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domingo, 20 de março de 2022

É tão linda a Primavera…


Prato covo, de grandes dimensões, de aba larga, ligeiramente côncava. Decoração
esgrafitada a ocre castanho e pintada com base em tricromia verde-amarelo-ocre castanho,
sobre fundo amarelo palha. Olaria e decorador desconhecidos. 1ª metade do séc. XX.

Sábado é dia de Mercado
Sábado é o dia em que Estremoz mostra que é uma grande cidade, maior que todas as outras do país. Sábado é o dia em que Estremoz desperta para receber os forasteiros de braços abertos, para depois os apertar num demorado e fraternal abraço. Sábado é o dia em que Estremoz mostra que é maior que si própria. Sábado é o dia em que um movimento desusado faz convergir os forasteiros para a sala de visitas do Rossio. Sábado é para os nativos, a pressa de se levantar da cama e confluir também para o Rossio. É que o Rossio alberga o Mercado de Sábado, um farol que ilumina a cidade, um íman que nos magnetiza a todos, que acelera os nossos corações e torna mais rápidos os nossos passos, para podermos comprar o que por ali há de melhor e nas melhores condições.
Sábado é um balão de oxigénio na economia citadina, que alcança nesse dia uma outra dimensão.

O sábado mantem-nos vivos
Há pessoas que como eu, não saberiam viver sem o sábado. É como se o sábado nos mantivesse vivos. No meu caso, recolector enérgico de testemunhos identitários de tempos idos, quase que não durmo na véspera do grande dia. Sou como um caçador que vai à caça. Por ali deambulo pé ante pé, à coca de memórias materiais que me povoam a mente e aquecem a alma. Vou de manhã cedo e por ali fico a pé firme, até a barriga dar horas. Eu e os vendedores somos duas faces da mesma moeda, que se conhecem e respeitam nos negócios. Por ali tenho amizades, algumas das quais perduram há quase quarenta anos. Mas também surge quem não me conheça e seja tentado a meter o pé na argola, pedindo preços que não têm pés nem cabeça, que me fazem ficar de pé atrás e aos quais tenho que bater o pé. Nos negócios não se pode meter os pés pelas mãos e eu que não gosto de meter o pé em ramo verde, procuro também não perder o pé, dispondo-me a pagar determinados preços do pé para a mão. E é sempre assim.

Um prenúncio de Primavera
Este sábado, dia 19 de Março de 1922, esteve um dia agradável e luminoso, que nos compensou dos dias precedentes, nos quais poeiras vindas do norte de África nos ensombraram os dias. Foi um bom prenúncio da Primavera que de acordo com o calendário começa a 20 de Março e no decurso da qual brotam e florescem plantas. É tão linda a Primavera…e volta sempre! De acordo com o cancioneiro popular: “Primavera, linda flor, / Como ela não há iguais: / Primavera volta sempre, / Mocidade não vem mais!”

Um prato que é um jardim
O prenúncio de Primavera seria enfatizado pela caça a um prato antigo de louça de Redondo, o qual eu sabia que ia por ali aparecer, embora não soubesse bem o que era, mas que passou por três mãos, antes de chegar às minhas. Todavia, eu que sou cão pisteiro, com faro apurado para testemunhos identitários de tempos idos, dali não arredei pé, até dar com ele e ser eu o fim da cadeia de uma sucessão de compras e vendas no espaço de poucos minutos. Fui mais além do que previa, sem todavia perder o pé.
Trata-se de um prato covo, de grandes dimensões, de aba larga, ligeiramente côncava. Decoração esgrafitada a ocre castanho e pintada com base em tricromia verde-amarelo-ocre castanho, sobre fundo amarelo palha.
A aba encontra-se decorada com sucessivos pedúnculos num total de nove, com geometria sinusoidal achatada, ladeados de folhas verdes e que culminam em botões a ocre castanho, orientados no sentido anti-horário.
O fundo está ornamentado com um cachepot amarelo com asas verde e castanho, o qual alberga três pedúnculos encurvados, ladeados de folhas verdes e encimados por flores de corola castanho ocre, pétalas amarelas e sépalas verdes. No cachepot, a palavra "AMOR", esgrafitada a ocre castanho na direcção vertical e o topo das letras dirigido para Leste. 
O covo do prato acha-se enfeitado por sucessivos pedúnculos num total de cinco, com geometria sinusoidal achatada, ladeados de folhas verdes e que culminam em flores de corola castanho ocre, pétalas amarelas e sépalas verdes, orientados no sentido anti-horário.
Diga-me lá o leitor, se o prato é ou não é um jardim?
É tão linda a Primavera…

4 comentários:

  1. Boa noite caríssimo
    Hoje é o responsável por eu ir para a cama mais tarde.
    Vim ao seu blogue para colher uma informação sobre marcas da Olaria Alfacinha e entusiasmei-me a ler os seus textos sobre os barros de Redondo e não só e cheguei a este sobre a sua compra de ontem passadas quase duas horas.
    Ah, se eu estivesse a 50 metros do Rossio !!!
    Foi uma bela compra. É muito bonito e eu também compraria.
    Contudo não é por isso que que lhe escrevo este comentário.Li a sua descrição impecável como sempre mas...
    Já mirou atentamente o prato? É que na sua descrição falta um elemento fundamental. Veja lá bem😊.
    Abraço

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  2. Caro amigo:
    Esqueci-me da palavra AMOR. Estava já com as pestanas pesadas. Acabei o texto já de madrugada e estava cansado.
    Muito obrigado por me chamar a atenção para a imperdoável falta. Vou suprir a omissão.
    Um grande abraço.

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  3. Boa noite amigo. Eu sou um jovem oleiro da Espanha. Encontrei seu blog por sorte enquanto pesquisava outras coisas no Google e gostaria de dizer o quanto aprecio este blog e seu trabalho. A coleção de imagens e arquivos que você coleta e compartilha aqui é realmente preciosa, você não sabe que tesouro é isso. Beijos, espero que tenha uma boa semana

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