Liberdade da Conceição (1913-1990).
Colecção particular.
Figurado de Estremoz – 2
Simbologia do berço das
pombinhas
O berço das pombinhas é revelador da modificação
introduzida pelos nossos barristas ao contexto do nascimento de Jesus. Nele, a
manjedoura de Belém transfigurou-se em berço com espaldar à maneira das camas
senhoriais, já que para os cristãos, Jesus Cristo é Rei e Senhor do Universo. O
berço é decorado com recurso ao azul do Ultramar e ao ocre amarelo. Trata-se de
cores garridas associadas às claridades do Sul e que são utilizadas no embelezamento
das habitações populares desta terra transtagana.
Na simbologia judaico-cristã, a pomba é um símbolo
de pureza e de simplicidade, bem como daquilo que de imorredouro existe no
Homem, o princípio vital, a Alma. As quatro pombas brancas poderão ser uma
representação alegórica dos quatro evangelistas (Mateus, Marcos, Lucas e João)
que narraram a vida e a doutrina de Jesus Cristo como um Evangelho, visando
preservar os seus ensinamentos ou revelar aspectos da natureza de Deus.
O simbolismo
do galo está associado aos cultos solares da antiguidade, nos quais o Sol era venerado
como divindade. De acordo com a tradição do culto mitraísta, o galo cantou no
momento do nascimento de Mitra, o deus do Sol, da sabedoria e da
guerra na Mitologia Persa. O mito viria a ser recuperado pela
religião cristã, estando na origem da Missa do Galo, celebrada na passagem do
dia 24 para o 25 de Dezembro, assinalando o nascimento de Jesus. Não há
confirmação histórica de que Jesus tenha nascido na data em que se comemorava o
nascimento de Mitra. Todavia, ela foi adoptada pelo cristianismo, visando
fundir os dois cultos, uma vez que o culto a Mitra estava enraizado entre os
romanos. A data corresponde também no Hemisfério Norte ao início do Solstício
de Inverno, no qual os mitraístas celebravam o seu culto. O cristianismo adoptou o galo como símbolo do arauto anunciador de boas
novas, uma vez que o nascimento de Jesus correspondia ao despontar de uma nova
luz para o mundo. De acordo com a lenda, a única vez que o galo cantou foi à
meia-noite, anunciando o nascimento de Jesus.
De acordo com a Mitologia Popular Portuguesa: - O
galo quando canta diz: “Jesus é Cristo”; - O canto do galo à meia-noite faz
dispersar a assembleia do Diabo e das Bruxas; - É mau agouro um galo cantar
antes da meia-noite. Lá diz o provérbio: “Galo que fora de horas canta / Cutelo
na garganta”; - O galo preto espanta as coisas ruins; - De acordo com o
adagiário português “Galo branco não dá manhã certa”.
A figura do Menino Jesus está deitada sobre o seu
lado direito. O braço esquerdo apoia-se no peito. Trata-se possivelmente de uma
alegoria ao “Sagrado Coração de Jesus”. Recorde-se que no antigo Egipto, a mão
colocada sobre o peito, indicava a atitude do sábio, que no caso de Jesus é Sabedoria
Divina. Já a mão direita no pescoço assinalava a posição do sacrifício, aqui
uma possível alegoria ao sacrifício de Jesus na cruz.
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