martinho) que toureava pela primeira vez em Lisboa. O primeiro da tarde coube a D. António que não pode brilhar pois o animal não prestou. Fiuza Guião foi de uma coragem inexcedível, Fernando de Oliveira aproveitou quanto possível o touro que lhe coube. Finalmente , D. António  Siqueira teve a sorte de lhe calhar um touro que lhe permitiu brilhar depois de um outro, o oitavo em que não pode sequer meter um ferro, porque este apesar de muito citado se recusou sempre. Quanto aos bandarilheiros brilharam Roberto da Fonseca no segundo da tarde com muleta, Peixinho num belo quiebro, Calabaça que esteve como se fosse novo e Minuto. De Pescadero, anunciado que estava, não houve notícias. Luiz do Rego a pedido do público e do beneficiado lidou um touro que não saiu bom, mas que aproveitou bem conseguindo brilhar. Abundaram os trapinhos na praça retirando-se o público, que encheu a praça, satisfeito, apesar de a corrida não ter sido boa. Os bilhetes para a corrida estavam à venda na rua da Betesga 67 e em Alcântara na mercearia do sr. Perdigão.

    Partiram de Lisboa no dia 3 de Agosto, para a Herdade da Barraca, em Vila Franca de Xira, propriedade do ganadeiro José Palha Blanco muitos cavalheiros da nossa primeira sociedade que iriam ali assistir a uma ferra de novilhos.

    Dia 8, nocturna no Campo de Sant'Anna com treze touros, no geral bons, dos herdeiros do Conde d 'Atalaia com o espada Joaquim Sanz Punteret como figura principal. O cavaleiro Alfredo Tinoco esteve muito bem em todos os touros que lhe couberam e formidável no oitavo. Punteret, o herói da noite, manteve os seus créditos de grande artista mostrando-se sublime com a muleta no quinto e décimo touros, arrebatando o público com as bandarilhas no sétimo que lidou a sós, executando dois belos quiebros, e com a muleta, terminando com a sorte de morte. Pescadero, Roberto, Peixinho e Calabaça tiveram o aplauso numa casa que esteve cheia.

   Para este mesmo dia 8, em Santarém, estava anunciada uma corrida de touros promovida por Augusto Calhamar Pinto e Silva com o concurso dos melhores bandarilheiros portugueses.

Entretanto, na praça de touros em Belém, decorriam touradas burlescas aos domingos, segundas, quintas e sábados.

   Entre 14 e 18 de Agosto decorreram em Coruche as festas de Nossa Senhora do Castelo. Nas duas primeiras tardes de touros estavam anunciados os irmãos Robertos, havendo uma terceira corrida para curiosos, para o que estava contratado um valente grupo de forcados.

   Dia 15 decorreu no Campo de Sant'Anna uma corrida de touros à antiga portuguesa, com neto azemola e forcados, em beneficio do cavaleiro António Maria Monteiro com touros do Conde de Magalhães, que pela primeira vez apareceram nesta praça. A pedido de uma comissão o comendador Carlos Marques cede o touro que na corrida noctuma derrubou o cavaleiro António Maria Monteiro, dando-se quinze libras ao cavaleiro de profissão ou amador que o quiser picar. A única notícia conhecida foi de que se viu muita coisa, mas foi como se não se tivesse visto nada para não se ser desagradável.

No mesmo dia, nas Caldas da Rainha, brilhante corrida nocturna com iluminação eléctrica, com treze touros pertencentes a Faustino da Gama para o cavaleiro J. M. Casimiro Monteiro, bandarilheiros Peixinhos e F. Luiz bem como dois toureiros espanhóis e um grupo de moços de forcado de Riachos.

   Dia 22 em Vila Franca de Xira corrida de doze touros, pertencentes ao lavrador António Ferreira Roquette, para os cavaleiros Joaquim Fiuza Guião, Fernando de Oliveira, Matheus Falcão Júnior e José Bento de Araújo que se apresentou vestido à espanhola, bandarilheiros Leandro Rodrigues, Ricardo da Silva, Pedro Godinho, Silvestre Calabaça, Joaquim Rodrigues Pirralha coadjuvados pelos artistas El Minuto, João Roberto, João Laureano e José dos Santos. Oito valentes rapazes de Vila Franca de Xira abrilhantaram a corrida dirigida por um distinto amador.

