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quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Gabriela

 
Sónia Braga em “Gabriela, Cravo e Canela”, a primeira telenovela transmitida em Portugal.


A Telenovela “Gabriela” agitou e influenciou a sociedade portuguesa. Agora que se aproxima do fim, foi-me pedido  por um órgão de imprensa local, um comentário sobre a mesma. Aqui fica o seu registo:

Não vi esta “Gabriela”, já que usufruo dum razoável mecanismo de auto-defesa em relação à colonização cultural dos macrocéfalos e gigantescos “Mídia” brasileiros, entre outros.
A gestão do meu tempo lúdico não passa por aí. Para mim, a lusofonia passa por não nos deixarmos colonizar. A meu ver, a lusofonia deve passar também pela afirmação da portugalidade e da nossa identidade cultural nacional, num espaço multicultural de partilha, onde os mais poderosos não se possam servir dos mais fracos, vendendo a mercadoria que têm para vender em cada momento. Para tal criam necessidades de consumo, recorrendo a um marketing condicionador, violento e fascista. Depois argumentam que é o mercado e a gente sabe bem, por experiência de corpo e alma, àquilo a que o mercado nos conduz.
Para além disto, não posso deixar de referir a telenovela “Gabriela, Cravo e Canela”, a primeira telenovela começada a transmitir em Portugal, nos longínquos anos 77, quando no rescaldo do 25 de Novembro, os portugueses se procuravam adaptar à liberdade consentida pela tropa vencedora do confronto, bem como pelos respectivos mentores da sociedade civil.
A primeira telenovela brasileira em Portugal foi um fascínio e o país parava à hora da sua transmissão, não só encantado pelo enredo de Jorge Amado, mas sobretudo pela sensualidade de Sónia Braga, que nos enchia as medidas.
36 anos depois não consigo ver as telenovelas brasileiras da mesma maneira. Se o fizesse seria míope e isso não sou. Sou um defensor intransigente da produção nacional, em detrimento dos enlatados que nos disponibilizam em nome da lusofonia.

10 comentários:

  1. Caro Hernâni,

    Subscrevo integralmente o sentido do texto. Também não vi esta nem outras telenovelas. Acompanhei, sim, a primeira. Destes enlatados, já (me) "cansei" há muito.
    E a "colonização cultural" é uma enguia muito perigosa... e injusta... e nada cultural!

    Abraço e bom fim de semana,
    JD Martins

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    1. Amigo Martins:
      Obrigado pelo seu comentário.
      Um bom fim de semana também.
      Um abraço.

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  2. Também não segui esta Gabriela. Como não sigo, por norma, telenovelas. Porque aquele interesse que desperta na generalidade das pessoas em mim não acontece. A primeira sim vi. E comparando com o único episódio que vi da segunda para satisfazer curiosidade e me permitir ter opinião, pareceu-me ser água do vinho com claro apontamento positivo para a primeira versão e seus personagens. Porque na segunda até tem um Zarolha que não o é. Não me inclino muito para o Brasil, com excepção da música que ali é criada. Gostava de ter aquele calor todos os dias? Gostava. Mas nem só de calor vive o Homem...

    Júlia

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    1. Júlia:
      Obrigado pelo seu comentário.
      Sabe uma coisa? Para mim é importante sentir-me em sintonia com a minha identidade cultural. E sobretudo sentir que não me querem colonizar culturalmente, nem apagar a minha memória colectiva.

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  3. Pese embora o meu ponto de vista se não afastar muito (talvez quási nada) do seu relativamente àquilo a que chama "colonização cultural dos macrocéfalos e gigantescos "mídia" brasileiros e outros", eu vi os episódios desta "Gabrila" quase todos. Não gosto de ver novelas da TV e há muito que não via uma. Assim, sem fundamentalismos, que é como gosto de estar na vida, pelo menos tento, dispuz-me a ver esta e não me arrependi, por várias razões, a saber: a estória é das boas, o elenco é dos bons, as interpretações são muito boas, os defeitos da sociedade são bem caricaturados, satirizados e postos a ridículo, de modo diferente mas ainda mais eficazmente que da outra vez (acho), e tem muitas mulheres bonitas, o que sempre sempre faz bem "às vistas". Lá que fazem render o peixe, isso fazem e bem me chateiam com isso. Mas até lhes perdoo, porque o nº de episódios foi reduzido e o Jorge Amado não é um Jorge qualquer. E ... colonizar-me culturalmente e não só, no sentido a que está a referir-se, procuro não deixar, embora tenha como certo que todos somos, inevitavelmente, um tanto colonizados por todos. Até é a matriz do povo português. E do brasileiro também. Mário Tavares

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    1. Mário:
      Obrigado pelo seu comentário e pela sua opinião que aqui registo e respeito.

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  4. Antonio Barbosa Topadomingo, 20 janeiro, 2013

    Subscrevo a sua analise. Por acaso nunca vi, porque estava na "estranja", onde estive exilado, mas ouvi falar muito. Julgo, mas nao posso afirmar, que devem ter "papado" todo o "sumo" do livro de Jorge Amado. Dizem até que os deputados ou os governantes nao estavam nos seus postos, quando passava a telenovela. Para além de faltarem ao seu dever, fizeram prova de grande parolice!
    Antonio Barbosa Topa

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  5. António:
    Obrigado pelo seu comentário.
    Corre de facto essa versão em relação a deputados...

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  6. Colonização não seria só feita então pelas telenovelas brasileiras, que hoje em dia até são muito menos (em proporção) do que havia na altura. Também podemos falar assim de todas as sérias e filmes estrangeiros que passam na televisão.

    Neste momento a nível de novelas penso que existe um bom equilibrio entre portuguesas e brasileiras, e estão inclusivé a passar 2 séries portuguesas no Canal 1, uma delas muito interessante "E Depois do Adeus".

    Acho que a nossa atenção de deve prender sim, em programas portugueses com menos qualidade em que se desaprende em vez de aprender, como é o caso d'"A Casa dos Segredos" da TVI!

    Carla Ramos

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    1. Carla:
      Obrigado pelo seu comentário.
      De facto, há programas portugueses que são uma autêntica tristeza.

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