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segunda-feira, 17 de maio de 2021

As Manas Perliquitetes de Vera Magalhães


 
Manas Perliquitetes. Recriação da barrista Vera Magalhães (1966-   ) de figuras
do séc. XIX, existentes no Museu Municipal de Estremoz.

À bonequeira Vera Magalhães dedico o presente texto,
construído com base no facto de no léxico português, 
“perliquitete” ser sinónimo de “afectado”
 e “que se veste com esmero”.
 O BONEQUEIRO DAS PALAVRAS

Não conheciam as Manas Perliquitetes? Eu apresento-as. Da direita para a esquerda, são respectivamente: a DUPONDINA VERMELHUSCA e a DUPONTINA VERDASCA. Nelas, o vestido, a capa e a touca, substitui as calças, o paletó e o coco de Dupond e Dupont, os polícias patuscos criados por Hergé. Trata-se de duas manas cuscas, abelhudas, que tinham por hábito meter o nariz onde não eram chamadas, dar fé de tudo, para depois como boas linguareiras, mexericar até dizer basta. Eram puritanas no vestir e trajavam com esmero à moda dos finais do séc. XIX. Afectadas, andavam por aí, armadas em guardiãs dos bons costumes. Ai de quem caísse na alçada do olho e da língua delas. Estava perdido. Não bastava mudar de freguesia. Tinha que mudar pelo menos de concelho. Qualquer um evitava cruzar-se com elas sem lhes fazer uma grande vénia, acompanhada dum proverbial cumprimento:
- Os meus respeitos, minhas senhoras!
E mesmo assim estava sujeito a que se desviassem dele, empinassem o pescoço e arrebitassem o nariz. Quem tivesse a coragem de olhar para trás, após se cruzar com elas, veria que estavam a fazer o mesmo. Com os seus olhos cuscos, estavam a captar imagens que para memória futura iriam registar na base de dados da sua mioleira. Querem um conselho? Se alguma vez as virem, fujam delas a sete pés. E se estiverem a sonhar, acordem e depois fujam. Lá diz o rifão. “Homem prevenido vale por dois!”

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