   Em Lisboa no Campo de Sant'Anna, no mesmo dia pelas quatro horas e quarenta e cinco minutos, estava anunciada a festa artística do cavaleiro Manuel Mourisca Júnior, com treze  touros comprados pelo beneficiado  ao lavrador Emílio Infante da Câmara para os cavaleiros amadores D. José Manuel de Meneses e D. Nuno Infante da Câmara. O próprio beneficiado iria bandarilhar a cavalo um touro expressamente escolhido para este brilhante trabalho. Actuavam os principais bandarilheiros portugueses e o espanhol Vicente Mendes, El Pescadero. Previa-se a assistência de Suas Altezas o Príncipe Real e a Princesa D. Amélia ao espectáculo. Dias de verdadeira festa foram 27 e 28 em Alcácer do Sal com muita gente de Setúbal, Torrão, Palma e Grândola a afluir a esta vila para assistir ás duas corridas de touros que aqui se deram. Na primeira, com touros de José Maria dos Santos, boas estampas, corpulentos, bem armados e de muito , lidados pelo cavaleiro José Bento de Araújo e bandarilhados por Sancho, João Roberto, Monteiro e José da Costa. José Bento teve as honras da tarde pela maneira brilhante com que lidou o sexto, farpeando-o tanto com ferros compridos como com quatro pares de bandarilhas, muito ovacionado, chamado por fim á praça e vitoriado. Sancho esteve bem com a capa e a muleta enquanto todos os restantes artistas fizeram o que puderam. José Bento e Roberto partiram nessa noite para Lisboa por terem outros compromissos. Na segunda corrida os touros pertencentes a António Campos Valdez eram menos corpulentos, mas muito bravos. Tomaram parte como cavaleiros e amadores, para cortesias José Correia e para a lide António Lince Serra, sendo os bandarilheiros Sancho, Monteiro e José Petiz. As honras foram para Sancho que no sétimo da tarde meteu dois pares de ferros a quarteio com toda a mestria, passando de seguida á muleta simulando a sorte de mete e saca. Monteiro e Petiz lidaram com vontade sendo muito aplaudidos. As pegas foram boas. Abrilhantou as duas corridas a filarmónica Alcacerense. Ao intervalo teve lugar um peditório para um pobre da vila. As corridas estiveram cheias desde as famílias mais importantes da terra e seus convidados até às gentes do Campo que adornaram a praça com o matizar das suas toilettes. A direcção das duas corridas foi confiada ao inteligente amador João Alves Branco que as dirigiu com acerto.

Anunciou-se uma corrida em Torres Novas no dia 29 de Agosto com doze touros, dos quais seis malhados, pertença de Paulino da Cunha e Silva. José Bento de Araújo foi o cavaleiro escolhido para tourear um touro a ferros curtos e a bandarilhar foram escolhidos os irmãos Robertos, J. Roberto, A. Gonçalves e El Minuto que se destinava a lidar um touro a ferros de palmo. Anunciado estava também um grupo de homens de forcado dos Riachos, Lapas e Santarém. A corrida compunha dois intervalos onde um combate entre três leões e um touro, apresentados pelo arrojado domador africano Pae Paulino pontificava.

No Cartaxo também se anunciou para este dia uma corrida de touros pertencentes aos lavradores Conde de Sobral e Emílio Infante da Camara com o cavaleiro António Maria Monteiro, o distinto toureiro espanhol El Pescadero, alguns dos nossos mais hábeis bandarilheiros e Salau.

Dia 30 em Almada deu-se uma corrida, que todos os anos costumava dar-se por ocasião da chegada dos sete cyrios, com um curro de touros pertencente a Costa Freire os quais foram lidados pelo cavaleiro Bento de Araújo, onde também trabalharam os melhores bandarilheiros portugueses. O telegrama recebido pelo jornal dava conta que o gado foi regular, o trabalho foi bom, assim como as pegas e a direcção péssima.

 

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