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quarta-feira, 4 de junho de 2025

Rogério Ribeiro, homenageado no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira

 

Rogério Ribeiro (1930-2008).



Inauguração da exposição
No passado dia 31 de Maio, teve lugar no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira, a inauguração da exposição “Fazer crescer a Vida - Rogério Ribeiro e o Neo-Realismo”.
Com notável curadoria de David Santos, Director Científico do Museu, a exposição ocupa os pisos 1 e 2, mostrando cerca de duzentas e cinquenta obras de pintura, desenho, gravura e cerâmica de Rogério Ribeiro.
O conjunto exposto está distribuído e estruturado em seis grandes tópicos aglutinadores: 1 – MAR E SARGAÇO; 2 – TERRA E CAMPESINATO; 3 – OPERARIADO E OUTROS TRABALHOS; 4 – FAMÍLIA E QUOTIDIANO; 5 – CORPO E ROSTO; 6 - ECOS DO REALISMO.
A exposição tem entrada livre e pode ser visitada até ao próximo dia 4 de Outubro.

Palavras do Presidente da Câmara
No livro que funciona como catálogo da exposição, o Presidente da Câmara Municipal, Fernando Paulo Ferreira, começa por declarar: “É com enorme satisfação que a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira acolhe, no Museu do Neo-Realismo, a exposição “Fazer crescer a Vida - Rogério Ribeiro e o Neo-Realismo”, dedicada à fase neo-realista do pintor Rogério Ribeiro, uma das maiores figuras do realismo social no nosso país.” E no final: “Convido assim todos os munícipes e visitantes a descobrirem nesta exposição uma poderosa expressão da história, das lutas e dos sonhos do nosso povo durante o difícil período da ditadura do Estado Novo.”

Palavras do Curador
Igualmente no livro que funciona como catálogo da exposição, diz o Curador e Director Científico do Museu do Neo-Realismo, David Santos: “Rogério Ribeiro legou-nos um exercício artístico indissociável das formas narrativas e simbólicas do neo-realismo, reinterpretando nas suas fases mais tardias muitos dos elementos temáticos, ideológicos e contemplativos desse realismo original. O que o norteou ao longo desse percurso foi, afinal, um compromisso assente na vida e no seu valor supremo, o humanismo, desocultando a sua expressão social e política em interacção sensível com a manifestação dessa criatividade que associamos desde sempre à prática do desenho e da pintura. E o resultado desse desígnio mantém-se ainda hoje na força do testemunho, no assombro do real que as cores e as formas da arte alcançam quando nos lembram o rosto de um povo.”

A exposição em livro
Da exposição foi editado um portentoso livro de 300 páginas, ilustrado a cores, no qual figura o catálogo com as imagens e descrições de todas as obras expostas.
O catálogo é antecedido de importantes textos sobre a vida e obra de Rogério Ribeiro, bem como a sua colaboração com o Museu do Neo-Realismo. São eles: - Lembrar Rogério Ribeiro. Uma homenagem em forma de exposição (Fernando Paulo Ferreira); - História e arte em memória de Rogério Ribeiro (David Santos); - Fazer crescer a vida no assombro do real / Rogério Ribeiro e o neo-realismo (David Santos); - Rogério Ribeiro / as metamorfoses do neo-realismo (José Luís Porfírio); - Rogério Ribeiro e o Museu do Neo-Realismo (António Mota Redol); - Sobre o meu pai (1947-1953) (Ana Isabel Ribeiro); - As pinturas e os desenhos nas cartas (Ana Isabel Ribeiro).
Ao catálogo segue-se a Biografia de Rogério Ribeiro (Ana Isabel Ribeiro). O livro termina com uma minuciosa ficha técnica de todos os envolvidos na exposição.

