Museu Rural de Estremoz.
A “Fuga para o Egipto” é um evento
relatado no Evangelho de São Mateus (Mateus 2:13-25), no qual após a
Adoração dos Magos, José foge para o Egipto com Maria sua esposa e seu filho
recém-nascido Jesus, após ter sido avisado por um Anjo do Senhor, do massacre
de crianças com menos de dois anos, que ia ser perpetrado por ordem de Herodes
I, o Grande, receoso que a criança que os Magos proclamavam como novo rei, lhe
tomasse o trono e o poder.
Tradição católica
A intensa devoção dos católicos por Maria, levou-os
a atribuir-lhe inúmeros títulos, entre os quais Nossa Senhora do Desterro,
visto que após a fuga para o Egipto, aí permaneceu desterrada durante 4 anos.
Nossa Senhora do Desterro é Padroeira dos
refugiados e dos emigrantes e é venerada na Igreja do mesmo nome, na Póvoa de
Varzim, onde no 1º domingo de Junho se celebra a sua festa litúrgica. Nela
sobressaem os tapetes de flores que ornamentam as ruas envolventes à Igreja,
assim como uma grandiosa procissão bastante participada pela comunidade
piscatória, muito devota da Santa. Na procissão figura uma alegoria à “Fuga
para o Egipto”, na qual uma figurante trajando à época e com uma criança ao
colo, monta uma burrinha que é conduzida por outro figurante, desempenhando o
papel de São José.
Também em Lamego na Igreja de Nossa Senhora do
Desterro, existe igual veneração. Dela nos fala o cancioneiro popular da Beira
Alta: “Dizeis que não tenho mãe, / Eu tenho-a em Lamego; / Dizei-me quem ella
é? / A Senhora do Desterro.”
Em Braga, na Quarta-Feira Santa tem lugar o
tradicional cortejo bíblico “Vós sereis o meu povo”, popularmente conhecido
como “Procissão da Burrinha”. Trata-se de uma procissão nocturna que apresenta
a pré-história do Mistério Pascal de Jesus, que a Igreja celebra nos dias
seguintes. No decurso dela são apresentados em sucessão cronológica e em
verdadeira catequese, 22 quadros da vida de Jesus. Num deles é recriada a fuga
para o Egipto de São José e Nossa Senhora, com a imagem da Virgem com o Menino
Jesus ao colo, transportada numa burrinha e conduzida por um figurante, fazendo
de São José. A procissão, organizada desde 1998 pela Paróquia e pela Junta de
Freguesia de São Victor, integra mais de 1000 figurantes com trajes bíblicos,
assim como bandas filarmónicas e grupos corais. É uma referência incontornável
da Semana Santa de Braga e a ela assistem vulgarmente mais de 60 mil pessoas,
ao longo dos 3 km
de percurso.
Arte cristã
Desde a Idade Média que a “Fuga para o
Egipto” constitui um tema recorrente na arte cristã, frequentemente
explorado pelos artistas plásticos, que representam Nossa Senhora com o Menino
Jesus ao colo, montada numa burrinha e acompanhada por São José, que segue a
pé.
A nível da pintura há inúmeras iluminuras dos
códices de pergaminho medievais, bem como pinturas sobre os suportes mais
diversos (tela, madeira, mármore, vidro, cobre, prata, fresco, etc.). No âmbito
da escultura em pedra, a evocação bíblica figura em pias baptismais, túmulos,
fachadas, capiteis, edículas, frisos de arquitraves, etc. A ela há a
acrescentar ainda a escultura em madeira e barro policromados, bem como painéis
de azulejos, vitrais, desenhos e gravuras (em madeira ou a água-forte).
Publicado inicialmente em 6 de Janeiro de 2016
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