Rogério Ribeiro e Estremoz
Rogério Ribeiro (1930-2008) é natural de Estremoz, onde nasceu em 1930 e aqui vive a sua primeira infância. Os pais fixam-se em Lisboa em 1940, mas ao longo da sua vida, mantém laços estreitos com Estremoz, não só através de familiares aqui residentes, como de amigos como Aníbal Falcato Alves, Jacinto Varela, Armando Carmelo, Francisco Falcato, Joaquim Vermelho e outros. Nos anos 80 do séc. XX chega a utilizar como atelier, o edifício da antiga cadeia, cedido pelo Município.
Tive o privilégio de o entrevistar em 1981 para o jornal Brados do Alentejo. Aí se falou de neo-realismo. Num enquadramento da exposição que o homenageia no Museu do Neo-Realismo, está patente um painel que destaca um excerto dessa entrevista.
Rogério Ribeiro foi co-autor do projecto da Galeria de Desenho do Museu Municipal de Estremoz, com Armando Alves, Joaquim Vermelho, José Aurélio e outros, concretizado em 1983, tendo dado um valioso contributo para a recolha de obras de arte por doação de artistas plásticos, as quais integram actualmente as valiosas reservas do Museu Municipal de Estremoz – Professor Joaquim Vermelho.
Estremoz foi palco de três exposições do pintor: - “ROGÉRIO RIBEIRO” / PINTURA, DESENHO E ILUSTRAÇÃO (1981), na Biblioteca Municipal de Estremoz; – “ROGÉRIO RIBEIRO / “MUDAM-SE OS TEMPOS, FICAM AS VONTADES” (2005), no Museu Municipal de Estremoz – Professor Joaquim Vermelho. – “EVOCAÇÃO E MEMÓRIA. PINTURA E DESENHO DE ROGÉRIO RIBEIRO” (2013), na Galeria Municipal D. Dinis, em Estremoz.
Em 2006, o Município de Estremoz, presidido por José Aberto Fateixa, outorgou ao artista plástico e a título póstumo, a Medalha de Mérito Municipal - Grau Ouro.
Em 2013, o Município de Estremoz, presidido por Luís Mourinha, perpetuou o nome do pintor na toponímia local, passando a partir daí a existir o topónimo “Rua Mestre Rogério Ribeiro”.
A exposição agora inaugurada no Museu do Neo-Realismo integra duas obras cedidas para o efeito pelo Museu Municipal de Estremoz e pertencentes ao seu acervo. São elas: - Estudo, 1952. Aguarela sobre papel, 30 x 43 cm; - Mondadeiras, 1952. Tinta-da-China e guache sobre papel, 35 x 45 cm.
De Estremoz, presentes ao acto inaugural e por iniciativa própria, estive eu e duas pessoas que me acompanharam. Seria de esperar que alguém com capacidade e poder de representação da comunidade estremocense, estivesse presente no acto inaugural da exposição do Museu do Neo-Realismo, já que esta visava homenagear Rogério Ribeiro, um dos maiores protagonistas do neo-realismo visual português e simultaneamente filho ilustre de Estremoz, a quem a comunidade muito deve. Todavia, tal não aconteceu. Aqui fica o registo.

Publicado no jornal E de 5 de Junho de 2025

Mulheres do sargaço (fragmento), 1953. Óleo sobre tela, 66,8 x 101,8 cm.
Assinado e datado. Colecção Herdeiros de Rogério Ribeiro.

Debulhadora (fragmento), 1954. Óleo sobre tela, 98,5 x 124 cm.
Assinado e datado. Colecção particular.

Sem título, sem data. Tinta-da-china e guache sobre papel, 49,9 x 34,8 cm. 
Colecção Herdeiros de Rogério Ribeiro.

Família, 1951. Óleo sobre cartão, 70 x 89,5 cm. Assinado e datado.
Colecção Museu Calouste Gulbenkian.

Sem título,1960. Grafite, guache e aguada sobre papel, 28,7 x 19,7 cm.
Assinado e datado. Colecção Herdeiros de Rogério Ribeiro.

Sem título, sem data. Grafite, aguada, tinta-da-china sobre papel.
42,9 x 31,2 cm. Colecção Herdeiros de Rogério Ribeiro.

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